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quarta-feira, 12 de junho de 2013

RECORDAÇÕES DE INFÂNCIA (Crónicas)


O TROJAN”
Na primeira metade do século XX, viveu e trabalhou em Sobral de Monte Agraço, uma típica personagem, com a profissão de dentista, Américo Corona de seu nome, mas que todos conheciam por Américo Dentista.
Os automóveis eram a sua grande paixão, razão porque, provavelmente com algum sacrifício, comprou um dos primeiros automóveis que circularam pelo Sobral. O
Trojan 200 (foto autoviva.sapo.pt)
célebre “Trojan”, descapotável, que em vez de diferencial era ainda accionado por correntes, tipo corrente de moto, que faziam a ligação entre o motor e as rodas traseiras.
Bastante lento, como facilmente se pode imaginar, a sua velocidade estava naturalmente muito longe da velocidade que atingem os automóveis modernos.
Conhecido à distância pelo seu trabalhar e pela sua rouca buzina, fazia correr, com grande excitação para a berma da estrada, toda a miudagem de então, para ver passar o automóvel do Américo Dentista. Eram poucos os automóveis que circulavam pelas nossas estradas e aquele causava um fascínio muito especial.
Contava-se, que vindo certo dia o Américo Dentista no seu automóvel, a caminho do Sobral, caminhava a pé no mesmo sentido o António da Ponte, personagem de uma outra das nossas crónicas, O Anarquista, quando num gesto simpático, atitude que lhe não era muito frequente, encostou à berma da estrada e solícito, afirmou:
- Então, Sr. António venha daí, que lhe dou uma boleia até ao Sobral.
O outro, sem qualquer hesitação, respondeu de pronto:
- Muito obrigado Sr. Américo, mas eu vou com pressa.
Ironia do destino, cerca de cem metros adiante, passada a primeira curva da estrada, o “Trojan” recusava-se a andar.
O António da Ponte, num estilo que lhe era muito próprio, acelerando o passo, olhando o Américo Dentista e o seu “Trojan” imobilizados, com um sorriso disfarçado, exclamou:
- Não lhe disse Sr. Américo, que tenho muita pressa de chegar ao Sobral.

Eduardo João 

4 comentários:

  1. Caro Sr. Eduardo
    Mais uma das histórias pitorescas que abundam nesta vila, e que a pouco e pouco vão sendo desvendadas.
    Não fosse a boa vontade e espírito de partilha de alguns que as viveram, e as gerações actuais nada poderiam contar do passado aos vindouros.
    Bem haja pela sua participação.
    Tenho a dizer-lhe que achei muita graça a esta. Ainda gostava de ver um carro desses nos dias actuais, no meio da confusão!
    Com os meus cumprimentos
    Lourdes Henriques.

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  2. parabéns Eduardo
    Gosto muiyo das tuas histórias
    vem vindo ao noss Bloge Senior
    beijinho, Ana

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  3. Nos dias de hoje, semelhante, só os "papa reformas".
    Naqueles tempos, ter um carro era "estatuto", mesmo que um "estranho" como este.
    Boa história!
    José Albuquerque

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  4. Como me lembro do "Trojan" azul... todo cheio de cromados, sempre a luzir, porque o Sr. Américo tinha um orgulho enorme no seu automóvel, o que nem sempre era compreendido pelos vizinhos, que troçavam daquele exagero. Ele dedicava os tempos livres a acarinhar o seu carro, talvez a ocupar o tempo que disporia a brincar com um filho, que nunca teve...
    Maria Alexandrina

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