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sexta-feira, 9 de abril de 2010

Passeio por África...(parte VIII)

Era uma rapariga com forte personalidade, alegre por natureza mas com o acidente do meu marido estava a ficar um pouco em baixo, achava que era azar a mais.

Estava a fazer uns calções para os miúdos e faltou-me o elástico. Com um na cadeirinha e outro pela mão, fui à loja. Ao entrar, um senhor ao sair pára e disse-me: Oh minha senhora, é preciso ter muita sorte para ter um filho com uma cara "larocas" como o seu! Sorri, agradeci, comprei o elástico e vim para casa.

Pelo caminho disse para mim, Alice, este homem não passou por ti por acaso, foi Deus que to enviou, ele não te conhece de lado algum, diz que tens muita sorte, é porque tens! Tem razão. Tens dois filhos bonitos, o mais velho não é bonito, é lindo, é uma criança que não passa despercebida em lado nenhum. Se tivesses um filho deficiente seria para toda a vida. O que te acontece neste momento é só uma fase da vida! Nada de tristezas, vai passar, um outro mau momento para vencer! Quando cheguei a casa já era outra pessoas!

Estava a cantar quando uma vizinha chegando-se, me disse, oh Alice, não acredito que a sua vida seja como a senhora diz...porquê? Porquê? ...porque a senhora anda sempre a cantar!

Passado algum tempo recebemos uma carta da África do Sul com um documento que continha três perguntas: há quanto tempo vivíamos em África, se havia deficientes na família e se tínhamos tido problemas com pretos. Fomos à polícia para assinar o documento e como não encontraram nada contra, assinaram.

Fechamos a carta enviamo-la e renasceu a esperança...

Nessa altura o meu marido já recomeçara o trabalho. Eu agora que vivia na cidade dava comigo a pensar com os meus botões. Esta malta que vive aqui não sabe o que é África nem sabe dar o valor a quem vive no mato.

No tempo das chuvas percorrer 400km era quase um dia. Terra batida as estradas em alguns sítios só “matope” (lama). O carro enterrava-se e quanto mais se acelerava mais residente ficava. Muitas vezes, só à força de um machado desbastando troncos colocando debaixo das 4 rodas, se conseguia sair. Mais uns quilómetros, outro atolamento. “a vida no mato não sou brincadeira”, como dizia o preto.

Um mês depois de termos enviado o documento chegou uma carta. Desta vez com direito a residência fixa para toda a família!

Maio de 1967, de comboio, partimos rumo à África do Sul...


Alice (Sobral - Espaço Net)



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