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quarta-feira, 10 de abril de 2013

A mulher e a sociedade


A mulher, durante muitos séculos, foi considerada um ser inferior. Platão achava que a natureza da mulher era inferior à dos homens na capacidade para a virtude. Viveu de 428 a 347 a.C., mas ainda no século XIX Frederich Hegel, filósofo alemão, escreveu: “ A mulher pode ser educada, mas a sua mente não é adequada às ciências elevadas, à filosofia e algumas das artes”. Mas foi no século XIX que nasceram grandes movimentos pelos direitos das mulheres: adquiriu-se o direito à entrada no mercado de trabalho, redução de horário de trabalho, o direito de voto e o direito a ser votada.

Em Portugal, depois da implantação da República em 1911, pela primeira vez votou uma mulher em Portugal, por uma omissão na Lei: a sufragista Dr. Carolina Beatriz Ângelo aproveitando essa lacuna votou, embora contra a vontade dos Governantes. Recorreu ao Tribunal e ganhou. Já fiz referência a este facto no blogue, em Julho de 2012. A lei foi modificada de imediato e ficou bem definido que só os homens podiam votar. No ano de 1931, foi autorizado o voto às mulheres desde que tivessem o ensino secundário completo, numa época em que no povo português e principalmente nas mulheres havia um elevado grau de analfabetismo.

A constituição de 1933 consagrava a igualdade entre os cidadãos perante a lei, excepção feita às mulheres devido “às diferenças inerentes à natureza e também aos interesses da família”. A mulher, desde que fosse casada, para comprar uma casa ou para se ausentar do País tinha que ter autorização do marido. Entre as mulheres mais instruídas durante o Estado Novo, era de bom tom estarem em casa a cuidar dos filhos, que geralmente eram bastantes, e o lema era “Deus, Pátria e Família”. As camponesas trabalhavam nos campos com baixos salários e de sol a sol, no Douro ou no Alentejo: eram exploradas pelos patrões e obrigadas a um trabalho ritmado por um feitor que, com uma voz que feria tanto como o chicote, não as deixava endireitar as costas, vergadas pelo trabalho e algumas delas também pelo peso da idade. Nas fábricas lutava-se por melhores salários, e a palavra de ordem era “para trabalho igual salário igual”.

Só depois do 25 de Abril, pela Constituição de 1976, a figura do “Chefe da família” deixou de existir e o homem e a mulher tornaram-se iguais perante a lei.

A independência económica da mulher foi um factor importante para a sua emancipação. Devido ao seu empenho, muitas mulheres têm formação universitária, nas letras, nas artes e nas ciências, ocupam cada vez mais um lugar de destaque mas, mesmo assim, ainda hoje elas têm dificuldade em se impor nos lugares de chefia. Nesta sociedade onde o homem é ainda quem domina, continuamos a assistir à preferência em escolher homens para lugares de topo em detrimento das mulheres, só porque elas são fêmeas e pela sua natureza engravidam.
Na política verifica-se que, no tempo vivido em democracia há quase 40 anos, só houve uma mulher 1º. Ministro e só por noventa dias. As listas dos partidos são maioritariamente masculinas, e teve que uma lei impor uma percentagem de mulheres a fazer parte das listas... É triste que isto tenha de ser definido por lei. Se nas manifestações de protesto contra o custo de vida, contra o desemprego, contra as injustiças sociais, as mulheres estão na linha da frente…nos protestos como nas greves as mulheres juntam a sua voz à dos homens, porquê ter que haver quotas para serem chamadas a intervir no destino do País?

Embora se verifiquem grandes conquistas nos seus direitos, a prática é uma realidade bem diferente e continuamos a assistir a actos de violência doméstica, em que quase sempre é a mulher a vítima, demasiadas vezes mortal. Como mulher devo enaltecer o trabalho de muitas e muitas mulheres, cultas ou não, que nas cidades ou nos campos lutaram ao longo de muitos anos por uma sociedade onde a desigualdade entre os sexos fosse menor. Compete às gerações vindouras concluir o que as gerações antigas lhes deixaram,” o terreno está desbravado”, e algumas pagaram bem caro pela sua irreverência….


Maria Alexandrina

3 comentários:

  1. Amiga Alexandrina
    Uma vez mais quero felicitá-la pela forma como aborda a evolução da sociedade ao longo dos tempos, àcerca dos direitos (e deveres) da mulher.
    Embora muitas situações que sei que existiram, não as tenha sofrido directamente na pele devido à minha vida de "nómada" durante muitos anos, e depois para a transição ainda muito nova de mulher casada, mãe, dona de casa e empregada durante o dia inteiro, o que não me deixava tempo para pensar em coisas que não fossem o meu dia-a-dia, é sempre bom saber a origem e como lutaram as mulheres do passado que iniciaram a longa luta pelos seus direitos, que hoje são os nossos (infelizmente na prática nem sempre é assim...). Esta é a homenagem que lhes podemos fazer: Nunca esquecer os seus nomes, pois se não tivesse sido a sua coragem e audácia, talvez hoje ainda estivéssemos todas a ser subjugadas e maltratadas, camufladas airosamente com a "capinha de fadas do lar"...
    Bem haja amiga pela sua coragem em "lembrar" à sociedade um assunto que ainda vai incomodando muita gente ...
    Deixo também um agradecimento especial aos professores que sei que colaboram na elaboração e composição destes textos, dando-nos ainda directrizes, para quem quiser e tiver interesse, poder aprofundar mais minuciosamente os assuntos.
    A todos deixo o meu abraço de Amizade.
    Lourdes.

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  2. Lembrar o passado para melhor compreender o presente é um dos nobres objectivos da História. E é isso que este texto faz em relação à evolução dos direitos da Mulher ao longo dos tempos.

    Resta esperar que as gerações actuais, os jovens de hoje, homens e mulheres, prossigam nesta senda da igualização entre todos. Ninguém deverá considerar-se verdadeiramente livre se, ao seu lado, alguém o não for...

    Auzendo

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  3. A D. Alexandrina “atirou-se” a um tema que, como se costuma dizer: daria pano para mangas…

    De facto, muito foi feito, mas muito há ainda a fazer… com os homens sabemos que não podemos contar …, mas as mulheres podiam e deviam, a meu ver, lutar mais pelos seus direitos – até porque sendo em maior número – bastava que tomassem disso consciência, e outro galo cantaria… mas temos tendência para açambarcar as chamadas dores domésticas, tradições essencialmente femininas, e esquecemo-nos que há mais mundo para além de pilotar um fogão… :-)

    Mas os sinais da importância da mulher na sociedade já são bem visíveis há que continuá-los, porque foi e ainda é uma luta diária.
    Inês

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