Mesmo
enorme, a gratidão por si só não é visível por vezes, daí a materialização em um gesto.
Na
passada quarta feira os elementos do coro do Sobral Sénior
resolveram ter esse gesto para o prof. Pedro Sanguinhos.
Há
muito que era sentido em consenso comum, foi agora.
Surpreendemo-lo!
Estamos
tal como ele, envolvidos neste projecto mas não fora a persistência,
a dádiva, a manifestação permanente de paciência“alentejana”,
nunca se alcançava qualquer objectivo. E já vamos alcançando...
Aprendemos
a receber para bem dar. Esta sintonia sonora neste caso, tem-se
manifestado num acorde para o nosso bem estar.
Continuamos
a querer navegar neste “tom” com o Pedro.
Ele
quer continuar a ser timoneiro desta por vezes dissonante nau.
Tal como nós, ele sabe que às vezes nem é bem aportar, o importante.
Sabe que bom... é navegar.
Fecho
os olhos e reporto-me à infância, a essa infância vivida no longínquo Oriente, em que aos oito anos já a ouvia deliciada nos
velhos discos de vinil.
Nasci
com a música no sangue, e quando me encontrava sozinha em casa, às
escondidas de meus pais, o gira-discos não parava, disco atrás de
disco, e uma, duas, três, tantas e tantas vezes os repetia até que
decorasse as músicas …
E
tantas vezes até que a agulha se desgastasse! Depois,
sorrateiramente fechava a porta do móvel onde se encontrava o
gira-discos, punha a chave no lugar, e ninguém sabia.
E
aos fins-de-semana, quantas vezes o meu pai ficou intrigado como é
que a agulha do gira-discos se estragava tanto se ele o utilizava tão
pouco! Para ele era um mistério.
Até
que um dia “gato escondido com o rabo de fora”, e fui apanhada em
“flagrante delito”.
Amália
cantava no vinil e eu acompanhava-a do princípio ao fim. Ao
contrário do que temia, em vez de uma sova, o meu pai achou imensa
piada e daí para a frente era ele que muitas vezes me ajudava a
interpretar as palavras que por vezes não entendia.
“Uma
Casa Portuguesa”, “Sempre e Sempre Amor”, “Barco Negro”,
Canção do Mar”, “Noite de Inverno”, “Cartas”, sei lá,
tantas, tantas … interpretava-as todas de alto a baixo. Mas não a
queria imitar. Gostava das músicas mas interpretava-as à minha
maneira. Gostava que percebessem o que dizia, ao contrário de Amália
que muitas vezes na sua forma única de cantar, não se percebiam bem
as palavras.
E
o meu pai interrogava-se como é que uma criança de 8 ou 10 anos se
interessava tanto por aquele género de música.
E
foi assim que Amália foi a minha Diva Inspiradora.
Cresci,
casei, fui mãe e avó, mas Amália nunca me abandonou. Na minha
consciência foi ela a minha “Madrinha da Música” e será sempre
a minha grande referência.
E
foi no dia de hoje, há 16 anos, que nos deixou fisicamente, mas no
meu coração e na minha memória continua sempre a ser a minha
grande inspiração quando canto.
Obrigada
Amália.
Em
sua Homenagem deixo aqui um vídeo com um poema que escrevi no dia da
sua morte.