1949 2º prémio - Medalha de Prata |
Tinham
grandes propriedades rurais e urbanas, a Casa principal e muitos
anexos. Onde se situa hoje o Auditório Municipal era a Adega: vi
tanta vez as carroças puxadas por uma junta de bois, ali a
descarregar a uva para fabricar o vinho da sua colheita. Ainda hoje é
visível no Auditório Municipal o lagar e, na parede, está
pendurado um quadro de um prémio de categoria, a nível nacional,
dado pela Junta Nacional do Vinho, a um vinho produzido pela Casa
Morais Cardoso.
Núcleo Museológico do Vinho |
No
Verão, quando a D. Adelaide e a sua filha D. Maria Isabel se
acomodavam, era de bom-tom irem cumprimentar a Condessa do Sobral e
só de seguida começava a lida. A D. Maria Isabel (Menina Micas) era
a orientadora principal. A minha madrinha era contratada para
trabalhos de costura, nesse tempo tudo se aproveitava, e por
acréscimo lá estava eu…
Era
frequente que muitos netos passassem algum tempo de férias, e com
eles traziam as suas criadas. Como me lembro da Ludovina e da Maria
Lina… Lembro-me do quarto das “criadas” no sótão, em que as
camas eram de ferro, já não sei quantas, mas eram algumas. Na casa
que outrora tivera ao mesmo tempo três ou quatro serviçais, nessa
época só a Beatriz fazia todo o trabalho.
Era a
Zezinha, uma das netas, que mais tempo passava no Sobral e, como era
da minha idade, era com quem eu brincava. A brincadeira preferida
dela era aos “polícias e ladrões”, enquanto eu preferia ler
livros da Condessa de Ségur. Lembro-me de ter lido também o “
Pequeno Lord”. Na nossa brincadeira, eu era sempre o ladrão, para
me esconder enquanto lia uma ou duas páginas de qualquer história:
assim fui lendo todos os livros. Ela tocava piano e eu fazia de espectadora e aplaudia no fim.
O Sr.
Manuel Pedro Cardoso, que não conheci, foi Presidente da Câmara do
Sobral de Monte Agraço. Ele e a esposa, a D. Adelaide, tiveram três
filhos: o Dr. Manuel, advogado, que teve seis filhos, o Dr. João
Alberto, dermatologista afamado, era quem geria com a irmã os bens
da família e teve três filhos… e a D. Maria Isabel, que não
casou.
Com a
morte da mãe e dos filhos, os bens foram divididos e a casa de
habitação foi vendida. Os herdeiros do Dr. João Alberto, a Drª.
Teresa e o Dr. João Pedro, ainda mantiveram por longos anos as
propriedades rurais e também os anexos urbanos que herdaram mas, a
pouco e pouco, foram vendendo e “doando”. O Pátio de Santo
António, que é dentro da vila, no topo da Rua 5 de Outubro,
constou-me que tinha sido vendido recentemente; o “Soeirinho”,
uma propriedade ( à saída do Sobral na estrada ….. Arruda), ainda
está na posse da família Morais Cardoso.
Existem
netos do casal Manuel Pedro Cardoso e D. Adelaide de Morais, o que
faz que o nome Morais Cardoso ainda seja conhecido no país, mas
nenhum se radicou no Sobral. Esta foi uma das mais importantes
famílias do Sobral de Monte Agraço, no século XX, a todos os
níveis: social, económico e intelectual. Ficarão para recordá-los
e perpetuá-los duas ruas, ambas na Urbanização das Bandorreiras:
Rua Manuel Pedro Cardoso e Rua Dr. João Pedro de Andrada Morais
Cardoso, avô e neto.
Maria
Alexandrina
Amiga Alexandrina
ResponderEliminarPor motivo de falta de saúde, só agora vim aqui ver este seu artigo que nos dá conhecimento de mais uma das famílias tradicionais desta terra. Como já várias vezes disse, não sou natural de cá mas gosto muito desta simpática vila. Por isso mesmo fico grata por tudo aquilo que me é transmitido por pessoas que viveram no terreno factos que desconhecia de todo. Obrigada pelo seu empenho.
Só estranho e lamento que, sendo este espaço um local que proporciona a troca de conhecimentos, usos e costumes da terra, não esteja a ser "aproveitado" pelos sobralenses, que deveriam ter muito orgulho nos seus antepassados e sentirem-se felizes por ainda terem testemunhos vivos que nos consigam transmitir tanta coisa que desconhecemos ...
Um grande abraço da
Lourdes.
Não foi, felizmente, por motivo de saúde que me "demorei" a comentar este novo texto da D. Alexandrina, o qual, mais uma vez, me pareceu muito oportuno e pertinente. Demorei porque quis ver, esquadrinhar com novo olhar,à luz deste texto, o Núcleo Museológico do Vinho da Galeria Municipal. E, feita essa pesquisa,que só hoje de manhã pôde ter lugar, concluo que este texto, pelo menos parte dele, bem poderia ser imprimido, ampliado, emoldurado e afixado na parece da Galeria: é que ficava "bonito" se lá constasse um pouco da história daquele lagar, tal como aqui se relata, da família que o construiu e explorou, e quando, e etc.
ResponderEliminarClaro que haveria quem soubesse que as duas ruas de que fala o texto homenageiam a família do ... lagar. Mas é informação, essa como muitas outras, que deveria ser do domínio público. No caso, a parede da Galeria era o local certo.
Não é meu hábito enviar daqui recados ou lamentos, mas só posso fazer minhas as palavras do último parágrafo do comentário da D. Lourdes. Força Mourinho, e rápidas melhoras.
José Auzendo
Eu sou neto me chamo luis gonzaga morais cardoso filho de manoel pedro morais cardoso
EliminarSim
EliminarEu sou neto me chamo luis gonzaga morais cardoso filho de manoel pedro morais cardoso
EliminarEstes artigos da D. Alexandrina, além de nos revelarem uma sobralense orgulhosa e sempre atenta ao que se passou e passa à sua volta, mostram-nos como a vida de algumas pessoas de uma comunidade influencia a história dessa comunidade. Por exemplo, ali onde carroças de bois descarregavam uvas é hoje um regalo para os olhos de quem, se calhar, nem sabe que havia juntas de bois…
ResponderEliminarE é pena que, como já aqui foi dito, não haja muitos mais sobralenses interessados em aproveitar a oportunidade que têm de enriquecer a história da sua terra e dá-la a conhecer.
Inês