Da esquerda para a direita: José dos Reis (Aniceto) “Clarinete” Joaquim Carago (Caraguito) “Concertina” João Zacarias “Saxofone”António Lourenço (D`Avelina) “Jazo bandista” Joaquim Moita “Banjo”Joaquim Carvalho “Banjo”João Lourenço (D`Avelina) “Banjo”
Decorriam
os primeiros anos da década de trinta do século XX, quando um grupo
de jovens da Sapataria cheios de talento e força anímica se uniram
e juntos decidiram dar um passo, à época, considerado muito à
frente, e formar aquilo que teria de tudo menos facilidades: o GRUPO
MUSICAL SAPATARIENSE “ OS MODESTOS”, com a sua sede de ensaios e
atuações ao público numa casa pertencente a João Ferreira Carago,
localizada defronte do hoje Café Barros, que mais tarde deu lugar à
também distinta oficina do Sr. Fernando ferreiro, exímio fabricante
das célebres alfaias agrícolas que todos usavam, mas poucos
gostavam, “as enxadas” de todos os tamanhos e para todas as
idades.
Tal
era a vontade e dedicação, que o grupo não reproduzia músicas
chamadas de ouvido. Todos os intervenientes sabiam ler e seguir as
suas pautas musicais, ainda hoje algumas existentes. Para que isso
fosse possível contavam com a colaboração de um mestre (Professor)
de seu nome Artur Libânio, residente em Sobral de Monte Agraço que
se deslocava para o ensaio uma vez por semana ou em periodicidade
maior devido à dificuldade de transportes: públicos não existiam;
boleias, lá aparecia raramente uma carrocita cujo motor se não era
de um cavalo, era de um burro e, de vez em quando, como mais certeira
era, ora a pé, ora andando.
Os
instrumentos eram custeados pelos próprios e as restantes despesas
supridas pelos proventos adquiridos nas actuações. Aos domingos,
com exceção da quaresma, havia bailaricos à tarde para
aproveitamento da luz solar, pois quando entrava um pouco
mais no
escuro lá surgia a voz: “Isto assim não dá para o petróleo!”,
uma vez que a iluminação era feita com velas, candeias de azeite,
as velhinhas lanternas a petróleo e um outro gasómetro que
funcionava com carboneto.
Com
a chegada da noite, surgia a ocasião de ir tomar a tigela do café
fervido numa grande panela, mas com um saboroso paladar e libertando
um cheirinho muito agradável, hoje conhecido pelo café das borras
ou café das velhas, acompanhado das deliciosas filhós distendidas à
mão.
Para
muitos, foram os momentos mais alegres e divertidos daquela geração
que chegava ao domingo fazendo transparecer o cansaço acumulado
durante a semana com tantas horas de trabalho árduo, juntava-se-lhes
a satisfação daqueles músicos com um ponto de encontro que era um
ato de cultura, convívio, diversão, olhares bonitos, arrastar de
asa... Após o termo, na viagem de regresso a casa (a pé), alguns
aproveitavam para namoriscar, mas sobretudo servia como terapia para
o cansaço e um retemperar de energias para nova jornada laboral.
Como
se pode verificar pela fotografia, é bem patente a juventude, com
idades compreendidas entre os quinze e vinte e poucos anos, hoje
infelizmente já falecidos. Tive o privilégio de conhecer todos
pessoalmente e ter relações de amizade com alguns. Para
reconhecimento, apresento-vos da esquerda para a direita:
José
dos Reis (Aniceto) “Clarinete”
Joaquim
Carago (Caraguito) “Concertina”
João
Zacarias “Saxofone”
António
Lourenço (D`Avelina) “Jazo bandista”
Joaquim
Moita “Banjo”
Joaquim
Carvalho “Banjo”
João
Lourenço (D`Avelina) “Banjo”
e
outros que se revezavam.
Não
presenciando o período ativo do grupo, ainda assim usufruí do
prazer de dançar ao som produzido por alguns elementos, quando na
década de sessenta, e por ocasião da inauguração da luz elétrica,
se juntaram ao também já falecido acordeonista João Manuel Mineiro
Lourenço e fizeram uns bailes para angariação de fundos para os
festejos, dos quais ainda recordo melodias como:
“Chega
chega-me isso cá para mim”
Funcionou
como embrião para o nascimento do também muito conhecido e popular”
TRIO JAZMIN”. É com saudade e muita pena, por ser a título
póstumo, que lhes dedico este relembrar e admiração por tudo o que
fizeram em prol da cultura daquela geração à qual os meus Pais
pertenceram, levando a fazer acreditar que também do ato eu sou um
fruto. Os meus agradecimentos aos familiares e pessoas mais idosas
que comigo colaboraram na recolha dos dados.
P D E
Perna de Pau
Vá lá Alexandrina!
ResponderEliminarPuxa pela memória e não fiques atrás deste PDE da Perna de Pau e fala dos conjuntos musicais que existiram nos finais dos anos cinquenta e anos sessenta no Sobral
Nós dançamos e namoramos nos bailes por eles animados.
Eu tenho algumas fotos se quiseres.Não tenho é à tua memória e o teu empenho. Manuela
Manuela,
EliminarSó para seu conhecimento, este apontamento não é da Alexandrina. É de um João que por acaso é meu aluno na Sapataria e usa a sigla "PDE" há muitos anos desde a sua vida profissional activa, iniciais do seu nome. Para o efeito não tem importância. Trouxe-nos um testemunho e trabalho de pesquisa válido da sua localidade que poderia servir de exemplo a tantas outras pessoas na divulgação da identidade local da sua regiao.
Afonso Faria
Mea culpa, mea maxima culpa. Interpretei mal o comentário da Manuela. Falta de rigor. Não é que não é um "privilégio" só dos outros? Desculpe Manuela. Sim, pode ser um desafio, à Alexandrina e outros mais, mesmo à Manuela, digo eu... :)
ResponderEliminarAfonso Faria
Gostei de ler o texto do P.D.E. No Conjunto há pessoas que conheci e os seus filhos são mais ou menos da minha idade. Gostei de ler a referência ao Sr. Artur Libânio, meu vizinho e avô das que foram, pela vida fora, as minhas melhores amigas. Este texto fez-me recordar o tempo em que passava à porta do Senhor Artur e ouvia o som, acho que era do clarinete. Foi sempre um amante da música e seus filhos, também como o pai, fizeram parte das bandas filarmónicas do Sobral.
ResponderEliminarGostei da maneira como escreveu o texto, com algum espírito, dando a conhecer algo da sua terra.
Gostei que a Manuela, no seu comentário, fizesse alusão aos conjuntos idênticos que aqui se formaram no final da década de cinquenta e na década de sessenta; a ela este texto recordou-lhe essa época, para todas nós tão grata, e assim louvou o trabalho do P.D.E..
Gostaria, que estes textos tivessem continuidade por outros lugares do Concelho, como já tenho dito. Este blogue não é só dos que actualmente nele escrevem, é de todos os que queiram participar…
Maria Alexandrina
Gostei de ler mais um destes textos que nos dão a conhecer os usos e costumes de antigamente. Uma justa Homenagem Póstuma a quem colaborou com a juventude de então.
ResponderEliminar"Vale mais tarde do que nunca"...
A formação de um grupo desta natureza, naquela época, deve ter sido um passo bastante ousado. Mas o que é certo é que deu frutos e continuou durante muitos anos.
Com as limitações e condições precárias de então, é mesmo de louvar este grupo, ainda por cima sendo eles a custear os próprios instrumentos que de certo não teriam sido já muito baratos, para a época.
Costuma-se dizer que "faz mais quem quer do que quem pode" e na realidade para formar um grupo destes, foi preciso muito espírito de união e amor à música. E ainda por cima um Professor que se deslocava a pé ou à boleia ...
Afinal isto também já se poderia chamar, julgo eu na minha modesta opinião, de uma espécie de "voluntariado", como se diz actualmente, mas este por Amor à Arte ...
Não vivi nesta época nem tinha conhecimento da existência deste grupo. No entanto, conheci, acompanhei e participei muitas vezes nos encontros de acordeonistas com o nosso amigo recentemente falecido João Manuel Mineiro Lourenço, de quem o meu marido foi amigo, companheiro e colega: o acordeonista Renato Henriques.
Apesar de as minhas origens não serem destes lados, é sempre com muito agrado que leio estes textos que nos vão sempre enriquecendo os nossos conhecimentos.
Obrigada a PDE e continuo à espera que outras histórias venham aqui ser contadas, pois não sendo esta a minha terra natal, sinto-me como uma filha adoptiva.
Bem-hajam.
Lourdes Henriques.
Caro amigo e professor Afonso
ResponderEliminarDesta vez está desculpado para a próxima não sei.
Julgo conhecer bem esse seu aluno João da Perna de Pau. Só pode ser o marido da sua aluna Rosa.
Tivemos excelentes relações na Câmara e na Assembleia Municipal nos tempos em que lá exerci funções.
Quero elogiar,aproveitando este comentário, as informações que nos são dadas na parte lateral deste nosso blogue, pois muito úteis e oportunas. Obrigado pela sua disponibilidade.
Manuela
Pois é, Manuela e Alexandrina, "este PDE da Perna de Pau" fez-nos uma bela de uma surpresa, dupla surpresa, para além do texto ... o nome. Mas o nome pouco interessa, interessa sim o testemunho, a memória de outros tempos bem recuados, com foto, nomes e tudo, os nomes das canções, uma bela de uma recolha de um modo de vida tão diferente.
ResponderEliminarDiferente até nisto, escrito nesta frase que não resisto a copiar:
"os instrumentos eram custeados pelos próprios e as restantes despesas supridas pelos proventos adquiridos nas actuações"... Não se esperavam subsídios, apoios públicos, se calhar nem a palavra subsídios era conhecida. Seria, PDE?
Conheciam-se e praticavam-se outras coisas de que também gosto:
"convívio, diversão, olhares bonitos, arrastar de asa..." Vamos, minhas senhoras de cá, toca a "responder" a isto...
Auzendo
Bem-vindo PDE, seja lá você quem for… e pelo começo, muito deve haver aí para contar…
ResponderEliminarUma bela homenagem, escrita com muito humor e carinho, enumerando todos aqueles “Modestos” e retratando bem a vida difícil nesses anos 30. Apesar de todas as dificuldades, sabiam como arranjar energias para enfrentar a dureza do dia-a-dia.
As actuações dos “Modestos” podiam “não ter dado para o petróleo”, mas contribuíram de certeza para a felicidade de muita gente.
Prepare-se… pois parece que esta sua história despertou alguma “inveja” aqui nalgumas “meninas” do Sobral.