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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

A PARTILHA


No tempo em que eu fui criança, a educação era muito diferente de hoje. Mais ríspida, embora talvez mais responsável. Ensinaram-me a repartir o comer e os brinquedos, mas nunca se empregava o termo PARTILHAR. Partilhas, apenas conheci o termo quando empregado em heranças. E sempre me disseram que não devíamos comentar com os outros o que se passa connosco, nem no seio familiar nem pessoalmente. Quando comecei a entender a vida e a pensar por mim própria, achei que nem sempre se deveria ter esse procedimento. Expansiva como sempre fui, muitas vezes comentava situações da minha vida pessoal, raramente da vida familiar, com amigas. Isso custou-me alguns dissabores e críticas pela vida fora. E a minha mãe sempre me ia dizendo: a nossa vida nunca se comenta com ninguém.

Hoje, aposentada e avó, aprendi algo que na realidade vai ao encontro da minha maneira de ser. Acho que não há mal algum em comentar (PARTILHAR) com os outros factos ou passagens da nossa vida que nos deram momentos de felicidade, eventualmente também alguns de tristeza. Só que actualmente, alguém me ensinou que a isso se chama PARTILHAR. Partilham-se experiências de vida, conhecimentos, sentimentos. Afinal partilhar não se aplica apenas em coisas materiais. Os sentimentos e momentos felizes ou tristes da nossa vida também podem ser partilhados. E é mesmo por isso que estou aqui a escrever, para partilhar um dia feliz da minha vida.

Após ter adquirido conhecimentos de informática que me abriram as portas para o mundo através da Internet, fui convidada pelo administrador de um site da poesia para participar no mesmo. A princípio fiquei um tanto ou quanto receosa, mas lá me convenci, pois vim a descobrir que o senhor é marido de uma amiga minha de infância, e em boa hora o fiz. O grupo é seleccionado e muito interessante, e eu gosto de participar. Entretanto, foi lançada no dia 27 deste mês a 3ª. Antologia do site, da qual eu faço parte com dois poemas de minha autoria.

Em adolescente cheguei a ter a mania de ser escritora, mas esse sonho não passou de isso mesmo, tal como muitos outros da juventude. E hoje, com 66 anos, apesar de não ser escritora nem ter essa presunção, fiz finalmente parte de um livro, ainda que participando apenas em duas páginas. Afinal, estamos sempre a tempo de realizar os nossos sonhos e eu vi agora, mesmo que tardiamente, realizada uma pequenina parte desse meu sonho. E por isso quero Partilhar convosco esses momentos felizes da minha vida.


Foi uma tarde inesquecível em que conheci dezenas de pessoas que até àquele momento não passavam de conhecimentos virtuais. Declamaram-se poesias. Houve também quem cantasse o fado e como não podia deixar de ser, lá participei também na cantoria.

Por vezes tenho a sensação que estou a regredir e a entrar num ciclo da minha vida que me permite voltar ao passado e fazer realmente aquilo que gosto: escrever e cantar.


Lourdes Henriques - Clube Sénior

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

VISITA HISTÓRICA À IGREJA DE S. QUINTINO

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A igreja é composta por três naves divididas por colunas. Do lado esquerdo existe um púlpito com pinturas representativas dos evangelistas. Este púlpito tem um formado de um cálice octogonal.
No altar-mor existe um crucifixo tendo por debaixo a imagem da Senhora da Piedade com o seu filho morto no colo. As paredes laterais deste altar são compostas por painéis de azulejo, representando a parede do lado direito a Ascensão de Nossa Senhora aos Céus e a do lado esquerdo a Anunciação à Virgem. Ainda na parte superior de cada um destes painéis, podem ver-se quadros com pinturas do século XVI e de grande valor, sendo que fazem parte de uma colecção de cinco, estando os outros três colocados noutros locais da igreja.
Ladeando o Altar-mor, há dois altares colaterais. O do lado esquerdo é a Capela de S. Pedro e o Altar do Santíssimo. A sua parede do fundo é coberta de azulejos pombalinos e dos lados são azulejos hispano-árabes. Vê-se ainda painéis de azulejos representando o aparecimento de Cristo ressuscitado e o encontro de Cristo com a Sua mãe, respectivamente do lado direito e esquerdo da capela. Ao fundo, está dependurado um dos valiosos quadros pintados do séc. XVI representando o Calvário no Monte das Oliveiras. Pode ainda ver-se uma estatueta de S. Pedro.
Quanto à capela do lado direito, é dedicada a S. Quintino e aos seus martírios. Todos os painéis e elementos figurativos desta capela, são alusivos aos martírios a que este Santo foi sujeito. Entre muitos outros elementos, pode ver-se na sua cúpula, ao centro, a representação de duas espécies de espadas cruzadas, que são alusivas aos ferros com que o martirizavam. A sua imagem está colocada ao meio do altar, tendo do seu lado esquerdo a imagem de S. Sebastião e do lado direito, a de Stª. Luzia.
É de notar que existe ainda do lado esquerdo das capelas centrais, uma outra capela que já teve várias alterações e à qual chamam de momento, Altar de Santa Maria.
Por último, a Sacristia. Situada na parede do lado direito de quem entra na igreja, tem no seu interior uma parede coberta na sua maior parte por painéis de grande valor que representam a Paixão de Cristo. É o local onde se efectuam todas as assinaturas e legalizações dos casamentos e baptizados aí praticados, e também onde estão resguardados os paramentos eclesiásticos.
Para encerrar a descrição, encontram-se várias imagens, cujos nomes da direita para a esquerda, são: Senhora das Dores, S. Tiago de Compostela e S. António, as quais já se encontram bastante danificadas. Por fim, uma imagem de pedra que se encontra reproduzida no início deste trabalho, representando Santa Maria de Montagraço, réplica de uma imagem original, e que inicialmente estava colocada à porta da igreja, do lado de fora, mas que por tentativa de assalto, foi de lá retirada. Esta estatueta também se encontra resguardada na Sacristia.
Jamais se conseguirá desvendar o mistério do porquê de uma igreja deste calibre, neste local tão desabitado e dedicado a um santo que nem sequer era português. Sabe-se contudo que a morte deste mártir ocorreu entre o dia 31 de Outubro e 1 de Novembro, e no ano incerto compreendido entre 282/287 D.C.

Resta ainda acrescentar que todo este rico património está um tanto ou quanto votado ao abandono por parte das entidades competentes para o seu restauro. O tecto está bastante danificado. O local do coro, com o seu órgão de tubos de grande valor e beleza, está completamente ao abandono. E as infiltrações vindas do chão, são mais que muitas. Se não houver uma intervenção urgente a fim de travar as danificações graves, rapidamente veremos perdido um monumento que nos dias de hoje seria impensável construir, de uma grande beleza, e que constitui uma grande riqueza do nosso património nacional.
Lourdes Henriques

domingo, 6 de novembro de 2011

VISITA HISTÓRICA À IGREJA DE S. QUINTINO

No passado dia 1 efectuou-se uma visita histórica à Igreja de S. Quintino, conduzida pelo professor António do Clube Sénior do Sobral de Monte Agraço, que ministra a disciplina de História. Contámos também com a colaboração da Sr.ª D. Luisa Melícias. Quem também nos acompanhou nesta visita foi a Dr.ª Cláudia.
Gostaria de transmitir de uma maneira sucinta, a história deste património tão valioso mas tão votado ao esquecimento …
Esta Igreja foi mandada erigir por D. Manuel I em 1520, e está considerado como Monumento Nacional desde 1910. Consta que foi construída em cima de outra chamada Santa Maria de Montagraço, mas não há documentação que possa dar-nos certezas. Apenas do lado direito do pórtico, existe a configuração de uma outra porta mais pequena (conforme se pode observar na representação abaixo), o que nos leva a crer que teria sido de um outro monumento anterior. Há quem diga que os documentos existentes sobre a sua construção foram destruídos durante o terramoto. Mas certezas absolutas, ninguém as têm. Se alguma vez os houve, também ninguém sabe.
 Ao longo dos séculos tem sofrido várias intervenções em épocas diferentes. O seu portal é de uma grande beleza, em pedra esculpida rica em figuras e elementos simbólicos numa combinação dos estilos Manuelino e Renascentista. Na parte superior podem ver-se os bustos do rei D. João III e de sua esposa Catarina, do lado direito e esquerdo, respectivamente. Esta igreja foi denominada de S. Quintino, mas não se sabe ao certo porquê. Se nem sequer era português este santo. Foi um mártir que viveu no século III D.C., filho de um senador Romano, que foi para França fazer a cristianização, pelo que foi perseguido pelo próprio governador do seu país, tendo sido várias vezes castigado violentamente por pregar a religião cristã. Contudo, teve várias hipóteses de perdão no caso de renegar à sua religião, mas a sua Fé era enorme, e nunca renunciou a ela. Foi martirizado até às últimas consequências, pois até quando estava dentro da prisão nunca deixou de pregar. Até ao dia em que o Governador mandou efectuar a sua decapitação e atirar o seu corpo ao rio. Passados 55 anos foi encontrado intacto por uma santa chamada Eusébia, que era uma senhora romana, cega. Em sonhos um anjo indicou-lhe o local onde jazia o mártir. E ela foi de Roma, com uma comitiva, para remover o corpo de S. Quintino. A Cidade onde foi torturado é Saint-Quentin, no Norte de França, muito perto da Bélgica, onde existe uma Basílica com o seu nome e onde se encontra o seu túmulo.
O culto a S. Quintino veio para Portugal no tempo das Cruzadas, em que numerosos cruzados do Norte de França vieram ajudar os Reis Cristãos na luta contra os mouros. Terão sido esses cavaleiros que trouxeram para Portugal o culto a este Santo. A devoção terá chegado até nós um milénio antes da construção desta igreja. De notar que é o Padroeiro desta freguesia, a única no país com este Padroeiro. Além de outros, foram-lhe atribuídos milagres motivados pelo dom da cura das doenças de hidrofagia, de doenças ligadas à prática da agricultura e também cura da cegueira.
 Montagraço, um reguengo régio muito pequeno, foi dado ao arcebispo de Évora por D. Sancho I. Vivia da agricultura com muito pouca gente. Daí não se entender o porquê da necessidade de construir uma igreja tão grande, distanciada da parte central com poucas casas, uma vez que existia a igreja de São Salvador do Mundo e que era a igreja paroquial. É coisa que sempre ficará por esclarecer, uma vez que não existe documentação comprovativa que possa esclarecer todas as dúvidas que se põem.
Ao entrarmos na igreja deparamos com um local rico em paredes cobertas de azulejos dos séculos XVI, XVII e XVIII. À medida que se foram fazendo melhorias e restauros, os azulejos, embora tentando aproximar-se dos originais, iam divergindo. Daí a mistura.
Do nosso lado esquerdo existe o Baptistério, um local muito bonito e requintado, também embelezado com painéis de azulejos, e construído em cima de quatro colunas. No interior da sua cúpula estão representadas várias caras em relevo, que simbolizam mouros que se converteram ao cristianismo, e por isso mesmo chamados os Cristãos Novos. O fim da construção deste Baptistério ocorreu em 1592.

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Lourdes Henriques