O
Sizandro é um rio que tem a sua nascente a 247m de altitude, numa
pequena povoação cujo nome é precisamente Sizandros, ali bem junto
à Sapataria, uma das três freguesias do Concelho do Sobral de Monte
Agraço. Ao sair da sua nascente, passa por Sapataria, Pero Negro,
Dois Portos, Runa, Torres Vedras e tantas outras localidades até
chegar ao seu destino.
Ao
longo dos seus cerca de 40km de percurso, vários afluentes a ele vão
juntar as suas águas e, assim, em conjunto, vão desaguar “no
Oceano Atlântico junto à praia azul, num local denominado foz do
Sizandro, sendo a sua bacia hidrográfica de 336.6km2
Era
no rio, em locais de fácil acesso, no período em que as suas águas
eram límpidas e cristalinas, que os rapazes de então tomavam banho
e daí fugiam a “sete pés” com as suas roupas debaixo dos braços
ao pressentirem a aproximação das mulheres que também ali iam
lavar as suas roupas. Usavam para o efeito um suporte feito de
madeira onde pousavam os joelhos (já que era nessa posição que
lavavam), ao qual na época era dado o nome de “banco de lavar ou
joelheira”.
Também
no rio se colhiam os agriões bravios, com os quais se confecionavam
saborosas saladas. Era de lá que muitas pessoas retiravam a tão
preciosa água para regar algumas culturas, nomeadamente produtos
hortícolas que, antigamente e em certas zonas, eram produzidos em
grandes quantidades e depois vendidos nos mercados abastecedores de
Lisboa.
Nas
margens do Sizandro ainda podemos encontrar, desativadas é certo, as
velhinhas azenhas (uma das quais aqui na Sapataria em muito bom
estado de conservação), cuja construção teve início em meados do
século XIX, mais concretamente em 1852. A força das águas fazia
mover as suas mós e os cereais eram transformados em farinha que,
mais tarde, dava lugar ao tão saboroso pão de milho e trigo,
indispensável à nossa alimentação. Era a este último que, na
época, muitas pessoas chamavam de “pão alvo,” por ser de cor
branca.
Do
Sizandro também era possível extrair a “chamada areia do rio” e
era isso que muitas pessoas faziam, não para grandes construções,
mas para pequenas obras.
Lembro-me
que bonito que era ver as chamadas “galinhas d’água” com os
seus filhotes e também os patos-reais com as suas penas multicores a
banharem-se nas águas do rio. Momentos de grande beleza. Segundo
consta, em determinadas zonas também no Sizandro,
os amantes da
pesca tinham a possibilidade de pescar umas belas enguias e com elas
prepararem, quem sabe, um saboroso ensopado, digo eu!
Azenha do Rio Sizandro, exterior (Jorge Martins) |
Ao
longo do seu percurso, várias pontes ligam as suas margens, uma das
quais em Casal Coxim, situada entre Sapataria e Perna de Pau,
edificada durante o reinado de D. João I. A que melhor conheço é a
que liga Perna de Pau a Pero Negro. É aí que, sempre que o seu
caudal o permite, e quando por lá passo nas minhas caminhadas, não
resisto à tentação de me debruçar sobre o gradeamento da mesma e
escutar o cantar das suas águas. Acho lindo!
Ao
surgir a ideia de escrever algo sobre o Sizandro, mais uma vez pensei
“Oh, meu DEUS! O que é que eu vou escrever, se é apenas um
rio?!”, mas afinal, puxando pela memória, e lá bem arrumadinho,
muita coisa interessante sobre ele fui encontrar, sendo estas apenas
algumas das muitas histórias reais que possivelmente sobre o
Sizandro se poderão contar. Por isso, é bom que sejam divulgadas,
para que os jovens de hoje, homens e mulheres de amanhã, tomem
conhecimento do que antigamente no rio era possível fazer-se.
Hoje
em dia, algumas delas já não são concretizáveis devido ao
progresso e também à má qualidade da água.
Era
bom que todos nós tivéssemos consciência da importância dos rios
e dessa riqueza que a natureza nos oferece que é a água que neles
corre e os protegêssemos ao máximo.
Rosa
Santos