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sexta-feira, 15 de março de 2013

A Praça Pombalina



Por tantos dias felizes aqui passados…
Hoje regressei à Praça Dr. Eugénio Dias e olho em redor e contemplo toda a Praça, o edifício da Câmara, a Igreja, o Chafariz…Distinta mas fazendo parte integrante da Praça Pombalina, a Casa Sobral. Sempre ouvi dizer que ali era a Casa dos Condes, mas nunca tive curiosidade de saber pormenores da sua história. Nas aulas de História do Clube Sénior, tomei conhecimento mais aprofundado da história da Família Sobral e é com enorme prazer que, resumidamente, a trago até vós porque ela é também a história da nossa vila.
Sebastião José de Carvalho e Melo estudou direito em Coimbra, e foi embaixador em Viena de Áustria. Lá casou com uma austríaca, a Condessa Leonor Daun. D. João V, na altura Rei de Portugal, era casado com uma senhora também austríaca e, através das esposas, deu-se uma aproximação entre Sebastião José e o Rei. A D. João V sucede seu filho, D. José I, que nomeia Sebastião José, Ministro dos Negócios Estrangeiros e confere-lhe o título de Conde de Oeiras e, mais tarde, o de Marquês de Pombal.
Joaquim Ignácio da Cruz, que era fidalgo da Casa Real e Tesoureiro do Erário Régio, e seu irmão, Anselmo José da Cruz, pessoas influentes, grandes comerciantes, influenciam o Rei para que Sebastião José seja nomeado Primeiro-Ministro. Devido a este empenho, os irmãos ficaram sempre nas boas graças do Marquês de Pombal.
O Marquês de Pombal criou diversas Companhias Mercantis: a do Grão Pará e Maranhão em 1755, Pernambuco e Paraíba em 1759, (que exportavam produtos do Brasil para a Europa, tais como algodão e arroz), e a Companhia de Vinhos do Alto Douro, que exportava para toda a Europa o vinho do Porto. Os irmãos Cruz eram sócios dessas Companhias; possuíam, também, fábricas de algodão em Sobral e Portalegre, de papel selado em Alenquer e de chapéus finos no Rato. Financiavam projectos do Marquês de Pombal.
Com a expulsão dos Jesuítas e com a respectiva confiscação de bens por D.José I, o Senhorio de Sobral de Monte Agraço reverteu para a Coroa, tornando-se Reguengo por decreto do Rei de 1759. Em 1770, Joaquim Ignácio da Cruz arrematou em haste pública os bens e direitos do Reguengo. Em 1771, D. José fez mercê do Senhorio honorífico de Sobral a Joaquim Ignácio da Cruz, acrescendo ao Morgadio que este já possuía, permitindo-lhe juntar o sobrenome de Sobral ao seu nome. O Morgadio era composto pelo Solar, pela Câmara, pela Cadeia, pelo Chafariz, a Igreja e toda a Praça Pombalina.
Entretanto, Herman Joseph Braamcamp, holandês mas descendente de uma família portuguesa, veio para Portugal como Ministro residente de Frederico II, da Prússia, para fomentar o comércio entre Portugal e aquele País. Consegue, assim, relações cordiais com Joaquim Ignácio da Cruz. Aquele holandês casa em Portugal com Maria Ignácia Almeida Castelo Branco, filha do Morgado da Quinta da Luz, em Carnide. Desse matrimónio nasce Geraldo Venceslau Braamcamp Almeida Castelo Branco que, pelo casamento com Joana Maria da Cruz Sobral, filha de Anselmo José da Cruz, junta o Morgado da Quinta da Luz ao Morgado do Sobral. Geraldo Venceslau é o 1º. Barão do Sobral.
António Braamcamp Sobral
Deste casamento nasce Herman José Braamcamp Sobral Castelo Branco, que foi o 1º. Visconde do Sobral e, a partir de 1844, o 1º Conde do Sobral. Faleceu no ano de 1846. Desde então até hoje estão referenciados 8 condes do Sobral. Muitos Sobralenses estarão lembrados do 6º. Conde de Sobral, que foi nosso contemporâneo, António Braamcamp Sobral: foi Provedor da Santa Casa da Misericórdia do Sobral e ocupou vários cargos em instituições da vila. Faleceu em 1987.
A nossa Praça, onde já falei com o coreto e ouvi murmúrios e sussurros, tem muita História e eu tenho feito o que posso para a não deixar esquecer…
Maria Alexandrina


8 comentários:

  1. Amiga Alexandrina
    Mais um dos seus excelentes textos "históricos" que nos vão mostrando a importância secular desta terra e a sua evolução.
    Parabéns amiga pelo seu interesse e dedicação de que dispõe ao oferece aos Sobralenses todo este trabalho, pois todas estas informações só são possíveis com demoradas e minuciosas pesquisas que não são para qualquer um.
    PARABÉNS por um trabalho tão nobre. É pena que nem todos tenham capacidade para poder avaliar e apreciar.
    O Professor Afonso também é merecedor de um grande obrigada, pois com todas estas ligações e fotos que nos oferece, torna o texto muito mais apelativo e de melhor compreensão.
    Para os dois o meu abraço de amizade.
    Lourdes.

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  2. D.Maria Alexandrina
    Do principio ao fim fico encantada !! Com uma descrição perfeita e linda...até o Sobral ficou mais sedutor !! Querida Amiga dou-lhe mil parabéns e um grande abraço.Volte sempre a contar mais historias da" vida" e da "Vila"
    BJS
    Luisa

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  3. Penso que a Alexandrina está a ser excessivamente modesta quando escreve que tem feito o que pode para não deixar esquecer a história da Praça. Ela tem, com os seus textos, trazido ao conhecimento de muitos de nós aspectos fundamentais da História e da vida da Vila e do próprio Concelho. E tem-no feito sempre com a perspectiva de quem vive no presente e deseja para a sua Terra um futuro tão destacado como já o foi no passado.

    No texto de hoje, ela leva-nos até à Praça, faz-nos olhar em volta, e ensina-nos a ver muito para além das paredes dos edifícios que hoje parecem algo desanimados, mas que de facto estão cheios de "vida", que precisa de ser alimentada, para se fortalecer.

    Auzendo

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  4. Diz muito bem Alexandrina: tantos dias felizes aqui passados. Talvez por isso tive esta noite um sonho maravilhoso, talvez também devido aos longos pensamentos que dedico à minha terra, que vejo com muita tristeza ficar cada vez mais pobre e mais triste. Mas no meu sonho foi o contrário: vi a minha terra como antigamente, cada porta uma oficina ou um estabelecimento dos mais variados e, no dia do mercado mensal era um grande movimento, desde as barracas de comes e bebes, à venda de toda a raça de animais, burros, vacas e ovelhas e carros carregados das mais diversas árvores para plantar. Para finalizar o dia, ciganos faziam roda e dançavam, cantavam e muito tipicamente batiam palmas. Vi a Praça com muitas crianças a brincar, subindo e descendo o Coreto, e a escorregar pela estátua, uma coisa que eu gostava tanto de fazer em criança.

    Hoje essa Praça, a nossa Praça Pombalina, está sem vida, meia dúzia de idosos apanhar sol. O sonho foi bom, o acordar foi triste. De quem é a culpa não sei: se alguém souber, agradeço que me explique.

    Lisete

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    1. Minha amiga Lisete não sabe o prazer que tive em lê-la. Mas gostava de pegar nas suas palavras para dizer que "a culpa morreu solteira" e neste caso acho mesmo que é assim, a evolução dos tempos,a televisão que não havia no nosso tempo, os computadores e seus jogos prendem as pessoas em casa e outros amigos se arranjam através da internet.
      Os pais trabalham e não vão com os filhos à Praça, a vida é um rodopio e nas férias vão para outras paragens. Quantas famílias existem no Sobral que não conheço! No nosso tempo todos nos conhecíamos.
      Mas também não estou a ver os meus netos sentados, uma tarde inteira de domingo, num banco da Praça a comer "dez tostões" de tremoços e pevides. Até a "Tia Angela", já partiu, não pode ser a mesma a nossa Praça...
      Maria Alexandrina

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  5. Creio que a amiga Alexandrina se "enganou" na máxima popular citada: devia ser, não a "culpa morreu solteira", mas "a culpa nunca é nossa, é sempre dos outros". Desta vez, di-lo a Alexandrina, e tem razão,a culpa é da evolução, das televisões, dos computadores... E eu dou comigo a pensar: desgraçados, pobres atrasados, dos nossos hermanos espanhóis que, aqui ao lado, neste preciso momento, a qualquer hora do dia, ou mesmo noite adentro, enchem, famílias inteiras, todas as praças, jardins e outros espaços públicos...Nas grandes cidades como em qualquer vilória da raia, bem pertinho de terras portuguesas "evoluídas" e, claro,desertas a qualquer hora do dia. E o mesmo vejo na Alemanha, onde me desloco com alguma frequência por razões familiares. Pobrezinhos, nem televisão devem ter...Na Alemanha há um ditado que diz: "não há mau tempo; há é má roupa para o tempo que faz"...

    E por isso, é vê-los/las nas esplanadas, conversando, a neve a cair, temperaturas negativas, os aquecedores exteriores ligados e "mantas" de lã (fornecidas pelos próprios cafés/restaurantes) a cobrir as pernas dos "desgraçados"... que nem casa devem ter para se abrigarem do frio...

    Não Alexandrina, a culpa é nossa, de cada um de nós portugueses, da nossa mentalidade...

    Auzendo

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  6. Um belo trabalho da nossa linda mas triste e vazia Praça, cheia de história mas sem qualquer encanto. Tem razão professor Auzendo a nossa mentalidade não consegue ir em frente e todos nos desculpamos mas nada fazemos.
    Gosto muito das notícias aqui no blogue mais uma maneira de nos manter informados obrigado pelo esforço
    Adelaide

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    1. Obrigado D. Adelaide pelas suas palavras. Pouco embora, mas já estamos fazendo alguma coisa: denunciamos a situação, alertamos, alguma coisa pode ir mudando.

      Mas registo acima de tudo, agora, as suas palavras sobre "as notícias". Que eu tenha notado, é a primeira pessoa que se refere especificamente a elas. E é bom ver reconhecido o esforço. E todos podemos e devemos participar neste objectivo.

      Auzendo

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