VISITANTES

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Homenagem ao Povo do Sobral de Monte Agraço


O Sobral de Monte Agraço
Onde as férias, eu lá passo,
É uma Vila muito antiga.

Gosto muito de lá estar
E das férias lá passar,
Pois lá, tenho gente amiga.

A perder nos horizontes
Avistam-se vales e monte

E verdejantes colinas,
Aqui e além, os moinhos
Com sua graça, branquinhos,
Ou a cair em ruínas.

Lá bem no centro da Vila,
Onde a vida é tão tranquila

Existe a Quinta dos Condes.

De um lado o Chafariz,

Do outro a Igreja Matriz,

Cedida ao povo p’los Condes.

Em Setembro são as festas,
E poucas há como estas

Que tanto agradam a todos.

Artistas de todo o lado,

Teatro, Música, Fado,

Gente nas ruas a rodos.


Os seus cortejos históricos
Com seus carros alegóricos
De todas as freguesias,
Mostram ao povo admirado
O que foi todo o passado
Muito antes dos nossos dias.

Cavalos e Cavaleiros,
Damas, Cruzados, Escudeiros,
A Plebe e o Povo e então,
Cada um em seu lugar
Desfila, para mostrar
A festa com tradição.

Lá no adro da Igreja,
P’ra que toda a gente veja

No coreto, ao desafio,
Há Bandas, Ranchos, Folclore,
Cada um dá seu melhor
Dias e noites a fio.

Não faltam as Guitarradas,
As Pamplonas e as Toiradas,
Acordeonistas de raça.
Ao despique, a tocar,
Uns e outros, sem parar,

Encantam quem por lá passa.

E essa Vila velhinha

Que adoptei, como se minha
Fosse para todo o sempre,
Tem tradições ancestrais
Que não morrerão jamais,

Pois seu povo não consente.

Feito em Lisboa, 20 de Agosto de 2000.

Lourdes Henriques (Sobral - Biblioteca)

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

LISBOA DAS SETE COLINAS








Lisboa das Sete colinas,

Dos pregões e das varinas,

Das guitarras a trinar,

Foste o berço dos que outrora

Saíram pelo mar fora

P’ra novos mundos desbravar.

És linda todos os dias,

E a beleza que irradias

Não há no mundo outra igual.

Tens sangue puro, bairrista,

Tens o porte de fadista,

Coração de Portugal.

P’los poetas exaltada,

És a moira encantada,

Tens lendas sem mais parar.

Tens no alto o teu castelo,

Que elegante e sempre belo

Brilha, em noites de luar.

O lindo Tejo a teu lado,

Teu eterno namorado

Só para ti sabe olhar.

E o turista quando chega

Logo a ti se agarra e apega,

E já não quer regressar.

Por todo o lado pombinhos,

Raro se vêm seus ninhos

Mas eles, por aí estão,

E em constante liberdade

Esvoaçam p’la cidade,

E depenicam no chão.

E nestas linhas banais,

Simples e pobres de mais,

Escritas ao correr da mão,

Eu presto a minha homenagem

A ti Lisboa, miragem

Da minha imaginação!

Homenagem a Lisboa, minha terra natal.

Lisboa, 30 de Agosto de 1996.

Lourdes Henriques (Sobral - Biblioteca)

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Manuel (parte II)

O que é que o Manuel resolveu fazer? Dois livros, um falso para apresentar aos inspectores e um verdadeiro só para o grupo, para poder haver dinheiro em caixa e se poder cobrar uma pequena quota todas as semanas.
Convocou uma reunião com todos os homens da aldeia e expôs-lhes a sua ideia. Escusado será dizer que todos aceitaram.
No dia 1 de Janeiro de 1947 formou-se o Grupo Humanitário Barqueirense, um Presidente, um Tesoureiro e três vogais. Presidente ou Vogal qualquer um podia ser mas Tesoureiro só quem tivesse bens próprios.
Se um sócio de envolvesse em desordem não recebia subsídio sem consulta da Assembleia Geral, podendo até perder para todos os efeitos o direito de sócio. Com este regulamento os homens compreendiam-se muito bem entre si; era bonito de ver...
Nenhum se portava mal pois não queria deixar de ser sócio.
Os Vogais cobravam as quotas todas as semanas, 25 tostões cada. O dinheiro era entregue ao Tesoureiro e assim se ia juntando para tudo o que era necessário. Quem estava doente, para receber subsídio tinha que ir ao médico e apresentar comprovativo. Recebia 20 escudos diários. Se algum sócio falecia o grupo fazia o funeral e dava-se seis meses de subsídio à viúva para poder organizar a vida.
Um sócio teve um problema de pulmões. O regulamento dizia que não podia receber mais que seis meses seguidos. O Manuel, sempre atento dizia, vai ao médico e pede alta, pouco tempo depois, vai ao médico pede baixa. Assim andou dois anos até que ficou curado e recomeçou a trabalhar.
Todos nós tínhamos muito orgulho em não haver pobres a pedir na nossa aldeia.
Não havia outra aldeia do concelho do Sobral que tivesse o que nós tínhamos...
Hoje isto não tem importância mas em 1947 tinha muita, pois o nosso estado não dava nada a quem quer que fosse.
Manuel, todos os dia rezo por ti e peço a Deus que te tenha num bom cantinho, porque tu mereces. Obrigada pelo exemplo!

Alice (Sobral-Espaço Net)

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O Manuel (parte I)

Um homem que merece ser recordado pelo muito que deu de si aos outros.
Nasceu, cresceu, viveu e morreu na Barqueira, uma aldeia pequenina do concelho de Sobral de Monte Agraço.
Era criança traquina mas muito inteligente; na escola foi sempre o melhor aluno da classe. Acabada a instrução primária, pediu ao pai para aprender carpintaria mas o pai disse-lhe que não porque ele fazia falta para o ajudar nos trabalhos do campo. Naquela época, quando o pai dizia não, era não e não se falava mais no assunto.
O Manuel, contrariado lá foi para o campo.
Faleceu a avó, o pai herdou uma casa da qual não tinha necessidade. Que pensou o Manuel? Fazer dali uma escola para ensinar os que não sabiam ler.
Entre todos arranjaram umas mesas e uns bancos compridos e a escola começou a funcionar. Só à noite depois das pessoas virem do trabalho. Escusado dizer que alunos não lhe faltavam...
Como o dinheiro era muito caro, não podiam comprar cadernos e canetas; cada um comprou uma ardósia (um pequeno quadro) e era lá que aprendiam a ler, escrever e fazer contas.
Nesta altura era ele um rapazote com 17 anos, os alunos eram uns da idade do pai e outros ainda mais velhos. Dentro da escola quem mandava era o Manuel e todos lhe obedeciam. Livros, havia apenas os dele.
Passado algum tempo todos sabiam fazer o seu nome, estavam muito felizes. Muitos deles ficaram a saber muito bem ler e escrever e a fazer contas.
No convívio com estas pessoas ele apercebeu-se que algumas delas quando estavam doentes não tinham possibilidade de ter sustento para as suas famílias, viviam apenas com o que os vizinhos lhes davam.
Começou a pensar na maneira de os ajudar, resolveu então formar um grupo humanitário para que quando essas pessoas estivessem doentes pudessem ter um subsídio de sobrevivência.
Foi a Lisboa saber o que podia fazer, trouxe os estatutos e meteu mãos à obra.
Os estatutos diziam que não podia haver dinheiro em caixa e só se podia cobrar quotas quando alguém estivesse doente e não se podia receber mais que seis meses seguidos. Este regulamento não servia para o nosso meio porque eram quase todos trabalhadores rurais. Se estivessem três ou quatro doentes ao mesmo tempo eles não tinham possibilidade de pagar quotas avultadas.
Perante esta situação, alguma coisa tinha que se mudar...

Alice (Sobral-Espaço Net)

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Não subestimemos os velhos!

Este é um exemplo do que muito existe dentro de nós. Talentos, uns que se manifestam de uma maneira, outros de outra.
Grande parte da nossa energia desperdiçamos com comparações, desistimos porque nunca seremos capazes de fazer o que um outro faz.
Não é forçoso que façamos todos o mesmo. Cada um tem o seu talento, o seu dom, necessário é que se predisponha a soltá-lo. E nem são necessários e imprescindíveis, públicos.
O meu melhor público, o meu maior crítico sou eu mesmo, creio que esse é o caminho.
Perante tamanha manifestação de VIDA, reinventemo-nos, ousemos criar uma forma feliz de encontro com a nossa VIDA, onde ao nosso próximo seja permitido a PARTILHA!
Ouçamos e observemos!

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Uma nova experiência!



Falar de mim mesmo, confesso que não é quando me sinto mais à vontade.
No passado dia 11, segunda feira, o Programa Portugal no Coração da RTP1, convidou-me para dar testemunho da minha actividade de voluntário, longe de Lisboa, em concreto no Sobral de Monte Agraço e Santana de Carnota. Aceitei.

Desde o princípio que vi a oportunidade de divulgação deste encontro bem sucedido de vontades entre quem queria fazer algo em prol das populações info-excluídas e quem poderia facultar os meios.
Há muito que estou convencido ser possível muitas acções deste cariz por todo o Portugal. A limitação denomino de falta de sensibilidade quer dos órgãos autárquicos, quer dos cidadãos que se demitem do exercício solidário de cidadania, se tornaram comodamente fechados em si mesmo. E não são precisas pessoas extraordinárias. Os actos, por mais simples que sejam é que as definem como tal. Estou convencido da existência de talentos em todos nós. É preciso soltar os medos e ousar!
A propósito disto mesmo desafio-vos a procurarem a bolsa do voluntariado aqui mesmo no Sobral, informem-se na Acção Social da Câmara.
Uma tapeçaria bela não é mais que um conjunto de fios entrelaçados, uns finos outros grossos, uns coloridos vivos outros neutros, uns presos outros soltos, que asseguram o efeito final. Um só fio por mais valioso e importante que seja, não constitui a tela, perde-se, dilui-se. Cada um tem o seu papel, um prende, outro dá o colorido, outro o relevo...
No dia a dia, a complementaridade dos nossos actos, de uns e de outros constituem a VIDA. Ninguém por mais importante que seja senão em comunhão com um outro, pode afirmar VIVER. Por vezes estamos adormecidos, distraídos.
Invente-se novas formas de estar, filtre-se o que essencial tem a VIDA, libertem-se os afectos!

SobralSénior foi ao programa, acompanhou-me. Deslumbrados, felizes pela experiência, de um à vontade extraordinário que até pareciam profissionais do Audiovisual! Gostei de vê-los assim com aquele brilhozinho de felicidade nos olhos.
Não foram todos. Os ausentes sentiram-se condignamente representados, tenho a certeza.

Alguns momentos!


















































Afonso (Sobral Sénior)

terça-feira, 29 de junho de 2010

Convívio




Mais uma vez uma vez a sardinha, a febra, a entremeada foram pretexto. Digamos que motivaram mas este evento que tem crescido está para além disso.
Foram chegando de mansinho e aos poucos tomou-se de assalto o parque. As especialidades nas mesas, o tinto, as saladas, as sobremesas, o cheiro do grelhado no ar, bocas salivando em ante-visão, sorrisos despreocupados nos rostos. Sem pressa, sem pressões. Estreitam-se laços, semeiam-se atitudes!
Foi bom! Não estava toda a equipa de SobralSenior mas estavam muitos e os respectivos!
Seremos mais no próximo!



Muito se disse, muito ficou por dizer...

No pão, no prato...

Os especialistas...
Aqui come-se e fala-se..

Três jovens de espírito...






Somos alguns!!!











Sai um café...

sexta-feira, 25 de junho de 2010

hoje...

O primeiro ano em Portugal não foi fácil. Tinha trazido um contentor com tudo o que era necessário para mobilar a minha casa mas tive que arrumar tudo numa sala porque a casa não estava em condições. Os quartos sem roupeiros, paredes a precisar de tinta, armários na despensa, chão envernizado, etc. Havia mais uma vez que meter mãos à obra, assim fizemos.

O meu marido, aqui, não tinha ajuda. Tive que ser eu a dar uma mãozinha. Não percebia nada do assunto mas pelo menos segurar uma tábua sabia.

A fazenda também precisava de ser cultivada para que de lá tivéssemos o que ela nos podia dar e não era pouco. Uns dias na casa outros no campo. Trabalho não nos faltava. Levámos quase um ano a pôr a casa pronta, tudo nos sítio.

O meu marido não sabia semear pouca quantidade por isso tínhamos tudo a “montes” que dava para nós, família e amigos. Agora, passados este anos, que já não pode trabalhar, não há nada para ninguém.

Quando a casa ficou pronta, comecei a pensar que tinha que fazer qualquer coisa para ter o espírito ocupado. Então comecei a a fazer parte do coro da igreja e mantenho-me. Ajudava a fazer almoços e participava em actividades em São Quintino para angariar fundos para a Igreja. Ultimamente não tenho ajudado muito. São dias muito cansativos e eu já não posso. Deixo essa actividade para os mais novos.

Frequentei um curso de bordados. Em simultâneo com a ginástica sénior frequento acções de informática. Estou a gostar muito. Nem sequer sabia abrir um computador. Agora já consigo mandar mails, falar com os meus filhos através do Skype e fazer muitas outras coisas graças às aulas de Informática Sénior apoiadas pela Câmara do Sobral. Ao professor um muito obrigada com letra maiúscula, pela dedicação e paciência que tem tido para comigo!

Alice (Espaço Net - Sobral)

domingo, 13 de junho de 2010

Passeio por África...(parte XIII)

O tempo não pára, não é?

O meu filho mais velho acabou o curso e chegou a hora de ir para a tropa. O mais novo não quis ficar sozinho em casa, sem o irmão e resolver ir também.

O meu marido não quis ver os filhos irem para a tropa. Veio de férias a Portugal. Eu fiquei a a segurar o barco. Não foi fácil vê-los partir, saírem de casa sem saber o que lhes estava reservado. Naquela altura a África do Sul estava com problemas nas fronteiras.

O mais novo, como tinha problemas de coração o médico deu-lhe uma carta onde dizia não poder fazer a recruta. O chefe dos escuteiros deu-lhe outra dizendo que ele tinha que vir a casa todos os sábados porque tinha um grupo de exploradores a cargo dele. Passou dois anos na secretaria a 150 Km de distância. O mais velho foi para a fronteira com Angola a 2.000 Km de casa. Como a área dele era engenharia nunca foi para o mato, ficou no quartel a resolver problemas locais. Graças a Deus os dois tiveram sorte!

Acabada a tropa, passou um ano e o mais velho casou.

A casa onde tão bons momentos tinham sido vividos tornara-se grande só para três. Vendemo-la e compramos outra mais pequena e outra em Portugal.

Quatro anos mais tarde o mais novo casou.

O meu marido começou a falar em regressar a Portugal. Eu não queria. Dizia que valia mais morrer em África com um tiro do que de saudades em Portugal.

A minha vida era muito preenchida. Trabalhei doze anos para o “Lusito” e 16 para os escuteiros.

Quando se fundou o agrupamento nem uma chávena havia para tomar um chá. Quando deixei, havia tudo o que era necessário para servir um jantar para 200 pessoas, uma carrinha de nove lugares e 10.000 Rands no banco. O mérito não é meu mas de todos os pais que trabalharam para o objectivo.

Foi um pouco de mim que ficou para trás.

Em 1993 decidimos e viemos para Portugal. Com a nossa vinda a vida deu uma volta de 180º em todo o sentido da palavra.

Custou-me muito deixar a família e foi muito difícil a readaptação a Portugal.

Ninguém batia à porta, o telefone não tocava, que tristeza! Pensei não aguentar tanta saudade.

Mas uma vez mais aguentei! Já cá estou há 17 anos...

Alice (Sobral - Espaço Net)

domingo, 6 de junho de 2010

Vidas...

Sou natural da Barqueira onde vivi até aos seis anos.
Filha única, o meu pai emigrou algumas vezes, então eu e a minha mãe viemos para o Sobral de Monte Agraço para casa de uns padrinhos. Seria também uma outra forma de emigração...
Fiz a primária, aprendi a bordar, profissão que exerci durante três anos.
Aos quatorze anos passei a acompanhar a minha mãe . Começámos a trabalhar num restaurante.
Tinha vinte anos quando casei. Como quem casa quer casa, fui morar para uma pequena aldeia pertencente à freguesia de S. Quintino, terra do meu marido.
Vieram os filhos. A minha filha Ana tinha idade de entrar para a escola. Resolvemos vir morar para o Sobral, perto dos meus pais.
Tenho três filhos, dois permanecem em Portugal, o outro emigrou.
Posso considerar que éramos uma família feliz.
Mas nem sempre se controla ou domina tudo à nossa volta. A doença ultrapassa o nosso querer e mesmo entendimento. Meses depois, a minha mãe adoeceu com um cancro e veio a falecer pouco tempo depois. Vinte meses foi quanto durou o seu sofrimento. Faleceu tinha só cinquenta anos. A nós aconteceu o que normalmente pensamos só acontecer aos outros.
Mas a vida tocou-se. Os filhos cresceram e seguiram cada um seu rumo. As raparigas estudaram e tiraram um curso. Foi o que de melhor lhes podia ter dado, a possibilidade de estudarem. Fazem a sua vida, mais longe do que eu gostava, aqui em Portugal, mas onde decidiram. Estão bem. O rapaz está fora, no estrangeiro. Dele tenho uma neta com quatorze anos que é muito minha amiga.
Quando se olha para a vida, muitos anos, quando queremos escrever algo sobre ela parece-nos que nada há a lembrar...
Isto é um pouco da minha história de vida!

Ana Além (Sobral - Sapataria)

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Passeio por África...(parte XII)

Estava há quatro anos nos escuteiros.


Um dia, quando estava com a senhora que ajudava a organizar a quermesse, abordou-nos uma outra dizendo precisar da nossa ajuda. Queriam fundar uma casa para deficientes mentais na comunidade portuguesa mas não tinham dinheiro. Seríamos nós capazes de organizar uma quermesse com esse fim? Claro.

Fez-se uma tarde à portuguesa com quermesse, comidas...os portugueses aderiram muito bem, conseguiu-se uma boa quantia.

E os projectos, as actividades não paravam. Alugou-se uma casa e fundou-se a Associação Portuguesa de Pais e Amigos Deficientes Mentais "O Lusito" . Mais tarde edificou-se uma casa nova com todas as condições para estas crianças.

Estava a ser difícil arranjar tantos prémios para as duas quermesses. Havia que inovar, inventar. Depois de muito pensar achei que tinha descoberto uma forma de colocar a malta a trabalhar. Arranjei um grupo de senhoras que vinham um dia por semana para a minha casa durante o ano. Cada uma fazia o que sabia. Fazia-se de tudo. Dali saíram coisas muito bonitas. Também se pedia coisas a fábricas e a lojas. O mais interessante é que os meus filhos, netos e senhoras que trabalhavam comigo ainda hoje fazem a quermesse do Lusito que é no dia 31 de Maio.

Vivi sempre em Joanesburgo. Há sítios muito bonitos em todo o país mas o passeio que adorava era o Kruger National Park ver os animais selvagens no seu habitat natural. Este parque tem cerca de 20.000 quilómetros quadrados tem muitas espécies de animais. As mais difíceis de ver são os leopardos e chitas, há poucas. Dentro do parque não se pode falar alto ou abrir a porta do carro. Quem não cumprir estas ordens está sujeito a ficar lá para sempre...

De 50 em 50 quilómetros há um aldeamento com lojas e restaurante, pode-se dormir também. Quem gostar de acampar pode fazê-lo mas a comida tem de ser feita em fogão a gás. Não é permitido fazer fogo. Dentro do parque, quando os animais passam na estrada, todos os carros param. Suas excelências têm prioridade e mesmo quando decidem deitarem-se nada há a fazer que não seja esperar e esperar...

Nem tudo foram rosas esta minha estada na África do Sul.

O meu filho mais novo, tinha duas válvulas abertas no coração, eu tive um acidente de carro onde fiquei muito maltratada e o meu marido teve mais dois acidentes de trabalho.

Com a graça de Deus tudo passou!

Alice (Sobral - Espaço Net)

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Passeio por África... (parte XI)

A vivenda onde morávamos era grande. Mas não fora sempre assim. Quando a comprámos era pequena, tinha apenas dois quartos, uma sala, casa de banho, cozinha e garagem, mas muito terreno.
O meu marido modificou-a ficando com três quartos, três salas, duas casas de banho e cozinha. No quintal três garagens, uma dupla, casa de banho, lavandaria, uma casa de costura e ainda muito espaço livre.
Pudemos fazer tudo isto porque éramos um grupo de amigos cada um com sua profissão. Todos compraram casas velhas e modificaram-nas depois ajudando-se mutuamente. Só compravam os materiais. A mão de obra era de partilha. E assim íamos todos crescendo em bens e amizade.
Íamos passar as férias a Lourenço Marques, matar saudades da cervejinha a copo, acompanhada de camarões, moelas ou dobrada. Na África do Sul a cerveja não sabia bem, o clima não puxava...
Quando se deu a independência de Moçambique começámos a frequentar as praias Sul Africanas embora a 700Km de distância.
Muita gente após a independência saiu de Moçambique . Um senhor que era chefe dos escuteiros em Moçambique fundou um agrupamento de escuteiros católicos Portugueses, perto da minha casa. Mandei os meus filhos frequentar. O meu mais velho não chegou a fazer a promessa, não tinha espírito escutista, mas o mais novo foi de lobito a chefe.
Formámos um conselho de pais, uns tinham cargos, outros ajudavam. A mim coube-me dois. Um de relações públicas e outro de angariação de fundos.
A Igreja local cedeu-nos o salão para reuniões e festas mas não havia mesas nem cadeiras. O meu marido e outro senhor meteram mãos à obra, angariamos madeira e fizemos mesas para todo o salão. Comprámos cadeiras e começámos a organizar festas. O baile de aniversário em Janeiro, uma tarde à Portuguesa com quermesse e rancho folclórico no dia da mãe, e o baile de S. João em Junho para o qual eu ensaiava as marchas populares e cantava. Fazíamos cravos e no pezinho uma quadra alusiva a S. João. Vendíamos para angariar fundos. Tinha um grupo de jovens que me ajudava na quermesse e também dançavam na marcha (ai que saudades, meu Deus!).
Nesta altura já tinha um nível de vida muito bom e conseguira perdoar ao Rodrigues. É certo que ele tinha sido muito “mauzinho” mas se não tivesse ido para casa dele, não teria chegado aqui. Deus escreve direito por linhas tortas, põe-nos à prova para ver aquilo que somos capazes, para depois nos compensar!
A aceitação e o perdão deram-me tranquilidade...


Alice (Sobral - Espaço Net)

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Passeio por África... (parte X)

Embora a vida na África do Sul me tenha trazido grandes alegrias, a minha passagem pelo mato nunca poderá ser esquecida.

Aqui, já tinha acesso ao comércio, não sentia o peso do isolamento da machamba.

É verdade que tinha a horta e os animais para consumo lá na machamba. De vez em quando matava um porquinho e fazia chouriço de carne, de sangue, alheiras, farinheiras e couratos.. Verdade seja dita que comida não faltava. Foi ainda na machamba que comecei a fazer o meu célebre doce de tomate verde. Da horta vinham ainda o tomate e o pimento com que fazia a massa para todo ano. Lá, havia necessidade de criar e conseguir com muito esforço o que se queria, ou mesmo improvisar.

Um dia faltou-me o sal . Só tinha grosso e não purificado com que temperava a comida dos porcos. Que fazer? Derreti o sal grosso “sujo”, filtrei a água até ficar limpa, coloquei essa água ao lume até evaporar...

Nunca mais me faltou sal!

A vida em família, a presença de vizinhos, o cruzar-me nas rua com rostos trazia-me de novo à civilização.

Já não se repetiriam as ausências do meu marido como quando estava na machamba.

A cidade de Nampula ficava a 400Km e o porto de António Enes também. De vez em quando o meu marido tinha que lá ir para adquirir os produtos que nos faziam falta. Nunca regressava no mesmo dia pois aproveitava para fazer a venda de abacaxis e arroz.

As plantações do abacaxis eram enormes, a terra boa e a qualidade reflectia-se. Chegava a ter abacaxis com cinco quilos. Cada planta só dá um fruto mas dá cinco ou seis filhos. A planta velha era arrancada e os filhos replantados.

Não gostava de ficar sozinha na machamba aquando as idas a Nampula, mas alguém tinha que ficar...desde 1960 que se ouvia falar muito dos “turras”. Dormia com uma arma à cabeceira!

Enfim, estava na África do Sul, outra realidade, outros desafios...

Alice (Sobral - Espaço Net)


sexta-feira, 16 de abril de 2010

Passeio por África... (parte IX)


Chegados à África do Sul, estivemos duas semanas em casa de um casal amigo até alugarmos casa.
Finalmente em nossa casinha! O meu marido arranjou logo emprego e eu comprei uma máquina de tricotar, (era o meu trabalho em Portugal), e comecei a trabalhar em casa. Quando comprei a máquina ofereceram-me trabalho na companhia mas não aceitei.
Não, tinha a possibilidade de ficar com os meus filhos em casa, não ia desperdiçar...
Graças a Deus a vida começou a sorrir-nos e ao fim de um ano eu já não devia nada a ninguém.
Tinha feito uma promessa. Se chegasse ao fim do ano sem dívidas, ia à “International House” e comprava o Presépio mais bonito que lá houvesse.
Prometi e cumpri mas custou-me uma nota preta. Ainda hoje tenho esse Presépio e faço-o todos os anos.
Ainda vivi em casa alugada uns anos.
Na África do Sul não era como em Portugal. Quando um senhorio precisa de uma casa dá-nos três meses e temos que arranjar outra. Aconteceu-me duas vezes, e aí pensámos, não, não vai acontecer uma terceira. Resolvemos comprar casa.
Era uma casa gémea. Vivíamos numa e alugámos a outra. Não era nova mas depois de preparada e arranjada assim parecia. Vendemo-la passado pouco tempo, comprámos uma vivenda grande, com um bom quintal e grande jardim. Dele diziam as vizinhas ser o “jardim da rua”. Não gostava ter sempre as mesmas flores. Flores de Inverno, flores de Verão.
Toda esta nova vida urbana fazia lembrar-me por contraste o que foi a vida na machamba.
Lá, não havia luz eléctrica, água, canalizada, nem vizinhos por perto. Tudo mato!
Pão? Tinha um forno onde o fazia, assados e também os meus bolos...
Quando de lá retirava as brasas e as colocava no chão, às vezes , tomando um bambu espetava uma galinha numa ponta e a outra fixava-se no chão. A galinha era assada lentamente ao calor do braseiro. Nunca mais comi uma galinha tão saborosa!
Viver no mato tinha coisas boas e más!

Alice (Sobral - Espaço Net)

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Passeio por África...(parte VIII)

Era uma rapariga com forte personalidade, alegre por natureza mas com o acidente do meu marido estava a ficar um pouco em baixo, achava que era azar a mais.

Estava a fazer uns calções para os miúdos e faltou-me o elástico. Com um na cadeirinha e outro pela mão, fui à loja. Ao entrar, um senhor ao sair pára e disse-me: Oh minha senhora, é preciso ter muita sorte para ter um filho com uma cara "larocas" como o seu! Sorri, agradeci, comprei o elástico e vim para casa.

Pelo caminho disse para mim, Alice, este homem não passou por ti por acaso, foi Deus que to enviou, ele não te conhece de lado algum, diz que tens muita sorte, é porque tens! Tem razão. Tens dois filhos bonitos, o mais velho não é bonito, é lindo, é uma criança que não passa despercebida em lado nenhum. Se tivesses um filho deficiente seria para toda a vida. O que te acontece neste momento é só uma fase da vida! Nada de tristezas, vai passar, um outro mau momento para vencer! Quando cheguei a casa já era outra pessoas!

Estava a cantar quando uma vizinha chegando-se, me disse, oh Alice, não acredito que a sua vida seja como a senhora diz...porquê? Porquê? ...porque a senhora anda sempre a cantar!

Passado algum tempo recebemos uma carta da África do Sul com um documento que continha três perguntas: há quanto tempo vivíamos em África, se havia deficientes na família e se tínhamos tido problemas com pretos. Fomos à polícia para assinar o documento e como não encontraram nada contra, assinaram.

Fechamos a carta enviamo-la e renasceu a esperança...

Nessa altura o meu marido já recomeçara o trabalho. Eu agora que vivia na cidade dava comigo a pensar com os meus botões. Esta malta que vive aqui não sabe o que é África nem sabe dar o valor a quem vive no mato.

No tempo das chuvas percorrer 400km era quase um dia. Terra batida as estradas em alguns sítios só “matope” (lama). O carro enterrava-se e quanto mais se acelerava mais residente ficava. Muitas vezes, só à força de um machado desbastando troncos colocando debaixo das 4 rodas, se conseguia sair. Mais uns quilómetros, outro atolamento. “a vida no mato não sou brincadeira”, como dizia o preto.

Um mês depois de termos enviado o documento chegou uma carta. Desta vez com direito a residência fixa para toda a família!

Maio de 1967, de comboio, partimos rumo à África do Sul...


Alice (Sobral - Espaço Net)



sábado, 3 de abril de 2010

caminhando...





















No passado dia 26 realizou-se mais um percurso pedestre do Sobral de Monte Agraço. Foi o XII Passeio dos Moínhos.

Muitos foram os participantes, da terra e fora. Eram mais de 500. Uns mais novos outros de prateadas cabeças de muitas experiências vividas!

Desafio agradável num dia de temperatura amena , brilhante, extraordinário!

Participando, vi três elementos de SobralSenior. A Ana Maria, o Catalão e o António Sequeira.

"Gente Gira", faces afogueadas mas um sorriso de satisfação!

Aqui ficam uns apontamentos...

Claro que o sentir no local é impossível de transmitir, os silêncios o colorido, os aromas...

Em 2ª mão, o relato!

AFaria

segunda-feira, 29 de março de 2010

Passeio por África... (parte VII)


Tal como muita gente dissera e contrariando o que o meu marido pensava, o parentesco não significara boas contas...

Em Nampula o meu Marido encontrou o Rodrigues. Dinheiro, disse ele, qual dinheiro?

As contas estão saldadas, se quiseres vai para o advogado. Com que provas?

Não consta no contrato que assinaste? Abrisses os olhos!

E assim ficamos com dois filhos, um de quatro anos e outro de dias...sem dinheiro.

Resolvemos mandar um telegrama ao Sr. Moreira como tábua de salvação a saber se a promessa dele se mantinha de pé, precisávamos dele. Sim, mantinha-se. Deslocou-se 800 quilómetros para nos emprestar dinheiro para a viagem. Nunca hei-de esquecer, que Deus o tenha num bom lugar no Céu!

Dei a mobília de quarto aos meus compadres, “vendi” o resto a um capitão da tropa portuguesa. Ainda hoje estou à espera do dinheiro...

E lá fomos nós quatro de comboio até Nacala, de barco até Lourenço Marques, conhecido hoje como Maputo.

Fiquei em Lourenço Marques em casa de um casal amigo aqui do Sobral, com os meus dois filhos. Também lhes estou grata. O meu marido seguiu para a África do Sul, arranjou logo trabalho, meteu os papeis para a residência de toda a família. Durante o tempo que lá esteve amealhou algum dinheirinho. O “Permit” acabou e ele teve que voltar a Lourenço Marques pois a autorização de residência não saiu naqueles espaço de tempo. Arranjou trabalho, alugamos casa e parecia que a vida se estava a normalizar.

Parecia! Dois meses eram passados ele caiu de um quarto andar, um mês hospitalizado, dois meses sem poder trabalhar porque fracturara uma vértebra.

Nessa altura eu dizia que não valia a pena rezar porque Deus não me ouvia.

Nesse espaço de tempo pensámos, vamos tentar novamente a África do Sul. Assim fizemos. Escrevemos uma carta ao ministério da Educação dizendo que tínhamos dois filhos e que ali não tínhamos possibilidade de os educar e se nos ajudava a entrar na África do Sul. Juntamos a documentação de toda a família e fomos a uma tradutora para traduzir para Inglês. Enviámos....


Alice (Sobral - Espaço Net)


quinta-feira, 25 de março de 2010

O Cine - Teatro

É aqui que decorrem as nossas aulas de informática.
Lembrei-me fazer um pequeno apontamento sobre o Cine-Teatro onde passamos algumas horas do nosso tempo livre e disfrutamos de eventos que aqui se realizam semanalmente. Mas nem sempre foi assim.
Quando vim para o Sobral tinha 13 anos. O Cine-Teatro era o único espaço lúdico que havia.
Aqui passaram os melhores filmes da época, se fizeram os célebres bailes de Fim de Festa e Carnaval. Mais tarde fechou mantendo-se encerrado durante longo tempo até que chegou aos ouvidos de alguns Sobralenses que o Cine-Teatro ia ser vendido para outros fins que não o espectáculo, isto antes do 25 de Abril.
Numa noite as ruas do Sobral apareceram escritas com letras enormes a alertar a população do que iria acontecer à "nossa" casa.
Foi uma revolução, antes de 1974 porque nós, gente do Sobral nunca deixaríamos que tal acontecesse.
Juntamo-nos e a decisão foi que cada um contribuisse com o que pudesse sendo o valor entregue aos Bombeiros, entidade que viria a adquirir o edifício.
Passaram os anos, o edifício precisava de ser recuperado. A Câmara chamou a si a tarefa transformando-o neste maravilhoso espaço polivalente com todas as condições de segurança, conforto, equipado com novas tecnologias...
Este foi o percurso do Cine-Teatro, peça fundamental na nossa qualidade de vida!

Ana Maria Fragoso (Sobral - Espaço Net)

sexta-feira, 19 de março de 2010

Sabores


Vamos iniciar hoje uma nova partilha, gostosa por sinal. Os nossos seniores vão desvendar os seus segredos culinários. Espero que gostem!



1 Pato
1 chávena de sumo de laranja

sal a gosto

Barra o pato com sal por dentro e fora, vai ao forno até alourar dos dois lados.
Quando estiver bem lourinho, tira-o do forno e se tiver muita gordura, retira.
Rega-o com o sumo de laranja e volta a colocá-lo no forno. Para que não seque demasiado vá deitando umas colheres de molho em cima.
10 minutos mais, está pronto.
Sirva com batata frita e uma boa salada mista.


1lata de leite evaporado

1 lata de ananás (390 gr.)

1 pacote de Palitos La reine

1 Pacotinho de gelatina de ananás

1 cálice de licor de ananás

1 cálice de licor de Ginja


Corte os palitos la reine aos bocados, coloque num prato, corte o ananás em pequenos pedaços. Reserve metade do líquido da lata para derreter a gelatina que deve estar quase fria para juntar ao pudim.A outra metade do líquido junta aos licores e embebe os palitos.
Bata o leite evaporado até ficar um creme bem espesso, junta a gelatina e o ananás.(envolve como se envolvem as claras).Têm que estar bem frios, o leite e ananás.
Numa taça, encha até meio com este creme, coloque os palitos e por último o resto do creme.
Ao cimo, um pouco de bolacha Maria em pó e amêndoas torradas moídas.
Vai a gelar!

Alice (Sobral - Espaço Net)

quinta-feira, 11 de março de 2010

Passeio por África... (parte VI)

A machamba estava semeada quando o primo Rodrigues regressou. Procurámos fazer encontro de contas e dissemos não querer nada de porcos ou mesmo do que estava semeado. Só queríamos metade dos lucros dos dois anos e o dinheiro que lhe tínhamos adiantado. Que sim, que não tinha o dinheiro ali mas quando fossemos para Nampula, levantaria o dinheiro e pagar-nos-ia.
Estávamos sem dinheiro, o que havia estava semeado!
Quando falamos ao Sr. Moreira das deficiências do contrato ele dizia ao meu marido, oh homem, pague-se por suas mãos, o Rodrigues vai ficar furioso da vossa partida, não vai querer pagar, não têm prova do dinheiro que adiantaram...
Que não, ele não me vai fazer uma coisa dessas, afinal ainda é meu primo...
O Sr. Moreira foi transferido para uma distância de cerca de 1000 Kms. Ao se despedir disse, Deus queira que não precisem de mim, mas se precisarem, fica o contacto.
Esqueci-me de dizer que o Rodrigues e a mulher eram os padrinhos do meu filho mais velho...
Tinham chegado há uns dias, pediram-me para os ajudar na loja até ir embora.
Então prima, vai para a África do Sul? Sim, se conseguir, vou!
Pode ficar descansada que eu vou fazer do meu afilhado um doutor! O quê? Não vais fazer coisa nenhuma, enquanto eu tiver dois braços e o pai outros dois não lhe vai faltar que comer. Depois, se não for doutor, pode ser carpinteiro, o pai é, o avô foi, não desonra a família...
Que lhe fui dizer! O homem ficou pior que estragado, parecia um tigre enjaulado. Meteu na cabeça que como eu estava para ter outro filho, lhe dava o afilhado...
Chegou o dia 10 de Abril. Fomos embora para casa do nosso amigo hidrometrista em Nampula.
No dia 25 de Abril nasceu o meu filho, baptizamo-lo logo a seguir. Este casal amigo onde estávamos alojados, os padrinhos.
Decorria o mês de Maio, e as contas ainda não estavam saldadas...

Alice (Sobral -Espaço Net)

domingo, 7 de março de 2010

Passeio por África... (parte V)

Os primos resolveram ir passar dois anos de férias ao Continente como se dizia Portugal.

Fomos viver para a machamba. O sítio chamava-se Marrace. Ficava mais ou menos a mil quilómetros de Mucubur. Aqui não havia animais selvagens nem caça, só cobras.No dia da partida deles para Lisboa, o meu marido foi ter com eles a Nampula para colocar tudo preto no branco, o contrato da sociedade da machamba.

Com a pressa o meu marido não reparou que no contrato só estava o dinheiro que ainda devia mas não a totalidade de dinheiro que já tínhamos entrado.Quando li o contrato disse, está aqui um lindo trabalho! Escreve ao teu primo e diz-lhe que isto está tudo mal! Nunca quis! Dizia, quando ele voltar nós falamos nisso. O certo é que se houvesse algum problema não tínhamos como provar!

Continuava com o meu passatempo de tiro ao alvo. Os negros viam e diziam, senhora da machamba com capuite (pistola) “não sou brincadeira”! A fama foi longe e estava descansada. Tinham respeito (ou medo) por mim!

Fiquei de bebé outra vez e aí pensei sair dali. A ideia foi tomando forma.

Disse ao meu marido, quando o Rodrigues vier de Portugal, nós vamos embora porque aqui não é sítio para criar filhos. Não há escolas. Não vou mandar o nosso filho a quatrocentos quilómetros de distância. O meu marido a princípio não achou muita graça à ideia mas depois convenceu-se.

Estava decidido, íamos embora, em princípio para Nampula. Estava farta de porcos, arroz, de machamba até à ponta dos cabelos, queria sair dali, fosse para onde fosse.

Passou algum tempo e o Sr. Moreira, um vizinho, ficou doente do fígado e teve que ir à África do Sul fazer uma operação.

Lá conheceu uma senhora que tratava de arranjar “permites” para uma permanência de seis meses. Perguntou ao meu marido se estava interessado em tentar, disse-lhe que sim...O Moreira escreveu à senhora e enviou os elementos de identificação do meu marido. O “permit” chegou, estávamos em Março de 1966...

Alice (Sobral - Espaço Net)

terça-feira, 2 de março de 2010

momentos...












A Alice foi o motivo para este naipe de sorrisos!
Não se fez anos, comemoraram-se !!!
Quantos? Ela diz que ...muitos.

Grupo Espaço - Net

Insólito...


No Domingo de manhã precisei de comprar um pacote de natas .De repente ocorreu-me que faltava na minha dispensa uns artigos de mercearia. Fiz uma lista de mais umas coisas que me faziam falta desloquei-me ao MINIPREÇO de Sobral de Monte Agraço deparei com um caso caricato. Ao serviço do supermercado estavam duas empregadas uma na caixa e outra cá fora na rua.

Agarro num cabaz para por lá dentro as minhas compras deitei um olhar rápido em redor das prateleiras qual foi o meu espanto! Supermercado estava completamente vazio parecia que tinha sido assaltado naquela noite. Não havia nada! As pessoas que estavam presentes olhavam umas para as outras revoltadas com aquela situação. Aquilo parecia que tinha havido uma catástrofe e a loja tinha sido saqueada.

O dia estava cinzento, chuvoso, e frio, não apetecia sair à rua, mas havia a urgência de fazer o almoço. Tive azar, molhei-me toda, cheguei casa a pingar e tive que mudar de ementa. Não sei o que aconteceu? Será que houve saldos e eu não sabia. Não faz sentido um estabelecimento estar aberto e não haver artigos para vender, esta é a minha opinião.

Sempre ouvi dizer que Deus dá nozes a quem não tem dentes!


Mariana (Biblioteca - Sobral)

segunda-feira, 1 de março de 2010

A solidão mata!

Recentemente, numa consulta depois de perguntar de forma directa ao médico o que achava ser a causa do meu estado, respondeu-me num tom que parecia ressoar do fundo das entranhas, a Solidão!
Talvez pelo tom da voz, minha garganta secou, demorei alguns momentos a continuar a conversa...
Ao longo da semana, ao volante do meu carro a caminho do trabalho, o tema Solidão invadiu o meu pensamento. Por diversas vezes me lembrei dos estudos dos anos 50 do século passado em que cientistas relataram que bebés no primeiro ano de vida se deixavam morrer quando a mãe ou outra pessoa que as cuidava, desaparecia para sempre!
Um dia procurei o Cd da Amália onde interpretava exactamente o tema, Solidão para tentar chegar às emoções e sentimentos que tão bem ela conseguia expressar como ninguém.
Hoje no telejornal da uma vi uma notícia de uma pessoa carbonizada em casa. O repórter, numa tentativa de explicação das causas, dizia, frio e falta de acompanhamento, SOLIDÃO.
Muitas vezes, rodeados de tanta gente parece que não conseguimos entrar em relação com outro alguém como nós, um alguém a quem colocar a nossa alma em palavras. E são tantas as vezes que isto acontece mesmo quando há esse alguém!
Ficamos parados, não temos coragem ou a arte para iniciar uma conversa!

Fátima (Sapataria)

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Passeio por África... (parte IV)

Fiquei de bebé . Ia a Nampula de vez em quando ao médico para saber se estava tudo bem comigo e com ele. Numa dessas viagens encontramos uns primos do meu marido. Levaram-nos a almoçar e começaram a lançar a ideia do meu marido ir trabalhar com ele, ou seja, ser sócio de uma “machamba”, larga quantidade de hectares de terra que o Governo concedia a quem quisesse cultivar. Era mato cerrado que tinha de ser desbravado!

Casa, comida e mais vencimento era a promessa feita, enquanto ele preparava o terreno. Depois de começar a cultivar, os lucros seriam em partes iguais.

Eu não queria ir mas o meu marido ficou seduzido com a hipótese pois ia ganhar mais e em pouco tempo podíamos ter uma vida melhor.

Faltava um mês para o bebé nascer. Fui para Nampula para casa do hidrometrista porque não era aconselhável estar tão longe do hospital. O bebé nasceu, voltei para casa e tinha ele dois meses quando fomos para casa do primo, por mal dos meus pecados...

Tinham uma cantina e um bar. Eles estavam na cantina e eu fui para o bar.

O meu marido foi para a “machamba” derrubar toda aquela floresta, com montes de pretos atrás dele.

Tinham-nos prometido uma casa. Quando lá cheguei deram-me um quarto na casa deles, perdi logo uma “quinhenta”, nunca gostei de lá viver!

Quando a “machamba” estava limpa e lavrada começaram a cultivar arroz, abacaxi, mandioca e milho. Fizeram uma casa, currais porcos, dois anos para terminar tudo isto.

O meu filho nunca gatinhou. Tinha um criado para o trazer ao colo pois todas as quartas feiras vinham os leprosos das redondezas buscar medicamentos ao chefe de posto e depois vinham para as cantinas e bares.

Era impressionante ver aquelas mãos, pés e caras meio comidos. Por esse motivo não era capaz de deixar o meu bebé andar no chão!

O que mais me impressionou na vida foi receber dinheiro daquelas mãos diminuidas, roídas pela lepra!

Alice (Sobral - Espaço Net)


Um final feliz!

Dia 25 de Janeiro de 2010, era dia marcado para o exame do 9º ano de escolaridade nas novas oportunidades, às 16h.
O dia amanheceu radiante com bonitos raios de sol que embelezavam o horizonte distante, tal era o azul do firmamento que de um ponto alto nos permitia contemplar a paisagem num raio de 360º.
Nesse dia como em tantos outros tive que correr para poder fazer tudo o que tinha de obrigação, aumentando assim o stress que já existe em mim há muito tempo. Primeiro tinha que acabar um carro que se tinha avariado e que me tinha sido confiada a sua reparação O dono, pessoa bem-falante mas mau pagante, acha que os carros antes de avariarem já deviam de estar reparados. Com algum sacrifício lá o consegui acabar a horas de poder estar em Lisboa no Hospital de Santa Maria para uma consulta de cardiologia que me estava marcada para as catorze e trinta.
Como é do conhecimento público todos os operários têm o dever de estar nos seus postos de trabalho à hora definida pela entidade patronal; porque será que os senhores doutores estão excluídos dessas obrigações? Será que não são também trabalhadores? Pois o Sr. Dr. que me consultou e que devia estar no seu consultório às 14h, apareceu às 15h para meu desespero porque se aproximava a hora do exame e eu por escala era o segundo participante.
A saída do Hospital foi feita a correr em direcção ao meu carro estacionado no parque local em sistema de via verde, que embora sendo um estacionamento caro, resolve o problema de andarmos à procura de estacionar e de ficarmos à mercê dos arrumadores e dos caçadores de multas que abundam nas nossas cidades.
Como um mal nunca vem só, algo mais teria que me acontecer. A saída do parque a viatura que me antecedia ficou bloqueada e não deixava sair os carros à sua retaguarda enquanto o seu proprietário não pagou o estacionamento com prejuízo para os outros utentes que tiveram que aguardar. E assim continuei a viagem treinando o que tinha estudado para fazer a minha apresentação oral no exame que se aproximava. Como pessoa de sorte que sou e os males tendem em acompanhar-me, ao entrar na auto-estrada outro problema me aconteceu dificultando deste modo a minha marcha. Um enorme plástico, que me tapava toda a frente do carro, levantou-se e pousou na frente da minha viatura fazendo-me companhia até à saída da via rápida onde pude parar para o retirar. E assim pelas 16.30 h cheguei à Junta de Freguesia do Milharado, local do exame.
Já com o primeiro aluno em prova, depois de uns breves momentos de descontracção e de um bom e reconfortante copo de água ingerido, fui chamado para fazer a minha prova numa situação incómoda por não ter tido oportunidade de aperceber no exame de outros alunos como é que o caso se processava. Enfim, como me intitulo homem de barba dura fiquei à espera do que viesse. Foi com enorme satisfação que ouvi o Dr. José Sampaio avaliador do programa R. V. C. C. dar-me os parabéns por eu ter tido a coragem de aos 64 anos frequentar a escola, o mesmo é dizer: nunca é tarde para aprender. E assim depois de pedir ao Dr. que não fosse muito rápido nas suas exigências, porque eu que até já não oiço muito bem por vezes preciso de certo tempo para compreender o que me explicam, concluí o meu exame com distinção o que mais uma vez me veio provar que todos nós nascemos com capacidades mas infelizmente só alguns têm oportunidade de as desenvolver.

Carlos (Sapataria)