Visita ao Sobral – 3ª Parte

Pus-me um dia a percorrer as ruas do Sobral

Para vos dar a conhecer seu encanto sem igual

Depois de repousar, voltei à minha peregrinação pelas ruas do Sobral. Subo a Praceta Luís de Camões, onde moro. Todos sabemos quem foi o grande poeta que escreveu Os Lusíadas e muitos outros poemas. Segundo reza a história morreu na miséria. Entrei na rua dos Moinhos e, ao olhar a Urbanização das Bandorreiras, lembrei-me de que ainda não vos falei dos nomes das suas ruas. Como a Urbanização é recente, também os nomes das ruas são de nossos contemporâneos: Sofia de Mello Breyner, poetisa, escritora e uma defensora dos direitos da mulher; José Carlos Ary dos Santos, o poeta de Abril: “ Agora que floriu/ a esperança na nossa terra/ as portas que Abril abriu/ nunca mais ninguém as cerra”. Será? Doutor João Amaral, um homem de esquerda, e deputado à Assembleia da República; Carlos Paredes, músico, um grande mestre da guitarra portuguesa; Capitão Salgueiro Maia, um capitão de Abril, um valente… um destemido. Todos estes nomes me agradam, mas sinto uma certa contrariedade por não ver o nome de um Sobralense, ou amigo do Sobral, em nenhuma delas.

 
Contorno a Rua Dr. João Pedro de Morais Cardoso, médico e descendente de Sobralenses - uma família a quem já dediquei em 14 de Novembro de 2012 um texto no blogue; logo ao lado temos a Rua das Tílias, e eu avanço pela Rua dos Lusíadas, a lembrar-nos o poema épico de Camões: esta rua começa na Praceta 25 de Abril e acaba defronte ao Lar da Misericórdia, a parte mais a Norte da vila. O nome foi-lhe dado por altura das comemorações do quarto centenário da publicação da obra. Agora tenho à minha frente o eucaliptal, o nosso Parque das Merendas e local onde a Comissão de Moradores de Sobral construiu o primeiro parque infantil do Sobral, inaugurado com pompa e circunstância no dia 1º.de Maio de 1976. Neste Parque, no Verão, veem-se pessoas comendo, convivendo e descansando nas sombras dos seus frondosos eucaliptos.

Caminho, a passo lento porque ainda é longa a distância a percorrer, em direcção ao centro da vila, e deparo-me com um entroncamento para a Rua João de Deus, um poeta algarvio e autor da Cartilha Maternal, por onde muitas crianças aprenderam, noutras épocas, o valor das primeiras letras. Em frente à Escola B 1,2,3, há uma rua que desce, com o nome de Rua das Eiras Velhas … a lembrar outros tempos, outras actividades…Volto novamente à estrada do eucaliptal e avanço até à Rua Francisco Lázaro, um atleta que morreu ao correr a Maratona nos Jogos Olímpicos de Estocolmo, na Suécia, no ano de 1912, e que, segundo a tradição oral, era oriundo do nosso Concelho. Nesta rua temos o Mercado Municipal, o Pavilhão Gimno- Desportivo do Monte Agraço F.C., o Quartel dos Bombeiros Voluntários, o quartel da GNR e o recentemente inaugurado Centro de Saúde; à esquerda fica a Rua dos Loureiros.

Loureiros era uma grande propriedade plantada de vinha, pertencente a Manuel Pedro Cardoso, avô do citado Morais Cardoso, e que em tempos mais remotos foi Presidente da Câmara do Sobral. Na rua com o seu nome, ouve-se o chilrear e vê-se o esvoaçar de passarinhos: são os habitantes mais novos da vila, que brincam no parque da Associação Popular-Jardim de Infância.

Atravesso a rua Correia Guedes e subo a Rua 20 de Outubro, que nos recorda a data em que a Alemanha declarou publicamente o fim das hostilidades e aceitou a derrota na 1ª Grande Guerra. Finaliza no Largo Gago Coutinho e Sacadura Cabral, os aviadores que fizeram a primeira travessia aérea do Atlântico Sul, ligando Portugal ao Brasil.

A tarde já vai longa, e no horizonte o Sol está a pôr-se, para voltar no dia seguinte mais forte, para que os seus raios aqueçam a terra; e eu sinto um arrepio, o melhor é seguir para casa e, tal como o Sol, voltarei para lhes dar a conhecer um pouco mais da nossa Terra.

Maria Alexandrina