VISITANTES

segunda-feira, 7 de maio de 2012

O Monte Agraço Futebol Clube (MAFC)


Desde sempre me recordo de ir ver os jogos do Monte Agraço Futebol Clube quando a equipa jogava em casa. Um familiar contava-me que, quando eu era pequenita, aí com não mais de cinco anos, veio cá jogar o Casa Pia e, entre os jogadores, um era de cor. Quando o rapaz corria com a bola, eu gritava: anda preto da Guiné! Em meu redor todos aplaudiam a minha esperteza, por eu saber que os naturais da Guiné eram “negros”. Ninguém me disse que era muito feio o que eu dizia. A palavra “racismo” não era do nosso conhecimento. Outros tempos...outras mentalidades.

Os anos foram passando e, já adolescente, continuei a acompanhar o Monte Agraço Futebol Clube sempre que a equipa jogava em casa. Aos domingos, sempre que havia jogo, eu e o meu grupo de amigas lá estávamos a apoiar a nossa equipa. Num relvado de terra batida, coberto de vegetação rasteira que nascia espontaneamente, os nossos rapazes corriam com a bola e nós, chamando-os pelos nomes, tentávamos dar-lhes mais força para que a bola não fosse parar ao adversário...Regozijavamo-nos com as vitórias e sofríamos com as derrotas!

Ao longo dos anos, o Clube sofreu muitos altos e baixos, mais baixos que altos,
vivia da quotização e das receitas de bilheteira, que nem sempre eram famosas. Tempos difíceis...mas o Clube sobreviveu graças à tenacidade de uns e à boa vontade de outros. Os tempos mudam… mudam-se as vontades e, hoje, o Monte Agraço tem um campo de jogos moderno, agora sim, com relvado - tem um óptimo pavilhão gimnodesportivo. E já não há só uma equipa de futebol, tem equipas de diversos escalões, com jogadores federados, além de desenvolver outras actividades.

Já não vou aos jogos de futebol, mas torço sempre pelo Monte Agraço, o clube dos Sobralenses. É preciso não esquecer que, por detrás de tudo isto, está a “carolice” de alguns, que o fundaram, o organizaram e o mantiveram para que hoje outros possam usufruí-lo e desenvolvê-lo.


Maria Alexandrina
 



2 comentários:

  1. Amiga Alexandrina
    Parabéns pela descrição que nos oferece do Clube de Futebol do Sobral. Para quem como eu, não acompanhou ao pormenor a evolução desta terra, é muito interessante haver testemunhos destes para nos dar conhecimento do que foi o passado. Achei muita graça ao seu descaramento típico de criança inocente, tal como admiro a sua disponibilidade em acompanhar um Clube de Futebol, normalmente um desporto mais apreciado por rapazes. Mas a minha amiga esteve sempre presente, e só assim nos pode facultar todas essas vivências do clube.
    Ainda bem que houve alguém com coragem e tenacidade para ir aguentando o barco nos tempos mais difíceis de modo a ter chegado aos nossos dias. Bem-hajam esses corajosos. Só desejo que continuem a existir sempre outros corajosos que saibam honrar e desenvolver o trabalho dos que por lá vão passando.
    Um abraço
    Lourdes Henriques.

    ResponderEliminar
  2. Este texto, para além de nos dar a conhecer um pouco da vida e da história local, transporta-me também para outros tempos em que, criança com a mesma idade, bem no coração do Minho, entoava canções ou ditos como, por exemplo, "preto da Guiné lava a cara com café"...Nunca tinha visto um "preto", também não conhecia a palavra racismo, mas não era com simpatia que os referíamos; sabia que eles existiam, eram os "coitadinhos dos pretinhos", gentios por não terem fé (di-lo a canção de origem açoreana, olhos negros da Guiné, da Guiné por serem negros, gentios por não terem fé)

    Depois, na minha vida, a partir de 1961, os pretos passaram a ser os terroristas, "os turras"... fossem eles da Guiné ou de Angola. Nessa altura sim, já havia racismo acirrado, mascarado de guerra contra os terroristas, os "tugas" contra os "turras"...

    Claro, também então chegou o Matateu, o Eusébio, o Coluna, e assim regresso ao futebol. Os voos que estes textos nos fazem dar...Para isso são escritos, não é?

    José Auzendo

    ResponderEliminar