VISITANTES

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Destaque 1


Estamos a publicar neste espaço pequenos resumos biográficos de pessoas de qualquer idade que, nascidas ou residentes no Sobral, conseguiram que os seus nomes “saíssem” do Concelho, por algum feito realizado no domínio das letras, das artes, da ciência, do desporto. Se não fosse excesso de pretensiosismo, diria que estamos a cantar “aqueles que por obras valerosas se vão da lei da morte libertando”, citando Camões. Mas é isso que desejamos que venha a acontecer… Colabore connosco, escrevendo para sobral.senior@gmail.com indicando-nos o nome e contacto de alguém que julgue merecer integrar esta galeria ou, se for o caso e preferir, enviando-nos a própria biografia.

E o destaque de hoje vai para
Vanessa Rodrigues - autora do livro
Chamo-me Maria Amália Vaz de Carvalho”

Vanessa Roque Rodrigues nasceu em Março de 1980, filha de José Inácio Rodrigues e Suzete Rodrigues; cresceu e estudou no Sobral, e licenciou-se pela Universidade Nova de Lisboa em Línguas e Literaturas Modernas. Surpreendeu tudo e todos ao desistir de uma carreira no ensino para se dedicar aos livros. Iniciou-se profissionalmente no Grupo Editorial Pearson, a editar manuais para o ensino da língua inglesa; actualmente, integra a equipa editorial das edições escolares do Grupo Santilhana. Com uma pós-graduação em Edição, encontrou no mundo dos livros a sua paixão.

Em Outubro de 2011, com ilustrações de Diana M. Marques, publicou uma biografia de Maria Amália Vaz de Carvalho. Trata-se de um trabalho integrado numa colectânea juvenil promovida pela “Didáctica Editora”, que inclui obras idênticas relativas a umas dezenas de personalidades “de âmbito universal”, entre as quais Agatha Christie, Einstein, Almada Negreiros, Eusébio, Fernando Pessoa, Júlio Verne, Luísa Todi, Mozart, Saramago, Shakespeare, Simon Bolívar, Vasco da Gama, Wagner…

Lemos o livro como se estivéssemos a ler uma autobiografia escrita pela própria…depois de morrer. Ou seja, é como se fosse a biografada a conduzir-nos pelos aspectos mais relevantes da sua vida, no domínio familiar, social, político e literário. O que implicou que a autora, a nossa Vanessa, se tivesse que “meter” na pele e na mente da biografada, para nos ir transmitindo os episódios narrados com as palavras, o ambiente e os sentimentos que a própria teria usado se tivesse sido ela a escrever.

Não vamos resumir o livro, ele está à venda, é barato, pequeno e de leitura fácil. Maria Amália Vaz de Carvalho morreu em 1921, aos 74 anos, tendo sido casada com o poeta Gonçalves Crespo. Tem nome em ruas de várias cidades, é patrona da Escola Secundária com o seu nome em Lisboa e de um prémio literário anual instituído pela Câmara Municipal de Loures, Concelho onde viveu muitos anos. Foi autora, entre outros, de Uma Primavera de Mulher, poema, e dos livros Vozes do Ermo, Crónicas de Valentina, Serões do Campo…

Foi escritora, poeta e jornalista, tendo-se envolvido activamente na defesa de “uma nova conceção de mulher que, com o triunfo do liberalismo, lentamente se afirmava”; denunciou claramente que “a primeira coisa que a mulher não aprende, e que devia aprender, é a pensar…” (pág. 49). E lamentava o que continuou a passar-se: “Às crianças impunham-se conteúdos que nenhum filósofo ou escritor consideraria de utilidade; (…) esses métodos verdadeiramente bárbaros tiravam a vontade de estudar, não incentivavam à procura de mais saber nem alimentavam a imaginação, algo que tanto admiramos na infância” (pag.46).

Assim escreveu Vanessa Rodrigues, glosando e reescrevendo o pensamento da que foi uma das mulheres mais marcantes dos finais do século XIX em Portugal. Assim escreve agora Vanessa Rodrigues, testemunhando para nós, neste Blogue, os sentimentos que experimentou:


Os livros sempre foram uma paixão para mim. Para os meus pais, que se viam forçados a alimentar-me de livros em todos os aniversários e Natais, a leitura era certamente um vício. Este gosto — vamos chamá-lo assim — esteve sempre patente em todas as escolhas que fiz: académicas, profissionais ou de puro lazer. Contudo, nunca pensei que o convite para escrever um livro surgisse um dia. Não foi por acidente, mas quase. Tal como eu, outros colegas de licenciatura enveredaram pelo mundo do livro (que abrange áreas tão diferentes como escrever, rever, ilustrar ou imprimir). Um deles, sabendo do meu gosto e experiência em lidar com crianças e jovens, reconheceu em mim as qualidades - ou melhor, as competências - necessárias para o efeito.
Recebi o convite com surpresa e orgulho. De entre as personalidades que me foram dadas a escolher, optei pela Maria Amália Vaz de Carvalho por não saber nada sobre a mesma. agora, porque não partir do zero, sem ideias pré-concebidas? E aceitei o desafio em pleno estado de pânico, confesso! Foi uma experiência deveras interessante. Comecei por pesquisar online, depois passei para os livros. Mas o desafio maior foi conseguir transmitir o ambiente em que Maria Amália Vaz de Carvalho viveu na fase final da sua existência: a doença, a morte, a desilusão política empurraram-na para um verdadeiro precipício físico e emocional muito anunciado.

Maria Amália foi uma mulher do seu tempo, muito atual em muitas das suas posições, mas que não conseguiu acompanhar o turbulento mas borbulhante início do século XX.V.R.

Parabéns Vanessa. Ficamos à espera do segundo livro.
José Auzendo

13 comentários:

  1. Gente nova, gente criativa, gente que transmite uma mensagem de futuro!
    Quando se ouve que os novos são isto e aquilo, marcar a diferença pelos actos deverá ser para os mais cépticos um calar imposto,é um afago de alma para quem ainda crê no valor da pessoa, em concreto nesta juventude.Parabéns Vanessa pelo querer e fazer!
    Usando o "fazer" como mote, lamento que esta página tenha sido visualizada 103 vezes hoje e que ninguém ouse um comentário.
    Estaremos todos antecipadamente acomodados ou incomodamente alheados?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Muito obrigada, Sr. Afonso, e parabéns também à sua pessoa, por contribuir para a manutenção e dinamização deste «cantinho»!

      Eliminar
  2. Boa noite Vanessa
    Só agora pude comentar por ter tido o CP avariado.
    Acabei de abrir esta página e deparei-me com um depoimento de grande valor e mérito.
    Parabéns por nunca ter desistido do seu sonho, pela persistência e perseverança na luta contra o seu "estado de pânico". É realmente um orgulho conseguirmos realizar na vida algo que nos faz feliz. Continue com a sua firmeza e de certo conseguirá alcançar outros méritos.
    Pelo nome de certo não saberá quem sou, mas digo-lhe que sou vizinha dos seus pais. Um grande bem-haja também para eles, por nunca lhe terem tirado o sonho da leitura em criança.
    Um beijinho da
    Lourdes Henriques.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Muito obrigada, D. Lourdes. Tal como tivemos oportunidade de falar, ainda ontem, tive a sorte de ter uns pais modernos que sempre apoiaram estas minhas aventuras literárias, quer na leitura quer na escrita.
      Nunca é tarde para fazermos aquilo de que gostamos: continue a escrever, a cantar, a ser artista! Não tenho a menor dúvida de que uma mente ativa é o melhor medicamento que podemos dar ao nosso corpo!
      Um beijinhos da vizinha,
      Vanessa

      Eliminar
  3. Parabéns Vanessa. Tantos elogios ao livro que escreveste fizeram despertar em mim o desejo de o ler. Parabéns também ao Sobral Sénior Gente Gira por dar a conhecer os valores que ainda existem no Sobral e que assim chegam ao conhecimento de muita mais gente. Neste caso do livro da Vanessa, certamente irá despertar mais gente para a sua leitura e quem sabe se para outros livros também.

    Quantas pessoas no Sobral sabiam que a minha vizinha e amiga Vanessa tinha escrito um livro? E quem conhecia a Maria Amália Vaz de Carvalho?

    Lisete

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Mais do que vizinha e amiga, a minha «avó» Lisete é também um exemplo... sabe muito bem!
      Espero que tenha a oportunidade de ler o livro (ou excertos) e saber um pouco mais sobre a Maria Amália Vaz de Carvalho. Duvido que fosse senhora para nos acompanhar num copito de moscatel, mas defendia ideais muito importantes, e foi uma lutadora incansável. Não soube acompanhar a evolução dos tempos, mas deixou um legado muito interessante.
      Um beijinho grande***
      Vanessa

      Eliminar
  4. Conheço a Vanessa desde sempre, pois se é uma Sobralense, como não havia de conhecer? Se conheço o pai desde criança… Só por isso julgamos que conhecemos as pessoas e, afinal, se não fosse o professor Auzendo, que não é um Sobralense, lembrar-se de fazer esta biografia, a Vanessa continuava a ser para mim e para muitas outras pessoas apenas a filha do José Inácio. Porém, não deixa de ser a filha do José Inácio e da D. Susete, mas é a Vanessa, uma rapariga culta, que mereceu a atenção de terceiros que, avaliando a sua competência, lhe propuseram que escrevesse um livro didáctico… Que atrás deste venham mais.
    Já aqui escrevi sobre Sobralenses que se notabilizaram por um ou outro trabalho, mas do passado. É uma honra fazer o comentário a um texto sobre uma Sobralense contemporânea, que nos enche de orgulho.
    Parabéns Vanessa
    Maria Alexandrina

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Muito obrigada, Alexandrina, pelas suas palavras tão amáveis!
      Confesso que sempre ouvi o seu nome mas tive de perguntar à minha mãe quem era... e fica provado que uma pessoa vive tantos anos no Sobral, uma terra tão pequena, e não consegue associar nomes a caras.
      Sempre quis ser professora - tinha um bom exemplo em casa - mas acabei por me virar para outra área, também ela na área da educação, a dos livros, e em especial os livros escolares. É um trabalho de secretária, sem fama nem fortuna, mas é um orgulho saber que aquilo que eu e os meus colegas fazemos ajuda e contribui para a formação de muitos alunos.
      Espero que tenha a oportunidade de ler um pouco mais sobre a Maria Amália Vaz de Carvalho, não por ser um livro de uma sobralense, mas por se tratar de um relato verídico de uma grande senhora que lutou pelo direito à educação das crianças e mulheres.
      E parabéns pelo vosso trabalho: são as pessoas que fazem uma terra.
      Um beijinho,
      Vanessa

      Eliminar
  5. Parabéns à Vanessa que, entre a surpresa, o orgulho e o pânico, não quis ser “piegas” (é assim que se diz agora, não é?), aceitou o desafio e … aqui estamos nós, com uma pontinha de orgulho, aclamando e, pelos vistos, ajudando a divulgar o seu trabalho.

    E devo felicitá-la pela escolha da personagem, Maria Amália Vaz de Carvalho, que foi uma mulher que, no seu tempo, à sua maneira, lutou pela dignificação da mulher e pela melhoria da educação em Portugal.
    Fixe Vanessa, são exemplos destes de que precisamos hoje, também.
    Inês

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Muito e muito obrigada, Inês, pelas suas palavras e pelo apoio que tem dado ao longo dos últimos tempos, também a Inês é um exemplo para as gerações mais novas, não duvide!

      Um beijinhos grande, com muito carinho,
      Vanessa

      Eliminar
  6. Puxando a brasa à nossa sardinha, que o mesmo é dizer ao nosso Blogue, estou a puxar para aqui uns extractos que roubei do Facebook da Drª. Vanessa Rodrigues.


    “ Vanessa Roque Rodrigues partilhou uma ligação.
    há 5 horas

    Um destaque sobre a minha pessoa, mas sobretudo publicidade a um grupo de Gente Gira e que faz do Sobral aquilo que é! Parabéns ao Sobral Sénior!


    Sobral Sénior - Gente Gira: Destaque 1
    sobralsenior.blogspot.com
    Gente nova, gente criativa, gente que transmite uma mensagem de futuro! Quando se ouve que os novos são isto e aquilo, marcar a diferença pelos actos deverá ser para os mais cépticos um calar imposto, é um afago de alma para quem ainda crê no valor da pessoa, em concreto nesta juventude. Parabéns Vanessa...

    Vanessa Roque Rodrigues - Partindo do pressuposto que estão interessados na leitura, recomendo que abram através do Google Chrome. E aproveitem para espreitar o resto do blogue, claro!

    Amiga X - É um local que visito com alguma frequência… acompanhar o que se vai fazendo por lá e aprender com os que lá contam a 'nossa' história, é um cantinho que me 'sabe bem' ;)

    Amiga Z - Boa miúda. Continua com força e garra. Beijinhos"

    Fim de roubo, ou de citação. Não acham que com estas “brasas” a nossa sardinha fica mais saborosa?

    José Auzendo



    ResponderEliminar
  7. Mais uma vez estão de parabens, acho esta ideia brilhante. Afinal são os Seniores que ainda vão dando vida e alguns conhecimentos a esta terra, preocupando-se em manter vivo o espirito que os da terra não têm.
    Obrigado Sr. Ausendo que sei que nem é do Sobral, pela sua dedicação e Muito parabéns à Vanessa.
    Adelaide

    ResponderEliminar
  8. Tenho achado não dever ocupar muito espaço neste blogue a responder aos agradecimentos que me dirigem, embora todos me sensibilizem e me agradem, como é óbvio. Se digo isto agora, a propósito do comentário da D. Adelaide, é porque ela, além de tocar em pontos cruciais, fá-lo com uma sensibilidade que me levou a sentir que seria ingratidão não reagir. Registo também a maneira regular, interessada e participativa como ela vive este blogue.

    Não nasci no Sobral, mas resido no Sobral, voto no Sobral (e voto sempre e nunca em branco) e, enquanto me “deixarem”, estou a tentar sentir-me tão sobralense como os que cá nasceram. Recebo muito, procuro dar o que posso. Mas, especialmente no caso desta série de biografias, sem os biografados eu não faria nada, não seria “ninguém”…É deles o mérito. E, neste primeiro “Destaque”, o mérito é só da Vanessa, é dela que devemos falar, é ela que devemos elogiar, incentivar; é o “feito” dela que devemos conhecer, divulgar.Foi para isso que escrevi...

    José Auzendo

    ResponderEliminar