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domingo, 13 de junho de 2010

Passeio por África...(parte XIII)

O tempo não pára, não é?

O meu filho mais velho acabou o curso e chegou a hora de ir para a tropa. O mais novo não quis ficar sozinho em casa, sem o irmão e resolver ir também.

O meu marido não quis ver os filhos irem para a tropa. Veio de férias a Portugal. Eu fiquei a a segurar o barco. Não foi fácil vê-los partir, saírem de casa sem saber o que lhes estava reservado. Naquela altura a África do Sul estava com problemas nas fronteiras.

O mais novo, como tinha problemas de coração o médico deu-lhe uma carta onde dizia não poder fazer a recruta. O chefe dos escuteiros deu-lhe outra dizendo que ele tinha que vir a casa todos os sábados porque tinha um grupo de exploradores a cargo dele. Passou dois anos na secretaria a 150 Km de distância. O mais velho foi para a fronteira com Angola a 2.000 Km de casa. Como a área dele era engenharia nunca foi para o mato, ficou no quartel a resolver problemas locais. Graças a Deus os dois tiveram sorte!

Acabada a tropa, passou um ano e o mais velho casou.

A casa onde tão bons momentos tinham sido vividos tornara-se grande só para três. Vendemo-la e compramos outra mais pequena e outra em Portugal.

Quatro anos mais tarde o mais novo casou.

O meu marido começou a falar em regressar a Portugal. Eu não queria. Dizia que valia mais morrer em África com um tiro do que de saudades em Portugal.

A minha vida era muito preenchida. Trabalhei doze anos para o “Lusito” e 16 para os escuteiros.

Quando se fundou o agrupamento nem uma chávena havia para tomar um chá. Quando deixei, havia tudo o que era necessário para servir um jantar para 200 pessoas, uma carrinha de nove lugares e 10.000 Rands no banco. O mérito não é meu mas de todos os pais que trabalharam para o objectivo.

Foi um pouco de mim que ficou para trás.

Em 1993 decidimos e viemos para Portugal. Com a nossa vinda a vida deu uma volta de 180º em todo o sentido da palavra.

Custou-me muito deixar a família e foi muito difícil a readaptação a Portugal.

Ninguém batia à porta, o telefone não tocava, que tristeza! Pensei não aguentar tanta saudade.

Mas uma vez mais aguentei! Já cá estou há 17 anos...

Alice (Sobral - Espaço Net)

1 comentário:

  1. Alice parabéns és uma mulher com M grande.Tenho lido os teus escritos e nunca pensei que tivesses passado por todos esses sacrifícios.Quem como eu nunca saiu da nossa terra não calcula o que imigrante sofre.Mas sabes, isso fortalece as pessoas és uma mulher
    forte eu não teria essa coragem de sair da minha terra à procura do desconhecido.
    Tudo isso deu-te sabedoria para conseguires vencer na espinhosa estrada da vida.
    És um exemplo de vida ,tens a minha admiração junto com a minha antiga amizade
    Lisete

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