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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

José Afonso, uma das vozes mais marcantes do século XX em Portugal.




Completam-se hoje 25 anos da morte de José Afonso.
Nasceu no dia 2 de Agosto de 1929. Viveu a sua infância em Angola, e também em Moçambique acompanhando seus pais nas deslocações em trabalho.
Em 1939 regressa a Portugal. Em Coimbra, onde estudou, integrou-se no Orfeão Académico e na Tuna Académica da Universidade. Foi nessa altura que se revelou como um excelente intérprete do Fado de Coimbra. Na década de 60, período de grande agitação social em Portugal, com o início da Guerra Colonial e as lutas estudantis, José Afonso, manifestou "a inutilidade de se cantar o cor-de-rosa e o bonitinho, muito em voga nas nossas composições radiofónicas e no nosso music­-haIl de exportação". Por isso, decidiu fazer das suas canções uma arma de combate por valores mais dignos. Foi, então, percursor do movimento de renovação da música portuguesa da década de 1960.
As suas canções de intervenção, de conteúdo revolucionário, contra o fascismo, arrebataram todos os democratas e anti-fascistas que se opunham à política comandada por Salazar, que explorava e mantinha o povo português na ignorância e subserviência. Para isso o regime impunha o terror da PIDE, da Censura e proibição de tudo o que criticasse o “estado Novo”. José Afonso e as suas canções afrontaram o fascismo.
Lançou, em 1960, o seu quarto disco, Balada do Outono. Em 1962 segue atentamente a crise académica de Lisboa. É editado o álbum Coimbra Orfeon of Portugal. Nesse disco José Afonso rompe com o acompanhamento das guitarras de Coimbra, trocando-o pelas violas de José Niza e Durval Moreirinhas.
Em 1963 foram editados os primeiros temas de carácter vincadamente político, Os Vampiros e Menino do Bairro Negro, o primeiro contra a exploração do capitalismo, o segundo, denunciando a miséria em que grande parte dos trabalhadores viviam, nos imensos bairros de barracas e inspirado no Bairro do Barredo, no Porto. 
Canção de grande ternura e de esperança do sol nascente, da luz do novo dia, que simboliza a confiança numa sociedade mais justa.
Segundo relata José Afonso, Os Vampiros, canção contra a exploração capitalista, foi pensada pela necessidade de tratar temas, políticos e educativos, de se "repercutirem no espírito narcotizado do público, molestando-lhe a consciência adormecida em vez de o distrair”. Foi essa a intenção que orientou a génese de "Vampiros", imagem da "fauna hiper­nutrida de alguns parasitas do sangue alheio". 
Como era de esperar, esse disco, foi proibido pela censura e apreendido nas lojas que o vendiam. Muitos portugueses partilharam gravações passadas de mão em mão e escondidas da PIDE. Nesse disco, Baladas de Coimbra, participou também Adriano Correia de Oliveira, outro famoso cantor que acompanhou José Afonso e, com ele, também se transformou num símbolo da resistência contra o regime de Salazar.
Os Vampiros, juntamente com Trova do Vento que Passa, poema de Manuel Alegre, cantado e musicado por Adriano Correia de Oliveira, viriam a tornar-se símbolos de resistência anti-fascista da época. A canção Os Vampiros anda hoje é sentida como actual, dada a situação de crise social que vivemos. Canção de enorme força, grande simplicidade, utilizando a metáfora para denunciar o capitalismo, que lança na miséria os trabalhadores que explora.
Muito cedo, José Afonso, começou a participar, em festas de estudantes, festas populares, em colectividades, ou com grupos de amigos.
Tive a felicidade de ter participado, assistindo a muitas, nesses tempos de resistência de e de grande solidariedade entre democratas e anti-fascistas.
Em Maio de 1964, José Afonso actua na Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense, onde se inspira para fazer a canção Grândola, Vila Morena. A música viria a ser a senha do Movimento das Forças Armadas na Revolução do 25 de Abril de 1974, permanecendo como a música mais significativa do período revolucionário.
José Afonso foi professor em 1967, mas por pouco tempo. A polícia política, PIDE, que o perseguia, obrigou à sua expulsão do ensino oficial. Mais tarde foi preso por aquela polícia política. No entanto veio a receber vários prémios da Casa da Imprensa pelo Melhor Disco do Ano, e o prémio da Melhor Interpretação. Para que o seu nome e notícias não fosse censurados, Zeca Afonso passa a ser tratado em muitos jornais e por jornalistas de esquerda, pelo anagrama Esoj Osnofa.
Em 1971 edita Cantigas do Maio, no qual surge Grândola, Vila Morena. Em 1973 canta no III Congresso da Oposição Democrática em Aveiro, um dos momentos altos do Movimento Democrático que unia várias tendências de anti-fascistas e ajudou a derrubar o regime de Salazar e Marcelo Caetano. Nessa altura grava o álbum Venham mais Cinco. Entre abril e maio de 1973 esteve preso pela PIDE/DGS no forte-prisão de Caxias.
Após a Revolução de 25 de Abril de 1974, participa entusiasticamente no processo revolucionário, e realiza várias sessões de apoio a diversos movimentos democráticos em Portugal e no estrangeiro. Publicou o LP Coro dos Tribunais, e participou em muitas sessões do Canto Livre. A sua intervenção política intensificou-se depois de alcançada a liberdade, chegando a participar nas campanhas de alfabetização do Movimento das Forças Armadas.
Os seus últimos espectáculos foram realizados nos coliseu de Lisboa e do Porto, em 1983. Estava já em fase avançada da sua doença que o impediu de continuar a cantar e o vitimou. No final desse mesmo ano é-lhe atribuída a Ordem da Liberdade, mas Zeca recusa a distinção.
Faleceu em 23 de Fevereiro de 1987, no Hospital de Setúbal, às três horas da madrugada.
Muitas das suas músicas continuam a ser gravadas por numerosos artistas portugueses e estrangeiros. Calcula-se que existam actualmente mais de 300 versões de canções suas gravadas por mais de uma centena de intérpretes, o que faz de Zeca Afonso um dos compositores portugueses mais divulgados a nível mundial.
Passaram 25 anos da sua morte. Zeca é admirado e lembrado pelo nosso povo. No entanto, é miserável o silenciamento a que assistimos por parte dos meios de comunicação e das entidades responsáveis pela cultura em Portugal. Este regime não utiliza a censura de Salazar mas, com métodos diferentes, impõe o esquecimento, de homens como José Afonso que foram, figuras ímpares da canção popular portuguesa, da canção de protesto, canção livre, canção de resistência ao fascismo, tal como da história de Portugal e da liberdade alcançada com a Revolução do 25 de Abril.
Hoje, como nos tempos do fascismo, José Afonso é necessário e está actual. Continuaremos a sua luta.

Eduardo Baptista

5 comentários:

  1. o que aqui esta comentado é politica e não o nosso Zéca Afonso

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  2. Perdoa-lhes, Zeca!
    O teu génio e talento sobrepõem-se a todos os oportunismos...
    João Simões

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  3. Carregue bem nesse oportunismo, caro Simões, lembre aos deturpadores da História, aos usurpadores da memória que “o nosso Zeca”, nas eleições presidenciais de 1976, 1980 e 1985 repudiou as candidaturas dos patos (Octávio), dos britos (Carlos), dos velosos (Ângelo) e apoiou publicamente as candidaturas de Otelo Saraiva de Carvalho, nas duas primeiras, e a de Maria de Lourdes Pintassilgo, pouco tempo antes de morrer.

    Este é que será o legado de Zeca Afonso e não aquele que os eduardos nos querem impingir.
    Mário Gomes

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  4. Não, senhores anónimo, João Simões e Mário Gomes. Estão muito enganados, mas não conseguem reescrever a história como tantos o querem fazer.
    Conheci pessoalmente José Afonso com quem tive a felicidade de conviver várias vezes. No movimento estudantil, nas lutas de estudantes na década de 60 e mais tarde na CDE (Comissão democrática eleitoral) que lutou contra o regime de Salazar.
    Não queiram esconder aquilo que ele sempre quis que se soubesse desde que rompeu com o tradicional “Fado de Coimbra” e como ele disse com "a inutilidade de se cantar o cor-de-rosa e o bonitinho, muito em voga nas nossas composições radiofónicas e no nosso music¬-haIl de exportação".
    Não foi por acaso que José Afonso foi perseguido e preso pela PIDE.
    Por favor não desvalorizem, nem cometam a injustiça para com José Afonso, dizendo que o que está escrito “é política”, é “oportunismo” ou acusar de “deturpadores da História, aos usurpadores da memória que “o nosso Zeca”, nas eleições presidenciais de 1976, 1980 e 1985 repudiou as candidaturas dos patos (Octávio), dos britos (Carlos), dos velosos (Ângelo) e apoiou publicamente as candidaturas de Otelo Saraiva de Carvalho, nas duas primeiras, e a de Maria de Lourdes Pintassilgo, pouco tempo antes de morrer”. Deturpação é isso mesmo que o sr. Mário Gomes escreveu, pois nada disso está no texto que eu escrevi. O sr. Mário Gomes, desajeitadamente, faz "baixa política" trazendo para os seus comentários coisas que nada têm a ver com o que eu escrevi. Porquê? Para tirar uma conclusão inventada “Este é que será o legado de Zeca Afonso e não aquele que os eduardos nos querem impingir”.
    Não meus senhores. Não sois donos da verdade.
    Não foi por acaso que José Afonso participou no III Congresso da Oposição Democrática.
    Não foi por acaso que o Movimento das Forças Armadas, no 25 de Abril escolheu Grândola e José Afonso.
    e… sobretudo, não foi por acaso que cantou o que cantou.
    Muito poderia acrescentar mas, para não sair do tema, por agora, termino.
    Cumprimentos a todos os leitores e comentadores de Gente Gira
    Eduardo Baptista

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  5. E chega!
    Este espaço não será utilizado como "forum" público num diz que diz. Há outros meios, outros cafés,outros espaços.
    Quem se der ao trabalho de ler todos os "posts" desde a criação deste Blog facilmente entende o que escrevo aqui.
    Afonso Faria

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