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quinta-feira, 16 de maio de 2013

MÚSICA dos ANOS 30


Da esquerda para a direita: José dos Reis (Aniceto) “Clarinete” Joaquim Carago (Caraguito) “Concertina” João Zacarias “Saxofone”António Lourenço (D`Avelina) “Jazo bandista” Joaquim Moita “Banjo”Joaquim Carvalho “Banjo”João Lourenço (D`Avelina) “Banjo”


Decorriam os primeiros anos da década de trinta do século XX, quando um grupo de jovens da Sapataria cheios de talento e força anímica se uniram e juntos decidiram dar um passo, à época, considerado muito à frente, e formar aquilo que teria de tudo menos facilidades: o GRUPO MUSICAL SAPATARIENSE “ OS MODESTOS”, com a sua sede de ensaios e atuações ao público numa casa pertencente a João Ferreira Carago, localizada defronte do hoje Café Barros, que mais tarde deu lugar à também distinta oficina do Sr. Fernando ferreiro, exímio fabricante das célebres alfaias agrícolas que todos usavam, mas poucos gostavam, “as enxadas” de todos os tamanhos e para todas as idades.
Tal era a vontade e dedicação, que o grupo não reproduzia músicas chamadas de ouvido. Todos os intervenientes sabiam ler e seguir as suas pautas musicais, ainda hoje algumas existentes. Para que isso fosse possível contavam com a colaboração de um mestre (Professor) de seu nome Artur Libânio, residente em Sobral de Monte Agraço que se deslocava para o ensaio uma vez por semana ou em periodicidade maior devido à dificuldade de transportes: públicos não existiam; boleias, lá aparecia raramente uma carrocita cujo motor se não era de um cavalo, era de um burro e, de vez em quando, como mais certeira era, ora a pé, ora andando.
Os instrumentos eram custeados pelos próprios e as restantes despesas supridas pelos proventos adquiridos nas actuações. Aos domingos, com exceção da quaresma, havia bailaricos à tarde para aproveitamento da luz solar, pois quando entrava um pouco
mais no escuro lá surgia a voz: “Isto assim não dá para o petróleo!”, uma vez que a iluminação era feita com velas, candeias de azeite, as velhinhas lanternas a petróleo e um outro gasómetro que funcionava com carboneto.
Com a chegada da noite, surgia a ocasião de ir tomar a tigela do café fervido numa grande panela, mas com um saboroso paladar e libertando um cheirinho muito agradável, hoje conhecido pelo café das borras ou café das velhas, acompanhado das deliciosas filhós distendidas à mão.
Para muitos, foram os momentos mais alegres e divertidos daquela geração que chegava ao domingo fazendo transparecer o cansaço acumulado durante a semana com tantas horas de trabalho árduo, juntava-se-lhes a satisfação daqueles músicos com um ponto de encontro que era um ato de cultura, convívio, diversão, olhares bonitos, arrastar de asa... Após o termo, na viagem de regresso a casa (a pé), alguns aproveitavam para namoriscar, mas sobretudo servia como terapia para o cansaço e um retemperar de energias para nova jornada laboral.
Como se pode verificar pela fotografia, é bem patente a juventude, com idades compreendidas entre os quinze e vinte e poucos anos, hoje infelizmente já falecidos. Tive o privilégio de conhecer todos pessoalmente e ter relações de amizade com alguns. Para reconhecimento, apresento-vos da esquerda para a direita:
José dos Reis (Aniceto) “Clarinete”
Joaquim Carago (Caraguito) “Concertina”
João Zacarias “Saxofone”
António Lourenço (D`Avelina) “Jazo bandista”
Joaquim Moita “Banjo”
Joaquim Carvalho “Banjo”
João Lourenço (D`Avelina) “Banjo”
e outros que se revezavam.
Não presenciando o período ativo do grupo, ainda assim usufruí do prazer de dançar ao som produzido por alguns elementos, quando na década de sessenta, e por ocasião da inauguração da luz elétrica, se juntaram ao também já falecido acordeonista João Manuel Mineiro Lourenço e fizeram uns bailes para angariação de fundos para os festejos, dos quais ainda recordo melodias como:
Chega chega-me isso cá para mim”
Funcionou como embrião para o nascimento do também muito conhecido e popular” TRIO JAZMIN”. É com saudade e muita pena, por ser a título póstumo, que lhes dedico este relembrar e admiração por tudo o que fizeram em prol da cultura daquela geração à qual os meus Pais pertenceram, levando a fazer acreditar que também do ato eu sou um fruto. Os meus agradecimentos aos familiares e pessoas mais idosas que comigo colaboraram na recolha dos dados.

P D E
Perna de Pau

8 comentários:

  1. Vá lá Alexandrina!
    Puxa pela memória e não fiques atrás deste PDE da Perna de Pau e fala dos conjuntos musicais que existiram nos finais dos anos cinquenta e anos sessenta no Sobral
    Nós dançamos e namoramos nos bailes por eles animados.
    Eu tenho algumas fotos se quiseres.Não tenho é à tua memória e o teu empenho. Manuela

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    1. Manuela,
      Só para seu conhecimento, este apontamento não é da Alexandrina. É de um João que por acaso é meu aluno na Sapataria e usa a sigla "PDE" há muitos anos desde a sua vida profissional activa, iniciais do seu nome. Para o efeito não tem importância. Trouxe-nos um testemunho e trabalho de pesquisa válido da sua localidade que poderia servir de exemplo a tantas outras pessoas na divulgação da identidade local da sua regiao.
      Afonso Faria

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  2. Mea culpa, mea maxima culpa. Interpretei mal o comentário da Manuela. Falta de rigor. Não é que não é um "privilégio" só dos outros? Desculpe Manuela. Sim, pode ser um desafio, à Alexandrina e outros mais, mesmo à Manuela, digo eu... :)
    Afonso Faria

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  3. Gostei de ler o texto do P.D.E. No Conjunto há pessoas que conheci e os seus filhos são mais ou menos da minha idade. Gostei de ler a referência ao Sr. Artur Libânio, meu vizinho e avô das que foram, pela vida fora, as minhas melhores amigas. Este texto fez-me recordar o tempo em que passava à porta do Senhor Artur e ouvia o som, acho que era do clarinete. Foi sempre um amante da música e seus filhos, também como o pai, fizeram parte das bandas filarmónicas do Sobral.
    Gostei da maneira como escreveu o texto, com algum espírito, dando a conhecer algo da sua terra.
    Gostei que a Manuela, no seu comentário, fizesse alusão aos conjuntos idênticos que aqui se formaram no final da década de cinquenta e na década de sessenta; a ela este texto recordou-lhe essa época, para todas nós tão grata, e assim louvou o trabalho do P.D.E..
    Gostaria, que estes textos tivessem continuidade por outros lugares do Concelho, como já tenho dito. Este blogue não é só dos que actualmente nele escrevem, é de todos os que queiram participar…
    Maria Alexandrina

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  4. Gostei de ler mais um destes textos que nos dão a conhecer os usos e costumes de antigamente. Uma justa Homenagem Póstuma a quem colaborou com a juventude de então.
    "Vale mais tarde do que nunca"...
    A formação de um grupo desta natureza, naquela época, deve ter sido um passo bastante ousado. Mas o que é certo é que deu frutos e continuou durante muitos anos.
    Com as limitações e condições precárias de então, é mesmo de louvar este grupo, ainda por cima sendo eles a custear os próprios instrumentos que de certo não teriam sido já muito baratos, para a época.
    Costuma-se dizer que "faz mais quem quer do que quem pode" e na realidade para formar um grupo destes, foi preciso muito espírito de união e amor à música. E ainda por cima um Professor que se deslocava a pé ou à boleia ...
    Afinal isto também já se poderia chamar, julgo eu na minha modesta opinião, de uma espécie de "voluntariado", como se diz actualmente, mas este por Amor à Arte ...
    Não vivi nesta época nem tinha conhecimento da existência deste grupo. No entanto, conheci, acompanhei e participei muitas vezes nos encontros de acordeonistas com o nosso amigo recentemente falecido João Manuel Mineiro Lourenço, de quem o meu marido foi amigo, companheiro e colega: o acordeonista Renato Henriques.
    Apesar de as minhas origens não serem destes lados, é sempre com muito agrado que leio estes textos que nos vão sempre enriquecendo os nossos conhecimentos.
    Obrigada a PDE e continuo à espera que outras histórias venham aqui ser contadas, pois não sendo esta a minha terra natal, sinto-me como uma filha adoptiva.
    Bem-hajam.
    Lourdes Henriques.

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  5. Caro amigo e professor Afonso
    Desta vez está desculpado para a próxima não sei.
    Julgo conhecer bem esse seu aluno João da Perna de Pau. Só pode ser o marido da sua aluna Rosa.
    Tivemos excelentes relações na Câmara e na Assembleia Municipal nos tempos em que lá exerci funções.
    Quero elogiar,aproveitando este comentário, as informações que nos são dadas na parte lateral deste nosso blogue, pois muito úteis e oportunas. Obrigado pela sua disponibilidade.
    Manuela

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  6. Pois é, Manuela e Alexandrina, "este PDE da Perna de Pau" fez-nos uma bela de uma surpresa, dupla surpresa, para além do texto ... o nome. Mas o nome pouco interessa, interessa sim o testemunho, a memória de outros tempos bem recuados, com foto, nomes e tudo, os nomes das canções, uma bela de uma recolha de um modo de vida tão diferente.

    Diferente até nisto, escrito nesta frase que não resisto a copiar:
    "os instrumentos eram custeados pelos próprios e as restantes despesas supridas pelos proventos adquiridos nas actuações"... Não se esperavam subsídios, apoios públicos, se calhar nem a palavra subsídios era conhecida. Seria, PDE?

    Conheciam-se e praticavam-se outras coisas de que também gosto:
    "convívio, diversão, olhares bonitos, arrastar de asa..." Vamos, minhas senhoras de cá, toca a "responder" a isto...

    Auzendo

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  7. Bem-vindo PDE, seja lá você quem for… e pelo começo, muito deve haver aí para contar…
    Uma bela homenagem, escrita com muito humor e carinho, enumerando todos aqueles “Modestos” e retratando bem a vida difícil nesses anos 30. Apesar de todas as dificuldades, sabiam como arranjar energias para enfrentar a dureza do dia-a-dia.
    As actuações dos “Modestos” podiam “não ter dado para o petróleo”, mas contribuíram de certeza para a felicidade de muita gente.
    Prepare-se… pois parece que esta sua história despertou alguma “inveja” aqui nalgumas “meninas” do Sobral.

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