Relato um episódio por mim vivido há cerca de seis anos por altura da conclusão da minha moradia já no concelho do Sobral.
Estando a viver em Lisboa, deslocava-me todos os dias à obra a fim de seguir a conclusão dos trabalhos, colocação e montagem dos equipamentos.Certo dia, ao chegar ao local deparei com a porta arrombada e constatei a falta de diverso equipamento. O facto de não ter sido roubado todo levou-me a pensar que os larápios voltariam a fim de surripiar o resto, que por alguma razão não levaram.
Pensei então ingenuamente que se permanecesse no local durante a noite, surpreenderia os amigos do alheio e talvez recuperasse o que fora furtado.Assim fiz. Telefonei à família a informar que ficaria um ou dois dias. Pedi um divã (ainda não tinha móveis) e dispus-me a esperar munido de uma pistola e uma moca.
Devo dizer que o local durante a noite metia medo. Não havia nenhuma luz nem em casa nem na rua e tão pouco vivalma nas redondezas a menos de 500 metros. Ali estava sozinho, na escuridão ora sentado no divã ora de pé, muito apreensivo, evitando a todo o custo adormecer. Um barrote segurava a porta. Esperava os larápios.
A primeira noite passei-a acordado, alerta, tenso, sem qualquer resultado.
Na segunda noite tive muita dificuldade em permanecer desperto. Sentado, ora dando uns passos no escuro, pensando sempre que a qualquer momento surgiriam os ladrões.
Senti vários carros passarem, ouvi mil ruídos pela noite ampliados, cães que ladravam, o piar das coruja... o silêncio!
Exausto, por momentos sentado no divã, meio a dormir, meio acordado, sinto uma mão aberta em cima da minha cara tapando-me a boca!Completamente em pânico, veio-me à mente por décimos de segundo que se me mexesse seria um homem morto, sem dó nem piedade.Então, aterrorizado com o fantasma da morte tão perto, com a maior rapidez movida pelo desespero, agarrei a mão que me tapava a cara, quase me asfixiava. Gritei, saltei, e só nesse momento me apercebi que era a minha própria mão, a minha mão esquerda que pela posição incómoda, de tão dormente não a sentia.
Jamais esquecerei este episódio porque poderia ter acontecido uma das duas coisa: ou ter dado um tiro na minha própria mão ou...morrer de susto!
Rui (Sobral-Biblioteca)
Que história engraçada!
ResponderEliminarFelizmente acabou bem.
Suponho que desistiu de apanhar os amigos do alheio.