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terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Visita ao Sobral – 1ª Parte



Pus-me um dia a percorrer as ruas do Sobral
Para vos dar a conhecer seu encanto sem igual



Deambulo por Sobral de Monte Agraço completamente abstraída nos meus pensamentos e, de repente, como num despertar de recordações, acordo desta abstração e reparo que, quase por encanto, me encontro na Rua Tenente Coronel João Luís de Moura, a Rua da Escola, como era conhecida. E aqui me extasio, não pela beleza da rua, mas pelo que ela me traz à memória, e ali estou eu, em menina, brincando e saltando, livre como um passarinho, amada e feliz… Por uns curtos momentos voltei a ser criança!

Quando acordei para a realidade, veio-me à ideia a sugestão de um amigo: porque não levar-vos a visitar a vila, rua a rua, e tentar explicar-vos a razão de cada nome dessas ruas? Se bem o pensei, logo o decidi, e aqui estou a tentar descrevê-las e a tentar escrever a origem dos seus nomes. E talvez não só isso, veremos se para tal terei “engenho e arte” …

Escola Primária
Vou começar por esta onde me situo, a já dita Rua Tenente Coronel João Luís de Moura: as Escolas Primárias, onde aprendi as primeiras letras e tomei o gosto pelo estudo e que hoje estão inactivas, têm o mesmo nome, com certeza já repararam!... João Luís de Moura foi Governador Civil de Lisboa pelos anos trinta, e deve ter contribuído para que as escolas fossem uma realidade. Desço toda esta rua, do Matadouro às Escolas, lembro os Senhores António Marques, António Filipe, Joaquim Cruz, Matias Cordeiro e João Mota, e tantos outros, meus vizinhos no tempo em que nela morei, gente boa, e aí espreita uma lagrimazita.

Acaba a rua e entro na Heróis da Bélgica, assim denominada para recordar a sangrenta  La Batalha de la Lys, na Flandres, durante a 1ª. Grande Guerra Mundial, em Abril de 1918; segui e encontro-me em frente à Igreja, na longa Rua Cândido dos Reis. Este senhor foi um lutador pela causa republicana, que ficou historicamente conhecido como Almirante Reis, nome de conhecida avenida de Lisboa. Ter-se-á suicidado na noite de 4 para 5 de Outubro de 1910, ao pensar que a revolta republicana tinha fracassado. Nesta rua nasceram as minhas duas filhas mais velhas. Olho à esquerda e a Estátua recorda-me o nome da Praça Dr. Eugénio Dias, médico e benemérito, um bom Sobralense, já por mim recordado neste blogue em 31 de Agosto de 2012.

Avanço porque se faz tarde e chego ao Largo dos Combatentes da Grande Guerra, a lembrar a 1ª. Guerra Mundial em que os portugueses participaram como escrevi acima, a propósito da Rua Heróis da Bélgica. E paro sem saber o rumo a tomar. Para a esquerda fica a bonita Avenida Marquês de Pombal, nome que não necessita de apresentações: foi um homem de muito saber, amado e odiado, a quem devemos, entre outras coisas, a Lisboa pombalina. A nossa Praça Dr. Eugénio Dias, também ela de estilo pombalino, foi desenhada pelo arquitecto Manuel Reinaldo Santos, que trabalhou na reedificação de Lisboa, depois do terramoto de 1755. Resolvo voltar à direita e subo a Rua Miguel Bombarda, nome de um psiquiatra ilustre, director do Hospital de Rilhafoles e membro da Junta Revolucionária para a proclamação da Republica: foi assassinado nas vésperas da revolta republicana, em 3 de Outubro, no seu gabinete de trabalho do hospital, por um doente mental que ele próprio tinha tratado e que lhe garantiram estar curado. Esta rua era conhecida por Rua dos Bombeiros, por ter sido aqui, e durante muitos anos, a sede dos Bombeiros Voluntários do Sobral.

Parque das Bandorreiras
Sempre andando, chego à Sede da Junta de Freguesia, no Campo da Feira, assim chamado por ser onde, antigamente, se fazia a feira do gado: estou na zona mais a sul da vila. Sinto-me cansada pela caminhada e por um reviver de outros tempos. Lembrei amigos e familiares, em todas as ruas tenho recordações, e resolvo ir para casa descansar. Recomeçarei logo que possa. Quando vislumbro o Parque Verde das Bandorreiras, sinto que estou no meu meio…sinto-me em casa.

Maria Alexandrina

4 comentários:

  1. Amiga Alexandrina
    A sua descrição do Sobral com as devidas explicações só mostram o seu amor e dedicação à terra onde nasceu e sempre viveu.
    Obrigada por me dar a conhecer melhor esta terra que me acolheu para passar os últimos anos da minha vida (sabe-se lá!).
    Continue a prendar-nos com estes seus conhecimentos que de certo, mesmo a muitos sobralenses, passam ao lado.
    Um beijinho da amiga
    Lourdes.

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  2. É de facto muito interessante este "Roteiro" que a Alexandrina começou e se propõe continuar a oferecer-nos. Quantas placas com nomes de ruas não lemos nós na Vila do Sobral (e não só, claro) sem termos a informação da razão de ser do nome atribuído?...E, como vemos, algumas retratam momentos ou figuras bem importantes ou simbólicos, não só da vida e da história da Terra, mas também do País e que, sem a sua "interpretação" não passam de "mais um" nome.

    Ficamos à espera de mais...

    José Auzendo

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  3. Cara Alexandrina,o seu percurso pelas ruas do Sobral, levou-me a fazê-lo também em pensamento. São ruas por onde passo tanta vez! E a explicação sobre os nomes é deveras interessante, alargando os horizontes culturais de muita gente.
    Continue!
    Um abraço
    Joaquim Sustelo

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  4. À semelhança do Sr. Sustelo também eu dei por mim a deambular neste percurso imaginário na minha mente. Apesar de o meu pai sempre despertar em mim desde pequena a curiosidade pela origem das coisas e dos nomes, reparo por vezes que as circuntâncias da vida nos levam a ser apressados e a deixar passar em muitas ocasiões a resposta a tars curiosidades.
    Recordei-me de umas actividades na escola de Sobral, em que fiz peddy-pappers pelo Sobral e onde nos questionavam a origem desses nomes, e foi muito bom ler este post e trazer à tona da memória tão boas lembranças.

    Bem haja a todos
    Hortense Bogalho

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