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domingo, 18 de novembro de 2012

Destaque 7




Estamos a publicar neste espaço pequenos resumos biográficos de pessoas de qualquer idade que, nascidas ou residentes no Sobral, conseguiram que os seus nomes “saíssem” do Concelho, por algum feito realizado no domínio das letras, das artes, da ciência, do desporto. Se não fosse excesso de pretensiosismo, diria que estamos a cantar “aqueles que por obras valerosas se vão da lei da morte libertando”, citando Camões. Mas é isso que desejamos que venha a acontecer… Colabore connosco, escrevendo para sobral.senior@gmail.com indicando-nos o nome e contacto de alguém que julgue merecer integrar esta galeria ou, se for o caso e preferir, enviando-nos a própria biografia.
E o destaque de hoje vai para …
 

Maria Emília Sobral, fadista

Maria Emília Ferreira Lima, a Mila, de nome artístico Maria Emília Sobral, nasceu na Barqueira, junto à Vila de Sobral de Monte Agraço, filha de Mário Lima, e de Ernestina Ferreira Lima. Acha que tevetrês mães, pois as irmãs, a Margarida e a Alice, têm mais dez e doze anos que ela. Na escola primária foi boa aluna. Não continuou os estudos, o que era usual naquele tempo. Aprendeu a bordar na “Casa Vale”, já falada neste blogue. Aos doze anos foi para um alfaiate. Saiu e foi aprender a tricotar. Aos catorze anos já fazia peças de tricot, como gente grande. Assim continuou até aos dezoito anos, quando foi estudar no Colégio do Sobral, onde fez parte do 5º ano do então curso geral dos liceus, que mais tarde concluiu.
Foi trabalhar para o Colégio Moderno, em Lisboa, como preceptora, com a ideia de continuar a estudar, o que não aconteceu. Por lá esteve três anos, até que Mário Soares foi deportado para S. Tomé, talvez em 1968 e o “internato” no Colégio acabou. Voltou ao Sobral, trabalhou como encarregada numa fábrica de luvas que faliu e, em 1972, começou a trabalhar na Casa Biencard Cruz. Foi aqui que começou a ganhar gosto pelo FadoPrimeiro pelas Festas, na Tasca do Carreiras: cantando com outrosamigos fadistas sobralenses de então, o Egídio e o António Jordão, tudo sem acompanhamento, a capella.
A sua primeira experiência com guitarra e viola foi numa festa de Natal dos Bombeiros do Sobral, talvez em 1972. Entretanto, Manuel Tavares, um grande amigo que trabalhava na RTP em Lisboa, convidou-a a ir à festa de aniversário da RTP, onde foi dois anos. No 2º cantou acompanhada por António Chainho. Ficaram grandes amigos. E assim começou a cantar em diversas casas de fados, em Lisboa e Cascais. Cantava fados de Amália, Teresa Tarouca, Mª Teresa de Noronha, Carlos do Carmo…Continuando a trabalhar na Biencard Cruz e a cantar, o seu nome chegou aos ouvidos de Luís Miguel de Oliveira, casado com Maria Palmira Biencard Cruz, que lhe ofereceu poemas e músicasSugeriu-lhe o nome artístico por que é conhecida, e proporcionou-lhe, em 1976, a gravação do primeiro disco, um EP (lembra-se?), com acompanhamento de António Chainho.
Começou a ir ao estrangeiro. Em 1977, esteve três meses na África do Sul. Cantou em Joanesburgo, no Cabo e em Durban, numa digressão a que chamaram Caravana da Saudade. Vários jornais e revistas escreveram sobre ela, deu entrevistas na Rádio. Em Novembro de 1978, foi a Holanda, com Arlindo de Carvalho, Ágata (nessa altura Fernanda de Sousa) e outros artistas. Cantaram em Haia, Amsterdão e Roterdão. Voltou à Holanda em 1979 e foi a Antuérpia, na Bélgica. Depois esteve na Alemanha, em Singen. Em Portugal, fez espectáculos em festas de beneficência, e continuou as suas actuações em casas de fados - Adega da Matilde, o Castiço, o Embuçado, o Nove e Tal, o Pátio das Cantigas, entre outros.
O seu segundo EP saiu em fins de 1978.Também este teve sucesso, os temas são mais alegres, foi muito ouvido, especialmente oSardinha na Brasa. Actuou na RTP 1 em 1979, no programaÚltimo Fado, tendo interpretado Sardinha na Brasa e Mensagem. Foi cantando, mas também esteve parada durante longos períodos. Em 1988 voltou à Africa do Sul, convidada para as Comemorações oficiais do Dia de Portugal: actuou em Joanesburgo, Pretória e Windhoek. Regressada a Portugal conheceu Diamantino Calisto e, pouco depois, em 1991, foi com ele para Angola, numa experiência nada fácil, dadas as condições desse país nessa altura. Também lá cantou o Fado, primeiro no Pátio Alfacinha, um restaurante do marido; depois no Hotel Ritz, na Associação 25 de Abril, na Casa 70, nos hotéis Méridien e Vitória Garden, por vezes até na Embaixada de Portugal em Luanda. Por aí cantou ao lado de Carlos do Carmo, Camané, Beatriz da Conceição, Ricardo Ribeiro, Rodrigo, entre outros.
Presentemente, em Portugal, quando lhe apetece vai até Lisboa e canta no Clube do Fado, na Mariquinhas, no Estafado, no Guarda-Mor. Embora não seja uma fadista muito conhecida, Maria Emília sente-se feliz pelo percurso que fez. Recorda com emoção o carinho e o calor com que alguns milhares de pessoas, ao longo destes 40 anos, a receberam e aplaudiram. E aplaudem, acrescento. Tudo quanto precede foi por mim transcrito, adaptado e resumido de um longo e pormenorizado historial escrito pela própria Mila, que em breve deverá começar a ser publicado…E, não está escrito, mas adivinho eu que outras surpresas nos esperam…No passado e ainda no presente, a sua voz, mesmo o seu nome, levou e leva para bem longe o nome do Sobral, onde nasceu e vive. Estou em crer que assim continuará no futuro, “até que a voz lhe doa”.
Mais fotos------; aqui
 "MONTAGRAÇO" 

José Auzendo

8 comentários:

  1. Mila,
    Tenho muito orgulho em ser tua irmã e mãe como tu dizes, sempre te considerei como tal.

    Beijinhos,

    Mana Alice

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  2. Olá Mila
    Obrigada pela partilha deste seu agitado e bonito percurso.
    Eu própria tenho os seus discos. Que bonita voz! Parabéns.
    Um abraço da
    Lourdes Henriques

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  3. Na minha infância, quando passava os dias na Barqueira, na casa da minha irmã, que morava ao lado da casa do Sr. Mário Lima, convivi muito de perto com as três manas Alice, Margarida e a pequenita Mila, e o meu sentimento de amizade desse tempo com as três ainda hoje se mantém.
    Desde sempre as ouvi cantar, todas elas tinham lindas vozes. Acompanhei, embora à distância, o percurso musical da Mila. Mas apercebi-me hoje de que foi mesmo muito à distância, porque muitos dos factos mencionados desconhecia-os.
    Ela nunca quis fazer do valor da sua voz profissão, foi cantando e simultaneamente tinha o seu emprego, uma atitude que revela inteligência, e que na minha simples opinião foi uma opção acertada.
    Foi um prazer ler este destaque, mas pelo que percebi do que está escrito,pelo Professor Auzendo ainda vamos ter muito mais e desta vez será, julgo eu, na primeira pessoa: que venha que estaremos cá para ler.
    Um abraço de carinho e amizade para a Mila
    Maria Alexandrina

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  4. Muitos parabéns Mila pelo seu percurso,e pela bonita vóz que tem,muito sucesso e muitos anos pela frente bjs.

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  5. É sempre com muito orgulho quando se fala num sobralense, neste caso a Mila, que há muito tempo a ouvia cantar o fado ( Montagraço) que não me cansava de ouvir é lindo .muitas felicidades , um abraço de carinho.
    Adelaide Lourenço

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  6. Olá Mila
    Há muito tempo que sei que canta o fado, mas desconhecia que também tinha cantado nos palcos estrangeiros. Parabéns pelo o talento que tem, e pela bonita voz
    Um abraço amigo
    Mariana

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  7. Começo por saudar o Prof. Auzendo que perdi de vista,contra a minha vontade...Tenho-me contentado em ler,leitura intersante e variada que o Auzendo, o Prof.Afonso e outros colaboradores me tem habituado... Tenho "barrada" a entrada no vosso blog,ingenuamente ,só agora com a ajuda do Prof.Afonso posso "entrar" como eu gosto.

    Não conheço a bela fadista mas ouvi o fado "Montagraço"gostei e dou-vos os meus parabéns!!
    Monte Agraço está sempre a surpreendernos!!

    Um abraço amigo
    Avoluisa

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  8. D. Maria Emília:

    Fico muito contente em ver aqui um texto sobre a amorosa Emília Sobral, por quem tenho um grande carinho e admiração. Muitas felicidades e tudo de bom para si.

    Hortense Bogalho

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