Diz-se que os amigos são
para as ocasiões... Agora é ocasião para falar de um amigo. Médico
de profissão, namorador por opção e voluntário até mais não...
Integrou comissões da
AMI em África, mas o seu maior voluntariado foi no concelho do
Sobral. Nasceu em Moçambique e aterrou no Sobral, penso eu que na
década de sessenta. Para o meu marido era um "irmão",
para
mim um amigo.
Licenciado em Medicina e
exercendo a sua profissão durante muitos anos no Centro de Saúde do
Sobral, achava que a medicina deveria ser voluntariado e não uma
profissão lucrativa. Mesmo assim, ainda tentou abrir diversos
consultórios que nunca resultaram: não sabia vender o seu trabalho.
Dava consultas gratuitamente, na mesa do café, e, quantas vezes, a
receita era passada num guardanapo de papel.
No concelho toda a gente
conhecia o Dr. Campos. Fernando da Costa Campos, era o seu nome...
E quantos foram à
consulta em sua própria casa, sem pagarem um centavo, porque ele
não tinha coragem para levar dinheiro. As pessoas tentavam
compensá-lo de outra forma.
Senhor de fino trato,
inteligente, bem educado, um conversador nato, um sedutor... diria!
Um dia estávamos em sua
casa, recebeu um telefonema para uma consulta, o dinheiro não
abundava e vinha mesmo a calhar este domicílio. Voltou uma hora
depois, mais pobre, os bolsos vinham vazios, olhou-nos com o seu
olhar terno e simplesmente disse: eles eram tão pobres!...
Conversando com alguém
influente no nosso concelho, a quem lembrei que se podia, num gesto
simbólico, perpetuar o nome daquele Senhor, citei o como " pai
dos pobres" e a resposta foi rápida: "dos pobres e dos
ricos". Esta simples frase definiu o carácter "do nosso
amigo Campos", que não soube fazer da profissão negócio e
por
isso morreu pobre.
Continua sem ser
perpetuado o seu nome, mas era da mais elementar justiça que o
fosse, que as intenções não passassem só de promessas.
Maria Alexandrina
Olá amiga Alexandrina
ResponderEliminarApesar de eu estar a viver aqui no Sobral não há muitos anos, há mais de quatro décadas que esta é a minha terra adoptiva. E já há muito que ouço falar desse Médico como um Grande Homem, muito humano e com um grande coração. Mas infelizmente neste país, há muitos "Doutores Campos" que deveriam ser homenageados, mas como não sabem o que é política, ficam no rol do esquecimento ...
É sempre bom avivar a memória dos "esquecidos", pode ser que algum se lembre que aqui no Sobral existiu um Dr. Campos que se dedicou a esta terra de alma e coração sem esperar recompensa!
Um abraço da
Lourdes Henriques
Neste país as pessoas só costumam ser reconhecidas, quase sempre, depois de mortas.
ResponderEliminarNão foi, vá se lá saber porquê, o caso do Dr. Campos.
Não sendo Sobralense, graças ao blog fiquei a conhecer a existência de um Homem que, de carteira vazia, tanto deu de si a esta gente (pobre ou rica): alguém, felizmente, não o esqueceu e lhe prestou , pelo menos aqui, uma singela homenagem. Não a merecida…, mas que talvez possa contribuir para reavivar a memória dos que, devendo e podendo, andando ocupados com outros afazeres, se terão esquecido do Dr. Campos.
A D. Alexandrina tem vindo a dar-nos valiosos testemunhos do passado do Sobral e suas gentes. É um contributo importante, especialmente para as camadas mais jovens e para aqueles que, como eu e muitos outros, chegámos recentemente à Terra. Espero que continue e que o seu exemplo seja seguido por outras pessoas que, como ela, viveram cá desde sempre. Sei que a Câmara Municipal tem patrocinado iniciativas com este objectivo, mas julgo que com pouca divulgação junto da população em geral. Este Blogue não terá a penetração que se desejaria e poderia ter, mas sempre fica à disposição de todos, a todo o momento e em qualquer parte…do Mundo.
ResponderEliminarEscrevo isto a propósito do texto publicado, mas também impelido por uma notícia do Público de 11 deste mês, pag. 31: a Agência para os Castelos e Muralhas do Mondego lançou um projecto a que chamou “caixas de memória”, visando criar um espólio significativo de memórias e recordações sobre aquele património. Trata-se, claro, de um desafio lançado à “comunidade sénior” utente de instituições locais, incidindo também nas “histórias pessoais, vivências em comunidade, rezas e superstições, lengalengas, melodias…”. Nós não teremos castelos nem muralhas, mas temos outro património, gentes, costumes, tradições, instituições e outros que poderão ser aqui retratados, revividos.
Fica lançado o repto: E se costuma dizer-se que o mais difícil é começar,… aqui já se começou.
José Auzendo
Felizmente que na nossa terra houve médicos que eram parecidos com
ResponderEliminaro médico João Semedo,lembro-me doutro médico que me tratou era eu
criança,O Dr. Luis Borges,que também não sabia fazer da sua profissão um negócio.Sempre disponível e bem disposto era um gosto
ser tratado por ele.Felizmente O Sobral não o esqueceu e já e xiste uma rua com o seu nome para que fique perpetuado.Manuela
Homenagem a título póstumo
ResponderEliminarNão foi para mim surpresa ter encontrado alguém que se dignou dar um louvor público ao falecido e amigo DR Campos, ele o merece muito mais. Quantas foram as vezes em que eu me dirigi a ele por minha necessidade ou de algum familiar do meu conjugue e depois de o procurar, no consultório ou no café aonde ele por força do vicio devorava cigarros consecutivos e cafés em abundância, como se fossem os seus alimentos preferidos ou até na rua, e depois de lhe transmitir as minhas queixas, ele me consultava como se estivesse-mos num luxuoso gabinete com ar condicionado. Mas as suas preocupações não eram só essas, porque quando ele, conhecedor da maioria das pessoas do Concelho, e dos problemas dos descendentes de alguns habitantes, não hesitava em inteirar-se da situação e utilizando a sua experiência, sempre se disponibilizou para aconselhar o melhor caminho a seguir.
Merece o saudoso DR Campos a minha sincera homenagem, e o desejo de que aonde quer que ele se encontre o Sr. o considere como eleito da sua graça.
Boa tarde!
ResponderEliminarUm médico que ia para o café na hora em que devia estar no posto Médico e ficava lá 2, 3, 4 horas e os doentes à espera.
Que ajudou a reformar montes de pessoas novíssimas.
Enfim.
Caro Anónimo,
EliminarAqui SobralSenior é gente madura, gente que respeita e como vê o seu comentário está publicado. Se por ventura escolheu ser anónimo por opção, nada tenho a dizer. Se foi por ignorância, pode colocar a questão no mail sobral.senior@gmail.com. Arranjaremos forma de o ajudar.
Afonso Faria
Não não foi por ignorância, pois não sou totalmente ignorante, foi deliberadamente que escolhi o anonimato e como o blogue permite que possa ser dessa forma.
ResponderEliminarE não será para isso que serve a "liberdade" ou não é?
Porque será que não "gostam" que se digam as "verdades"? Não é conveniente?
E dai ter escolhido o anonimato, pois embora seja do conhecimento público o que escrevi nem todos gostam. Gostam só da outra parte (a das reformas, etc.)
Um bom final de semana!
Ao senhor anónimo "não totalmente ignorante", respondo que, tanto quanto sei, e escrevo neste Blogue todos os dias, neste Blogue não há plural, não há "aqueles que não gostam" das verdades ou das mentiras: neste Blogue só há cada um, cada um que escreve, e cada um tem o direito de escrever o que pensa, de exprimir o seu ponto de vista e é responsável pelo que escreve, e não é obrigado a escrever tudo sobre o tema acerca de que escreve. Espero que o senhor "não totalmente ignorante" não seja tão ignorante que não consiga perceber isto...É pena que não o tenha já percebido!...
EliminarA autora do texto sobre o Dr. Campos não se propôs fazer a biografia do senhor, não disse, por exemplo, se era casado se solteiro, se bom se mau médico, disse só aquilo que entendeu dever salientar. Não proibiu ninguém de salientar outros aspectos. Nem ela proibiu nem ninguém proíbe ou "não gosta". Aqui gostamos que todos deem o seu contributo, activo, assinado ou anónimo, assinado de preferência, mas só de preferência. E não temos polícias, nem conveniências, para além da necessidade de respeitarmos todos e cada um...
Ao senhor anónimo "não totalmente ignorante" deixo um conselho: não tenha medo de que os outros não gostem do que escreve, se escreve de boa fé, com verdade e sinceridade. Eu não tenho medo nenhum de que o senhor não goste do que escrevi. Até acho que devia gostar, mostrava que, era, de facto, "não totalmente ignorante".
José Auzendo
São mesmo gente gira
EliminarGira mesmo!!!!
Anónimo "não totalmente ignorante".
Encontrei um nome também giro!