O
apontamento da Alexandrina fez-me lembrar outras profissões em vias
de extinção ou mesmo já extintas.
Não
conheço suficientemente o Sobral quer em tempo quer suas gentes que me permitam sinalizar aqui essas outras profissões. Contudo, não me é difícil
recuar no tempo e caminhar
em memória por outras paragens. Estou
convencido que o que existia nessas também por cá tinha
representação.
Homenagem ao Sapateiro S.João da Madeira |
O
meu avô tinha uma sapataria e um comércio de tudo quanto era
matéria prima relacionada com sapatos. Lembro-me de, ao fundo da loja, num compartimento que servia de armazém, permanecer amontoada uma
pilha de placas de cabedal para solas (ainda identifico o cheiro), do
outro lado as placas de borracha brancas, vermelhas, pretas. Em
prateleiras bem distintas, os cabedais finos, macios e multicoloridos,
mais ou menos lustrosos (vernizes), as carneiras cremes, dispostos
pelas cores e qualidades.
Na
loja, pregos, colas, fios, ceras, formas de madeira de diversos
números, um não sei quantos produtos ligados à arte e vitrines de
exposição de sapatos acabados. Tudo o que permanecia em exposição
ou era por encomenda e entrega breve ou nunca levantado, muitas vezes, por falta de dinheiro. Não se vendia sapatos de outras proveniências.
Aos
domingos, depois da missa, era casa cheia. Vinham os mestres
sapateiros das redondezas comprar o material que lhes fazia falta
para o seu dia a dia, vinha o povo encomendar uns sapatos ou botas.
Estou
a ver o meu avô colocar no chão uma folha de papel e, com um lápis, contornar o pé do cliente ao que se seguia algumas medidas.
Recordo-me das exigências dos clientes, botas de sola de borracha
branca com salto assim...rebordo com fita colorida azul ou
vermelha... sapatos com desenhos ou lisos... pretos ou castanhos, de
verniz ou não, solas de borracha ou couro... Ah! E havia os que traziam recortes de pneu que dariam para uma resistentes solas de botas de trabalho...