Com cinquenta e três anos de vida muitas são as histórias que poderia contar, boas, muito boas, más e muito más, mas essas não quero lembrar.
Os meus pais eram agricultores viviam dentro de uma horta que cultivavam e nós filhas ali crescemos. Somos três irmãs, a mais velha tem dez anos a mais que eu e a outra irmã tem só vinte minutos de diferença de mim.
Criar gémeas naquela época era difícil . Os meus pais passaram de uma filha para três ambos já na casa dos quarenta. Não havia infantários, amas ou avós disponíveis fomos criadas partilhando os trabalhos do campo com ferramentas feitas em ponto mais pequeno pelo meu avô materno de quem eu tanto gostava; era a minha companhia quando eu estava doente muitas vezes. Já era muito velhote tinha muitas dores herdou da guerra de França quando por lá andou.
Voltando à minha pequena história, rondava os meus seis sete anos antes de ir para a escola tinha que enxotar os pardais dos girões dos nabos, nabiças e das alfaces naquelas manhãs de inverno cheias de gelo que até a minha respiração parecia sair fumo pela boca e pelo nariz e lá ia batendo com as tampas das panelas velhas enxotando a passarada.
Quando a minha mãe chamava para comer as sopas de café com leite, estava na hora de ir para a escola ela tinha as minhas botas em cima do estrume curtido do gado porque era quente no inverno. E lá ia eu pelos atalhos das hortas até chegar à escola que ficava a uns três quilómetros partindo o gelo das poças de água gelada que encontrava pelo caminho, para mais uma dor de barriga, a escola.
Hoje encontro-me a escrever no computador e pensando em tudo isto e muito mais pergunto como é possível.
Prometo voltar!
Mª da Luz (Sobral - Sapataria)