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terça-feira, 25 de setembro de 2012

Hoje vi um Portugal lindo e feliz…

As fábricas trabalhavam em pleno, os operários saíam do trabalho animados e bem-dispostos, porque sabiam que o salário que auferiam era suficiente para sustentar a família e dar educação aos seus filhos. Vi professores a dar aulas alegremente aos nossos meninos, sem o “papão” das avaliações… E os professores contratados tinham a certeza de não serem despedidos.
Vi os funcionários públicos sem os subsídios de Férias e de Natal cortados, e sem o horror dos “disponíveis”. Os pensionistas a quem não tinham sido congeladas as reformas também iriam receber os subsídios que lhes tinham sido “roubados”.
Vi os idosos a serem bem tratados pelos familiares, e a não serem abandonados em hospitais. Os casais a viverem em completa harmonia e amor, não havia violência doméstica.
Vi as mamãs a seguir o crescimento dos seus bébés durante dois anos, com licença de maternidade. As crianças brincavam alegremente em jardins, numa algaraviada que lembrava o chilrear de passarinhos a escolherem o melhor lugar nas árvores, numa noite quente de Verão. As mães descuidadamente liam ou conversavam, porque não havia predadores, a pedofilia tinha acabado.
Vi os campos cultivados, aos vinhedos verdejantes acrescentava-se o restolho dourado de um trigo acabado de colher. As árvores de fruto estavam carregadas de mais diversas qualidades de frutos, para quê a necessidade de se importar fruta do estrangeiro? Tínhamos fruta nossa que chegasse.
Vi os jovens a entrarem com facilidade para as faculdades, sem a preocupação dos números que os deixam frustrados: escolhiam o seu curso e, quando o acabavam, não precisavam de emigrar. Portugal, além de ser um lugar para velhos, também era um lugar para jovens. Tinham onde trabalhar, desenvolviam-se as artes, a escrita e a ciência: juventude é igual à dos outros Países, precisa é de oportunidade.
Vi que a corrupção tinha acabado, os contratos para obras, autoestradas e outros eram legalmente elaborados, e quem saía deles beneficiado era o País, não havia intermediários a encher os bolsos. A Troika era uma palavra desconhecida dos portugueses, nem sequer era nossa, não vinha no nosso dicionário, o melhor era ignorá-la.
De repente ouvi um barulho, acordei. Era a minha filha que se preparava para mais um dia de trabalho, com a certeza de que não iria receber os 13º e 14º meses. Corri à janela e olhei os campos até onde a minha vista podia alcançar, e vi tanto terreno por cultivar. Ainda incrédula liguei a televisão e o que ouvi acordou-me: um milhão e meio de pessoas, em quarenta cidades portuguesas, tinham protestado contra as medidas do Governo, que manda emigrar os jovens licenciados e que cada vez mais obriga os portugueses a sacrifícios. Que está em estudo o aumento da Taxa Social Única. Que a Troika nos fiscaliza e nos trama cada vez mais. Que a corrupção existe. Que um homem matou à facada a mulher, por ciúme ou malvadez. Que um vizinho e amigo da família abusou sexualmente de uma criança. Não ouvi mais, o meu pobre coração não aguenta. Desliguei a televisão e tomei uma resolução: deitei-me…Eu queria voltar a sonhar…
Na realidade só sonhando se podia ter um país como o do meu sonho… mas digam-me não é tão bom sonhar!


Maria Alexandrina

5 comentários:

  1. A D. Alexandrina sabe, todos sabemos, que nem tudo o que é bom faz bem. E que há inúmeras coisas boas que fazem muito, muito mal. Sonhar assim, arrisco dizer, é uma delas. Há séculos que sonhamos, que deixamos que nos "encham a cabeça de histórias de aventuras, de mundos viajados, poemas inflamados, a virgem aparecida, um império mundial"...(Pedro Barroso cantou em "Longe daqui"). E depois?

    Depois o dinheiro correu farto, por cima e por baixo das mesas, as árvores estavam carregadas de frutos que caíam (e caem) ao chão porque ninguém está para os apanhar, e havia dinheiro para os comprar lá fora.

    O dinheiro acabou, o sonho virou pesadelo, a bancarrota aí está bem palpável e para durar. E assim ficamos "amarrados ao Convento de Mafra, chorando o desencanto de ficar"...(idem, escrito, cantado e gritado em 1990. E nós sonhando.)

    José Auzendo

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  2. Boa tarde amiga Alexandrina
    Adorei o seu Sonho, mas é pena que do Sonho à Realidade vá uma distância abismal, direi até intransponível.
    Mas continue a partilhar connosco esses seus sonhos maravilhosos, pois não é que "O SONHO COMANDA A VIDA"? Pelo menos por enquanto, ainda não nos cobram imposto para sonhar ...
    Um beijinho da
    Lourdes.

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  3. Professor Auzendo e Amiga Lourdes:
    Na verdade António Gedeão escreveu e Manuel Freire cantou admiravelmente que "o sonho comanda a vida"... Comandava a vida e o desejo de um País novo, onde a liberdade existisse. Nesse tempo é que era perigoso sonhar. Mas ia-se sonhando... já que pouco mais podíamos fazer. Se consegui ver concretizado esse sonho... Porquê? Já na etapa final da minha vida, onde não há esperança de ser no "meu tempo", que fique resolvida a crise que nos ataca... eu não possa voltar a sonhar.
    Não podemos é deixar que nos façam de "trapos velhos", que nos tentem "arrumar na prateleira", se ficarmos "mudos e quedos" então sim... é perigoso sonhar. Vamos remar contra a maré, contra os ventos de " cá e de além mar", mas sempre sonhando...
    Maria Alexandrina

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  4. Como é lindo esse sonho!!!E não é tão bom? Parece o paraiso....
    Eu penso um dia que o alcanço....É uma utopia,que seija!!!
    Nesses momentos de sonho, não quero outros...e é bom lutar!!É bom querer coisas boas...e ter gente boa á nossa volta,que não desanime...a vida é isto,é luta,é cair e voltar erguer....já reparou que se não houver nada que querer,que sem sabor....nem nunca haverá...eu até para me levantar,há luta e que luta e,depois pelo dia adiente...é obra.
    Nada melhor que o blog da D.Maria Alexandrina...obbrigada!!!
    e um bj

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