No próximo
dia 7 de Julho, a Associação dos Bombeiros Voluntários de Sobral de Monte Agraço
comemora cem anos! É precisa muita persistência, muito esforço e muita vontade para
sobreviver 100 anos. Houve e naturalmente há momentos conturbados e também
outros de grande alegria, estes quando se tem a certeza do dever cumprido. Mas
o importante é que resistiu…apesar das diversas mudanças por que o nosso País
passou ao longo de todos estes anos.
A
Associação dos Bombeiros foi, além do serviço de apoio a doentes e a fogos,
quem dispôs da primeira biblioteca pública no Sobral: um director, o Senhor Aníbal
Neves, pessoa muito culta e um bom Sobralense, doou alguns livros da sua longa
colecção aos Bombeiros para tornar a população mais culta, apreciadora da
leitura e para que adquirisse novos conhecimentos. Houve com certeza quem lhe
seguisse a peugada e assim se construiu uma pequena biblioteca.
Dispunha
de uma mesa de “ping-pong” onde os jovens praticavam nas tardes de domingo. Os
grandiosos bailes dos Bombeiros, de
Carnaval, da Pinhata, e o mais importante
de todos, no dia 7 de Julho, comemorativo do seu aniversário, eram um
divertimento para os sobralenses e forasteiros. Muitos rapazes se deslocavam de
Arruda dos Vinhos, Merceana e Torres Vedras para um pé de dança e na busca de
um namorico; ali se catrapiscavam as moças da vila e dos arredores, e as mães
estavam atentas, sentadas na segunda fila de cadeiras, alerta para qualquer
deslize de um par mais atrevido …
A Associação
disponibilizou instalações para um
consultório médico na década de quarenta e mais tarde para um dentista, na década de
sessenta do século passado, profissões raras no Sobral nessas épocas. Quando surgiu em Portugal a televisão, a maior
parte das pessoas não tinha condições para comprar um aparelho: a Associação
comprou um televisor e pô-lo à disposição de toda a população. Foi nos
Bombeiros que funcionou o primeiro liceu a título experimental. Foi através dos
anos aquilo a que se chama uma Associação ao serviço do Povo.
Dos
soldados da Paz recordo-me daquilo que fizeram, durante muitos e muitos anos,
com poucos meios. É importante notar que, quando eram chamados para atacar um fogo,
os bombeiros largavam os seus trabalhos e corriam para o quartel sem olhar a
quem iam socorrer. Ao fim da semana ou do mês a féria era mais curta, era-lhe
cortado no ordenado o tempo perdido (alguns patrões não o faziam). O lema “Vida
por Vida” ia muito para além do que se fazia no terreno.
Vou contar
uma história que se passou no início dos anos cinquenta, que foi tabu muito anos,
e depois acabou por se perder no tempo. A imagem de Nossa Senhora de Fátima
viria em peregrinação ao Sobral; e quem mandava no Concelho e na Corporação dos
Bombeiros logo decidiu, sem consultar quem tinha o direito de saber, que o
Corpo Activo devia transportar aos ombros o andor pelo concelho. Bem perto da
chegada da imagem ao Sobral foi o “2º. Comandante” ou “Chefe do Corpo Activo”,
não sei bem a designação que teria nessa altura, informado da decisão que tinha
sido tomada. O referido senhor reuniu com todo o pessoal e transmitiu-lhe as ordens
que tinha recebido, não sem antes dizer que eles
eram Bombeiros Voluntários e que não eram obrigados a nada. Como uma grande parte dos bombeiros não eram católicos recusaram-se a cumprir as ordens. O “ 2º. Comandante” foi demitido por não saber disciplinar os seus homens, a que se seguiu uma demissão massiva: mais de metade da Corporação demitiu-se, solidária com o seu superior.
eram Bombeiros Voluntários e que não eram obrigados a nada. Como uma grande parte dos bombeiros não eram católicos recusaram-se a cumprir as ordens. O “ 2º. Comandante” foi demitido por não saber disciplinar os seus homens, a que se seguiu uma demissão massiva: mais de metade da Corporação demitiu-se, solidária com o seu superior.
Hoje,
passados tantos anos, ainda me lembro dos olhos arrasados de água de muitos dos
homens que tiveram que tomar uma atitude tão drástica, eles que tinham uma vida
de entrega total à sua Corporação, quase todos com mais de vinte anos de actividade.
Todos os que se viram “obrigados” a desistir não deixaram de ter amor à sua
Corporação e que prazer teriam em vê-la fazer 100 anos. Também por mim e por eles
os meus parabéns à Associação dos Bombeiros Voluntários de Sobral de Monte
Agraço.
Maria Alexandrina