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quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Passeio por África... (parte I)

Tudo começou em Barqueira, uma terra pequenina escondida num vale do Concelho do Sobral de Monte Agraço. Foi aí que nasci, cresci e fui muito feliz.
Em 1960, tinha 27 anos, casei, fui para África.
O meu marido é natural de Sarzedo, Concelho de Arganil, mas foi no Sobral que o conheci. Era colega do meu pai na oficina da antiga casa Cruz.
Embarquei em Lisboa no “Angola” e desembarquei em Moçambique. O meu marido vivia na cidade de Quelimane. Fiquei aí só um mês pois ele concorrera para as Obras Públicas e fora colocado em Nampula.
Disseram-nos vão para Nampula e lá lhes dirão onde fica a vossa casa.
E começou a viagem. De barco até Nacala, de comboio para Nampula.
Chegamos!
Deram-nos uma carrinha para deslocação, uma Mauzer para autodefesa. As nossas mobílias seguiam num camião.
Sigam o camião pois o motorista sabe onde fica a vossa casa, disseram-nos... Não esqueçam, façam um bom rancho porque lá não têm onde comprar nada...
Assim fiz, fui às compras, comprei tudo o que pensei me poder fazer falta, seguimos viagem.
Por estrada de terra batida, uma outra paisagem, cheiros e cores, andamos 500 Km até encontrarmos três casas, “cantinas”, lojas de venda para os locais. De nome Nacaroua, este aglomerado. Mais 40km, uma outra cantina. Parámos, entrámos, estava uma senhora ao balcão. Conversamos um pouco e ela disse-nos, a vossa casa é já aqui perto...e quanto à comida, hoje não se preocupem, faço o jantar e vou lá ter. E assim foi!
Adamos mais três quilómetros.
No meio do mato, encontramos a nossa casinha.
Era uma casa grande com grande porção de terreno a toda a volta,limpo de árvores e capim, mas não tinha luz eléctrica nem água canalizada. Em toda a volta floresta cerrada!
Onde é que vieste parar, e as lágrimas caíram...
Não, foi aqui que tu vieste, é aqui que tens que viver, nada de lágrimas, para a frente é que é o caminho. E nunca mais chorei, habituei-me, gostei de lá viver, fui muito feliz!
A casa estava desabitada há algum tempo, precisava de pintura. Metemos mão à obra, pintamos, limpamos em pouco tempo, parecia um palácio. Só janelas tinha 13...
Novas gentes, novos costumes, novo desafio.
Os habitantes do local, pretos, não falavam Português, nem eu tinha conhecimento da língua deles. Era posta perante um problema de comunicação!
Quatro dias após a nossa chegada apareceu um homem a pedir trabalho dizendo-se cozinheiro. De cozinheiro não tinha nada mas falava Português, era o mais importante. Além deste havia um “mainato” e um guarda. O cozinheiro tratava da comida, o mainato lavava a roupa, limpava a casa, o guarda limpava o “acampamento”, tratava dos animais. Tínhamos porcos, cabritos, coelhos e galinhas.
Uma vez por mês vinham de Nampula dois “Hidrometristas” medir o caudal do rio. Comiam e dormiam na minha casa. Eu fazia uma lista do que precisava e eles traziam no mês seguinte...

Alice (Sobral-Espaço Net)

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