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quinta-feira, 6 de junho de 2013

O Concelho de Sobral e a sua origem


Para falar do Concelho de Sobral de Monte Agraço, da sua origem e das suas vicissitudes, vou repetir factos de que já falei nas diversas histórias da vila que escrevi, mas outros novos vão sobressair, que permitirão conhecer melhor o nosso concelho. Falei da Vila, hoje vou falar do Concelho.
O Concelho de Sobral de Monte Agraço pertence ao Distrito de Lisboa, distando cerca 40 Km da Capital. É limitado pelos concelhos de Arruda dos Vinhos, Alenquer, Torres Vedras e de Mafra. É um concelho pequeno, com 51,96 Km2 e uma população de cerca de 10 mil habitantes, ligada ao sector primário. É agora constituído por três freguesias, Sobral de Monte Agraço, S. Quintino e Sapataria, mas nem sempre foi esta a sua constituição.
O primeiro documento conhecido data de 1186, no qual D. Sancho doa ao Bispo de Évora, D. Paio, o Reguengo de Soveral, como reconhecimento de serviços prestados ao Rei e para incentivar o povoamento. Como se sabe, D. Sancho l foi o Rei cognominado “O Povoador”, que tentou povoar as terras que o seu pai, D. Afonso Henriques, tinha conquistado aos mouros. Era a época da reconquista cristã.
Capela de S. Salvador
A povoação mais importante era Montagrasso, sita no que é hoje o lugar dos Cachimbos, junto à Igreja de S. Salvador do Mundo. Soveral em Montagrasso, pensa-se, terá dado a origem ao actual nome de Sobral de Monte Agraço. D. João l concede-lhe em 1389 a jurisdição civil e crime, a conciliação do poder Municipal e, em carta de privilégio datada de 10 de Novembro de 1396, dá-lhe autonomia militar, pela ajuda prestada pelo povo miúdo de Montagrasso na tomada Torres Vedras, cujo alcaide era castelhano. A carta é confirmada por D. Duarte em 16 de Dezembro de 1433. Em 20 de Dezembro de 1518 D. Manuel I concedeu o Foral a Montagraço.
No reinado de D. José l e com a expulsão dos Jesuítas e respectiva confiscação dos bens, o Senhorio de Monte Agraço reverteu para a Coroa por decreto do Rei de 1759. Em 1770, Joaquim Inácio da Cruz arrematou em haste pública os bens e direitos do Reguengo. Em 1771, D. José faz mercê a Joaquim Inácio da Cruz de senhorio honorífico do Sobral.
Em 1821, a sede de concelho de Sobral de Monte Agraço situa-se em S. Salvador, sua única freguesia. Em 1836 concelho de Sobral passa a incluir as freguesias de Arranhó e S. Quintino, provenientes do Termo de Lisboa. A 24 de Outubro de 1855, as freguesias de S. Salvador, Arranhó e Santo Quintino são anexadas ao concelho de Arruda dos Vinhos.As
Igreja de Santo Quintino
alterações da sede de concelho nem sempre foram pacíficas. As gentes de Sobral de Monte Agraço e freguesias adjacentes revoltavam-se, e homens e mulheres dirigiram-se à Câmara de Arruda dos Vinhos a exigirem a passagem da sede do concelho novamente para o Sobral.
Enquanto isso, uma representação de Sobral dirigiu-se a Lisboa, o que levou o Rei a promulgar o Decreto de 10 de Fevereiro de 1887, data em que a sede do concelho de Arruda dos Vinhos é transferida para a vila de Sobral de Monte Agraço. A toponímia da vila refere-se a essa data, com a Rua 10 de Fevereiro, junto ao município. Em Março de 1890, o concelho de Sobral de Monte Agraço é separado de Arruda dos Vinhos, ficando composto pelas freguesias de Santo Quintino e Sobral de Monte Agraço.
Todas estas alterações administrativas deram origem a uma rivalidade entre o Sobral e Arruda, que ainda se fazia sentir nas pessoas mais idosas, no tempo em que eu era criança. Foi conturbado este século XIX para o nosso concelho, e em 1895 uma nova reforma
Brasão
administrativa extingue o concelho de Sobral de Monte Agraço e incorpora-o no de Torres Vedras. Finalmente, em 15 de Janeiro de 1898, o concelho de Sobral de Monte Agraço é restaurado, incorporando uma nova freguesia - a Freguesia de Sapataria - que pertencera a Arruda dos Vinhos até 26 de Setembro de l895. Assim ficou formado o concelho, tal como é hoje.

Maria Alexandrina

6 comentários:

  1. Obrigado pela pesquisa e pela partilha da informação.

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  2. Boa tarde Dona Maria Alexandrina!
    Porque razão haveria de dececioná-la?
    Encontrei, por mero acaso este blog.
    Já li alguns artigos seus e, confesso que gostei bastante. Escreve bem. Parece-me ser uma pessoa bastante interessada e que transmite coragem e otimismo que tanta falta nos faz e a prova disso mesmo é este texto que hj li e que nos traz história/cultura. Gostei imenso! Obrigada! O bem bem-haja e continuação dessa força que me pareceu ter. Prometo que aos poucos e, consoante as minhas disponibilidades, vou ler tudo o que já escreveu até aqui! Força e continue...continue sempre!
    M.Joaquina Elias

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  3. Amiga Alexandrina
    Dou-lhe os meus parabéns pela sua persistência, capacidade e interesse em pesquisar e transmitir-nos todos estes factos que fazem parte de um passado histórico bastante confuso.
    Pessoalmente, nunca gostei da disciplina de História, mas reconheço o interesse e mérito que tem na nossa cultura geral.
    Agradeço-lhe mais uma vez tudo o que nos vai revelando sobre esta terra.
    Beijinhos da
    Lourdes Henriques.

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  4. A leitura deste texto, aliada à leitura recente do livro A Esmeraldo do Rei, de Paulo Pimentel, levou-me a um raciocínio curioso. Para o expor, é preciso ter presente que o povoamento do Reguengo de Soveral, citado pela Alexandrina, tal como de outras terras, era fundamental para evitar que os Mouros reocupassem terras já conquistadas e que era importante manter livres, ou pelo menos que o ataque não ocorresse de surpresa, como em muitos locais acontecia. No caso do Sobral (e de Arruda dos Vinhos) era terra fundamental para travar os Mouros se estes tentassem (e tentaram) atacar Santarém e Coimbra, onde estava sediada, repartida, a Corte! Lisboa ainda não era a Capital do Reino e ainda não era terra completamente segura!

    E o raciocínio, então, é este: no século XII, Sobral ajudou a impedir a invasão, pelos Mouros, de sul para norte, de Santarém e Coimbra. No século XIX foi exactamente o inverso: agora foram os franceses que, vindos de Coimbra e Santarém … foram impedidos no Sobral de chegar a Lisboa, assim terminando as célebres Invasões Francesas … nas não menos célebres Linhas de Torres, que tiveram no Sobral um dos seus expoentes máximos.

    Auzendo

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  5. Este texto e toda a história do nosso Sobral e Sobralenses só vem realçar a garra e persistência das nossas gentes na luta pelo que é nosso! Só a coragem dos nossos antepassados permitiu que não fossêmos hoje arrudenses ou torreenses, sem qualquer problemas com os nossos vizinhos, mas somos sobralenses, temos a nossa identidade e soubémos bem defender o nosso espaço! Maravilha!
    Obrigada D. Alexandrina, gostei muito do seu texto. Já conhecia as peripécias, se bem que já me faltavam aí pormenores. Assim já posso contar à minha sobrinha como foi, bem direitinho!
    Cumprimentos
    Hortense Bogalho

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  6. Obrigado pela pesquisa e pela partilha. Só falta a data de fundação.

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