Estive
alguns longos dias privada do acesso ao meu Novo Amigo, o meu
Computador, pois “adoeceu e teve necessidade de ser internato no
hospital” durante alguns dias para tratamento.
Senti
um grande vazio, um desânimo, algo que me faltou e que já faz parte
do meu dia-a-dia, como se fosse alimento para a alma.
Quando
me reformei julguei ter-me libertado de máquinas, computadores,
escritas, papéis, sei lá, tudo que me fizesse lembrar os quase
quarenta anos que levei sentada a uma secretária.
Liberdade,
liberdade de espírito, sem amarras.
Mas
enganei-me. Ao invés do que supunha, descobri que, para além do
trabalho “chato feito por obrigação” no computador, há nele
uma outra parte, até há pouco tempo por mim desconhecida, que me
despertou e me deu um novo alento para viver. Uma parte por
desvendar, que me fascina.
Fartei-me
de rendas, bordados, malhas, limpezas, enfim, tarefas algumas delas
feitas muitas vezes por obrigação. Da TV, perdi completamente o
interesse e há muito que dela me “divorciei”. Descobri, ou
melhor, ensinaram-me a ir descobrindo os mistérios deste meu Novo
Amigo, as viagens agradáveis que ele me pode proporcionar pelo mundo
fora, as visitas a terras longínquas que foram meu berço de
juventude e onde NUNCA mais tornarei a voltar … Mas …
“NUNCA
digas NUNCA”…
E é
isto que me fascina, viajar com um Amigo silencioso, que me mostra
locais inimagináveis, que está sempre pronto a dar resposta às
minhas dúvidas, que nunca me atira a primeira pedra como se não
errasse …
E
mais: aceita tudo o que escrevo sem se ofender, guarda no seu coração
tudo o que lhe digo em confidência ou desabafo sem nunca me trair.
Sim,
porque eu gosto de escrever, isto é que tem a ver comigo. Mas este
meu Novo Amigo também me dá espaço para eu pôr à prova a minha
imaginação, oferecendo-me condições para, entre muitas outras
coisas, efectuar trabalhos artísticos com fotografias (outra coisa
que me dá muito prazer) e fazer “Power-Points”, por exemplo.
E
agora, imagine-se, agora “descobri” que também ele me ensina o
caminho da arte cinematográfica! Apenas gatinhando, mas é o
princípio.
Quem
diria! Eu, nos meus 68 anos de idade, entusiasmada e desperta para
aprender a compor alguns pequenos filmes, ou vídeos (como lhe
queiram chamar). E por piada, o meu marido chamou-me um dia o novo
“Leitão de Barros”… ah, ah, ah, eu, a fazer vídeos! Acha
graça como é que tenho paciência, interesse e criatividade para
continuar a aprender …
Pois
é, até eu me interrogo! Se há dez anos atrás alguém me dissesse
que eu ainda iria algum dia fazer um vídeo, ter-lhe-ia respondido
imediatamente que NUNCA.
Mas
mais uma vez a vida me mostra que esta é uma das poucas palavras que
não deveríamos utilizar, pois o futuro é imprevisível e não
sabemos o que ele nos reserva.
Já
a pronunciei algumas vezes (poucas), convicta, na minha vida, e em
todas elas falhei…
“NUNCA
DIGAS NUNCA”…
Quem
diria que nesta fase da vida, algo me despertasse a atenção, que
não fosse a obrigação dos trabalhos de rotina de uma pessoa que
acabou a sua vida profissional e apenas tem em mente as suas tarefas
caseiras?
Que
“segredos” terá ainda o destino para me desvendar?
Ou
será que as suas revelações vão ficar por aqui?
Quem
sabe? O futuro o dirá.
Mas
uma coisa a vida me ensinou:
“NUNCA
DIGAS NUNCA” …
Lourdes Henriques.