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quarta-feira, 21 de março de 2012

Conversa puxa conversa...


Portugal, as dificuldades que o povo atravessa, o regresso à emigração fizeram-me recuar alguns anos.
Decorria o ano de 1976, então com 42 anos, empurrado pelas dificuldades do momento, também emigrei. Sem conhecimento de uma única palavra de uma língua estrangeira, arrisquei ir até às Arábias onde a minha especialidade de mecânico de geradores era apreciada.
Percorri vários países do médio oriente passando também aí muitas dificuldades.
Aquando a minha passagem pelo Egipto, a fome acompanhou-me muitas vezes nos caminhos do deserto. Uma caixa de manteiga que se comprava no caminho, caldo e uma dúzia de grãos de bico, três pães do género de bolacha, uma garrafa de litro e meio de água. Assim se fazia o pequeno almoço e almoço. A mão era o instrumento que levava à boca os alimentos. Não me adaptava e então arranjaram-me um garfo, uma colher e faca, adicionaram uma lata de sardinhas.
Jantares?
Muitos tomates partidos em quatro com sal, pão e água.
A diferença de classes era notória.
Algumas vezes jantei em casa do patrão. Fontes luminosas em cascata, coloridos jardins cuidados e iluminados. Boa comida, abundante, louça fina, um mundo à parte...
Deparei-me com uma sociedade completamente diferente da nossa, nos costumes, e tolerâncias e exigências. Apercebi-me que a justiça é muito boa mas a injustiça ainda maior.
Algumas vezes, em momentos de solidão, recordava o meu País que estando mal, não estava tanto.
Mas aprendi muito. Aprendi que, como se costuma dizer, a fome e o frio metem a lebre ao caminho.
Também recordo momentos de satisfação com risco...
Não havia bebidas alcoólicas, mas havia potenciais consumidores, Alemães, Ingleses, eu próprio ou mesmo naturais, embora de uma forma clandestina. Comecei a fazer vinho tinto e branco, e destilar aguardente numa panela de pressão. Alcoolómetro? Um quantidade num prato, um fósforo. Se queimasse toda, estava forte demais, destilava água para juntar...
António, o português!
António Assunção

5 comentários:

  1. Saúdo o aparecimento deste novo conributo mas, acima de tudo, deste novo "contribuinte"; esperamos todos vê-lo mais vezes por cá, também comentando os textos publicados, vivendo o blog.

    Já conhecia a história retratada (adivinhem quem ma contou...) e esperava-a. E acrescento que, em 1976 e anos seguintes, trabalhava eu numa entidade pública, Portugal esta como hoje quase falido, havia então um "apertado"controlo cambial, de moeda estrangeira, e falei com alguns responsáveis de empresas portuguesas com trabalhos na Arábia Saudita (e não só, claro). Ficava de boca aberta, melhor expressão não temos, ao ouvi-los descrever a forma como viviam os naturais de lá, ricos ou pobres, que pobres nem havia,impostos não pagam,as "brutas" vivendas eram feitas por portugueses, pagas pelo Estado Saudita, com mármores de Carrara e também de Estrenoz, e oferecidas aos sauditas.
    Com a guerra Irão/Iraque tudo acabou, muitas obras ficaram inacabadas e ao abandono, centenas de portugueses regressaram, não sei se foi o caso do "colega" Assunção. Foi?
    Claro que os responsáveis das empresas não me diziam como viviam lá os trabalhadores portugueses que elas contratavam, estou vendo agora uma amostra.Estamos vendo...
    Estamos vendo e esperamos mais.
    José Auzendo

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  2. Tantos problemas!!! e GRANDES!!!!
    e "nós" tambem com problemas!!!
    até nos envergonhamos...
    Mas faz crescer,valhanos isso,e "contam como foi".Graças a Deus tudo passou!!!
    Agora irá passar-se o "mesmo"??? o mesmo nunca é, quem sabe o que se estará a preparar???ou já está preparado???
    Temos Deus do nosso lado e o António Assunção tambem.
    avoluisa.

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  3. Antes de mais, seja bem-vindo ao nosso blogue, e obrigada por partilhar connosco a sua experiência de vida.
    O ser humano é mesmo assim, luta por uma vida melhor. E quantas vezes, depois de emigrar, chega à conclusão que, afinal a emigração é uma miragem! Existem na realidade muitos casos de sucesso, mas sei de alguns que passaram "as passas do Algarve" e viveram no estrangeiro quase como indigentes para conseguirem alguma coisa, mas cá, no seu país, recusavam-se a desempenhar tarefas "inferiores" ...
    Mas no fim de contas, todas estas experiências nos fazem crescer e ensinam-nos a dar mais valor àquilo que temos.
    Obrigada e continue por aqui.
    Lourdes Henriques.

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  4. Olá, caro António, lembra-se de mim? Tivemos algumas aulas de informática ao lado um do outro.

    Pois é, esses países são muito bonitos para turista ver. Aquilo que nos conta deve ser, é com certeza, um cheirinho daquilo por que passou. Já agora, volte a escrever e conte-nos: como é que se desembaraçava das burkas? E como se safava no Ramadão?

    Pena não me ter cruzado com o António e o seu “alambique” quando passei uma noite de Fim de Ano em Marraquexe, acabadinha de chegar do deserto, eu e mais uns amigos e, por mais que procurássemos, não conseguimos encontrar nada que fosse bebível para festejar a data. Valeram-nos uns italianos que repartiram, por mais 8, a garrafa de vinho que levavam escondida. Imagine a bebedeira…

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    1. Bem-vindo senhor António. O imigrante tem sempre boas ou más historias para contar.
      O senhor António com as dificuldades que passou também ganhou mais sabedoria para vencer os obstáculos que avida por vezes nos traz.
      O senhor António foi meu colega na informática,agora estamos na ginástica.
      Espero ouvir mais episódios. lisete

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