VISITANTES

domingo, 12 de agosto de 2012

PERCURSO DE VIDA MUSICAL (Final)


Junho 1996, Mira Sintra (última foto do duo)
E no Carnaval de 1989, nas noites de 4, 5 e 7 de Fevereiro, lá estivemos nós a tocar toda a noite na Carvoeira. A casa esteve sempre cheia nas 3 noites. Amigos que há 3 décadas já não se encontravam. Tenho que confessar que por várias vezes me emocionei com alguns encontros. Apesar de não ter acompanhado essa época do auge da vida do Renato, foi fácil imaginar o quanto o meu marido era querido naquela terra. E foi também de braços abertos que nos receberam, a mim e à nossa filha. Foi também lá que, apesar de na altura eu já ter 43 anos, descobri a melhor amiga que alguém poderia ter encontrado na vida, mas que infelizmente já não pertence ao nosso mundo!
Esta foi também uma experiência única que me deixou gratas recordações. E este foi o grande empurrão para durante os 10 ou 12 anos seguintes termos sido convidados para tocar em muitos locais. A antiga fama do Renato levou por arrastamento a mulher e a filha. Apesar de em tempos ter tocado sozinha, jamais me passaria pela cabeça voltar a pisar um palco. Com a agravante de ser uma responsabilidade acrescida, pois os “curiosos” vinham avaliar como seria e se estaria à altura para acompanhar o meu marido.
Outra das reaparições do Renato foi aqui no Sobral, em Via Galega, na inauguração da ADEGA DO GABRIEL. Só que desta vez os curiosos que vieram ouvir o Renato tiveram a surpresa de já não o ouvir tocar a solo. Eram 3 em vez de 1. Por vezes a filha tocava a solo mas ele nunca o fez. Sempre quis que eu o acompanhasse. E daí para a frente foi sempre assim.
A nossa filha seguia agora o seu próprio caminho. Depois de ter percorrido durante alguns anos os locais que tinham aplaudido o pai, deixou a nossa casa. Durante algum tempo ainda fomos participando em festivais de acordeão a duo, mas a pouco e pouco ele foi novamente perdendo o interesse pela música, até que deixou mesmo de querer tocar em público. Hoje já nem se quer lembrar que algum dia tocou acordeão …
Fado, Março 2012 





Após o meu aparecimento em terras para mim totalmente desconhecidas, voltou o meu gosto adormecido pelo palco, pelo público. E foi também no Sobral, em Via Galega que, pela primeira vez na minha vida, cantei o Fado para público desconhecido. Sem ensaios prévios, sem nunca ter “cantado o Fado a sério”, acompanhada pelas guitarras, esta foi talvez a melhor experiência deste género na minha vida. Daí para a frente, quando assisto a noites de fado, normalmente participo cantando também.
E foi nesta altura que percebi qual a grande lacuna da minha vida: fazia-me falta o palco, o calor do público. Ali eu era outra pessoa, não me lembrava de responsabilidades nem tristezas. E só então, tarde de mais, entendi o porquê do receio do meu pai em que eu fosse artista. Desde sempre se apercebeu da minha verdadeira vocação e sempre a combateu para que eu não me apercebesse disso. E conseguiu.
Daí eu nunca saber responder quando me perguntavam em jovem o que é que eu gostaria de ser na vida. Todas as minhas colegas e amigas sabiam, eu não. Sentia-me baralhada, incomodada e apenas respondia que “os meus pais queriam que fosse professora”. Mas afinal o destino reservou-me uma família que de certa forma me ajudou a realizar “uma pequenina parcela” do meu sonho.
Hoje, apenas eu continuo a recusar abandonar a música, apesar de estar proibida por motivos de saúde, de pegar em objectos pesados.
Mas faço-me de desentendida e, para brincar e passar uns bocados divertidos com amigos, lá vou arranjando coragem para pegar no meu “amigo acordeão”, e à minha maneira consigo espalhar alguma alegria a quem me acompanha.
E tal como despertei para a vida a cantar, apesar de gostar de tocar é a cantar que me sinto realizada. Peço a Deus que me vá conservando a voz para poder continuar a cantar enquanto viver, tal como aconteceu com a minha mãe!
Até um dia … 

 Lourdes Henriques

12 comentários:

  1. OH! Milú ainda tinha "essa"na manga! Muito bém,os meus aplausos!Quer dizer que temos a cantora no auge...agora que não pode pegar em pesos...tenho a certeza,como o resto, também canta e encanta...PARABÉNS
    Foi com chave douro que ancerrou a sua
    história...
    por agora.
    Espero ouvi-la um dia,certo?

    Emoção até aqui...
    Um abraço
    Luisa

    ResponderEliminar
  2. É Verdade, podes não ser uma profissional,
    mas não ficas atrás de alguns que o são.
    Posso ser suspeito, claro que sou, mas também não sou surdo
    nem chauvinista, quando tenho algo a apontar, aconselho na minha
    ignorância.
    O importante é isso mesmo, fazer aquilo que nos faz feliz,
    independentemente do que os outros dizem.
    Pior que "Errar" é Nunca Tentar e passar uma vida inteira amarga
    a dizer mal, sem saber fazer melhor.
    Muitos passam por esta vida, sem nunca ter feito algo que Realmente Gostassem, por Medo, Pudor,Insegurança, ou simplesmente porque acham que a Vida tem que Ser Sempre assim...
    Preto e Branco, desconhecendo que existem muitos tons de Cinzento, isto falando apenas, na escala monocromática, quando a Vida é cheia de Cores...

    Beijinhos do Filho Velho

    ResponderEliminar
  3. Por muito que pensássemos conhecer a D. Lourdes, falo por mim mas acho que posso generalizar, estávamos longe de imaginar as emoções, os anseios que ela foi vivendo, concretizando uns, descobrindo tarde (?) outros. E mantendo a lucidez suficiente para não se deixar "derrotar", e para ter a coragem de se abrir perante todos, expondo-se de coração aberto...Só por isto, este testemunho merecia ser destacado. Para além do que, sim, a vida é cheia de outras cores.

    E, como já disse no meu comentário ao primeiro texto desta saga, esperemos por mais, por novos episódios desta aventura musical, que um dia virão aqui parar.

    José Auzendo

    ResponderEliminar
  4. Amiga Lourdes embora tivesse vindo viver para a nossa acolhedora vila, há uns anos, só nos conhecemos, desde quando ambas participamos nas aulas do Clube Sénior, os seus modos delicados e simples, digo até doces, cativaram-me desde o primeiro dia. A partir daí temos tido as nossas conversas,sobre as nossas vidas e as nossas famílias, mas só através deste blogue a tenho conhecido melhor. E minha amiga... a senhora é uma mulher de muitos talentos... É meu privilégio o puder usufruir da sua companhia. Continue concretizando os seus sonhos, sejam eles cor-de-rosa, verdes ou azuis,o que é preciso é que seja feliz.
    Maria Alexandrina

    ResponderEliminar
  5. Olá Lourdes,
    Porque de um espectáculo se tratou esta história musical, assisti de uma forma privilegiada como em camarote, estes seus episódios. Parabéns Lourdes por ousar e não se resignar a mais um café e dois dedos de conversa na esplanada. Parabéns por mostrar que vale a pena viver não em contraponto com ninguém mas pelos sonhos metas traçados.
    Pasme-se quem ao longe ou de longe a conhecer! Cruzei-me acidentalmente, a informática foi o móbil. Neste momento para além dos bit e bytes, um Sol ou Mi, a Pessoa.Não me pasmo...

    ResponderEliminar
  6. Olá a todos, MEUS QUERIDOS AMIGOS
    Tendo encerrado a descrição deste meu percurso musical, e depois de ler, comovidamente, comentários tão elogiosos ao longo destes 5 capítulos (não sei se serei merecedora de tanto), só tenho uma coisa a dizer-vos: OBRIGADA PELA VOSSA AMIZADE e todos os dias agradeço a Deus ter-me indicado o caminho para o Clube Sénior. Lá encontrei uma "outra família" que nunca esperei encontrar nesta altura da vida. Espero continuar a contar com ela, pois é nos amigos que muitas vezes encontramos a força que precisamos para continuar a nossa jornada.
    Obrigada a TODOS/AS e podem contar sempre com a minha amizade verdadeira.
    Deixo-vos um forte xi-coração.
    Lourdes.

    ResponderEliminar
  7. Também tive a sorte de assistir "de camarote" a toda esta história e quero apenas acrescentar ao que já foi dito que a minha princesa é como um pássaro, pinta o céu por onde passa com a sua vasta paleta de cores. E voa, voa porque a sua alma grandiosa ultrapassa todos os limites...
    E que bom ver-te voar!
    Marina

    ResponderEliminar
  8. Vizinha Lourdes: que bom ter uns filhos tão doces a elogiar a mãe! Para mim isso tem muito valor. Parabéns pelos filhos que tem, pela coragem e pelo talento.

    Agora, para completar a novela, quero ouvir o testemunho do príncipe encantado, do meu amigo Renato.

    É um desafio que faço ao Renato, diga-lhe isso.
    Beijos a toda a família.
    Lisete

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Querida amiga Lisete
      Lamento desiludi-la mas o que me pede não é possível.
      É que o seu amigo, o Renato que conheceu na juventude, já não existe. Este é a sua sombra ... e bastante deturpada. Seria para mim um orgulho poder saber qual seria a sua opinião, mas ... não vale a pena.
      Beijinhos da amiga
      Lourdes.

      Eliminar
    2. Conheço a amiga Lourdes de outras "paragens"
      Desconhecia este seu percurso musical
      Mas já a ouvi cantar o fado ao lado duma fadista profissional
      E posso afirmar, porque é verdade, que a sua voz e o sentimento com que cantou me emocionou e suplantou a actuação da colega profissional.
      Estou-lhe grata por me ter dado a oportunidade de a conhecer um pouco melhor
      Beijinho grande
      Landa

      Eliminar
  9. Apesar de só agora ter tido oportunidade de me deslumbrar com a última parte deste percurso, nunca é tarde para fazer mais um comentário ;-)
    Não concordo com o título da "peça"... FINAL!! Como pode ser final com tanto ainda para dar?? Posso dizer a quem ainda tiver oportunidade de ler, que em 2011 tive um dos melhores Natais dos últimos 15 anos. Com o seu acordeão e voz sempre animada, a D. Lourdes consegui meter uma casa com mais de 20 pessoas a cantar e dançar noite fora, sem pensar que o Natal está cada vez mais pobre em bens materiais, mas que felizmente a amizade e boa disposição imperam!!!

    Bjks
    Filha Rabina

    ResponderEliminar
  10. Claro que nunca é tarde, Filha Rabina, para fazer um comentário, bem como para muitas outras coisas na vida. Esse é mesmo um dos nossos lemas nesta Idade que dizem terceira. É bom pois que apareça, sempre que lhe apetecer ou tiver oportunidade.

    Mesmo que não pareça, há sempre alguém disponível para ler o que se escreve. Se não houver, o prazer de se escrever o que sentimos vontade de transmitir já justifica o acto. E, no caso dessa "D. Lourdes" de que fala, mais se justifica ainda: ela tem proporcionado muitos "natais" idênticos a muita outra gente, em muitas outras ocasiões, em muitos lugares.

    José Auzendo

    ResponderEliminar