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domingo, 20 de maio de 2012

Comissão de Moradores do Sobral



Estávamos no ano de 1975, vivia-se em pleno a euforia de uma revolução cujas armas tinham sido os cravos vermelhos: o povo era quem mais ordenava, e o poder popular era palavra de ordem. Assim nasceram as comissões de trabalhadores nas fábricas e as comissões de moradores nas povoações.

As comissões de moradores eram formadas por pessoas residentes na  povoação e trabalhavam no intuito de minimizar as carências das populações. E, com mais ou menos sucesso, algumas obras ficaram feitas! Vi homens das mais variadas profissões, membros da Comissão de Moradores do Sobral, a cortarem eucaliptos, árvores de grande porte, com uma motosserra, e sem serem capazes de perceber para que lado as árvores iam cair. Felizmente ninguém se magoou. Vendeu-se a madeira e compraram-se baloiços e escorregas: graças ao trabalho activo da Comissão, nasceu o primeiro parque infantil do Sobral.

Mas a mais importante obra edificada, que ainda perdura, devido ao esforço de muita gente e a muitas horas tiradas ao trabalho de cada um - e todos eles sustentavam a família com o seu trabalhoé o jardim-de-infância. Era uma necessidade muito sentida, mas como consegui-lo de um momento para o outro, de que forma se resolveria o assunto? Reuniam quase diariamente, com grande participação de moradores e trocas de ideias e, assim, alguém se lembrou da casa paroquial que estava devoluta. Depois dos contactos convenientes, foi obtida autorização para se ocupar o rés-do-chão. O espaço estava arranjado, faltava o mobiliário!

Organizaram-se bailes, vendeu-se ferro velho que se encontrava abandonado, e mais um problema ficou resolvido: cadeiras, mesas e estantes de tamanho mínimo foram compradas. Faltavam o fogão e outros utensílios para a cozinha, para se aquecerem as refeições das crianças: desta vez entraram em acção as mulheres dos homens da Comissão e depressa tudo se resolveu.

Assim se criou o primeiro jardim-de-infância do Sobral, que começou a funcionar com uma educadora e uma auxiliar. O espaço, pela grande afluência de crianças que se verificava, tornou-se insuficiente. Tinha que se pensar em algo mais amplo.

Elementos da Comissão de Moradores, um grupo de mulheres e a ajuda de uma assistente social, que visitava a vila e ajudava nas suas carências, começaram a pôr a obra em marcha: com um terreno oferecido pela Câmara Municipal e o projecto elaborado gratuitamente por um arquitecto da Terra, com idas constantes a Lisboa, de Ministério em Ministério, conseguiram-se subsídios e a obra foi planeada e construída. E assim nasceu o novo Jardim de Infância, a que foi dado o nome de Associação Popular de Sobral de Monte Agraço.

Maria Alexandrina Reto

6 comentários:

  1. Ajudaste-me a recordar como tudo começou na Associação Popular. Aquelas fotos Alexandrina lembram-me de como as pessoas eram na altura e vêm-me à memoria alguem da familia que já perdi. É bom recordar! Apenas um ligeiro reparo, a Casa Paroquial não estava devoluta, morava lá, no 1º andar, um sacerdote velhinho, da mesma ordem - Agostinhos - que se incomodava muito, na sua idade e doença, com o barulho que as crianças faziam cá em baixo. Como se fosse possivel fazer calar os "passarinhos"!
    Obrigada por me lembrares tudo isso.
    Beijinhos,
    Mimi.
    21/05/2

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  2. á um ditado antigo.

    A união faz a força. E assim que tem de continuar.

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  3. Foi bom recordar. Lá está na foto o meu irmão António Manuel que já partiu há vários anos. Foi o meu filho Afonso o único que já
    teve a oportunidade de frequentar o Jardim Escola. Uma Homenagem para a sua educadora que também já partiu, aliás bem cedo nos deixou.
    Vá lá M. Alexandrina como tens boa memória e boas ideias recorda
    a Banda do Sobral.
    O meu marido costumava contar que saiu na banda num 1º. de Dezembro e como não era capaz de tocar e andar ao mesmo tempo
    e maestro sugeriu que ele tapasse o instrumento e lá foi a fazer
    número.
    Há muitas anedotas sobre a banda.
    Manuela

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  4. Minhas amigas:
    Realmente as memórias são minhas, mas as outras pessoas se deve a apresentação do texto.
    Ao Sr. Afonso agradeço a escolha e a forma inteligente como dispôs as fotos. Gostei de que a Comissão de Moradores e o Presidente da Câmara da altura tenham tido a possibilidade de serem lembrados, tantos anos depois. Alguns já não estão entre nós.E com tantos garotos, mostra quanto urgente eram as obras que foram efectuadas.
    Para o Sr. Auzendo e mais uma vez o meu agradecimento pela sua ajuda na revisão do texto e por todo o apoio que me tem dado.
    Como o anónimo disse a união faz a força e eu direi: O seu a seu dono...
    Maria Alexandrina

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  5. Boa tarde amiga Alexandrina
    Obrigada por mais este depoimento que nos dá a conhecer esta história tão apregoada "O Sobral já tem um Parque Infantil". E ainda por cima ilustrada com fotografias da época. Principalmente para pessoas que, como eu, caí aqui de pára-quedas por afinidade, é sempre bom ir sabendo as histórias desta terra maravilhosa que adoptei como minha, para passar o resto da vida. Só com testemunhos como os seus ou outros de pessoas que tenham igualmente outras histórias guardadas "no armário", é que a História continua. É o Património Cultural que se deve preservar e são pessoas como a senhora, que têm na sua posse esses dados para serem transmitidos aos forasteiros e gerações vindouras, que não os devem ignorar e deixar morrer. Não deixem acabar este Património tão rico de acontecimentos. Isto é que é a verdadeira História Patrimonial. Bem-haja.
    Um beijinho da
    Lourdes.

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  6. Fiz parte, durante anos, da Comissão de Moradores da Póvoa de Santo Adrião, então Concelho de Loures, e conheço, por isso, as dificuldades, as incompreensões que tivemos. E sei como foi frustrante não conseguir, lá, fazer "qualquer coisa que se visse" e, acima de tudo, que perdurasse.

    Regozijo-me por saber que cá, no Sobral, as coisas foram diferentes. Quando pelo Natal entrei pela primeira vez no Jardim-Escola, para cantar (em grupo) para os alunos, não suspeitava das suas origens. Nem todos trabalharam "em vão", alguns conseguiram concretizar um bocadinho de Abril. É bom que estas "coisas" fiquem registadas e, especialmente, que o sejam por quem as viveu.

    Já agora, foi bom, também, que a Manuela (Leandro) tenha lembrado a Banda Filarmónica, de que se ouve falar...Queremos a Banda, venha a Banda e o seu "falado" acidente: que tal uma "vaquinha" entre a D.Alexandrina e o Sr. Mota Luis? Vamos a isso?

    José auzendo

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