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sexta-feira, 18 de maio de 2012

Rosa... criança



O meu nome é Maria Rosa Santos, tenho 62 anos.
Nasci no seio de uma família maravilhosa numa aldeia do concelho de Vila Franca de Xira de onde o meu pai era natural. Lá vivi com os meu pais e irmão mais novo 22 meses até por volta dos 6 aninhos, altura que mudámos para uma aldeia, A-do-Barriga no concelhos de Arruda dos Vinhos, terra de minha mãe. Por lá andei até os 21, data com que me casei.

Carteira escolar
Aos 7 chegou o tempo da escola, ainda me lembro como se fosse hoje. A mãe foi-me levar no primeiro dia de escola. Lá fui feliz e contente, de malinha na mão, com os meus primeiros livros, batinha branca e laçarote no cabelo. A me receber, lá estava a minha primeira professora, a D. Laura, também com bata branca como se usava naquela época. Senhora de grande coração de quem tenho muito boas recordações.

Para ir para a escola tinha que percorrer cerca de 3 km a pé, para cada lado. No Inverno é que era complicado porque não havia estradas alcatroadas como acontece nos nossos dias. Lá íamos nós, eu e mais três quase vizinhas a saltitar na tentativa de encontrar umas pedrinhas que nos permitissem não chegar à escola cheias de lama. Umas vezes conseguíamos, outras não.
Por volta do terceiro ano mudei de professora, a D. Antónia, também boa pessoa mas muito mais austera e de personalidade muito forte.


Naquele tempo a professora dava aulas às quatro classes, rapazes e raparigas, na mesma sala. Através de uma foto da época confirmei, 39 alunos quase todos passavam com aproveitamento. E era a Geografia, Ciências, História de Portugal etc, etc, e até os cognomes dos reis tínhamos de saber na ponta da língua...
Ainda me recordo das brincadeiras do recreio, das actividades extra. Todos tínhamos os nossos pequenos jardins onde plantávamos flores, figuras geométricas diferentes, contornados de pedrinhas. O meu era um losango!
“Só se perdem as que caírem no chão”, diziam os pais quando alguma de nós se lamentava ter apanhado na escola. Outros tempos...

Por volta dos 13, 14 anos fui aprender costura e depois bordar porque a minha querida mãe achava que uma rapariga devia saber fazer um pouco de tudo para que um dia, ao casar fosse uma boa dona de casa...

Rosa Santos

4 comentários:

  1. Boa noite Rosa
    Já nos conhecemos, embora apenas virtualmente, mas ambas sabemos quem é a outra. Por isso julgo que posso tratá-la como colega e amiga do Clube Sénior.
    Li com muito interesse a sua história de que gostei muito, e que me reportou à minha infância: o mesmo livro, a cadeira e a bata idênticas, as mesmas brincadeiras, enfim, um conjunto de situações engraçadas que nos deixam boas recordações dos tempos de crianças. Mas julgo que no seu caso, o pior seria o trajecto, principalmente no inverno, que não devia ser nada confortável. Mas era assim antigamente, e ainda bem que neste caso, as coisas mudaram muito. Já quanto ao "Só se perdem as que caírem no chão", se hoje os "papás" tivessem essa mesma postura, talvez não houvesse tanta queixa da juventude actual. Uma grande parte dela cresce sem regras e sem grande apoio familiar, e isso contribui em grande escala para ajudar à sua degradação e má formação moral. Pelo contrário, se houver algo errado com as crianças, alguns paizinhos ainda vão à escola pedir satisfações, enxovalhar, ameaçar e até por vezes agredir os professores.
    Hoje em dia seria impensável existirem turmas com as 4 classes. Até porque o número de alunos de certo que é muito maior e 1 só professor não daria conta do recado. As coisas mudam e há que acompanhar a evolução. Só é pena que nem sempre esse acompanhamento seja o melhor. Eu, na minha modesta opinião, acho que os jovens são o espelho dos adultos que os educam e por isso, salvo alguns casos esporádicos, não são eles os maiores culpados de tudo o que lhes apontam.
    Gostei da sua história e também por ser mais uma colega a aderir ao blogue. É muito agradável saber que há pessoas que se interessam pelo blogue. São troca de experiências, e ajuda-nos a manter o cérebro em actividade.
    Até breve e um abraço da
    Lourdes.

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  2. Minha amiga Rosa, permita que a trate assim, mesmo sem nos conhecermos.
    Tem menos uns anos do que eu, mas a narração que faz da sua escola,é tal qual a escola do meu tempo. Essa frase do seu pai que " só se perdem as que caem no chão," era usual, mas por acaso os pais desses tempos se interessavam pelo que se passava na escola? Muito poucos.
    Na minha escola os rapazes estavam separados das raparigas, como a minha professora era casada com um professor, muitas vezes eu ia levar recados da senhora para o marido, e ao que assistia deixava-me doente para todo o dia. O professor com uma " menina de cinco olhos", a bater com toda a sua força nas mãos pequenas e algumas já calejadas dos miúdos, não sei se era minha impressão ou até escorria sangue.
    O professor não tinha a sensibilidade para se aperceber de que aquelas crianças, chegavam à escola cansados da caminhada e duas ou três horas de trabalho no seu pequeno corpo, para ajudar os pais na lavoura.
    Hoje inverteram-se as personagem, mas a violência é a mesma.
    Maria Alexandrina

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  3. Olá Maria Rosa!

    Ao ler o seu texto revivi os meus tempos de menina. A minha escola também ficava longe da minha casa e também entrei para a escola com 7 anos. Nos invernos, muito chuvosos, lá ia eu e os meus coleguinhas, por caminhos cheios de lama, procurando as tais pedrinhas, para não sujar os sapatos. Havia alguns sítios que nem pedras tinham, nem podíamos passar porque a água fervilhava debaixo do chão e, para não ficarmos com os pés enterrados, tínhamos que subir muros e dar a volta por terrenos mais altos; aí tínhamos o problema dos donos das terras, que não nos queriam deixar passar. Era uma época muito difícil para quem vivia nas aldeias. Vivíamos muito isolados, não havia estradas, e talvez esta fosse uma das razões porque muitos miúdos nessa época não foram à escola.
    Na escola era muito bonita a bata branca, que ajudava a tapar muita miséria: as roupas velhas que a maioria dos alunos vestia, alguns até andavam descalços.

    Eu tinha uma professora muito boa, mas também batia quando nós não sabíamos fazer os problemas, levávamos reguadas e, quando algum mais falador não estava calado, trabalhava a cana de bambu. Não me lembro de alguma vez ter feito queixas à minha mãe da minha professora.

    Discordo completamente da frase que os pais diziam aos filhos “que só se perdem as que caem no chão”. A missão de um professor é dar formação e respeito, ensinar os alunos a respeitar os outros, que era isso que nós apendíamos quando andávamos na escola. Um professor que não sabe manter o respeito numa sala de aula, que chama burros aos alunos e que, por qualquer motivo, dá tareias e os ignora, não merece ser respeitado, penso mesmo que nem deviam ser professores. Que me desculpem todos aqueles professores que dão o melhor de si aos seus alunos: esses sim merecem o respeito de todos nós. De maneira nenhuma eu quero ofender os professores. Se os alunos e seus familiares não têm o direito de agredir os professores, também os professores não têm o direito de agredir os alunos e de os enxovalhar quando eles não sabem que 4+1 =5.
    Mariana

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  4. As mesmas vidas, as mesmas experiências, outras palavras, outras ideias. Já lá chego. Claro que também eu, agora com 66 anos, fui criado e educado de acordo com a ideia de que "dar educação" aos filhos, aos alunos, era bater, dar "coça de criar bicho". E se os professores "arriavam" bem, os pais achavam que era pouco. Curioso é que, na minha terrinha, lá para o Minho, dizia-se "só se perdem as que vão pelo ar", não as que caem ao chão.

    Também a miséria era a mesma: fico cheio de "inveja" quando a Mariana diz que "alguns até" iam descalços à escola: lá íamos todos...E se, lá, naqueles tempos, os invernos eram rigorosos, os caminhos lamacentos, a escola a 4 km de casa.

    É óbvio que a função de um professor é dar formação, ensinar a respeitar. Mas não creio que se possa dizer, sem mais, que "era isso que nós aprendíamos quando andávamos na escola" há 60 anos: nós aprendíamos a ter medo, era a "educação" pelo medo. Medo da porrada, do enxovalho, dos castigos de toda a ordem; medo do pecado, tudo era pecado, acções, omissões, pensamentos, a pagar noutra vida ou já nesta que, "sem pau nem acha, Deus castiga que racha".

    Pais, padres, professores, familiares, vizinhos "mais velhos", todos afinavam pela mesma cartilha: se não obedeces, se não fazes como te dizem para fazeres, serás um desgraçado toda a vida. Esta vida já - e depois tens o Inferno à espera...Educação, isto? Respeito? Claro que sobrevivemos, e até estamos bem...

    José Auzendo

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