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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O Manuel (parte I)

Um homem que merece ser recordado pelo muito que deu de si aos outros.
Nasceu, cresceu, viveu e morreu na Barqueira, uma aldeia pequenina do concelho de Sobral de Monte Agraço.
Era criança traquina mas muito inteligente; na escola foi sempre o melhor aluno da classe. Acabada a instrução primária, pediu ao pai para aprender carpintaria mas o pai disse-lhe que não porque ele fazia falta para o ajudar nos trabalhos do campo. Naquela época, quando o pai dizia não, era não e não se falava mais no assunto.
O Manuel, contrariado lá foi para o campo.
Faleceu a avó, o pai herdou uma casa da qual não tinha necessidade. Que pensou o Manuel? Fazer dali uma escola para ensinar os que não sabiam ler.
Entre todos arranjaram umas mesas e uns bancos compridos e a escola começou a funcionar. Só à noite depois das pessoas virem do trabalho. Escusado dizer que alunos não lhe faltavam...
Como o dinheiro era muito caro, não podiam comprar cadernos e canetas; cada um comprou uma ardósia (um pequeno quadro) e era lá que aprendiam a ler, escrever e fazer contas.
Nesta altura era ele um rapazote com 17 anos, os alunos eram uns da idade do pai e outros ainda mais velhos. Dentro da escola quem mandava era o Manuel e todos lhe obedeciam. Livros, havia apenas os dele.
Passado algum tempo todos sabiam fazer o seu nome, estavam muito felizes. Muitos deles ficaram a saber muito bem ler e escrever e a fazer contas.
No convívio com estas pessoas ele apercebeu-se que algumas delas quando estavam doentes não tinham possibilidade de ter sustento para as suas famílias, viviam apenas com o que os vizinhos lhes davam.
Começou a pensar na maneira de os ajudar, resolveu então formar um grupo humanitário para que quando essas pessoas estivessem doentes pudessem ter um subsídio de sobrevivência.
Foi a Lisboa saber o que podia fazer, trouxe os estatutos e meteu mãos à obra.
Os estatutos diziam que não podia haver dinheiro em caixa e só se podia cobrar quotas quando alguém estivesse doente e não se podia receber mais que seis meses seguidos. Este regulamento não servia para o nosso meio porque eram quase todos trabalhadores rurais. Se estivessem três ou quatro doentes ao mesmo tempo eles não tinham possibilidade de pagar quotas avultadas.
Perante esta situação, alguma coisa tinha que se mudar...

Alice (Sobral-Espaço Net)

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