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terça-feira, 30 de abril de 2013

Quando eu era pequenina…

Na década de 40, era habitual as pessoas de aldeias do Concelho, e até de concelhos vizinhos, deslocarem-se à Vila para fazerem o seu “avio” semanal ou mensal, ou seja, faziam as compras no talho ou na mercearia, e até aproveitavam para, na retrosaria, comprarem uns metros de “chita” para fazerem um avental, para taparem às vezes um vestido mais pobre. Traziam sobre eles uns garridos aventais, rematados por grandes folhos. E aproveitavam a sua vinda à vila para deixar uns sapatos ou umas botas no sapateiro para deitar meias solas.
Contava-se que um dia uma senhora foi à oficina do Senhor Vicente Rolo e disse: “Senhor Rolo, põe-me meias solas nos meus sapatos, enquanto eu vou à loja comprar meio quilo de cebolas?”. Mesmo à velocidade a que hoje se fazem as coisas seria impossível fazê-lo com tamanha rapidez, quanto mais à velocidade de há setenta anos atrás. Umas meias solas…não sei quantas horas levavam a deitar, mas eram muitas…A sola tinha que estar de molho para ser esticada e moldada ao sapato ou bota, era cosida e também era “brunida” com um ferro quente e cera, para ficar reluzente, uma autêntica obra de arte. Um trabalho inglório porque ninguém apreciava e, depois de calçados os sapatos era a parte que calcorreava o chão. Mas a dignidade de quem fazia este trabalho estava acima de tudo, e tinha que sair perfeito e bem "brunido”…
Ferramentas de Sapateiro
O Senhor Vicente riu-se do pedido e respondeu à senhora que deixasse os sapatos, que eles estariam arranjados quando viesse na semana seguinte ao Sobral. Porém, a conversa chegou aos ouvidos dos empregados, e assim esta história passou de boca em boca...
Continuando… As pessoas vinham à vila em busca do que não havia nas suas terras; para se deslocarem utilizavam ou a carroça puxada por um cavalo ou somente um burro. Os homens “escarranchavam-se” no dorso do burro e as senhoras sentavam-se de lado, protegidos pela albarda e lá faziam os seus percursos, alguns bem longos. Para não levarem o jumento para dentro da vila, tinham “o parque de estacionamento”, nas entradas da vila: as oficinas dos ferradores Senhores Veríssimo Horta e Mário Lopes (Mário Ferrador). O Sobral era nessa época uma vila de muito comércio, mercearias, talhos, tabernas, sapateiros, alfaiates, cutileiros, ferradores e albardeiros, e era grande o movimento de compradores. A vila era muito pequena, a concentração era em menos espaço, e via -se sempre bastante gente nas ruas, principalmente aos sábados e domingos. Esta espécie de comércio tem-se diluído ao longo dos anos, efeito da evolução dos tempos.

sábado, 27 de abril de 2013

Ainda 25 de Abril


Aquando o 25 de Abril de 1974 encontrava-me ainda na Guiné, dois anos de missão, como se dizia.
As notícias eram difusas, algumas hierarquias esforçavam-se por filtrá-las, era então Governador da província, Bettencourt Rodrigues.
Recordo-me que de imediato pensei não mais voltar a se repetir o que a minha família vivera!
Era o mais novo de quatro irmãos, três em simultâneo na chamada defesa da Pátria, no Ultramar. Eu na Guiné, outro em Angola e outro em Moçambique.
A geração actual nem sequer concebe a realidade do período da guerra colonial, bem como não concebe  a inibição do voto às mulheres, o não se poder expressar a opinião livremente, a existência de escolas para rapazes e outras para raparigas, as perseguições dos que autonomamente pensavam, ousavam pensar. Não concebe que até na música havia proscritos. Não concebe porque nós, aqueles que sentimos na pele e vivenciámos, procurámos atenuar muitas das realidades, das dificuldades, talvez com o conceito errado de atenuante do feio, do horrível.
Em pleno 2013, tantos anos após 25 de Abril, custa-me ver tantas mentes cristalizadas de preconceitos. Parou-se no tempo, a apologia da velha escola mantém-se estupidamente. De uma forma piedosa...constato, acho que é inglória a contraposição.
Como era a vida dos lavradores antes do 25 de Abril, que ferramentas para além das braçais? Que acesso à educação, à formação superior dos filhos dos que não formados ou não ricos? Que acesso à saúde, direito à reforma? E a guerra, lembram-se? Oh esquecimento, tantas e tantas outras aberrações...
A 16 de Maio regressei a Lisboa. 
No corpo e na mente algumas cicatrizes, mercê de dolorosos confrontos físicos e psicológicos.
Lisboa pareceu-me mais luminosa, o sorriso de esperança vivido era contagiante, do motorista de táxi, ao empregado de café, recepcionista da pensão, ao homem da rua, renascera o Povo.
No ar, experimentava-se ser feliz, válvula de escape, esculpia-se uma visão de futuro...
O avião pousara em Figo Maduro, aeroporto militar, poucos minutos após a visualização da Lisboa. Levei muito mais a pousar, horas, dias...
Entre a descrença e o fascínio, ousei percorrer as ruas de Lisboa, atordoado, bebendo o momento, procurando entender os  que me tinham sido coercivamente sonegados...
Depois... ah depois, o poder corrompe, destrói, aqui e além mar.
Se o ideal mobiliza, inova, o poder estagna, habitua, corrompe!
Ainda me encontro às portas que Abril abriu e que só de longe vi. Luto, pratico, insurjo-me, dou testemunho. Tenham paciência por não me adaptar, resignar!
Tenham lá paciência por dizer que não !

Afonso Faria



quarta-feira, 24 de abril de 2013

25 de Abril sempre…


 “Na Europa mesmo ao Sul há um país encantador, onde se pintam de azul os que não são da cor”.
Começo este texto com um verso que, nos finais do anos 50 e princípios de 60 do século passado, era dito mais ou menos assim, mas em surdina … não fosse o “diabo tecê-las”. Intelectuais, operários, camponeses e estudantes… homens e mulheres, não suportando a forma como se vivia, reuniam-se clandestinamente para discutirem a situação do País: não tinham outra forma de o fazer, não eram autorizados. Por isso e pela sua actividade política - vivíamos num regime de Partido Único - eram perseguidos, oprimidos e torturados por uma polícia que se dizia Polícia Internacional de Defesa do Estado, vulgo PIDE que, quando tinha conhecimento destas reuniões, se preparava para apanhá-los, como coelhos na toca. Para que fosse mais fácil a captura, e conforme os participantes iam saindo das reuniões, atingiam-nos com jactos de tinta azul, para que fosse possível a sua identificação, caso tentassem fugir às suas garras. Assim, eram apanhados, presos, e levados para a Rua António Maria Cardoso, para interrogatório e, mais tarde encaminhados para Caxias ou Peniche.
Qual o crime destas pessoas? Só e unicamente discordavam do Governo e das suas políticas. Houve presos políticos que, ao longo do tempo, somaram mais de uma dezena de anos de prisão. Nos jornais, no teatro e na revista à Portuguesa, a Censura manhosa e ignorante cortava palavras sem dó nem piedade, e o lápis azul era uma tortura para quem escrevia: nalguns textos só escapavam, os artigos definidos e indefinidos, as preposições…Não havia liberdade de imprensa…
Na Europa mesmo ao Sul”, há “Um País à beira mar plantado”, em que os trabalhadores rurais não tinham horário de trabalho, trabalhavam sol a sol, seis dias da semana, e só não trabalhavam ao domingo porque Deus mandou descansar ao sétimo dia… A jorna era miserável e o trabalho muito duro. Verificou-se então um êxodo de emigração para o Centro da Europa. A “salto” ou legalmente, as pessoas tentavam noutros países o que o seu não lhes dava: um ordenado com que pudessem subsistir com a família, e com dignidade.
O analfabetismo existia num grau muito elevado e as Universidades eram só acessíveis aos filhos dos abastados. Não havia acesso à Cultura.
Na Europa mesmo ao sul há um país encantador… que passou a ser de dor”!...As províncias Ultramarinas pedem a sua independência. Como não foram atendidas, rebenta a guerrilha, a Guerra do Ultramar, a teimosia em não se negociar a paz, levou-nos a 13 anos de guerra. Os pais viviam numa ansiedade quando os filhos se aproximavam da idade do serviço militar. Hoje não se sabe qual será o futuro dos jovens, mas naquele tempo milhares de jovens não tiveram futuro… Quanta dor e tristeza nos rostos da sua gente. Este País era triste, desconfiado e taciturno.
Na Europa mesmo ao sul há um país encantador “…Que um dia foi abençoado, e a cor azul da tinta foi substituída pelo vermelho do cravo. Militares descontentes quiseram pôr fim à ditadura e, das suas armas, em vez de balas,  brotaram cravos de ternura.
O povo invadiu as ruas, foram lançadas palavras de ordem e cantámos nossos cantares. E nesta união entre militares e povo se completou a Revolução. Logo o pedido do povo aos militares foi que construíssem um Portugal Novo. E mesmo ao romper do dia, uma nova palavra surgiu, para nós era tão nova era ela: Democracia. Depois de grande alvoroço e de grande ansiedade, o povo renasceu e aprendeu a viver num Portugal em Liberdade.
Viva o 25 de Abril!



Maria Alexandrina

domingo, 21 de abril de 2013

Destaque 14

Estamos a publicar neste espaço pequenos resumos biográficos de pessoas de qualquer idade que, nascidas ou residentes no Sobral, conseguiram que os seus nomes “saíssem” do Concelho, por algum feito realizado no domínio das letras, das artes, da ciência, do desporto. Se não fosse excesso de pretensiosismo, diria que estamos a cantar “aqueles que por obras valerosas se vão da lei da morte libertando”, citando Camões. Mas é isso que desejamos que venha a acontecer… Colabore connosco, escrevendo para sobral.senior@gmail.com indicando-nos o nome e contacto de alguém que julgue merecer integrar esta galeria ou, se for o caso e preferir, enviando-nos a própria biografia.

E o destaque de hoje vai para … 


Rosália Saldanha

e Matilde Reis



Campeãs em Atletismo




Rosália Cristina Mateus Saldanha, mãe de Matilde Reis, nasceu em Março de 1973, em Lisboa, mas foi criada e sempre viveu, e vive, em Sobral de Monte Agraço, onde estudou até ao 9º ano de escolaridade. É filha de Rogério Saldanha e Cidália Mateus Saldanha, ligados ao ensino de condução automóvel, no Sobral. Prosseguiu os seus estudos em Torres Vedras, e tirou o Curso de Farmácia na Universidade Clássica de Lisboa, concluído em 1996.
Começou então o seu percurso profissional, tendo trabalhado em Torres Vedras e em Lisboa, primeiro em farmácias de terceiros, mais tarde por conta própria, situação que se mantém: é proprietária da Farmácia Madragoa, na Póvoa de Santa Iria. Madragoa porque foi na Madragoa que a farmácia existiu inicialmente, sendo entretanto transferida para a Póvoa. Casou e tem dois filhos, a Matilde Reis, agora com 11 anos e o Martim Reis, de 8, este também já desportista: pratica hóquei em Patins na Física de Torres.
Rosália sempre fez muito desporto: basquetebol na Escola e na Faculdade; futebol - uma das suas paixões - no Monte Agraço F.C. Continua adepta do futebol, sendo benfiquista assumida. Depois de casar, abrandou essa atividade competitiva em equipa, mas continuou a correr, em corta-matos, corridas, trail-runnings (corridas nos montes … subindo e descendo) e a fazer caminhadas – já fez caminhadas um pouco por todo o País, entre elas três Marchas dos Fortes de 43 km. Considera-se mais “fundista” que velocista, gosta mais de corridas com 10 km ou mais…Também gosta de trails citadinos, subindo e descendo, por exemplo, as ruas da Lisboa antiga.

Entenderam, ela e o marido, que deviam inscrever a filha, Matilde Reis, no Sport Clube União Torriense, para praticar atletismo, de que ela gostava. E lá continua sob a orientação de José Manuel Francisco, com resultados muito interessantes: ganhou o Corta-Mato do Oeste, o Mega-Kilómetro do Oeste e foi escolhida para representar o Agrupamento de Escolas do Oeste em prova realizada em Gaia, onde obteve um 5º lugar a nível nacional. E no dia 14 de Abril ganhou, na categoria de “Benjamins”, em Torres Vedras, a “Milha SCUT 96 anos”, à frente de muitos outros colegas … rapazes. Além de atletismo, a Matilde pratica basquetebol na Física de Torres Vedras.
Foi a partir da prática da Matilde no Torriense que o treinador desta desafiou a Rosália a inscrever-se também na equipa. Ela aceitou e tem gostado. Ganhou um corta-mato em Santo António dos Cavaleiros, fez um segundo lugar nos Olivais. Foi desafiada a participar no Campeonato Nacional de Veteranos de Pista Coberta, já em 2013, em Pombal. Uma estreia nas corridas em pista, que não podia ter corrido melhor: venceu a prova dos 3 000 metros, sagrando-se Campeã Nacional de Veteranos 1. Mais recentemente, ficou em 2º na mesma prova da Milha que a Matilde ganhou…
Sente-se bem neste novo desafio, onde participa, compete, procura superar-se em cada prova e, também muito importante, acompanha a Matilde. Está grata ao acompanhamento que a Rádio Oásis tem feito da participação delas nas competições em que têm participado; sente que é importante essa divulgação, que a Rádio aliás faz do desporto do Oeste em geral.

José Auzendo

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Caminhando pela Serra


A Serra do Olmeiro, vulgarmente conhecida por Serra dos Casais, com 439m de altitude, pertence numa parte à freguesia de Santo Quintino (concelho de Sobral do Monte Agraço), noutra parte à freguesia de Arranhó (concelho de Arruda dos Vinhos). Ao subirmos a encosta vindo do lado dos Casais de Santo Quintino - uma povoação edificada no sopé desta mesma serra, vamos encontrar já numa zona plana um
magnifico miradouro composto por: uma pérgula, duas mesas redondas e assentos em pedra. Aí, se assim o desejarmos, podemos descansar após uma caminhada, fazer um piquenique, encher os pulmões de ar puro e desfrutar de toda aquela deslumbrante vista panorâmica, onde as cores se misturam e o olhar quase se perde no infinito. Como se toda essa beleza não chegasse ainda temos um “cheirinho” a eucalipto que nos refresca a alma. Por tudo o que acabei de descrever apetece-me dizer: Obrigado meu DEUS.
Um pouco mais à frente e do outro lado da estrada, temos um Crossódromo com cerca de 1500m de extensão, onde nos domingos de Páscoa se realizavam provas nacionais de motocross. Presentemente encontra-se encerrado. Desta serra faz parte uma vasta área de plantação de eucaliptos que, para além de contribuírem para o enriquecimento da beleza natural, também são uma fonte de rendimento para os seus proprietários. É de lamentar que, devido à maldade existente no coração de algumas pessoas, ali deflagrem com frequência grandes incêndios, e para que a destruição não seja total, mais uma vez, lá estão os nossos SOLDADOS da PAZ com toda a sua bravura e mestria. BEM HAJAM. No ano seguinte, ali estão eles, prontos para renascer das cinzas e com o tempo prepararem-se, quem sabe, para uma nova destruição (ou talvez não)!
Fazem parte desta serra vários moinhos de vento tradicionais, onde os moleiros de então, após recolherem o milho e o trigo junto das pessoas, os transformavam em farinha, da qual era retirada a chamada “maquia“ para pagamento do seu trabalho, e depois era entregue às freguesas, como se dizia na época, com a qual era feita a “amassadura” e cozido o pão uma vez por semana. Hum! E que saboroso que ele era. Hoje, salvo raras excepções, encontram-se desactivados devido às novas tecnologias. Hoje, no alto dos montes, as pás dos velhos moinhos deram lugar a outras, às dos muitos moinhos eólicos .
Na vertente virada a sul podemos encontrar uma capelinha que tem como padroeiro São Geraldo, e de onde, todos os anos no princípio de Junho, sai à rua a procissão.
A nível histórico, esta Serra desempenhou um papel muito importante na época da 3ª invasão Francesa, hoje conhecida como Linhas de Torres Vedras. É por isso fundamental referir a existência de vários fortes, sendo o de maior relevo o forte Grande, também conhecido por forte do Alqueidão, supostamente por na encosta da Serra virada a nascente se encontrar uma povoação com esse mesmo nome. Nessa mesma encosta podemos usufruir de um excelente parque de merendas, onde estão reunidas todas as condições para quem o desejar passar uma tarde muito agradável. Ao visitarmos este forte vamos encontrar um novo miradouro que mais uma vez nos permite observar toda aquela fantástica paisagem, e de onde, nos dias de sol, nos é dado avistar em toda a sua periferia, por exemplo a Serra de Palmela, Sintra e tantos outros pontos longínquos.
Ao surgir a ideia de escrever sobre esta zona pensei: o que é que vou dizer, uma vez que é apenas uma serra?! Mas aprofundando os conhecimentos, as ideias foram surgindo e logo me apercebi que muito haveria para contar. Espero que suscite o interesse dos leitores do nosso blogue, principalmente aos que ainda não conhecem para fazerem uma visita a este belo local onde a natureza tanto se esmerou.

Rosa Santos


terça-feira, 16 de abril de 2013

RECORDAÇÕES DE INFÂNCIA (CRÓNICAS)

OS TRÊS AMIGOS
Hoje volto a falar em “copos”, um pretexto para que nos voltem a acusar de não termos outro tema para abordar. Advirto que nada me preocupa a opinião dos que a coberto do anonimato me atiram pedras e escondem a mão, numa atitude de absoluta cobardia.
São “aves de arribação” que caíram por aqui, sem quaisquer conhecimentos dos costumes e dos hábitos da nossa gente e da forma como se pode entender o tipo de humor que se cultivava nas nossas aldeias.
Lembro que a acção das minhas histórias decorre em grande parte até meados do século passado, quando a taberna representava o centro social das pequenas localidades, onde designadamente os homens passavam o seu tempo de lazer e desenvolviam as suas formas de convívio, conversando, jogando as cartas e outros jogos lúdicos.
Oferecer um “copo” a um amigo era considerado um dever e era encarado como uma expressão de amizade. E se a taberna era o local de excelência para os “bêbados”, também por lá permaneciam alguns homens que não consumiam álcool.
Não se estranha, portanto, que muitas das histórias que se contavam tivessem origem na taberna e que envolvessem “copos”.
Não temos qualquer admiração por “bêbados” e lamentamos o drama de todos quantos enveredam pelo caminho do álcool, era uma prática muito frequente e que infelizmente ainda hoje se faz sentir.
Previno que não estou disponível para entrar em polémicas sobre este ou quaisquer outros temas e prometo que não falarei em “copos” nos tempos mais próximos.
Após estas breves notas, vamos à nossa crónica de hoje.  

Nos anos quarenta do século passado, num tempo de alguma acalmia entre a II Guerra Mundial e a Guerra Colonial em África, a grande maioria dos jovens, designadamente das regiões centro e sul do nosso País cumpriam o serviço militar obrigatório em Lisboa, nos muitos quartéis que se localizavam na Capital.
Num desses quartéis durante uma recruta, estabeleceram uma relação de amizade e de camaradagem três jovens, um originário aqui da região “saloia” e os outros dois, vindos algures do Ribatejo.

sábado, 13 de abril de 2013

O Sobral na Comunidade Intermunicipal do Oeste


Sendo habitantes do Sobral, sabemos que pertencemos ao Concelho, ou Município, de Sobral de Monte Agraço, e que estamos integrados no Distrito de Lisboa. Hoje, esta pertença distrital tem já alcance e interesse muito reduzidos, especialmente depois da extinção recente dos Governos Civis. No que mais nos interessa como cidadãos, creio que só para efeitos da eleição de Deputados à Assembleia da República é que o Distrito é relevante, pois o nosso Círculo Eleitoral, para esse efeito, é o Círculo Eleitoral de Lisboa, com uma área coincidente com a do Distrito. Nas últimas eleições parlamentares, o Círculo de Lisboa teve direito a eleger 47 Deputados, e foi para os eleger que votámos.
Tradicionalmente, o País ainda está “dividido” em Províncias, que nalguns casos estão profundamente enraizadas nas tradições das pessoas. Eu não consigo deixar de pensar que sou natural do Minho, muitas vezes digo que sou minhoto, e, por exemplo, os algarvios, os alentejanos, os beirões, os trasmontanos mantêm também uma forte ligação a esta pertença provincial. Os sobralenses integram-se na Província da Estremadura, desde a última reformulação feita em 1936. Esta Província passou a integrar 29 concelhos – agora seriam 31 – repartidos pelos Distritos de Setúbal, Lisboa e Leiria…Não parece que os sobralenses se sintam muito estremenhos: acho que nunca ouvi esta palavra da boca de ninguém … e estremadurenses … parece ser palavrão inexistente. Mas a Estremadura é a mais antiga “província” portuguesa: surgiu ainda na Idade Média, logo com os nossos primeiros reis, e foi evoluindo à medida que, a sul do Rio Douro, se ia dando a Reconquista Cristã aos Mouros, fazendo ela a “extrema” entre as terras de uns e outros.
Nos finais do século passado, falou-se muito em “regionalização”. Depois de, em 1991, ter sido aprovada a Lei-quadro das Regiões Administrativas, e após muita polémica depois disso, foi proposto um mapa com 9 Regiões, ficando o Sobral englobado na Região da Estremadura e Ribatejo. Mas um Referendo, realizado em 8 de Novembro de 1998, inviabilizou a regionalização do País, embora esta continue prevista na Constituição…
Já mais recentemente, em 2008, surgiram outras formas de organização administrativa do território, mais concretamente, as CIM -Comunidades Intermunicipais … E foi assim que o Concelho de Sobral de Monte Agraço foi integrado na Comunidade Intermunicipal do Oeste, acompanhando nesta Associação os municípios de Arruda dos Vinhos, Torres Vedras, Alenquer, Alcobaça, Bombarral, Cadaval, Caldas da Rainha, Lourinhã, Nazaré, Óbidos e Peniche. Mafra, aqui ao lado, fronteira do Sobral na Sapataria, não integra a Região Oeste, sendo considerada parte da “Grande Lisboa”.
Embora as competências e modelo de funcionamento das CIM não estejam ainda verdadeiramente consolidados, não parece haver dúvidas de que irão assumir uma importância cada vez maior nos destinos das populações, pois que a elas compete a realização de interesses comuns aos Municípios abrangidos. No caso da CIM Oeste, é seu afirmado objectivo dinamizar o desenvolvimento económico da Região e concretizar “mudanças estruturais a nível social, cultural e tecnológico.” E está “actualmente a desenvolver uma série de projectos que visam (…) um crescimento equilibrado e uniforme, para um melhor serviço aos cidadãos”.
Todas têm um Conselho Executivo, que integra todos os Presidentes de Câmara, e uma Assembleia Intermunicipal.
No caso da CIM Oeste – ou Oeste CIM – o Presidente do Conselho Executivo é, actualmente, o Presidente da Câmara da Arruda. Fixe aquelas siglas, CIM Oeste ou Oeste CIM, pois vai passar a vê-las muitas vezes, e dizem respeito à nova Unidade Territorial em que o Sobral se insere. Pode ver mais em http://www.oestecim.pt/ .




José Auzendo

quarta-feira, 10 de abril de 2013

A mulher e a sociedade


A mulher, durante muitos séculos, foi considerada um ser inferior. Platão achava que a natureza da mulher era inferior à dos homens na capacidade para a virtude. Viveu de 428 a 347 a.C., mas ainda no século XIX Frederich Hegel, filósofo alemão, escreveu: “ A mulher pode ser educada, mas a sua mente não é adequada às ciências elevadas, à filosofia e algumas das artes”. Mas foi no século XIX que nasceram grandes movimentos pelos direitos das mulheres: adquiriu-se o direito à entrada no mercado de trabalho, redução de horário de trabalho, o direito de voto e o direito a ser votada.

Em Portugal, depois da implantação da República em 1911, pela primeira vez votou uma mulher em Portugal, por uma omissão na Lei: a sufragista Dr. Carolina Beatriz Ângelo aproveitando essa lacuna votou, embora contra a vontade dos Governantes. Recorreu ao Tribunal e ganhou. Já fiz referência a este facto no blogue, em Julho de 2012. A lei foi modificada de imediato e ficou bem definido que só os homens podiam votar. No ano de 1931, foi autorizado o voto às mulheres desde que tivessem o ensino secundário completo, numa época em que no povo português e principalmente nas mulheres havia um elevado grau de analfabetismo.

A constituição de 1933 consagrava a igualdade entre os cidadãos perante a lei, excepção feita às mulheres devido “às diferenças inerentes à natureza e também aos interesses da família”. A mulher, desde que fosse casada, para comprar uma casa ou para se ausentar do País tinha que ter autorização do marido. Entre as mulheres mais instruídas durante o Estado Novo, era de bom tom estarem em casa a cuidar dos filhos, que geralmente eram bastantes, e o lema era “Deus, Pátria e Família”. As camponesas trabalhavam nos campos com baixos salários e de sol a sol, no Douro ou no Alentejo: eram exploradas pelos patrões e obrigadas a um trabalho ritmado por um feitor que, com uma voz que feria tanto como o chicote, não as deixava endireitar as costas, vergadas pelo trabalho e algumas delas também pelo peso da idade. Nas fábricas lutava-se por melhores salários, e a palavra de ordem era “para trabalho igual salário igual”.

Só depois do 25 de Abril, pela Constituição de 1976, a figura do “Chefe da família” deixou de existir e o homem e a mulher tornaram-se iguais perante a lei.

A independência económica da mulher foi um factor importante para a sua emancipação. Devido ao seu empenho, muitas mulheres têm formação universitária, nas letras, nas artes e nas ciências, ocupam cada vez mais um lugar de destaque mas, mesmo assim, ainda hoje elas têm dificuldade em se impor nos lugares de chefia. Nesta sociedade onde o homem é ainda quem domina, continuamos a assistir à preferência em escolher homens para lugares de topo em detrimento das mulheres, só porque elas são fêmeas e pela sua natureza engravidam.
Na política verifica-se que, no tempo vivido em democracia há quase 40 anos, só houve uma mulher 1º. Ministro e só por noventa dias. As listas dos partidos são maioritariamente masculinas, e teve que uma lei impor uma percentagem de mulheres a fazer parte das listas... É triste que isto tenha de ser definido por lei. Se nas manifestações de protesto contra o custo de vida, contra o desemprego, contra as injustiças sociais, as mulheres estão na linha da frente…nos protestos como nas greves as mulheres juntam a sua voz à dos homens, porquê ter que haver quotas para serem chamadas a intervir no destino do País?

Embora se verifiquem grandes conquistas nos seus direitos, a prática é uma realidade bem diferente e continuamos a assistir a actos de violência doméstica, em que quase sempre é a mulher a vítima, demasiadas vezes mortal. Como mulher devo enaltecer o trabalho de muitas e muitas mulheres, cultas ou não, que nas cidades ou nos campos lutaram ao longo de muitos anos por uma sociedade onde a desigualdade entre os sexos fosse menor. Compete às gerações vindouras concluir o que as gerações antigas lhes deixaram,” o terreno está desbravado”, e algumas pagaram bem caro pela sua irreverência….


Maria Alexandrina

domingo, 7 de abril de 2013

AMIZADE

O amigo faz a ponte...
Hoje lembrei-me de escrever algo sobre a AMIZADE, a VERDADEIRA AMIZADE.
Afinal o que é a AMIZADE?
Na minha opinião, é um sentimento que brota e se cultiva com a convivência. Quantas vezes encontramos pessoas que não nos inspiram grande confiança e após as conhecermos bem, chegamos à conclusão que estamos enganados. E outras vezes, tantas vezes … julgamos encontrar alguém a quem se pode chamar de Amigo, em quem se pode confiar, mas que algum tempo depois acaba nos desiludir, por nos falsear e muitas vezes até, trair!
Normalmente as pessoas sãs não vêem maldade nos outros e por vezes são as que são mais enganadas e mais sofrem pelas Falsas Amizades.
dá-nos suporte...
Amizade é um sentimento que não se explica, é algo que brota naturalmente, instintivo, sente-se e transmite-se sem hipocrisias. Julgo que é uma das formas puras de Amar o próximo, sem qualquer interesse que não seja a reciprocidade.
E quando se encontra essa Verdadeira Amizade há que tentar preservá-la e conservá-la para o resto da vida, pois enquanto andamos por cá, neste mundo, embora muitos julguem que por terem poder económico ou posição social de destaque não precisam de ninguém, estão redondamente enganados, pois todos fazemos falta uns aos outros e ninguém consegue ser feliz isoladamente, solitário. Um Verdadeiro Amigo faz-nos sempre falta.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Terra dos Corações ao Alto



Em letras enormes, do tamanho do medo, da solidão e da angústia, um cartaz denuncia que um homem e uma mulher se encontraram (…) numa tarde de chuva, entre zunidos de conversa, e inventaram o amor (…), deixando cair dos ombros o fardo incómodo da monotonia quotidiana”.
Talvez por estar a escrever perto do Dia Mundial da Poesia, apeteceu-me começar este texto com “A Invenção do Amor” de Daniel Filipe. (Entre parêntesis, um conselho urgente: se não conhece este poema, procure conhecer já, google-se, youtube-se.
De comum com o poema, o que aqui me traz tem … tem o quê? Tem pouco, e tem tudo. Tem um homem e uma mulher que inventaram um amor diferente, que deixaram cair dos ombros o fardo incómodo da … não da monotonia, mas do stress quotidiano, e propõem-se partilhar com os outros, com pais e filhos, sobretudo em atenção às crianças, mas também com adultos, ideias novas, mentira, ideias velhas como o mundo: a plena integração entre uns e outros, o crescer da imaginação, em absoluto desfrute da natureza… E não é na Floresta Negra, nem no Pantanal: é bem aqui ao lado, ao cimo de um monte sobralense, nos cumes de Pedralvo.
E têm nomes os nossos personagens e um filho cada: ele chama-se Augusto Gonçalves, 39 anos, nasceu em Lisboa, pouco estudou, é desempregado profissional, trabalha seis meses aqui e três ali, e é arquitecto, engenheiro, carpinteiro, pedreiro, pintor, cavador/agricultor, no projecto que estão desenvolvendo. Ela, Amélia Matos, 45 anos, nascida na Malveira, é licenciada em Geografia e Planeamento Regional, mas bancária de profissão, ajudante nas tarefas do companheiro, e alma aparente e dinamizadora das iniciativas. Fez um curso de um ano em Pedagogia Waldorf, de já há duas ou três experiências em Portugal.
Não vou alongar-me na descrição das iniciativas, pois eles têm uma página no Facebook (título deste texto), um blogue (1) - e editam um jornalinho, TCA Jornal, muito atractivo para os olhos e com artigos lindos de ler… Começaram aí por 2009, e têm feito coisas como (a)“Ateliers pais e filhos” de feltragem de lã, barro, de sementes e outros bens da natureza, pintura livre, e o que a
imaginação mais ditar; (b)) inventam peças de teatro com as crianças – “O raposinho”(2) foi uma delas; (c) fazem caminhadas breves que os levam até ao Forte de Alqueidão; (d) organizam sessões de meditação colectiva, em que põem um grupo de crianças numa sala fechada a verem e a descreverem golfinhos e outros peixes que elas “veem” no mar; (e) organizam sessões de sementeira e colheita de frutos na horta biológica que desenvolvem; (f) dão passeios na “floresta encantada” que (como “floresta” a sério, selvagem) procuram preservar…Para além disto, fazem ioga, reiki e não só, quando calha…
Ah! E não são, garantem, uma firma com fins lucrativos; a inscrição que se paga é a necessária para custear as despesas. E não querem trabalhar com grupos muito grandes: quando as inscrições atingem o número que consideram ideal para uma certa actividade … fecham as inscrições. E escrevem no Jornalinho de Março, dedicado à Páscoa, que buscam novos “hábitos, atitudes e modos de pensar, para nos tornarmos pessoas melhores, menos insensíveis diante da realidade actual (…)”… Nos tempos que correm, com crise ou sem ela, isto “não pode” existir… pois não? Não pode ser verdade. E então…
É tempo de terminar como comecei, com o poema, escrito em 1961, “A Invenção do Amor:também a estes dois … “é preciso encontrá-los antes que seja tarde/ antes que o exemplo frutifique/ antes que seja demasiado tarde/e a memória da infância nos jardins escondidos/acorde a tolerância no coração das pessoas”.

(1) Se consultar o blogue, não se fique pela leitura daquilo que lhe aparece: clique em cada um dos items…
(2)“Nesta história, os personagens são elementos da natureza e um animal da floresta. O conteúdo da peça sensibiliza, de forma fantasiosa, simples e alegre, para a importância de elementos como o Sol, a Lua, a Chuva, o Vento, e de valores como a amizade e a força da conexão interior, do sonho, e do acreditar” – do Blogue.

José Auzendo

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Páscoa - Procissão das velas


E mais um ano passou, mais uma Semana Santa nos fez meditar na Vida e Paixão de Jesus Cristo.
Apesar de um tanto ou quanto distanciada da igreja, a minha Fé e educação cristãs nunca foram abaladas. Como tal, respeito e continuo a creditar no Homem que há 2000 anos veio ensinar-nos que todos somos irmãos, veio pregar o Amor, Paz e Harmonia entre os homens, e por eles deu a Sua Vida deixando-se crucificar numa Cruz.

E da minha varanda assisti, uma vez mais, à passagem da Procissão das Velas.
Muitas dezenas de crentes iluminaram com velas acesas o caminho percorrido por Cristo Crucificado, Rezando a Via Sacra. Também as varandas estavam iluminadas, uma tradição de quem acredita na passagem do Filho de Deus pela terra.
Fiquei emocionada, e pedi a Deus que fizesse com que a Morte do Seu Filho tivesse valido a pena. Tocou-me fundo pois recordei os tempos de jovem adolescente em que também eu fazia parte desse público acompanhante e acreditava piamente que o mundo ia ser melhor…
Que tenham tido uma Santa Páscoa, Renascimento!
Lourdes Henriques