O tempo não pára, não é?
O meu filho mais velho acabou o curso e chegou a hora de ir para a tropa. O mais novo não quis ficar sozinho em casa, sem o irmão e resolver ir também.
O meu marido não quis ver os filhos irem para a tropa. Veio de férias a Portugal. Eu fiquei a a segurar o barco. Não foi fácil vê-los partir, saírem de casa sem saber o que lhes estava reservado. Naquela altura a África do Sul estava com problemas nas fronteiras.
O mais novo, como tinha problemas de coração o médico deu-lhe uma carta onde dizia não poder fazer a recruta. O chefe dos escuteiros deu-lhe outra dizendo que ele tinha que vir a casa todos os sábados porque tinha um grupo de exploradores a cargo dele. Passou dois anos na secretaria a 150 Km de distância. O mais velho foi para a fronteira com Angola a 2.000 Km de casa. Como a área dele era engenharia nunca foi para o mato, ficou no quartel a resolver problemas locais. Graças a Deus os dois tiveram sorte!
Acabada a tropa, passou um ano e o mais velho casou.
A casa onde tão bons momentos tinham sido vividos tornara-se grande só para três. Vendemo-la e compramos outra mais pequena e outra em Portugal.
Quatro anos mais tarde o mais novo casou.
O meu marido começou a falar em regressar a Portugal. Eu não queria. Dizia que valia mais morrer em África com um tiro do que de saudades em Portugal.
A minha vida era muito preenchida. Trabalhei doze anos para o “Lusito” e 16 para os escuteiros.
Quando se fundou o agrupamento nem uma chávena havia para tomar um chá. Quando deixei, havia tudo o que era necessário para servir um jantar para 200 pessoas, uma carrinha de nove lugares e 10.000 Rands no banco. O mérito não é meu mas de todos os pais que trabalharam para o objectivo.
Foi um pouco de mim que ficou para trás.
Em 1993 decidimos e viemos para Portugal. Com a nossa vinda a vida deu uma volta de 180º em todo o sentido da palavra.
Custou-me muito deixar a família e foi muito difícil a readaptação a Portugal.
Ninguém batia à porta, o telefone não tocava, que tristeza! Pensei não aguentar tanta saudade.
Mas uma vez mais aguentei! Já cá estou há 17 anos...
Alice (Sobral - Espaço Net)