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quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Destaque 8


Estamos a publicar neste espaço pequenos resumos biográficos de pessoas de qualquer idade que, nascidas ou residentes no Sobral, conseguiram que os seus nomes “saíssem” do Concelho, por algum feito realizado no domínio das letras, das artes, da ciência, do desporto. Se não fosse excesso de pretensiosismo, diria que estamos a cantar “aqueles que por obras valerosas se vão da lei da morte libertando”, citando Camões. Mas é isso que desejamos que venha a acontecer… Colabore connosco, escrevendo para sobral.senior@gmail.com indicando-nos o nome e contacto de alguém que julgue merecer integrar esta galeria ou, se for o caso e preferir, enviando-nos a própria biografia.

E o destaque de hoje vai para …

 

 

António Barbio, ciclista

António André Pereira Barbio nasceu em Almada em Dezembro de 1993, filho de António Manuel Batista Barbio e de Palmira Dias Pereira. Veio morar para a Patameira com 4 anos de idade, para uma casa que os avós tinham construído. Estudou primeiro na Gozundeira e depois na Escola Secundária do Sobral, onde completou o 10º ano. Na sequência de uma acção de sensibilização levada a efeito na Escola pela Federação Portuguesa de Ciclismo, estava ele no 6º ano, começou a entusiasmar-se com esse desporto, que acabou por abraçar em exclusivo depois de concluído o 10º ano de escolaridade.

Começou na equipa do Milharado aos 12 anos e lá esteve até 2010, altura em que foi convidado para ingressar na equipa de Matos-Cheirinhos, em Cascais, onde esteve na época de 2011. Em 2012 correu pela equipa de Mortágua, onde se mantém.

No Milharado conseguiu o 3º lugar no Campeonato Nacional de Contra-relógio de Cadetes; no Grande Prémio Alves Barbosa, onde ganhou a primeira etapa, sendo por isso o primeiro camisola amarela; mas ganhou umas 20 provas oficiais das muitas que realizou como cadete e depois como júnior. Fez também provas de pista e obteve o segundo lugar no campeonato em perseguição individual e foi campeão nacional de perseguição por equipas.

No último ano como júnior, correndo já pela Matos Cheirinhos, ganhou a Prova de Abertura da época a nível nacional, foi Campeão Nacional de Contra-relógio e segundo classificado na Volta às Terras de Loulé, a mais importante prova nacional para juniores. Foi segundo na Volta a Portugal e fez parte da selecção nacional que foi correr o Campeonato da Europa em Itália, a Taça das Nações na República Checa, e o Campeonato do Mundo em Copenhaga.

Foi então que ingressou na equipa de Mortágua, considerada uma equipa de formação, amadora, com atletas só até aos 23 anos, onde correu toda a época finda. Considera ser uma equipa fabulosa, bons colegas e dirigentes, onde se sente bem e aprendeu muito. Embora esteja ainda na categoria de sub-23, correu quase sempre com os profissionais nas provas em que participou. E foi o ano com melhores resultados até hoje: foi vice-campeão nacional de contra-relógio e de estrada; obteve o segundo lugar na Volta a Portugal do Futuro, na classificação geral, mas vencendo a classificação da Juventude. Voltou ao Campeonato da Europa na Holanda pela selecção nacional. Terminou em quarto lugar o conjunto de cinco provas que pontuam para a Taça de Portugal de ciclismo.

António Barbio é, e será até 31 de Dezembro, ciclista amador. Para deixar de o ser terá de abandonar o Mortágua e mudar para uma equipa profissional, o que é um dos seus objectivos. Quando isso vai acontecer, só o futuro o dirá. O leitor poderá ver muito do seu percurso retratado nas páginas do facebook, que encontrará em António Pereira Barbio.

José Auzendo

domingo, 25 de novembro de 2012

SobralSenior - curiosidades

Este quadro é mesmo uma curiosidade.

Quem diria que intencional ou por acaso,"amigos" Sobralenses na Rússia, nos Estados Unidos, Alemanha, Brasil, Canadá, Reino Unido, Holanda, Suíça, França?

Estes registos valem o que valem mas não deixam de ser curiosos.
Em breve publicaremos mais umas curiosidades.




quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Ramirito…Um sobrevivente


Num lugar adjacente à vila de Sobral de Monte Agraço, Mouguelas, vivia nos anos cinquenta um homem chamado Ramiro, que na vila era conhecido por Ramirito. Ele tinha um modo peculiar de falar, terminava certas palavras por “e”. Era um homem bem constituído, andava com pouca roupa e descalço.
Ramirito vivia de expedientes, ou melhor, vivia essencialmente da fruta que roubava aos vizinhos. Conhecia todos os pomares da região e, quando alguém lhe encomendava fruta, sabia aonde se dirigir. E quando lhe perguntavam que árvores de fruto tinha ele, ele, com o seu ar matreiro, dizia que até tinha uma árvore de “pera-figue”, tanto dava peras como figos.
As pessoas da vila compravam-lhe fruta e, um dia, alguém lhe encomendou uns quilos de peros, com a recomendação de que os queria verdes para que aguentassem mais tempo. Dizia-se, nestas situações, que era “fruta para o tarde”. Logo ele respondeu que tinha uns peros muito bons, que eram “peros dabane”. E lá fizeram o negócio. Passado algum tempo, o comprador, indignado, dirigiu-se-lhe reclamando do mau estado dos peros. Ele, com o ar mais natural deste mundo, respondeu-lhe que não o tinha enganado, porque bem lhe dissera que eram peros de “abane”: ele abanava a árvore e a fruta caía, era natural que se magoasse ao cair…
Outro cliente pediu-lhe que lhe arranjasse uns pêssegos muito bonitos, que eram para oferecer, pensando o cliente juntá-los a outros que tinha nos seus pessegueiros. O Ramirito não se fez rogado e depressa apareceu com o cesto dos pêssegos. Só depois de ter pago, o comprador percebeu que a fruta não era nem mais nem menos do que a sua, dos seus pessegueiros, que o Ramirito de noite lhe tinha ido roubar.
Sei quem foi, mas não me acuso...
Quando não havia outros frutos, dedicava-se a roubar azeitonas. Um dia, com a pressa ou por distracção, deixou o chapéu no olival. O dono ficou satisfeito ao encontrar o chapéu, porque estava farto de ser roubado. Foi à esquadra apresentar queixa e desta vez com uma prova: o chapéu, que se sabia pertencer ao Ramiro. O Ramirito, que lhe roubava a azeitona e sempre escapava, desta vez ia ser apanhado. Chamado a depor, o Ramiro declarou que ia a passar na estrada, que o vento lhe levou o chapéu e, como não se dava com o dono da propriedade, preferiu ficar sem o chapéu a ter que invadir a terra do outro. Mais uma vez nada ficou provado, mais uma vez se safou o Ramirito.
Muitas histórias se sabem do Ramirito, mas estas serão as mais conhecidas. A esperteza dele, que segundo se afirmava tinha tanto de esperto como de maroto, foi uma forma de sobrevivência. No período em que não havia fruta para roubar, ele dedicava-se a apanhar agriões na beira dos charcos, e vendia-os bem vendidos...
Além das histórias do roubo de fruta, ele era também conhecido pelo seu descaramento, e de entre as histórias que se contam, esta que vou descrever é a mais digna de ser divulgada (algumas não podiam mesmo ser escritas neste blogue). No início dos anos cinquenta, veio ao Sobral o Cardeal Cerejeira. Estava a Praça engalanada para o receber, as crianças das Escolas faziam guarda de honra, e a Guarda Republicana lá estava com o seu fardamento de luxo para a ocasião. À porta da Câmara Municipal as altas individualidades esperavam. 
No fundo da Rua pára um belo carro e dele sai o Senhor Cardeal, que sobe a Rua em direcção à Câmara, acompanhado pelo Administrador do concelho e vereadores, enquanto a multidão aplaudia entusiasmada. 
Nisto, salta o Ramirito para a estrada e dirige-se ao Cardeal nestes termos:
- O Senhor é que é o senhor “ bispe”, está todo porreirito, de chapéu à “ tourero”.
Escusado será dizer que toda a gente desatou a rir e o Ramirito foi levado pela guarda. Não sei se foi preso, mas isso também não o devia incomodar, a vida dele era desgraçada sempre, uma desgraça a mais ou a menos pouca importância tinha já para ele.

Maria Alexandrina

domingo, 18 de novembro de 2012

Destaque 7




Estamos a publicar neste espaço pequenos resumos biográficos de pessoas de qualquer idade que, nascidas ou residentes no Sobral, conseguiram que os seus nomes “saíssem” do Concelho, por algum feito realizado no domínio das letras, das artes, da ciência, do desporto. Se não fosse excesso de pretensiosismo, diria que estamos a cantar “aqueles que por obras valerosas se vão da lei da morte libertando”, citando Camões. Mas é isso que desejamos que venha a acontecer… Colabore connosco, escrevendo para sobral.senior@gmail.com indicando-nos o nome e contacto de alguém que julgue merecer integrar esta galeria ou, se for o caso e preferir, enviando-nos a própria biografia.
E o destaque de hoje vai para …
 

Maria Emília Sobral, fadista

Maria Emília Ferreira Lima, a Mila, de nome artístico Maria Emília Sobral, nasceu na Barqueira, junto à Vila de Sobral de Monte Agraço, filha de Mário Lima, e de Ernestina Ferreira Lima. Acha que tevetrês mães, pois as irmãs, a Margarida e a Alice, têm mais dez e doze anos que ela. Na escola primária foi boa aluna. Não continuou os estudos, o que era usual naquele tempo. Aprendeu a bordar na “Casa Vale”, já falada neste blogue. Aos doze anos foi para um alfaiate. Saiu e foi aprender a tricotar. Aos catorze anos já fazia peças de tricot, como gente grande. Assim continuou até aos dezoito anos, quando foi estudar no Colégio do Sobral, onde fez parte do 5º ano do então curso geral dos liceus, que mais tarde concluiu.
Foi trabalhar para o Colégio Moderno, em Lisboa, como preceptora, com a ideia de continuar a estudar, o que não aconteceu. Por lá esteve três anos, até que Mário Soares foi deportado para S. Tomé, talvez em 1968 e o “internato” no Colégio acabou. Voltou ao Sobral, trabalhou como encarregada numa fábrica de luvas que faliu e, em 1972, começou a trabalhar na Casa Biencard Cruz. Foi aqui que começou a ganhar gosto pelo FadoPrimeiro pelas Festas, na Tasca do Carreiras: cantando com outrosamigos fadistas sobralenses de então, o Egídio e o António Jordão, tudo sem acompanhamento, a capella.
A sua primeira experiência com guitarra e viola foi numa festa de Natal dos Bombeiros do Sobral, talvez em 1972. Entretanto, Manuel Tavares, um grande amigo que trabalhava na RTP em Lisboa, convidou-a a ir à festa de aniversário da RTP, onde foi dois anos. No 2º cantou acompanhada por António Chainho. Ficaram grandes amigos. E assim começou a cantar em diversas casas de fados, em Lisboa e Cascais. Cantava fados de Amália, Teresa Tarouca, Mª Teresa de Noronha, Carlos do Carmo…Continuando a trabalhar na Biencard Cruz e a cantar, o seu nome chegou aos ouvidos de Luís Miguel de Oliveira, casado com Maria Palmira Biencard Cruz, que lhe ofereceu poemas e músicasSugeriu-lhe o nome artístico por que é conhecida, e proporcionou-lhe, em 1976, a gravação do primeiro disco, um EP (lembra-se?), com acompanhamento de António Chainho.
Começou a ir ao estrangeiro. Em 1977, esteve três meses na África do Sul. Cantou em Joanesburgo, no Cabo e em Durban, numa digressão a que chamaram Caravana da Saudade. Vários jornais e revistas escreveram sobre ela, deu entrevistas na Rádio. Em Novembro de 1978, foi a Holanda, com Arlindo de Carvalho, Ágata (nessa altura Fernanda de Sousa) e outros artistas. Cantaram em Haia, Amsterdão e Roterdão. Voltou à Holanda em 1979 e foi a Antuérpia, na Bélgica. Depois esteve na Alemanha, em Singen. Em Portugal, fez espectáculos em festas de beneficência, e continuou as suas actuações em casas de fados - Adega da Matilde, o Castiço, o Embuçado, o Nove e Tal, o Pátio das Cantigas, entre outros.
O seu segundo EP saiu em fins de 1978.Também este teve sucesso, os temas são mais alegres, foi muito ouvido, especialmente oSardinha na Brasa. Actuou na RTP 1 em 1979, no programaÚltimo Fado, tendo interpretado Sardinha na Brasa e Mensagem. Foi cantando, mas também esteve parada durante longos períodos. Em 1988 voltou à Africa do Sul, convidada para as Comemorações oficiais do Dia de Portugal: actuou em Joanesburgo, Pretória e Windhoek. Regressada a Portugal conheceu Diamantino Calisto e, pouco depois, em 1991, foi com ele para Angola, numa experiência nada fácil, dadas as condições desse país nessa altura. Também lá cantou o Fado, primeiro no Pátio Alfacinha, um restaurante do marido; depois no Hotel Ritz, na Associação 25 de Abril, na Casa 70, nos hotéis Méridien e Vitória Garden, por vezes até na Embaixada de Portugal em Luanda. Por aí cantou ao lado de Carlos do Carmo, Camané, Beatriz da Conceição, Ricardo Ribeiro, Rodrigo, entre outros.
Presentemente, em Portugal, quando lhe apetece vai até Lisboa e canta no Clube do Fado, na Mariquinhas, no Estafado, no Guarda-Mor. Embora não seja uma fadista muito conhecida, Maria Emília sente-se feliz pelo percurso que fez. Recorda com emoção o carinho e o calor com que alguns milhares de pessoas, ao longo destes 40 anos, a receberam e aplaudiram. E aplaudem, acrescento. Tudo quanto precede foi por mim transcrito, adaptado e resumido de um longo e pormenorizado historial escrito pela própria Mila, que em breve deverá começar a ser publicado…E, não está escrito, mas adivinho eu que outras surpresas nos esperam…No passado e ainda no presente, a sua voz, mesmo o seu nome, levou e leva para bem longe o nome do Sobral, onde nasceu e vive. Estou em crer que assim continuará no futuro, “até que a voz lhe doa”.
Mais fotos------; aqui
 "MONTAGRAÇO" 

José Auzendo

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

O que me recordo da Família Morais Cardoso…


1949 2º prémio - Medalha de Prata
A família Morais Cardoso vivia o inverno em Lisboa, no Largo do Mastro e, no início do Verão, viviam no Sobral até ao fim das colheitas, que culminava com a apanha da azeitona, isto nos anos quarenta desde que me recordo e até final dos anos cinquenta.
Tinham grandes propriedades rurais e urbanas, a Casa principal e muitos anexos. Onde se situa hoje o Auditório Municipal era a Adega: vi tanta vez as carroças puxadas por uma junta de bois, ali a descarregar a uva para fabricar o vinho da sua colheita. Ainda hoje é visível no Auditório Municipal o lagar e, na parede, está pendurado um quadro de um prémio de categoria, a nível nacional, dado pela Junta Nacional do Vinho, a um vinho produzido pela Casa Morais Cardoso.
 Núcleo Museológico do Vinho
Onde se situa a Biblioteca Municipal era uma casa de primeiro andar: ali se alojavam os trabalhadores que vinham de fora, a seguir a casa do feitor, por debaixo uma abegoaria e seguia-se uma destilaria de bagaços. Era uma casa agrícola, grande empregadora, tinha em permanência um feitor, um caseiro e um abegão, e todo o ano ranchos de homens a trabalharem na lavoura. A casa principal era ao lado da Câmara Municipal, com a frente virada para a Praça Dr. Eugénio Dias, contornando a Praça da Republica e a Rua 10 de Fevereiro: embora em mãos de outros proprietários ainda mantém a mesma traça.
No Verão, quando a D. Adelaide e a sua filha D. Maria Isabel se acomodavam, era de bom-tom irem cumprimentar a Condessa do Sobral e só de seguida começava a lida. A D. Maria Isabel (Menina Micas) era a orientadora principal. A minha madrinha era contratada para trabalhos de costura, nesse tempo tudo se aproveitava, e por acréscimo lá estava eu…
Era frequente que muitos netos passassem algum tempo de férias, e com eles traziam as suas criadas. Como me lembro da Ludovina e da Maria Lina… Lembro-me do quarto das “criadas” no sótão, em que as camas eram de ferro, já não sei quantas, mas eram algumas. Na casa que outrora tivera ao mesmo tempo três ou quatro serviçais, nessa época só a Beatriz fazia todo o trabalho.
Era a Zezinha, uma das netas, que mais tempo passava no Sobral e, como era da minha idade, era com quem eu brincava. A brincadeira preferida dela era aos “polícias e ladrões”, enquanto eu preferia ler livros da Condessa de Ségur. Lembro-me de ter lido também o “ Pequeno Lord”. Na nossa brincadeira, eu era sempre o ladrão, para me esconder enquanto lia uma ou duas páginas de qualquer história: assim fui lendo todos os livros. Ela tocava piano e eu fazia de espectadora e aplaudia no fim.
O Sr. Manuel Pedro Cardoso, que não conheci, foi Presidente da Câmara do Sobral de Monte Agraço. Ele e a esposa, a D. Adelaide, tiveram três filhos: o Dr. Manuel, advogado, que teve seis filhos, o Dr. João Alberto, dermatologista afamado, era quem geria com a irmã os bens da família e teve três filhos… e a D. Maria Isabel, que não casou.
Com a morte da mãe e dos filhos, os bens foram divididos e a casa de habitação foi vendida. Os herdeiros do Dr. João Alberto, a Drª. Teresa e o Dr. João Pedro, ainda mantiveram por longos anos as propriedades rurais e também os anexos urbanos que herdaram mas, a pouco e pouco, foram vendendo e “doando”. O Pátio de Santo António, que é dentro da vila, no topo da Rua 5 de Outubro, constou-me que tinha sido vendido recentemente; o “Soeirinho”, uma propriedade ( à saída do Sobral na estrada ….. Arruda), ainda está na posse da família Morais Cardoso.
Existem netos do casal Manuel Pedro Cardoso e D. Adelaide de Morais, o que faz que o nome Morais Cardoso ainda seja conhecido no país, mas nenhum se radicou no Sobral. Esta foi uma das mais importantes famílias do Sobral de Monte Agraço, no século XX, a todos os níveis: social, económico e intelectual. Ficarão para recordá-los e perpetuá-los duas ruas, ambas na Urbanização das Bandorreiras: Rua Manuel Pedro Cardoso e Rua Dr. João Pedro de Andrada Morais Cardoso, avô e neto.
Maria Alexandrina

domingo, 11 de novembro de 2012

Associação do Distrito de Lisboa…

 
 Quando assisti ao Festival de Folclore do Rancho de Fetais, tomei conhecimento da existência da Associação do Distrito de Lisboa para a Defesa da Cultura Tradicional Portuguesa, que se fez representar. Depois, no Festival do Grupo da Seramena (ver, no blogue, textos de 16 e 31 de Julho) constatei que o Presidente do Rancho de Fetais, o Sr Henrique Ganchas, era ali o representante dessa Associação e que a sede dela era no Sobral de Monte Agraço. Provavelmente, é a única entidade distrital que tem sede no Concelho…Pareceu, por isso, que era tema para trazer ao blogue.
A ideia da criação desta associação surgiu num curso de formação no INATEL, com o objectivo de contribuir para preservar a cultura tradicional portuguesa, ajudando os ranchos folclóricos a representarem cada vez melhor as suas terras, as suas genuínas tradições e costumes, isto é, a serem “representativos”. A Associação constituiu-se em Dezembro de 1993. Até 2008 não teve Sede, reunia aqui ou ali, nas sedes dos ranchos associados, Belas, Bemposta, Sabugo, Frielas, Torres Vedras…Em 2008, o Municipio do Sobral cedeu instalações para a sede da Associação, na Rua da Misericórdia. Sobral porque os dois ranchos do Concelho se empenharam na Associação e são seus sócios efectivos.
Podem ser sócios da Associação ranchos folclóricos de todo o Distrito de Lisboa…Existem dois tipos de sócios: os “auxiliares” e os efectivos. São sócios efectivos aqueles que a Direcção da Associação considera representarem correctamente as tradições e costumes das terras que invocam, de acordo com as recolhas localmente efectuadas e documentadas, com vídeos, gravação de relatos dos contactos havidos, fotografias…Isto abrange os trajes, as danças, as canções, a música. Todos os grupos têm Tocata.
Os Ceifeiros da Bemposta
Enquanto essa certificação não acontece, os sócios mantêm-se “ auxiliares” e vão sendo sujeitos a visitas técnicas de inspecção. Para além dessas visitas, a Associação desenvolve regularmente acções de formação voltadas para os pontos em que os grupos parecem mais necessitados: trajes, música…Recorre frequentemente a formadores externos, em colóquios ou outras acções formativas. Faz também, anualmente, um “Encontro de tradições” em que cada grupo apresenta um aspecto da sua actividade: danças, cantares, representações etnográficas, etc.
A Associação, e outras idênticas que existem pelo País, tem uma acção de complementaridade em relação à Federação do Folclore Português. Neste momento, a Associação tem 19 sócios auxiliares e 25 sócios efectivos, o que pode representar aí umas 2000 pessoas, entre bailadores, cantadores, músicos, ensaiadores. E muita outra gente que está na rectaguarda, mas directamente ligada aos grupos. Para além dos grupos que menciono mais abaixo, fazem parte dos corpos sociais da Associação o Rancho Tradicional de Cinfães, o Rancho Folclórico de D. Maria, o Rancho Folclórico do Carregado e o Grupo Etnográfico de Alverca. Curioso é constatar que, em Lisboa, existem muitos grupos representando outras terras e regiões do País…
Visita à sede do Rancho em Bemposta
Não se é sócio efectivo para a vida: mesmo efectivo, o sócio está sujeito às visitas técnicas de inspecção, podendo ser expulso se não aceitar essas visitas ou se mostrar, reiteradamente, que não cumpre as regras de representatividade a que está obrigado. E alguns já foram expulsos, exclusivamente por razões técnicas. Outros houve também que saíram por iniciativa própria. Teoricamente, a pertença à Associação deve ser sinónimo de garantia de qualidade. É para garantir essa qualidade que há acções de formação e as visitas técnicas de inspecção.
Pude acompanhar a Direcção da Associação numa dessas visitas, no caso ao Rancho de “Os Ceifeiros da Bemposta”, Bucelas. Fizeram parte da equipa inspectora Hortense Bogalho e Henrique Ganchas, em representação do Rancho de Fetais; Joaquim Pinto, Presidente da Direcção, representando o Grupo Etnográfico de Danças e Cantares do Minho; e Fábio Luís, do Rancho Folclórico da Ribeira de Celavisa, Arganil. Testemunhei a forma empenhada como os directores do Rancho da Bemposta conduziram os membros da Associação numa visita guiada às suas instalações, com realce para seu belo Museu e para as peças relativas às recolhas etnográficas feitas na Terra. E depois pude assistir a uma exibição do próprio Rancho tendo como únicos assistentes … eu e os ditos membros da Direcção…No final, sentaram-se todos, cerca de 30 pessoas, à volta de uma mesa para avaliação da visita. Foi muito interessante: as fotos são dessa visita.
A ideia de ceder à Associação instalações para a sua sede rende naturalmente alguma projecção ao Sobral, pelo menos em todo o Distrito de Lisboa. Mas de todo o lado chega ao Sobral pelo menos correspondência, de Associações congéneres, da dita Federação, e de outros Ranchos Folclóricos…que são, no País, umas centenas, se não milhares…

José Auzendo

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

HOMENAGEM A UMA GRANDE SENHORA - EXEMPLO DE VIDA


Primavera
Ao frequentar as aulas de Informática do Clube Sénior do Sobral de Monte Agraço, comecei a escrever alguns trechos para o blogue Sobralsenior Gente Gira. A certa altura despertou-me a atenção os comentários de uma determinada senhora que se dava pelo nome de Avoluisa.
A sua maneira de comentar fez-me sentir, não sei porquê, que se tratava de uma senhora Especial e Talentosa, mas muito marcada pela vida.
Campo
Como os comentários por vezes continuavam, curiosa como sou por natureza, perguntei ao Professor Afonso se ele sabia quem era a dita senhora ao que me respondeu que era uma sua aluna de Informática, no Carregado. Transmiti-lhe a minha admiração e ele comentou que era uma senhora que há perto de duas décadas teve um AVC e que estava completamente imobilizada de todo o seu lado direito. Mas que tudo o que lhe ensinava, fazia sozinha, apenas com a mão esquerda, sem ajuda de ninguém.
Dia de Nevoeiro
Afinal o meu “sentir”, infelizmente, estava certo. É alguém a quem a vida entendeu marcar privando-a da sua autonomia mas … a quem deu em troca o grande Talento não só para escrever, como também para a pintura.
Esta senhora que tem apenas mais cinco dias do que eu, tem um blogue (http://avoluisa-roseiral.blogspot.pt/) onde regista como que num diário, os seus pensamentos e sentires, de uma forma muito talentosa, atrevo-me mesmo a dizer, filosófica. E os seus quadros a óleo e aguarelas? Não sou especialista na análise de pinturas mas só sei dizer que tenho apreciado quadros de pintores ditos consagrados que não me agradaram de todo, enquanto os desta senhora acho-os lindos! E tudo feito apenas com a mão esquerda! 

Chorona

E de         amigas cibernautas que nos tornámos, eis senão quando o Professor Afonso “arranjou” maneira de nos conhecermos pessoalmente, com a cumplicidade e ajuda da sua irmã, e reunimo-nos no Espaço Sénior do Carregado, com a presença de muitos outros seniores.

Foi uma tarde inolvidável. Senti camaradagem sã, carinho e calor humano. O verdadeiro espírito de Amizade.Gostaria de prestar aqui a minha Homenagem à minha nova amiga, a Luísa, que apesar dos reveses do destino, é um EXEMPLO DE VIDA para todos nós.
Afinal a Internet também nos oferece grandes oportunidades e alegrias na vida. 

E eu sei que foi através deste convívio primeiramente virtual, que arranjei uma Grande Amiga Real para o resto da vida.




Lourdes Mourinho 

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

A Feira dos Santos …

Feira de Gado
 A Feira dos Santos da minha infância era uma feira de grande dimensão, tanto no número de feirantes como no de visitantes: a estrada do Sobral até Almargem ficava todo o dia repleta de gente e de animais. Uns que iam, outros que vinham…Os lavradores abastados usavam a sua junta de bois para o seu trabalho agrícola e, quando achavam que eles já não eram necessários, ou porque já estavam velhos, ou porque já não davam o rendimento esperado, e também porque nessa altura já tinha acabado a campanha para que estavam destinados, aproveitavam para negociar a venda dos bois na Feira dos Santos. Alguns voltavam para a casa do dono, por não terem tido comprador…
Os bois vinham todos enfeitados de fitas vermelhas, verdes e brancas, presas de chifre a chifre, e caíam de cada lado da cabeça. O abegão trazia-os à mão, puxados pelas rédeas: o homem, com o seu barrete no alto da cabeça, com uma mão segurava as rédeas e com a outra segurava o aguilhão que lhe descansava no ombro. De vez em quando “aconchegava” o aguilhão no lombo dos animais. A estrada alcatroada fazia com que os cascos dos bois escorregassem e, como normalmente vinham aos pares dificultando ainda mais a deslocação, chegavam a cair de joelhos. E assim era todos os anos, a história repetia-se, era uma grande feira de gado. Vinham compradores de muito longe, muitos negociantes. Com saudade recordo o meu avô, com o seu barrete preto e o cigarrito ao canto da boca, a puxar a junta de bois do patrão; vinha de S. Domingos de Carmões até Almargem, a pé, conduzindo-os. O patrão vinha mais tarde na sua charrete. Mas não eram só bois que se vendiam na Feira, também se vendiam cavalos e burros, porcos, cabras, ovelhas…Os regatões aproveitavam para vender a criação e os ovos.
Couratos - Hoje
Fritada - Outros tempos
A atração mais popular da Feira eram as barracas de comida, onde se comia a bela da fritada, nesse tempo não havia a ASAE a proibir fosse o que fosse. E nunca constou que alguém tivesse morrido pela fritada ter sido feita ao ar livre, com pó e tudo. As cozinheiras eram especializadas neste tipo de comida, por ser uma tradição; e talvez também pela liberdade de se comer sem preconceitos, sabia tão bem… Ainda hoje em muitos lares da Vila e dos lugares limítrofes se come, no dia 1 de Novembro, a fritada de carne de porco. A água-pé nova era provada sempre na Feira e acompanhava a comida. Muitos, quando regressavam da feira, já não vinham “sozinhos”!...
Frutos secos
Os frutos de inverno, nozes e castanhas, eram vendidos em grandes quantidades. Os sapateiros expunham o seu calçado e os mercadores de fatos prontos a vestir (já os havia nessa altura, mas só nas feiras ou mercados e era produto de qualidade inferior), tinham-nos expostos em cabides, assim como as samarras e as capas alentejanas. A roupa interior de homem, os barretes, chapéus e bonés também eram comercializados. Como tinham acabado as vindimas, e o trabalho de lagar ou estava quase pronto ou já pronto, o povo sempre tinha mais algum dinheirito… Os pais aproveitavam para comprar calçado e roupa para os filhos.
Utensílios de cozinha
Em campo aberto viam-se os cântaros, alguidares e outros artigos em barro, até miniaturas. Os brinquedos à venda eram em madeira ou folha, os únicos que havia na época. Os ouvires expunham os seus ouros em expositores de veludo e presos com alfinetes à lona das barracas… Outros tempos! Lembro-me muito bem do Sr. Batista, um ourives ambulante, que vinha frequentemente à Feira.
O movimento começava de madrugada e acabava já noite escura.
Promoção e negócio

A pouco e pouco foi rareando o gado, as máquinas substituíram os animais, as pessoas começaram a utilizar outros meio de transporte. Os automóveis invadiam a Feira; já na década de sessenta, os autocarros andavam em constante movimento a transportar as pessoas de e para a Feira, e por vezes era mais rápido ir a pé do que de transporte motorizado. Continuou ainda por muitos anos a ser uma feira muito visitada. Hoje é bem diferente, embora se mantenham ainda algumas das características da feira da minha infância. Os vendedores e compradores de hoje é que já não têm nada que ver com aqueles que eu então via, e que faziam da Feira… uma verdadeira feira.
Aceito as mudanças, mas que era muito mais bonita a feira do Almargem… lá isso era.
Maria Alexandrina

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Destaque 6

Estamos a publicar neste espaço pequenos resumos biográficos de pessoas de qualquer idade que, nascidas ou residentes no Sobral, conseguiram que os seus nomes “saíssem” do Concelho, por algum feito realizado no domínio das letras, das artes, da ciência, do desporto. Se não fosse excesso de pretensiosismo, diria que estamos a cantar “aqueles que por obras valerosas se vão da lei da morte libertando”, citando Camões. Mas é isso que desejamos que venha a acontecer… Colabore connosco, escrevendo para sobral.senior@gmail.com indicando-nos o nome e contacto de alguém que julgue merecer integrar esta galeria ou, se for o caso e preferir, enviando-nos a própria biografia.
E o destaque de hoje vai para … 

Filomena Sousa – socióloga, co-autora do “site” Memoriamedia e não só!...

Filomena Carvalho de Sousa nasceu em Novembro de 1972, no Sobral, onde estudou. É filha de Fernando Correia de Sousa, muitos anos carteiro no Sobral, agricultor e fruticultor ainda hoje muito considerado, e de Natália Carvalho de Sousa. Os pais, oriundos de Alenquer, vieram viver para o Sobral, aqui tendo nascido os seus três filhos. Entre 1992 e 1998, Filomena fez a licenciatura em Sociologia no ISCTE – Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, tendo apresentado a sua dissertação do 5º ano e final do curso com o tema “A transição para a vida adulta – os diplomados do ensino superior”, com a classificação de 18 valores.
A partir daqui não é fácil descrever o percurso profissional, académico e social de Filomena Sousa. O currículo completo, até Julho 2010, pode ser visto (admirado!...) em http://www.seradulto.com/dossiers/curriculo%20Filomena%20Sousa%202009.pdf. Seria impossível “meter” tudo aqui neste texto. Entre 1998 e 2001, foi técnica da Câmara Municipal do Sobral, responsável pelas áreas da Juventude e Emprego, tendo lançado o Gabinete de Apoio aos Jovens. E participou activamente na vida social da Vila, designadamente como co-fundadora e dirigente da Juventagraço e depois da UNIR – Associação dos Estudantes Universitários do Sobral, tendo promovido a criação dos grupos de teatro amador destas associações. Interpretou, no Cine-Teatro, o papel de Esmeraldinha, na peça “O Mexerico com Elana Vila de Pimpinela”, da autoria de outra (na altura jovem) sobralense, Sara Lima.
Ao fim de 4 anos, sentiu “falta de mais qualquer coisa”, como diz. Sentiu acima de tudo o apelo das aulas. Entre 2001 e 2010 deu aulas em Escolas ou Institutos Superiores, em Beja, Aveiro e Porto; esteve 2 anos em Paris, no Institut Nacional d’Etudes Demographiques, como bolseira da Fundação Gulbenkian. Em 2009 concluiu o Doutoramento com “Distinção e Louvor”, no citado ISCTE, com a tese, “O que é ser adulto”? – Práticas e Representações Sociais”. Na sua tese, Filomena Sousa propõe uma nova palavra para a língua portuguesa adultez, com significado paralelo a infância, juventude, velhice. E tem-se dedicado à investigação da “Sociologia da Adultez”. Em http://www.youtube.com/watch?v=E4Gzofq0KG0 pode ver um vídeo sobre o tema. Todo este trabalho científico está, claro, alicerçado e retratado em dezenas de Comunicações (em Colóquios, Congressos e Seminários um pouco por todo o País, de Braga a Beja, passando por Vila Nova de Paiva, Ílhavo, Cascais, Setúbal) e de Publicações em Revistas.
Entretanto, tornou-se membro integrado do IELT - Instituto de Literatura Tradicional, da UNL- Universidade Nova de Lisboa. Nesta área, que agora a ocupa quase em exclusivo, é co-fundadora e dinamizadora do site “MEMORIAMEDIA, para divulgação on-line da literatura tradicional, da memória e da cultura popular, com recolha e difusão da tradição oral - cantigas, contos, lendas, anedotas, adivinhas, provérbios, artes e ofícios, histórias de vida, práticas culturais, celebrações, rituaisenquanto parte integrante do Património Imaterial da Humanidade. Pode ver em http://www.memoriamedia.net/historiasdevida/ um Seminário realizado em 2009, integrado nas comemorações do Dia Internacional das Histórias de Vida.
Este projecto, denominado MEMORIAMEDIA e-Museu de Património Imaterial, é prosseguido por uma Cooperativa Cultural, da qual Filomena Sousa é sócia com o marido José Barbieri e outros, em parceria com o citado IELT e apoio da Fundação para a Ciência e Tecnologia, do Ministério da Ciência. Visitar regularmente este site é obrigatório para quem quer mergulhar nas nossas raízes. Conta com uma média de mais de 1 200 visitantes por dia, para mais de 1 400 vídeos editados. Basta clicar http://www.memoriamedia.net/ para, em “Saber(es) e Fazer(es)”, encontrarmos, entre muitas outras pérolas de quase todo o País, o Moinho do Sobral explicado pelo seu operador, Joaquim António Lopes, com entrevista de Filomena Sousa e imagem de José Barbieri; e relatos gravados ao vivo na voz, e imagem, da sobralense (de Fetais) Delfina Cunha, em “Cantos e Contos. Do site, pode seguir para Canal de TV de MEMORIAMEDIA, no MEO,ou clicar para o mural no Facebook.

Entre os projectos em curso, destaco o dedicado à gastronomia tradicional de Alenquer, Arruda e Sobral, que começou com a confecção da “uvada”, no Sobral, desde a vindima das uvas até ao provar do doce… Pode vê-la no Facebook, mais tarde irá para o site. Se neste espaço estamos a divulgar quem, por algum feito, “conseguiu que o seu nome saísse do Concelho, a Doutora Filomena Sousa extravasa largamente esse âmbito. Foi – é um privilégio tê-la entre nós, no blogue e pelo Sobral.

José Auzendo