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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Homenagem ao Povo do Sobral de Monte Agraço


O Sobral de Monte Agraço
Onde as férias, eu lá passo,
É uma Vila muito antiga.

Gosto muito de lá estar
E das férias lá passar,
Pois lá, tenho gente amiga.

A perder nos horizontes
Avistam-se vales e monte

E verdejantes colinas,
Aqui e além, os moinhos
Com sua graça, branquinhos,
Ou a cair em ruínas.

Lá bem no centro da Vila,
Onde a vida é tão tranquila

Existe a Quinta dos Condes.

De um lado o Chafariz,

Do outro a Igreja Matriz,

Cedida ao povo p’los Condes.

Em Setembro são as festas,
E poucas há como estas

Que tanto agradam a todos.

Artistas de todo o lado,

Teatro, Música, Fado,

Gente nas ruas a rodos.


Os seus cortejos históricos
Com seus carros alegóricos
De todas as freguesias,
Mostram ao povo admirado
O que foi todo o passado
Muito antes dos nossos dias.

Cavalos e Cavaleiros,
Damas, Cruzados, Escudeiros,
A Plebe e o Povo e então,
Cada um em seu lugar
Desfila, para mostrar
A festa com tradição.

Lá no adro da Igreja,
P’ra que toda a gente veja

No coreto, ao desafio,
Há Bandas, Ranchos, Folclore,
Cada um dá seu melhor
Dias e noites a fio.

Não faltam as Guitarradas,
As Pamplonas e as Toiradas,
Acordeonistas de raça.
Ao despique, a tocar,
Uns e outros, sem parar,

Encantam quem por lá passa.

E essa Vila velhinha

Que adoptei, como se minha
Fosse para todo o sempre,
Tem tradições ancestrais
Que não morrerão jamais,

Pois seu povo não consente.

Feito em Lisboa, 20 de Agosto de 2000.

Lourdes Henriques (Sobral - Biblioteca)

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

LISBOA DAS SETE COLINAS








Lisboa das Sete colinas,

Dos pregões e das varinas,

Das guitarras a trinar,

Foste o berço dos que outrora

Saíram pelo mar fora

P’ra novos mundos desbravar.

És linda todos os dias,

E a beleza que irradias

Não há no mundo outra igual.

Tens sangue puro, bairrista,

Tens o porte de fadista,

Coração de Portugal.

P’los poetas exaltada,

És a moira encantada,

Tens lendas sem mais parar.

Tens no alto o teu castelo,

Que elegante e sempre belo

Brilha, em noites de luar.

O lindo Tejo a teu lado,

Teu eterno namorado

Só para ti sabe olhar.

E o turista quando chega

Logo a ti se agarra e apega,

E já não quer regressar.

Por todo o lado pombinhos,

Raro se vêm seus ninhos

Mas eles, por aí estão,

E em constante liberdade

Esvoaçam p’la cidade,

E depenicam no chão.

E nestas linhas banais,

Simples e pobres de mais,

Escritas ao correr da mão,

Eu presto a minha homenagem

A ti Lisboa, miragem

Da minha imaginação!

Homenagem a Lisboa, minha terra natal.

Lisboa, 30 de Agosto de 1996.

Lourdes Henriques (Sobral - Biblioteca)

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Manuel (parte II)

O que é que o Manuel resolveu fazer? Dois livros, um falso para apresentar aos inspectores e um verdadeiro só para o grupo, para poder haver dinheiro em caixa e se poder cobrar uma pequena quota todas as semanas.
Convocou uma reunião com todos os homens da aldeia e expôs-lhes a sua ideia. Escusado será dizer que todos aceitaram.
No dia 1 de Janeiro de 1947 formou-se o Grupo Humanitário Barqueirense, um Presidente, um Tesoureiro e três vogais. Presidente ou Vogal qualquer um podia ser mas Tesoureiro só quem tivesse bens próprios.
Se um sócio de envolvesse em desordem não recebia subsídio sem consulta da Assembleia Geral, podendo até perder para todos os efeitos o direito de sócio. Com este regulamento os homens compreendiam-se muito bem entre si; era bonito de ver...
Nenhum se portava mal pois não queria deixar de ser sócio.
Os Vogais cobravam as quotas todas as semanas, 25 tostões cada. O dinheiro era entregue ao Tesoureiro e assim se ia juntando para tudo o que era necessário. Quem estava doente, para receber subsídio tinha que ir ao médico e apresentar comprovativo. Recebia 20 escudos diários. Se algum sócio falecia o grupo fazia o funeral e dava-se seis meses de subsídio à viúva para poder organizar a vida.
Um sócio teve um problema de pulmões. O regulamento dizia que não podia receber mais que seis meses seguidos. O Manuel, sempre atento dizia, vai ao médico e pede alta, pouco tempo depois, vai ao médico pede baixa. Assim andou dois anos até que ficou curado e recomeçou a trabalhar.
Todos nós tínhamos muito orgulho em não haver pobres a pedir na nossa aldeia.
Não havia outra aldeia do concelho do Sobral que tivesse o que nós tínhamos...
Hoje isto não tem importância mas em 1947 tinha muita, pois o nosso estado não dava nada a quem quer que fosse.
Manuel, todos os dia rezo por ti e peço a Deus que te tenha num bom cantinho, porque tu mereces. Obrigada pelo exemplo!

Alice (Sobral-Espaço Net)

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O Manuel (parte I)

Um homem que merece ser recordado pelo muito que deu de si aos outros.
Nasceu, cresceu, viveu e morreu na Barqueira, uma aldeia pequenina do concelho de Sobral de Monte Agraço.
Era criança traquina mas muito inteligente; na escola foi sempre o melhor aluno da classe. Acabada a instrução primária, pediu ao pai para aprender carpintaria mas o pai disse-lhe que não porque ele fazia falta para o ajudar nos trabalhos do campo. Naquela época, quando o pai dizia não, era não e não se falava mais no assunto.
O Manuel, contrariado lá foi para o campo.
Faleceu a avó, o pai herdou uma casa da qual não tinha necessidade. Que pensou o Manuel? Fazer dali uma escola para ensinar os que não sabiam ler.
Entre todos arranjaram umas mesas e uns bancos compridos e a escola começou a funcionar. Só à noite depois das pessoas virem do trabalho. Escusado dizer que alunos não lhe faltavam...
Como o dinheiro era muito caro, não podiam comprar cadernos e canetas; cada um comprou uma ardósia (um pequeno quadro) e era lá que aprendiam a ler, escrever e fazer contas.
Nesta altura era ele um rapazote com 17 anos, os alunos eram uns da idade do pai e outros ainda mais velhos. Dentro da escola quem mandava era o Manuel e todos lhe obedeciam. Livros, havia apenas os dele.
Passado algum tempo todos sabiam fazer o seu nome, estavam muito felizes. Muitos deles ficaram a saber muito bem ler e escrever e a fazer contas.
No convívio com estas pessoas ele apercebeu-se que algumas delas quando estavam doentes não tinham possibilidade de ter sustento para as suas famílias, viviam apenas com o que os vizinhos lhes davam.
Começou a pensar na maneira de os ajudar, resolveu então formar um grupo humanitário para que quando essas pessoas estivessem doentes pudessem ter um subsídio de sobrevivência.
Foi a Lisboa saber o que podia fazer, trouxe os estatutos e meteu mãos à obra.
Os estatutos diziam que não podia haver dinheiro em caixa e só se podia cobrar quotas quando alguém estivesse doente e não se podia receber mais que seis meses seguidos. Este regulamento não servia para o nosso meio porque eram quase todos trabalhadores rurais. Se estivessem três ou quatro doentes ao mesmo tempo eles não tinham possibilidade de pagar quotas avultadas.
Perante esta situação, alguma coisa tinha que se mudar...

Alice (Sobral-Espaço Net)