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terça-feira, 18 de junho de 2013

Escola de Música Pantomima


Na Sessão Solene da Assembleia Municipal comemorativa do 25 de Abril, um Auditório mais que cheio, com muitas pessoas em pé e outras à porta, foi surpreendido pela música de um grupo de “crianças” de todas as idades que se estendiam por um dos corredores laterais: foi a responsável pelo “Grupo Crisalis” que se tinha oferecido (!...) para actuar naquela cerimónia, com as Escolas de Música do Sobral e do Milharado. E foi a surpresa total porque “ninguém” no Sobral sabia que, na Vila, havia uma Escola de Música. Mas havia: e naquela noite, o “Crisalis”, qual crisálida, ao romper a casca que a envolvia, mostrou a linda borboleta que é. E cantaram Zeca Afonso, vejam só.
Vamos entrar nesse mundo Crisalis … Miriam Araújo, professora de música, residente há seis anos em Pero Negro, é o rosto de um projecto que permaneceu “alinhavado numa gaveta durante muitos anos”. Tendo por base a música, o projecto engloba outras áreas: teatro, dança, artes plásticas, artes circenses, psico-motricidade, inglês...
É o “Grupo Crisalis”, que funciona como empresa em nome individual da própria Miram Araújo. Tem vários nichos de intervenção, vários “Projectos”, e começou com aulas para crianças dos 3 meses aos seis anos, em creches,
infantários e colégios privados, estando neste momento em alguns colégios de Lisboa e num da Malveira, com contratos específicos para esse fim. O corpo lectivo é constituído por professores das várias especialidades. Esta área constitui o nicho apelidado de “Projecto Pantomima”.
A experiência obtida e os bons resultados alcançados, permitiram-lhes envolver-se nas … AEC – Actividades de Enriquecimento Curricular, a funcionar nas Escolas em horário pós-lectivo; e assim passaram a dar aulas de música, inglês, ginástica … aos alunos do primeiro ciclo das instituições onde já estavam. Numa fase seguinte, começaram a dar todas as suas aulas de artes – teatro, música, artes plásticas, etc. – em formato bilingue, em português e inglês simultaneamente…No conjunto destas actividades estão envolvidas sete professores, dos quais só Miriam reside no Concelho.

Fazem, além disso, aquilo a que chamam “animações”: festas de aniversário, casamento, … um Projecto denominado “Terra do nunca”. E depois disto tudo, nasceram as escolas próprias, desligadas dos colégios, num outro nicho chamado “Círculo das Artes”, com aulas de música, teatro e dança, ballet, mas separadamente. E foi assim que nasceram três escolas autónomas: na Amadora, no Milharado e no Sobral.
No Sobral, a escola abriu há quatro anos e está só dedicada à música. É, diz Miriam Araújo, o local em que mais dificuldade têm tido para consolidar o Projecto, “porque as pessoas não fidelizam”, daí que esteja a ser “muito difícil crescer”, se comparado com Amadora e Milharado!...Tentaram fazer, no início, uma parceria com o Município para formarem uma “Escola de Artes do Sobral”, mas não foram criadas as condições para que tal se tornasse possível. Não nasceu a “Escola das Artes” … surgiu a escolinha do “Círculo das Artes”…
As aulas funcionam com um aluguer na loja do Balão Mágico, na Praceta António Luís Borges, todas as quartas feiras, das 17 às 20 horas. Começaram com seis alunos, e estão agora com doze, de ambos os sexos e de todas as idades: dos 3 aos 67! …Têm aulas de piano, guitarra, violino, bateria, violoncelo, flauta transversal, cavaquinho e canto, ministradas pelas professoras Rita Carreira e Miriam Araújo.
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Os alunos podem ter só uma aula de uma hora, ou duas horas, uma de teoria, solfejo, e outra de prática instrumental. Para os mais infantis, criaram uma aula especial de “Iniciação musical”, muito variada, para que eles possam descobrir a sua própria inclinação/vocação. Têm também o que se chama “música para bébés”. Geralmente, os alunos que aparecem começam do zero, e a escola tem condições para, “se os alunos quiserem, ficarem preparados para fazerem exame de admissão ao Conservatório Nacional”.
Tudo isto … e o Sobral sem saber. Dá que pensar, sobralenses: quando romperemos a casca de crisálida em que nos enclausurámos?
José Auzendo

13 comentários:

  1. Desde que me lembro que tenho o sonho de tocar guitarra, tanto e tão grande era esse sonho que há muitos anos comprei uma guitarra: podia ser que um dia começasse a aprender sozinho. Claro que isso nunca aconteceu e a minha guitarra lá ficou em casa a olhar para mim sem eu lhe tocar. Soube que tinha começado a funcionar a Escola de Música na Praceta Luís Borges, mas só há um ano e tal tive condições para me inscrever. Comecei do zero, tinha na juventude estudado um pouco de solfejo, mas nunca mais pratiquei. E numa guitarra nunca tinha começado a tocar.

    O ambiente na Escola entusiasmou-me, foi fácil integrar-me apesar de poder ser pai ou avô de todos os outros colegas e professoras. Com o método de ensino que a escola usa foi-me fácil ir aprendendo. Já estive presente em algumas “apresentações”, incluindo a da noite de 25 de Abril. E muitas vezes entretemo-nos em casa, eu e a minha mulher, Sabina, que anda no Coro Sénior do Sobral: ela a cantar as canções do Coro e eu a acompanhá-la. Estou a realizar o meu sonho antigo de aprender a tocar guitarra.

    Arlando

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  2. Apesar de não ter filhos nem netos residentes nesta zona que possam usufruir destas aulas, quero agradecer ao Auzendo o seu interesse, persistência e empenho em "desvendar mais um mistério" escondido neste Concelho, pois de certo haverão muitas pessoas a quem interesse, mas que nem sequer sonham com a existência destas actividades.
    Apenas me ocorre concordar com o Auzendo quando diz:
    "Tudo isto … e o Sobral sem saber. Dá que pensar, sobralenses: quando romperemos a casca de crisálida em que nos enclausurámos?"
    Julgo que seria uma mais valia para o Sobral as entidades competentes colaborarem com todo este trabalho, apoiando, dentro das suas possibilidades, o desenvolvimento desta área que poderia proporcionar aos jovens uma aquisição cultural mais ampla e uma útil ocupação dos seus tempos livres, que tantas vezes são passados sem apoio algum, até que os pais cheguem à noite dos empregos, livrando-os muitas vezes por maus caminhos por falta de apoio.
    Daqui faço um apelo para que todo este potencial existente neste Sobral deixe ser uma actividade só para alguns, pois julgo que todas as crianças, ricas ou pobres, deveriam ter as mesmas oportunidades.
    Bem-haja amigo Auzendo.
    Um abraço
    Lourdes.

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  3. Confesso que também estou admirada. Pouco ou nada sabia da existência desta escola de música; não consigo perceber esta falta de interesse pela cultura desta terra. Não sei por que razão o pelouro da cultura da Câmara não ofereceu uma sala na escola primária! Em contrapartida beneficiava algumas crianças que tivessem gosto pela música e que os pais não pudessem pagar tanto.

    E fico por aqui, a Lourdes Henriques já disso tudo, e muito bem, e eu estou de acordo.

    Lisete

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  4. A crise afecta todos os sectores, e cada vez está a ser mais difícil os pais darem aos filhos uma educação mais completa. Também os Municípios se debatem com problemas bem diversos, o dinheiro não abunda, talvez por isso nem pais nem autarquias tenham disponibilidade, e não falta de vontade, para dar uma educação musical às suas crianças.

    Conheci esta Escola no dia 24 de Abril, até ali, nunca tinha ouvido falar dela, no entanto vivo bem perto. Acho que não tem havido a divulgação necessária, mas posso afirmar que já no Sobral tem havido tentativas de se imporem escolas de música e sem sucesso.

    Acho que através deste texto do Professor Auzendo será mais divulgada a existência da Crisalis e assim alguns pais ou avós que queiram e possam dar mais aos seus meninos os inscrevam nesta escola de música.
    Maria Alexandrina

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  5. não quero deixar de me juntar ao grupo de pessoas que através do seu testemunho vem "dar uma forcinha" a esta realidade que muito pode ajudar a um Sobral cultural e de futuro. tomo conhecimento através deste trabalho, com os agradecimentos sinceros e de reconhecimento ao amigo Auzendo , que com a sua consequente persistência tanto tem feito para divulgar o que de mais perene e mais valioso há numa sociedade( as suas gentes, costumes e cultura ). A ele, desde já, o meu Bem Haja.
    Mas aproveito para com igual estima e consideração daqui cumprimentar e agradecer a todo o corpo docente desta Escola, como simples gratidão de um "estrangeiro" que ao aportar ao Sobral, fez deste concelho uma segunda referência da sua vida. Segunda, apenas por ser um cidadão que tem como matriz de pensamento, que a sua terra natal é algo que se "apega ao corpo" como segunda pele que só a morte pode separar. Orgulhoso de toda a bondade e carinho que os sobralenses me têm dispensado, apenas posso e quero retribuir com o empenhamento em colaborar na elevação e divulgação desta pequena e bela terra e das suas realizações, como é o caso em referência. Votos de longa e frutuosa vida a todos aqueles que com " o seu engenho e arte" vão enriquecendo a história desta vila que, já em tempos idos mas não esquecidos, marcaram as páginas da portugalidade.

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  6. Gosto que o mundo à minha volta faça sentido, para que possa acreditar nele. Foi o que senti hoje ao conhecer o projecto Pantomina. Por mero acaso, estive lá na Escola, depois de ler o texto. Diz a Lourdes que seria uma mais-valia para o Sobral … Diz a Lisete que não sabe por que razão pelouro da cultura … E eu pergunto: como é possível que se desperdice aquele potencial…que até serviria para dar uma imagem positiva do Concelho, para além dos benefícios mais que evidentes para os jovens e não só? Certo é que a escola existe há 4 anos e continua a ser ignorada tanto pelas entidades competentes, como até por muitos pais. Há certamente outras prioridades, por razões que nos ultrapassam…

    Como na vida tudo se aprende, os resultados são, por exemplo, um Cine-Teatro com magnificas condições, mas com tão pouca assistência que chega a envergonhar os poucos espectadores presentes, dando até vontade de pedir desculpas aos artistas. Salas vazias idem na maioria dos poucos eventos culturais que se vão realizando.

    A crise serve, infelizmente, para desculpar muita coisa… acontece que governar com muito dinheiro não tem ciência nenhuma nem sequer exige grande trabalho, o mérito está, precisamente, em fazer, “com um ovo, omeletes para muita gente” e estamos todos fartos deste “fado” que já não convence ninguém – basta ver como aquele grupo tenta sobreviver não perdendo a alegria.

    Sinto o mesmo que a amiga Lisete: “não consigo perceber esta falta de interesse pela cultura desta terra.”
    Inês

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  7. Como é possível haver uma escola de música a funcionar no Sobral à já quatro anos, e a maioria das pessoas não terem conhecimento?.
    Conheço a Miriam Araújo, sabia que estava ligada às artes mas, não fazia ideia que dava aulas, e muito menos no Sobral.
    Tambem eu quero agradecer ao Amigo Auzendo, por estar sempre atento, na tentativa de descobrir algo interessante para divulgar neste cantinho que é o nosso blogue. Ainda bem que este apontamento foi publicado, pois estou certa de que, vai dar oportunidade de algumas pessoas poderem realizar os seus antigos sonhos, como foi o caso do Sr. Arlando. Outras crianças terão a possibilidade de iniciar a sua formação musicál,o que é muito importante, fazendo assim, aumentar o numero de alunos já existente, tornando a escola mais consistente.
    Rosa Santos

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  8. Também eu fiquei bem surpreendida quando me disseram que essa escola tinha tocado no auditório no 25 de Abril .O que nunca me passaria pela cabeça era que fosse a escola a oferecer os seus préstimos. Admiro a coragem dos professores e alunos e dou-lhes os meus parabéns. De facto tudo nesta terra parece mistério, mas felizmente vai havendo alguém que os consegue desvendar. Obrigado Sr. Ausendo.
    Alzira

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  9. Embora não cuide de desvendar mistérios, nem sei se os há, regozijo-me com as palavras antes ditas, por todos os que comentaram, sobre a utilidade deste texto. Utilidade para os mentores da Escola, que bem merecem o nosso apoio, que bem mereciam outros apoios, mas acima de tudo para os possíveis beneficiários da existência daquele oásis de cultura. Por isso, acho que sim, Manuel Augusto, todos devemos “dar uma forcinha” para que aquela borboleta continue esvoaçando entre nós, para que possamos continuar "escutando a nossa horta".

    Estive umas quatro vezes naquele cantinho – aquele é mesmo um cantinho, e muito acolhedor – e senti o mesmo que o Arlando: o ambiente é entusiasmante, apetece entrar e ficar a ver e ouvir, mesmo quando lá estão juntas umas cinco – cinco - gerações de pessoas … E, já agora, deixem-me salientar isto: as nossas crianças merecem conhecer aquilo, mas não só as crianças, também jovens e adultos se integram bem lá, tenho essa convicção, numa saudável convivência intergeracional. Reforço o apelo da Lourdes para que as entidades competentes procurem colaborar com estas organizações como forma de “proporcionar aos jovens uma aquisição cultural mais ampla e uma útil ocupação dos tempos livres”. Para isso pode não ser preciso dinheiro, poderia bastar, como refere a Lisete, a cedência, com certas condições, de uma sala para as aulas, um ou dois dias por semana.

    É preocupante a frase da D. Lisete, dita do alto dos seus oitenta anos de sobralense nata, e sempre activa nas iniciativas da sua terra, pelo que sei, pelas fotos que vejo, desde quando “eu ainda não era nascido”: não consigo perceber esta falta de interesse pela cultura desta terra. E também acho que merece ponderação, séria, o facto de ter sido a própria escola a oferecer-se para actuar na sessão solene da Assembleia Municipal do 25 de Abril: fez daquela reunião o que todas deveriam ser - uma sala cheia de gente a participar…

    Auzendo

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  10. Quantas vocações podiam ser descobertas se outras atitudes fossem tomadas além de a juventude poder ocupar-se nos tempos livres. talvez até que se evitasse muitos problemas.
    Parabéns aos professores e que continuem com o projecto
    Adelaide

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    1. Dona Adelaide, já não moro no concelho mas continuo muito ligada a essa terra.
      Se os jovens quiserem música e ocuparem os tempos livres à borla, podem ir ao campo da feira, onde há muita música, sardinhas e vinho toda a noite. Para isso não há crise que faça faltar dinheiro.

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  11. Esperavam outra coisa?
    Anjinhos!
    Paulo Cardozo

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  12. Boa noite. Depois de ler este artigo e anteriores comentários, não posso deixar de dar o meu parecer. Primeiramente, quero dar os meus sinceros parabéns a todos os professores e alunos deste projecto por todo o empenho apesar do não reconhecimento público demonstrado até aqui, mas sim pelo esforço e dedicação em prol do crescimento cultural de cada um de nós. Acompanho este projecto mesmo antes da sua oficial existência e, ao ler este artigo, não posso deixar de evidênciar a mentora deste trabalho, a professora Míriam Araújo, que pra mim é uma inspiração por nunca desistir dos seus sonhos apesar de todas as adversidades, apesar de não ser um trabalho reconhecido até aqui, apesar de muitas pessoas ainda terem a ideia (errada) de que a cultura não contribui para a formação do indíviduo, apesar da crise, apesar de muitos outros obstáculos, a realidade é que, se acreditarmos nos nossos sonhos e trabalharmos por eles, não existem barreiras intransponiveis. Nada é impossível para aqueles que acreditam. E esta mulher é a prova viva disso.
    Fico orgulhosa de que Sobral de Monte Agraço abrace também este projeto. E espero ainda, num futuro próximo, que este trabalho possa abranger todo o país.

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