O
dia 14 de Julho é mundialmente famoso porque nele se evoca a “Tomada
da Bastilha”, em Paris, no ano de 1789, no âmbito da Revolução
Francesa, que ainda hoje modela o nosso viver: a noção, até aí
“inconcebível” e proibida, de Liberdade, Igualdade, Fraternidade
cimentou-se nesse dia em França e começou a espalhar-se pelo Mundo.
No
Sobral, o 14 de
Julho é importante porque
nele se comemora o
aniversário do Rancho
Folclórico “As Cerejeiras
de Fetais”, que
para o efeito organizou
o seu tradicional Festival
de Folclore, com a participação, além
dele próprio, do Grupo de Danças e Cantares de Cortegaça, Ovar, do
Rancho Regional de S. Salvador de Folgosa, Maia, do Rancho “Os
Saloios” da Póvoa Galega, Mafra, e do Grupo Etnográfico de Danças
e Cantares do Minho, de Lisboa. (É, trata-se de um “grupo de
minhotos residentes em Lisboa e tem como objectivo recolher,
preservar e divulgar a cultura tradicional minhota”- conforme
consta do Programa das festas).
As
celebrações, no caso do 28º aniversário, começaram no dia
anterior, sexta-feira à noite, com quermesse e a sempre presente,
todos os anos, “largada de vacas”, não bem à moda de Pamplona,
mas numa arena construída para o efeito ao lado da bonita capela de
Fetais: é uma forma de os mais jovens mostrarem a sua capacidade de
fuga perante as investidas das ditas.
No
dia principal, tudo começou com uma sessão solene, ao fim da tarde,
para dar as boas vindas aos grupos visitantes. Aproveitou-se
a oportunidade para
recordar um pouco do
passado das “Cerejeiras”,
da sua história e
das suas gentes. Tocante
foi a homenagem a
uma família de quatro
(!...já veremos) gerações
de inveterados participantes
do Rancho, desde a
sua fundação: a D.
Maria Amélia Brito, mãe,
avó e bisavó, a
D. Cristina Félix, filha,
Tiago Pereira e Hélder
Silva, filhos desta, e
a Camila, bem “saliente
“ali na barriga da
futura mãe. A Camila Pereira vai ver
a luz de Fetais no “interior do rancho”, como dentro do rancho
“nasceu” o casamento de que ela é (será ainda este mês de
Julho) resultado visível: a mãe, Cristina Caseirito, é dançadora
no grupo desde tenra idade.
Pelas
21,30 iniciou-se o Festival propriamente dito, com um “desfile
etnográfico”, que foi antes a recriação, representada ao vivo
pelas “Cerejeiras”, em trajes e com utensílios da época,
daquilo a que chamaram o “ciclo do trigo”: o amanho
da terra, a sementeira,
a colheita, a debulha,
a escolha do grão,
a moagem no moinho
de vento, a distribuição
da farinha pelo moleiro,
a preparação da massa
para o pão e
a cozedura deste no
forno de lenha: tudo
ali à frente dos
nossos olhos… em meia
hora mágica…com as pessoas em seus
labores a conversarem como se estivessem (estivéssemos) no século
XIX ou início do XX.
Seguiu-se
a actuação dos cinco ranchos folclóricos, numa demonstração viva
de cultura tradicional popular, que se prolongou por cerca de três
horas. Comentar essas actuações não teria cabimento aqui, havendo
só a dizer que todas foram generosamente aplaudidas pelo muito
público que encheu o recinto ao ar livre.
Destaco
a amizade que todos os grupos, de tão diferentes pontos do País,
demonstravam entre si. E o apreço
com que todos se
referiram ao trabalho
desenvolvido pelas “Cerejeiras”…
do Sobral … por esse
País fora e no
estrangeiro. Destaco, também,
o espírito de família
que os elementos do
Rancho de Fetais mostram
possuir em todos os
momentos: realce para o Presidente do Rancho, Henrique
Ganchas e para o ensaiador, Marino Maurício, que também faz anos a
14 de Julho e foi alvo de significativa homenagem.
No
Sobral há outro “Rancho”. É o Grupo de Danças e Cantares de
Seramena, que organiza, no dia 28.7, o seu 28º Festival Nacional de
Folclore, na praceta 25 de Abril, a partir das 21,30. Lá chegaremos.
Por agora, parabéns
a Fetais, às
suas “Cerejeiras”,
às suas
gentes.
Mais fotos: As Cerejeiras de Fetais
José
Auzendo
Boa tarde Professor Auzendo
ResponderEliminarMais um dos seus interessantes e preciosos textos em que nos mostra as tradições desta terra desde há longa data. O folclore faz parte do nosso Património Cultural e é sempre bom haver quem o divulgue e não deixe perder, para que não se perca a pouco e pouco a nossa identidade. Quanto à harmonia entre os vários grupos fico contente por saber que afinal ainda vamos tendo coisas muito boas e que os valores humanos continuam. Nem tudo é mau, nem tudo é negativo, e são estas coisas positivas e a amizade entre as pessoas que nos vão ajudando a pensar que, afinal, ainda é possível ter esperança num mundo melhor!
Obrigada por tudo o que nos tenta transmitir e pelo seu grande contributo ajudando a divulgar um Património que, se não tiver alguém que o "agarre" acabará por ficar esquecido no tempo ... Bem-haja.
Um abraço
Lourdes.
Que data bonita para o nascimento do Rancho Folclórico "As Cerejeiras de Fetais", 14 de Julho: creio que todos ali se regem pelo modelo que nos foi transmitido pela Revolução Francesa.Todos os princípios ali estão bem visíveis: uma das fundadoras, D. Maria Amélia Brito, com 4 gerações representadas, define bem o princípio da Fraternidade; os dançarinos e músicos, lidando uns com os outros em uníssono, representam o princípio da Igualdade; enquanto dançam e cantam libertam-se e aí está representada a Liberdade.
ResponderEliminarPelo que descreve o Sr. José Auzendo (com uma esclarecedora reportagem), o festival terá sido muito diversificado, folclore para todos os gostos, porque estavam Ranchos Folclóricos e Grupos representativos de diversas Regiões do País.
Parabéns ao Rancho Folclórico "As Cerejeiras de Fetais" por mais um aniversário, e àqueles que um dia se lembraram de que, em redor de Fetais, havia muitos "cerejais", onde moças e moços se deslocavam para a apanha da cereja. Investigaram trajes, cantigas e danças e, da sua vontade, nasce o Rancho que comemorou 28 anos, e que hoje está com certeza mais forte e pronto para continuar..
Maria Alexandrina
Muito obrigada ao Sr. José Auzendo por se ter interessado por nós e por ter feito este registo tão pormenorizado e bem refletor do que realmente sucedeu na nossa Festa.
ResponderEliminarAgradeço ainda em meu nome e em nome do Rancho Folclórico As Cerejeiras de Fetais, os comentários das Sras. Lourdes Henriques e Maria Alexandrina.
É com muito gosto que apresentamos o resultado das nossas pesquisas e das nossas recolhas quer a nível folclórico como etnográfico, das danças e cantares, usos e costumes dos nossos antepassados, das nossas gentes. Enche-nos o coração de alegria poder observar que o nosso trabalho é apreciado pela população que crescentemente vai aderindo aos nossos festejos e nos vai seguindo país fora nas nossas actuações.
Como deverão saber, nem sempre é fácil gerir toda a logística bem como tentar atender a todas as necessidades que o grupo tem, trabalhamos com pessoas e por vezes surgem alguns contratempos, que felizmente temos conseguido superar e tornar-nos mais fortes.
Quem nos visitou pôde observar que o nosso grupo é bastante jovem, quer em idade quer em espírito, e que realmente o respeito, a amizade e a entreajuda são dos valores mais visíveis e que desde cedo gostamos de incutir nos nossos elementos.
Não querendo ser maçadora, gostaria de agradecer mais uma vez a todos pela vossa participação na nossa festa e por seguirem o nosso trabalho.
Poderão ainda ouvir a nossa entrevista com a rádio Oásis publicada no youtube.
Cumprimentos a todos
Hortense Bogalho
Rancho Folclórico As Cerejeiras de Fetais
Registo com agrado a sua participação neste blogue, mas "devolvo" com prazer os agradecimentos. Não é para nos agradecerem que mantemos este blogue: é para termos uma participação mais activa no dia a dia, e para arranjarmos companheiros que connosco queiram partilhar aqui experiências.Se der uma vista de olhos pelo "blogue abaixo" verá que a minha última contribuição foi sobre os "Moinhos de Vento do Sobral"...e não poderia estar à espera de que eles me agradecessem. Que têm os Moinhos a ver com as Ceifeiras? Tudo: existem no Sobral, são uma marca do Sobral, devem continuar a existir, merecem que as pessoas, nós, pensemos neles, nos orgulhemos deles...Ou que os critiquemos se for isso que nos parecer necessário..."Critiquei" os Moinhos por estarem a deixar-se morrer...lamentei que o Moinho de Fetais esteja fechado.
ResponderEliminarComo escrevi num mail à Cristina Félix, eu gostava de ter escrito o dobro das palavras sobre o que foi a minha vivência das quatro vezes que estive entre vós nestes dias. E falaria, sim, da vossa juventude (sem aspas nem outros qualificativos), da vossa alegria e do prazer com que vos vi fazer tudo, da vossa capacidade de chorar em público, do que nem imagino o que foi prepararem tudo (essa de um palco/campo de trigo ou de batatas no meio de uma praceta empedrada é só uma coisa única, mais um Moinho, mais um forno cozendo pão) e que os leitores do blogue menos ainda imaginam. Gostva de também ter trazido isso para aqui. Mas tive que parar...para não cansar.
E agora também tenho que parar aqui, se não!... Quem sabe o gestor do blogue não me autoriza a publicar um novo texto, desta vez mais pessoal...
José Auzendo
"Respondo" a mim próprio, para fazer uma correcção: no primeiro parágrafo, onde está "as Ceifeiras" deve entender-se "As Cerejeiras"...Desculpem o lapso.
EliminarJosé Auzendo
Parabéns ao rancho folclórico, as cerejeiras de fetais por celebrarem mais um ano de existência. E a todas as pessoas que fazem parte deste grupo. Que desenvolvem os aspetos culturais da comunidade em que estão inseridos.
ResponderEliminarAo professor Auzendo muito obrigado, por nos ter informado como foi bonita a festa do aniversário do rancho etnográfico as cerejeiras de Fetais.
Um abraço
Mariana
Já tinha visto actuar o Grupo das Cerejeiras de Fetais. Fetais, para mim, era uma terra de passagem, com uma única rua, ainda por cima em mau estado de conservação, aquilo que ao passar me chamava a atenção era a sua igrejinha, à qual tirei várias fotos, por estar sempre muito bem cuidada e com uma construção diferente do habitual. E era só.
ResponderEliminarAté que, no passado dia 14, tive o privilégio de assistir à sessão solene de boas vindas aos grupos e demais convidados, e não deixei de me emocionar ao ver tanta gente e de todas as idades – agradou-me especialmente a quantidade de jovens envolvidos. A sessão resultou num convívio salutar e fraterno, onde o Presidente do grupo, dando largas à emoção e alegria, entre risos, lágrimas e uma boa dose de humor, conduziu a sessão de forma despretensiosa e sem grandes discursos, em que todos os que trabalham, colaboram e apoiam foram devidamente homenageados.
De realçar: o filme apresentado, recordando a actividade das antigas lavadeiras, o tema do aniversário anterior; o cuidado na feitura do programa e na construção do palco - não se limitaram a colocar um palanque - eles recriaram todo um cenário próprio da época. Em tudo mostraram que são um grupo que trabalha com prazer e imaginação, dando aquilo que de melhor tem para dar, para manter actuais as tradições e a memória de uma cultura secular, que lhe confere uma identidade muito própria.
A todos, sem distinção, os meus parabéns.
Inês Bexiga
Boa reportagem, a deste grande jornalista. Se não é, passa a ser, eu por mim vou elegê-lo para que continue a dar a conhecer os valores do meu Concelho, muitas vezes desconhecidos da maioria das pessoas. É de pessoas assim que o País precisa. Uma sugestão: que tal um jornalinho? Imparcial, com histórias, opiniões, notícias do Concelho do Sobral. Conheço outros homens e mulheres com capacidade para isso. Em 1924 tínhamos um jornal, porque não em 2012?
ResponderEliminarO grupo de dança de Fetais bem merece ser elogiado e divulgado: gente que ao fim de um dia
de trabalho, ainda tem energia para tanta canseira que os ensaios requerem. Parabéns pelo vosso aniversário.
Lisete corado
Muito Obrigado Sr. José Auzendo.
ResponderEliminarFoi com prazer que me cruzei consigo, que tentei responer a todas as suas questões.Agradeço as suas palavras,eu tenho muita admiração por si,e quanto mais o conheço, mais o sinto.
A sua capacidade de passar aqui o que foi nosso fim de semana,tão bem e sem se alongar como fala muitas vezes.
Fico satisfeita por ter me dado a conhecer este bolg, já li algumas publicações e gostei, da forma como aqui se descrevem várias situações.Irei de certeza ser mais uma leitora assidua.
Já devia de cá ter passado a deixar meu testemunho, mas tenho um bom motivo(para mim eheh) a Camila já nasceu.È com orgulho que pertenço a este grupo, assim como minha familia,pois iniciei como bailadora,fiz muitas apresentações do grupo em palco, cantei muita canção. Hoje por ter de optar por outro caminho,estou muito mais ausente, mas a ausencia não tira a amizade, o carinho que temos entre nós.Muito eu poderia aqui escrever, mas como coméntario já vai longo,não!!!!!!!!!!!Desejo felicidades a todos os participantes e leitores deste bolgue.Bem hajam até sempre
A Maria Amelia Brito, não tem computador, a filha levou para ela ler este belo texto, que el ia lendo e as lagrimas lhe brilhavam nos olhos.Adorei dizia ela.
ResponderEliminarEste Sr. Fez um trabalho, que nos dignifica.Sr. Jose Auzendo os parabéns da Amelia Brito
Claro que só posso sentir-me bem com o que escreve, D. Maria Amélia. Com o que as outras escreveram também, claro. Mas consigo é diferente. Basta lembrar-me de que, dias antes, fez de minha polícia, andou-me seguindo pelos quintais dos seus vizinhos, tirou-me a matícula do carro, não fosse eu ser um assaltante de pastinha a tiracolo...Nunca entendi por que embirrou com a minha pastinha...E depois, sem eu conhecer as suas perseguições, abriu-me as portas de Fetais...
EliminarE pôs-me a "anunciar ao mundo" a sua bisneta. Parabéns à bisavó, à avó, à mãe (de que só vi a barriga no meio das pessoas) e ao pai que tornou público o historial (afinal tão simples) daquele casamento: a dançar se conheceram, a dançar se amaram, a dançar se amam. Foi tudo lindo. Até as lágrimas. Continuem.
José Auzendo