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quarta-feira, 26 de maio de 2010

Passeio por África...(parte XII)

Estava há quatro anos nos escuteiros.


Um dia, quando estava com a senhora que ajudava a organizar a quermesse, abordou-nos uma outra dizendo precisar da nossa ajuda. Queriam fundar uma casa para deficientes mentais na comunidade portuguesa mas não tinham dinheiro. Seríamos nós capazes de organizar uma quermesse com esse fim? Claro.

Fez-se uma tarde à portuguesa com quermesse, comidas...os portugueses aderiram muito bem, conseguiu-se uma boa quantia.

E os projectos, as actividades não paravam. Alugou-se uma casa e fundou-se a Associação Portuguesa de Pais e Amigos Deficientes Mentais "O Lusito" . Mais tarde edificou-se uma casa nova com todas as condições para estas crianças.

Estava a ser difícil arranjar tantos prémios para as duas quermesses. Havia que inovar, inventar. Depois de muito pensar achei que tinha descoberto uma forma de colocar a malta a trabalhar. Arranjei um grupo de senhoras que vinham um dia por semana para a minha casa durante o ano. Cada uma fazia o que sabia. Fazia-se de tudo. Dali saíram coisas muito bonitas. Também se pedia coisas a fábricas e a lojas. O mais interessante é que os meus filhos, netos e senhoras que trabalhavam comigo ainda hoje fazem a quermesse do Lusito que é no dia 31 de Maio.

Vivi sempre em Joanesburgo. Há sítios muito bonitos em todo o país mas o passeio que adorava era o Kruger National Park ver os animais selvagens no seu habitat natural. Este parque tem cerca de 20.000 quilómetros quadrados tem muitas espécies de animais. As mais difíceis de ver são os leopardos e chitas, há poucas. Dentro do parque não se pode falar alto ou abrir a porta do carro. Quem não cumprir estas ordens está sujeito a ficar lá para sempre...

De 50 em 50 quilómetros há um aldeamento com lojas e restaurante, pode-se dormir também. Quem gostar de acampar pode fazê-lo mas a comida tem de ser feita em fogão a gás. Não é permitido fazer fogo. Dentro do parque, quando os animais passam na estrada, todos os carros param. Suas excelências têm prioridade e mesmo quando decidem deitarem-se nada há a fazer que não seja esperar e esperar...

Nem tudo foram rosas esta minha estada na África do Sul.

O meu filho mais novo, tinha duas válvulas abertas no coração, eu tive um acidente de carro onde fiquei muito maltratada e o meu marido teve mais dois acidentes de trabalho.

Com a graça de Deus tudo passou!

Alice (Sobral - Espaço Net)

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Passeio por África... (parte XI)

A vivenda onde morávamos era grande. Mas não fora sempre assim. Quando a comprámos era pequena, tinha apenas dois quartos, uma sala, casa de banho, cozinha e garagem, mas muito terreno.
O meu marido modificou-a ficando com três quartos, três salas, duas casas de banho e cozinha. No quintal três garagens, uma dupla, casa de banho, lavandaria, uma casa de costura e ainda muito espaço livre.
Pudemos fazer tudo isto porque éramos um grupo de amigos cada um com sua profissão. Todos compraram casas velhas e modificaram-nas depois ajudando-se mutuamente. Só compravam os materiais. A mão de obra era de partilha. E assim íamos todos crescendo em bens e amizade.
Íamos passar as férias a Lourenço Marques, matar saudades da cervejinha a copo, acompanhada de camarões, moelas ou dobrada. Na África do Sul a cerveja não sabia bem, o clima não puxava...
Quando se deu a independência de Moçambique começámos a frequentar as praias Sul Africanas embora a 700Km de distância.
Muita gente após a independência saiu de Moçambique . Um senhor que era chefe dos escuteiros em Moçambique fundou um agrupamento de escuteiros católicos Portugueses, perto da minha casa. Mandei os meus filhos frequentar. O meu mais velho não chegou a fazer a promessa, não tinha espírito escutista, mas o mais novo foi de lobito a chefe.
Formámos um conselho de pais, uns tinham cargos, outros ajudavam. A mim coube-me dois. Um de relações públicas e outro de angariação de fundos.
A Igreja local cedeu-nos o salão para reuniões e festas mas não havia mesas nem cadeiras. O meu marido e outro senhor meteram mãos à obra, angariamos madeira e fizemos mesas para todo o salão. Comprámos cadeiras e começámos a organizar festas. O baile de aniversário em Janeiro, uma tarde à Portuguesa com quermesse e rancho folclórico no dia da mãe, e o baile de S. João em Junho para o qual eu ensaiava as marchas populares e cantava. Fazíamos cravos e no pezinho uma quadra alusiva a S. João. Vendíamos para angariar fundos. Tinha um grupo de jovens que me ajudava na quermesse e também dançavam na marcha (ai que saudades, meu Deus!).
Nesta altura já tinha um nível de vida muito bom e conseguira perdoar ao Rodrigues. É certo que ele tinha sido muito “mauzinho” mas se não tivesse ido para casa dele, não teria chegado aqui. Deus escreve direito por linhas tortas, põe-nos à prova para ver aquilo que somos capazes, para depois nos compensar!
A aceitação e o perdão deram-me tranquilidade...


Alice (Sobral - Espaço Net)