VISITANTES

sábado, 13 de outubro de 2012

Destaque 4

Estamos a publicar neste espaço pequenos resumos biográficos de pessoas de qualquer idade que, nascidas ou residentes no Sobral, conseguiram que os seus nomes “saíssem” do Concelho, por algum feito realizado no domínio das letras, das artes, da ciência, do desporto. Se não fosse excesso de pretensiosismo, diria que estamos a cantar “aqueles que por obras valerosas se vão da lei da morte libertando”, citando Camões. Mas é isso que desejamos que venha a acontecer… Colabore connosco, escrevendo para sobral.senior@gmail.com indicando-nos o nome e contacto de alguém que julgue merecer integrar esta galeria ou, se for o caso e preferir, enviando-nos a própria biografia.

E o destaque de hoje vai para
Renato Henriques
Marina Henriques
Escrevo hoje sobre o acordeonista RENATO SIMÕES HENRIQUES, que teve o seu apogeu nos anos 40/60 do passado século, e sobre a sua filha MARINA HENRIQUES. Ele nasceu em Moncova, um lugar aqui muito perto. Seu pai, António Freixial, era ferreiro e tinha uma oficina no Sobral, junto à Pensão Estrudinhas. Era um homem muito trabalhador e respeitado pela sua seriedade, mas muito austero.
Renato era bom aluno na escola, mas o pai impediu que o filho continuasse a estudar. Por volta dos treze anos, alguém lhe facultou um acordeão, e em pouco tempo se percebeu que ele tinha jeito para tocar. O pai lá comprou um acordeão para o filho e este, empenhado e persistente, começou a ter aulas em Torres Vedras, com um professor algarvio, BERNARDINO COELHO, que um dia me confessou ter sido ele o seu melhor aluno. Mais tarde, foi também aluno do professor Vitorino Matono.
E rapidamente o Renato começou a brilhar e a ser conhecido, tendo alcançado, aos 17 anos, a sua própria independência como acordeonista, fazendo desta arte a sua profissão. Sempre considerou o Sobral a sua casa, e neste concelho foi muito acarinhado e estimado. Também os concelhos de Alenquer, Torres Vedras e outros do Ribatejo, onde actuava frequentemente, o acolhiam de braços abertos. Foram anos de grande vivência e experiência, de vida artística e de contactos humanos.
Algum tempo após o serviço militar, foi convidado a ingressar na orquestra do Navio Quanza, passando depois para a do Niassa, onde permaneceu vários anos. Em 1960, numa das viagens que o Niassa fez ao extremo oriente, em que transportava de Macau militares e suas famílias, travou conhecimento, com a Lourdes. Em 1962, farto da vida do mar e resolvido a casar, desembarcou de vez. Casou em 1965. Foi esquecendo quase por completo o acordéon: teve-o fechado durante sete anos. E virou taxista, empregado de escritório…
Do casamento nasceram 4 filhos e a mais nova, Marina, cedo mostrou intuição para a música. Ingressou na Escola Matono, e durante 12 anos foi aluna brilhante. Participou em vários concursos e encontros mundiais. Ganhou uma Bolsa de Estudo da Colónia Balnear Infantil “O Século”, foi Campeã Nacional e Ibérica e, entre outros, recebeu o Prémio Piazzolla. Seguiu um percurso de vida que, no seu conjunto, completa o sonho do pai, que gostaria de ter percorrido o mundo a tocar e fazer apenas vida da música.
Hoje é Professora de Música nos 2º e 3º Ciclos do Ensino Básico e na Escola Superior de Educação de Lisboa. Participou em vários grupos musicais como os Donna Maria, as Tucanas. Actualmente, é acordeonista dos OqueStrada, que têm actuado em Portugal e em muitos países do mundo, sempre muito aplaudidos.
Embalado pelo êxito da filha, o pai lá começou a experimentar, de vez em quando, as sensações da sua música, mas sempre só em encontros familiares e de amigos. Mas, 30 anos depois de ter actuado “em público” pela última vez, um amigo da Carvoeira contratou o casal e a filha, para tocar durante 3 noites no Carnaval. Durante 3 noites a casa esteve completamente cheia: amigos que há décadas não se encontravam.
A partir daí, durante cerca de 12 anos, surgiram com frequência contratos para concertos e festivais de acordeão, em vários locais do País.
O Renato e a Lourdes partilharam algumas vezes os palcos com Eugénia Lima, Ilda Maria, Tino Costa, Adélia Botelho, João Manuel (da Sapataria), e muitos outros.
Hoje o Renato não toca. Mas quem nasceu para e com a música, dificilmente se separa dela.
Há dias, num convívio sénior, enquanto a Lourdes cantava, tomou o acordeão dela e afagando os botões gentilmente, deles retirava o acompanhamento em notas que lhe segredavam ao ouvido recordações...
Nos seus olhos um brilho profundo, na sua boca um ténue sorriso.
Vi!

Afonso Faria

8 comentários:

  1. O Renato conheço de o ver e ouvir tocar nos bailes,ainda quando eu era muito jovem... depois deixei de ouvir falar dele. Há poucos anos atrás descobri que o tal Renato era o marido da amiga Lourdes,e pelo blogue soube que o uniu o amor e a música.
    A Marina, ou melhor a Dr. Marina, saiu aos seus... "filho de peixe sabe nadar" e neste caso não é só um talentoso são dois...pelo que li não são dois...são três.
    Sr. Afonso Faria eu também "vi", em pormenor o encontro a que se refere, num certo blogue... "Ai se eu pudesse" também lá tinha estado.
    Um abraço para todos
    Maria Alexandrina

    ResponderEliminar
  2. O brilho do Renato foi presenciado e contagiante... Vi e revi....e fiquei conquistada pela familia de artistas,que venho a conhecer...primeiro virtual,agora pessoal.A Milú já é da "casa"....
    A Marina tem a quem sair e herdou a parte melhor dos dois,parabéns Marina!
    Tenho a agradecer ao Prof.Afonso que foi quem puxou os cordelinhos para as marionetes actuarem,obrigada Prof.Afonso.

    Um grande abraço abrangente à Familia e Professor.

    A amiga Luisa

    ResponderEliminar
  3. Queria agradecer as palavras da Maria Alexandrina e da "avoluisa". Queria também agradecer ao professor Afonso ter proporcionado tanto com tão pouco... voltar a ver o meu pai a tocar acordeão, mesmo que por uns breves momentos, foi uma surpresa muito gratificante. Uma vez mais,bem haja!
    Marina

    ResponderEliminar
  4. Sei há muitos anos, desde os tempos em que andávamos na hidroginástica, que o sr. Renato e a D.Lourdes "tocavam" acordeão, cantavam, faziam versos, sei lá que mais. Que era mais que "tocar acordeão" fiquei agora a sabê-lo.

    E, mais interessante ainda, é verificar que uma filha deles, que há muito gosto de ler neste blogue, integra uma das mais originais e actuais bandas musicais portuguesas, com sucesso em Portugal e no estrangeiro, que eu também há muito conhecia, sem suspeitar desta "ligação".

    Se outras Bandas vêm ao Sobral, por exemplo às Noites na Praça porque têm (pelo menos) um elemento originário da Terra, por que não hão-de os Oquestrada actuar também para nós?

    José Auzendo

    ResponderEliminar
  5. Em primeiro lugar, quero agradecer as palavras amáveis relativamente a estes "3 cromos" :)
    Sem dúvida que com algum talento, aliado ao trabalho e alguma sorte, conseguem-se resultados que nunca pensavamos.
    É pena o menino Renato não aproveitar esse talento, em prol do seu bem estar físico e psicológico....

    Filho Velho

    ResponderEliminar
  6. Queridos amigos
    É sempre para mim um fascínio os artistas pela emoção nos levam a recordar coisas da nossa vida e não só
    O Renato a Milú a Marina muito mais do que isso.
    O Renato, que gosto em viver com ela as pequenas (grandes)alegrias que são afinal a vida.E como demonstrou essa emoção,eu tambem vi.
    A Marina, doce menina que "teve tempo" o tempo que para os jovens é sempre pouco para as coisas deles.
    A Milú merece tudo isto e muito mais, é um pilar forte ,amigo sempre presente .
    Foi neste ambiente que conheci esta grande família,uma grande emoção.
    Faz-nos bem.
    Bem hajam

    um abraço
    suzete

    ResponderEliminar
  7. Também eu quero dizer uma palavra sobre o tema: cresci ao som desta harmonia músical que falam. Contribuí, (em muito) para a destabilização da "pequena artista" quando estudava concentrada... :-) Mas hoje posso dizer que guardo na memória momentos de total inspiração e brincadeira que na altura eram alvo de "ralhete" por parte das "autoridades" lá de casa. Hoje percebo essa "brincadeira com a Mana que está a estudar", não a prejudicou, antes pelo contrário, sendo que a mim, me dá boas recordações de real paródia e bailarico enquanto os olhares atentos dos Papás não percebiam a festa que se instalava por instantes. Era como se estivessemos a cometer um crime e que, em qualquer momento, poderia "acabar mal" caso eu fosse apanhada a dançar com os sapatos de salto da Mamã e a "fazer palhaças" (era assim que chamávamos à brincadeira)... Desculpem a falta de humildade das minhas palavras, mas também ajudei a "criar o monstro", porque a brincar também se aprende a ganha gosto pela música. No meu caso, que nunca levei muito a sério essa questão (hoje com alguma pena), ficou o gosto pela arte e o orgulho de pertender a este clã. Tal como disse o Mano Velho, é pena que o talento do menino Renato, fique guardado a sete chaves e não continue a fazer sonhar (e brincar) outras pessoas (como os netos, por exemplo).

    Beijoquinhas da Filha Rabina

    ResponderEliminar
  8. Sim Filha Rabina (Mana Rabina neste caso...)

    Se ele transmitisse os seus conhecimentos, com paciência,
    conseguia motivar alguns netos!
    O intercâmbio entre gerações e partilha de conhecimento, é sempre uma experiência válida para ambas as partes!!!
    É Preciso que o "Vovô" perca a preguiça ;)

    Filho Velho

    ResponderEliminar