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terça-feira, 3 de julho de 2012

Os Moinhos de Vento do Sobral


O “magnífico gestor” deste blogue decidiu ilustrar o texto nº 8 da série que publiquei, com a foto do cartaz relativo ao VI Passeio dos Moinhos. Embora já tenha feito esta caminhada várias vezes, e embora viva rodeado de “moinhos” – da minha casa veem-se meia dúzia de estruturas em pedra de antigos moinhos – nunca me tinha feito esta pergunta: quantos moinhos há (ou houve) no concelho do Sobral? Foi precisa a dita ilustração para a curiosidade surgir. Sabe quantos moinhos tem (teve) o Sobral?
A resposta foi fácil de encontrar. Em 2004, a Câmara Municipal editou um livrinho exactamente com um inventário exaustivo dos moinhos existentes. Encontra-o na Biblioteca, aconselho a sua leitura se se interessa pelo tema: dá-nos uma visão breve da história e da importância social dos moinhos, explica o seu mecanismo de funcionamento, descreve o esquema das suas diversas componentes, mostra-nos a sua localização exacta e presenteia-nos com belas fotografias alusivas a cada um deles. Tem, ainda, um itinerário para conhecer de perto a realidade, num dia de passeio em veículo motorizado ou não.
Moinho de Vento do Sobral
Sabe o que é o Capelo? E o Fechal?... E o Soto, o Entrosga, o Cadelo, o Cambeiro, o Urreiro? Se não sabe…O número de moinhos vou revelar-lho; isto não, tem de ir ler o livro…E se julga que sabe o que é um Corvo ou um Bácoro, está enganado/a, só indo ler saberá que não estamos a falar de animais…Ficará ainda a saber que Segurrelha não é a mesma coisa que segurelha e que o Carreto é a peça que transmite movimento à mó, composta por fuzelos…Lindo, não? Eu acho.
Foram identificados e descritos 43 moinhos no Concelho, sendo 24 na Freguesia de Santo Quintino, 12 na Sapataria e 7 no Sobral. Desses, o do Sobral estava activo e 14 tinham sido adaptados para habitação. Os restantes ou estavam em ruínas (20) ou em mau estado de conservação. O do Sobral estava e está activo, vale bem uma visita. No you tube, em” http://www.youtube.com/watch?v=Eex4KekckVw”, pode ver um pequeno mas interessante vídeo dele em funcionamento num dia de vento…
Na Sapataria merecem referência especial, pelas dimensões e estado de conservação, o Moinho Novo e o do Monte Rodinho, ambos propriedade de particulares. Todavia, o mais antigo, com cerca de 220 anos, parece ser o Moinho do Passarinho…
Moinho do Céu
Em Santo Quintino vou destacar o Moinho de Fetais, construído em 1820, propriedade da Autarquia, em razoável estado de conservação, mas parado e fechado, a degradar-se, não? Destaque também para o de Casais do Campo, em Martim Afonso, com um azulejo alusivo a S. Lourenço, datado de 1942. E ainda o Moinho do Céu, que de minha casa vejo todos os dias, vi arder numa tarde de domingo não há muito tempo e onde dou a volta nas minhas caminhadas regulares…Porque sou “suspeito” a falar do Moinho do Céu, vou transcrever o que o livrinho que citei dele diz:Tem um enquadramento paisagístico único e fascinante. Se as condições atmosféricas o permitirem, pode-se apreciar um panorama que se estende pela Lezíria Ribatejana, a Serra de Montejunto e a Serra de Monte Agraço. E esqueceu-se, o livrinho, do mais importante: do Tejo, que lindo é o Tejo visto dali…
Que pena que muitos desses moinhos estejam a desaparecer da paisagem, ou estejam mesmo a desfeá-la! Assistimos, impávidos (?) ao destruir de um dos “símbolos que preenchem o nosso imaginário”, como bem diz o nosso livrinho. Alguns destes Moinhos estiveram ligados ou mesmo integrados nas fortificações das Linhas de Torres, em que bem se tem investido. E os Moinhos, Senhor, porque lhes dais tanta dor, porque os deixais morrer assim? 
José Auzendo

11 comentários:

  1. Olá Professor Auzendo
    De facto os moinhos são um cartão de vizita muito atractivo. Pena é que na sua maioria estejam em ruínas. Uma das minhas paixões paisagísticas deste criança sempre foram os moinhos. E ainda bem que nem todos estão destruídos, pois é um "pequeno monumento" que seria pena deixarv acabar. É um marco dos tempos remotos, de que os nossos antepassados se serviam para fazer a farinha. O seu maquinismo é curioso e para mim, qualquer paisagem que contenha moinhos, é maravilhosa. A modernidade pode ser mais prática, mas os vestígios que ficam do passado é que ajudam a fazer a história.
    E nem de propósito vim juntar-me a uma família de moleiros, pois o avô materno e tios do meu marido, foram moleiros aqui nalguns destes moinhos do Sobral.
    Obrigada por trazer este tema tão bonito e pelas indicações que nos dá.
    Lourdes Henriques.

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  2. No texto o Sr. Auzendo leva-nos a todos os moinhos que existiram no concelho de Sobral de Monte Agraço, dos quais só alguns conheço,
    visitando assíduamente um, perto da minha casa, que a Câmara Municipal em boa hora recuperou e pôs em funcionamento. O mais altaneiro de todos creio ser o Moinho do Céu.


    Na revista "Sobral por um óculo", levada à cena por amadores Sobralenses, no ano de 1946, o II Quadro, intitulado Moinhos, numa homenagem aos moinhos da nossa terra, o refrão era cantado pelo coro, e eram assim os seus versos:
    Moinhos da serra
    Que o vento faz girar
    em redor
    São em toda a terra
    Mensagens de paz
    Do trabalho e do amor.

    Nessa época, todos os moinhos do Sobral estavam em funcionamento, caiados de branco, encapuchados de preto, engalanados no alto das serras, como querendo estar mais perto do céu. Por força do seu engenho e aproveitando o vento, as suas velas brancas, ora abertas
    ora semi-enroladas, giravam no rodopio de uma valsa a dois tempos, característica da nossa região. E lançavam no ar um gemido de dor parecendo, aos nossos ouvidos, a queixa do grão de trigo a ser esmagado.
    A luta pela sobrevivência dos nossos lindos moinhos de vento é tão inglória como as lutas de D. Quixote de La Mancha, de Cervantes, contra gigantes, que afinal eram tão sómente...os belos moinhos de vento
    Maria Alexandrina

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  3. Os moinhos são a imagem de marca do Oeste - ao que dizem é o maior conjunto de moinhos da Europa - deveriam tornar-se num símbolo de interesse cultural e até didáctico.
    Com a paisagem a ser invadida pela nova geração dos gigantescos geradores eólicos, nada deveria impedir a sã convivência entre ambos - novos e velhos só funcionam graças à acção do vento. Os antigos moinhos deviam ser preservados, pois fazem parte da nossa história. Infelizmente não estimamos o que temos, nem os moinhos são caso único…

    Assisto da minha janela à erosão de vários moinhos, como almas condenadas, implantados numa paisagem sabiamente escolhida, onde até se poderiam aproveitar as potencialidades do meio envolvente para fins turísticos. Claro que são propriedade privada, mas ao menos o Moinho do Céu até estava considerado como Monumento de Interesse Local…creio. É obrigatório recuperá-lo.
    Inês

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  4. Próximo da casa onde moro ainda há vários. Não pertencem ao Sobral, ficam já no concelho de Alenquer.Da minha janela vejo três e dizem-me ainda conservarem os apetrechos de laboração. Um, de vez em quando desfralda as velas, sinal de moleiro activo. No mesmo enfiamento cinco eólicas coexistindo. Não me agride esta coexistência.

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  5. Depois de ler o artigo do amigo Auzendo sobre os nossos moinhos, comecei a recordar o Sobral de há 60 anos. Ir ao moinho (o do Sobral) era um passeio ao campo, pois na época ficava fora da vila, lá no alto do monte rodeado de vinhas e hortas.

    Era por um caminho estreito e de pedras que o senhor António, o moleiro, como era conhecido, o ia pôr a trabalhar, ouvindo-se na vila o canto das velas. Hoje existe só um, mas na época eram dois, quase juntos, tal como os seus donos, que eram irmãos.

    Mas como na vida há os felizes e os infelizes, hoje um moinho ainda canta quando o põem a trabalhar, o outro passou de dono, que o transformou em garrafeira e sala de visitas, rodeado por uma fortaleza. Presentemente está desabitado, e assim perdeu o encanto.

    A vila cresceu e o nosso moinho está junto do casario. Obrigada Auzendo. Hoje deu-me a sensação de ouvir o canto do moinho do senhor António moleiro, um homem muito bom.

    Lisete Corado.

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  6. Desculpe professor Faria, mas eu volto a escrever porque depois me lembrei de muitas coisas que gostava de transmitir…

    Devido aos anos que possuo, e já são alguns, tenho recordações espalhadas por vários lugares da minha terra. E o lugar do Pé do Monte, onde se situa o Moinho do Céu, foi por mim muitas vezes visitado. Ali sentia-me muito feliz. As minhas melhores amigas de infância, da juventude e agora da terceira idade, são três irmãs que viviam naquela aldeia, apenas com uma rua, mas com uma paisagem maravilhosa, e então junto ao moinho, na altura ainda activo, era de beleza sem limites, e eu só pensava: ai se eu soubesse pintar, ai se soubesse transmitir o que sinto. Foi e continua ser a minha pena, não conseguir transmitir o que sentia, o que sinto.

    Era uma festa quando as amigas do Sobral eram convidadas pelas irmãs Ruchas para fazermos um piquenique no Moinho do Céu, ou irmos aos bailaricos na época dos leilões no Pé do Monte. Actualmente, estamos longe umas das outras, mas a amizade mantém-se. Quando há oportunidade ainda nos juntamos: quando isso acontece é uma risota, há sempre coisas a recordar.

    Tenho pena que as minhas amigas não tenham interesse na Internet, seria uma conversa constante. Assim é ao telefone. Eu não tenho cura possível, sou uma saudosista dos momentos bons, das emoções que senti, dos amigos que perdi. E do Moinho do Céu que ardeu.
    Lisete Corado

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    1. Ora, ora, D. Lisete, parece que o artigo da pessoa a que a chama de "amigo Auzendo” teve o condão de lhe pôr a cabeça à roda, tal qual um moinho de vento. Com amigos destes…
      Mais uma rabanada de vento e ainda sai mais uma história… espero. Lá diz o ditado que não há duas sem três. E pelos vistos recordações não lhe faltam…
      Inês

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  7. HAYDÉE AGUIAR 7 de JULHO DE 2012

    Tive o privilégio de viver há cerca de três décadas,num moinho, num lugar chamado Santa Suzana, perto da Praia do Carvoeiro a caminho da Ericeira.
    A vibração, ao contrário do que se pode imaginar é de paz e grande tranquilidade. As janelinhas pequeninas, com cortininhas de chita colorida, contrastando com os rasgos actuais nas paredes das nossas casas, conferiam-lhe aconchego. Foi uma alegoria com alegria aquela época da minha vida. E no exterior ainda tinha espaço para cultivo biológico e flores.
    Hoje vaguemos o olhar pelos nossos e pelos moinhos na Holanda, incrustados em campos verdes e multicoloridos.
    É sempre bom passar pela vida e não que a vida passe por nós.
    E como diz Agustina Bessa Luis, «já nasci velha, mas hei-de morrer criança». É sempre bom viajar no tempo.
    Haydée

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    1. Pois é, D. Haydée (para os menos avisados este nome é mesmo de uma portuguesa, nascida e criada em Lisboa, filha de gente portuga bem conhecida na época) agrada-me que tenha satisfeito a "cunha" que lhe meteram (mulheres, bâ...)para visitar o "nosso" blogue (sim, também é seu, por muito que vá fugir dele). E logo, disto eu não sabia, tendo vivido num moinho, também aqui no Oeste...

      O que a senhora não talvez não saiba, é que os moinhos (noras) holandeses que ainda existem, até são, nalguns sítios, património da Humanidade/UNESCO,
      porque os miseráveis dos holandeses não têm dinheiro para substituir aquelas velharias do tempo do menino jesus por modernas bombas eléctricas, submergíveis e tudo, e silenciosas, como nós já temos em Portugal...Quer a senhora comparar uma moagem industrial em betão com um moinho de vento no cimo de um monte? Ora, ora...

      José Auzendo

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  8. HAYDÉE AGUIAR 8 DE Julho de 2012

    Sabia, sim senhor, que alguns são património da Humanidade ( na bela e inconfundível Holanda). Vivi
    em Bruxelas e passeava até lá, pois apesar de ser
    junto a Holanda, há uma diferença grande como cultura, política e postura dos seres humanos.
    Só não estou de acordo que eles não têm dinheiro...mantêm é no entanto a tradição e a beleza da paisagem. São um povo bastante campesino a par com as dualidades pelos exageros...uiui.

    Haydée Aguiar

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  9. Também podem ver um curto documentário sobre o Moinho do Sobral em

    http://www.memoriamedia.net/central/index.php?option=com_content&view=article&id=1478&Itemid=1313

    Espero que gostem.
    Filomena Sousa

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