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quinta-feira, 19 de julho de 2012

A Banda Filarmónica do Sobral


Ao tomar conhecimento de que o Governo ia abolir o feriado do de Dezembro, dia da Restauração da Independência de Portugal, veio-me à lembrança a nossa Banda, que todos os anos nos acordava na madrugada desse dia tocando um Hino, e a quem nós, Sobralenses,agradecíamosabrindo as janelas, e escutando. Desafiei o Manuel Mota Luís, que foi músico muitos anos da Banda Filarmónica do Sobral, e, juntos, resolvemos contar aqui coisas que sabemos.
Muitos jovens, e alguns moravam a três ou quatro quilómetros de distância da vila, depois de um longo dia de trabalho, deslocavam-se a para fazerem o ensaio semanal: prestamos homenagem a estes rapazes voluntários, movidos apenas pelo gosto de aprender a arte do solfejo e, mais tarde, terem um instrumento musical e uma farda para se exibirem nas festas, quase sempre religiosas. Diz o ditado quequem corre por gosto não cansa, e estes jovens, e outros menos jovens, levavam o nome de Sobral de Monte Agraço, de terra em terra, onde iam actuar.
Pelos programas das Festas e Feiras de Verão, que consultámos, pudemos observar que, em 1953, a Banda actuou com o nome de Banda Municipal; em 1954 a não actuou; e voltou a actuar em 1955, com o nome de Banda dos Bombeiros Voluntários de Sobral de Monte Agraço. De facto, em Outubro de 1954, após conversações entre a Câmara e os Bombeiros, foi decidido em Assembleia Geral que os Bombeiros Voluntários tomassem conta da Banda.
Contou-nos um amigo que, um dia, a Banda foi tocar às festas da Senhora dos Milagres, tinha chovido e os caminhos estavam enlameados, fazendo grandes sulcos no terreno; o músico do bombo, com aquele grande instrumento musical, não se apercebendo de uma regueira, enterrou-se até aos joelhos. Mesmo enfiado no ventre da terra, e enquanto um grupo de homens o içavam, o músico não deixou demartelaro seu bombo e ninguém se apercebeu do sucedido. Um voluntário cheio de profissionalismo...
A Banda teve alguns maestros de fora da vila, mas teve sempre a acompanhá-la, ora tocando, ora escrevendo partituras, ora ensinando solfejo, o Senhor António Marques Serreira, um homem de corpo inteiro, dedicado às associações da vila, principalmente à Banda, por isso aqui lhe prestamos, também a ele, a nossa homenagem póstuma: barbeiro de profissão, fazia da barbearia a sua sala de música e era habitual ouvi-lo a tocar o seu saxofone. Senhor Serreira, acreditamos que os Sobralenses lhe estão muito agradecidos.
O solfejo era ensinado pelos músicos mais velhos aos que começavam. E aqui temos que falar também na família Libânio, grandes músicos da terra e, mais tarde, em Delfim Vicente: todos contribuíram para o sucesso da Banda.
No dia 26 de Agosto de 1956, a Banda sofreu um grave acidente: a camioneta de caixa aberta que transportava os músicos, também transportava os foguetes para a festa onde iam actuar, na Abrigada. Pararam para deitar uns foguetes, as faúlhas cairam nos outros foguetes que estavam na camioneta, a explosão aconteceu. Os músicos mais novos, que iam na frente da carrinha, foram os que mais sofreram, muitos ficaram muito feridos, alguns foram expelidos e atirados a alguns metros de distância. O jovem Artur Manuel, com cerca de dez anos de idade, esteve entre a vida e a morte, sofreu queimaduras graves na cara e no corpo, que ficaram visíveis para o resto da vida.
Com o passar dos anos, com as oscilações que a banda ia sofrendo e com as modificações sociais, também elementos femininos passaram a ser integrados no seu seio. Ainda nos anos oitenta havia a escola de música, de onde surgiram alguns músicos/as que fizeram da música a sua carreira profissional. Segundo se falou na altura, devido a falta de dinheiro para renovar instrumentos e fardamento, chegou o seu fim, e ficou mais pobreSobral de Monte Agraço.
Tudo o que aqui foi relatado é do nosso conhecimento pessoal, ou soubemo-lo através de ex-músicos; tentámos por outras vias procurar um historial mais profundo. Como nada registado, desafiamos quem saiba mais que escreva para o nosso blogue, para que fique registado e não se perca para sempre o que outros lutaram por manter: a Banda dos Bombeiros Voluntários de Sobral de Monte Agraço.

Maria Alexandrina Reto
Manuel Mota Luís

16 comentários:

  1. gostei do comentário sobre a nossa banda,mas ha uma pergunta que faço a mim pro-pia ha muito tempo.Se alguém souber,eu agradecia O que foi feito das fardas e dos instrumentos musicais?

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  2. É a biografia possível da banda dos bombeiros voluntários de Sobral de Monte Agraço narrada por Maria Alexandrina. Depois de uma rigorosa investigação (em que o meu marido também participou) sobre a banda, sei que deu muito trabalho recolher elementos reais sobre esta banda, que deixou de existir há muito anos. Algumas das personagens que faziam parte deste grupo já não estão entre nós. A minha querida colega Alexandrina fez a descrição dos factos com o máximo rigor, pelo que o seu trabalho está de parabéns. O meu marido também era um dos músicos e também estava presente no dia do trágico acidente em que ouve feridos, e alguns com gravidade, mas felizmente ao meu marido não aconteceu nada.

    Beijinhos da colega.
    Mariana

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  3. Mais uma revelação importante àcerca do Património Cultural desta terra. É pena que não haja quem tenha "garra" e condições para poder reactivar a actividade desta Banda, pois é sempre uma mais valia para os locais terem a sua Banda de Música própria. Além de ser bom para a própria localidade, seria uma maneira de cativar os jovens, ou os aposentados com conhecimentos para tal, e que
    ainda estejam activos, ocupando-lhes os tempos livres com uma actividade sã. Por outro lado seria um entendimento intergeracional que proporciona sempre muita aprendizagem.
    Será que há por aí alguém com conhecimentos suficientes e boa vontade bastante, para empreender uma missão destas? Fica aqui o desafio.
    Obrigada por mais esta partilha.
    Lourdes.

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  4. Boa noite colega Lisete.
    Gostaria de lhe poder dar uma resposta concreta à pergunta que a senhora fez sobre as fardas, e dos instrumentos musicais, da banda dos bombeiros voluntários da nossa terra.
    Perguntei ao meu marido, se ele sabia onde podiam estar guardados os instrumentos musicais. As fardas eram dos bombeiros, e os instrumentos talvez estejam guardados no cinema. Mas fica a pergunta no ar, se alguém souber onde possam estar guardados agradecíamos que Nos informassem.
    Boa noite a todos os leitores deste blog .
    Até breve

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  5. Boa noite colega Lisete.
    Gostaria de lhe poder dar uma resposta concreta à pergunta que a senhora fez sobre as fardas, e dos instrumentos musicais, da banda dos bombeiros voluntários da nossa terra.
    Perguntei ao meu marido, se ele sabia onde podiam estar guardados os instrumentos musicais. As fardas eram dos bombeiros, e os instrumentos talvez estejam guardados no cinema. Mas fica a pergunta no ar, se alguém souber onde possam estar guardados agradecíamos que Nos informassem.
    Boa noite a todos os leitores deste blog .
    Até breve
    Mariana

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  6. Não sou, aqui no Sobral, do tempo da Banda, mas não deixa de ser estranha esta aparente ausência de elementos sobre ela, especialmente quando se sabe, pelo documento encontrado e fotografado no texto, que ainda em 1987 estava pujante: tão pujante que até organizou um "Encontro de Bandas"...Era a Banda dos Bombeiros, os Bombeiros do Sobral até têm o seu museu, mas da Banda parece que nada. Nem fardas, nem instrumentos, não é, D. Lisete?

    Quanto aos apelos e desafios, esses vão ter a mesma "sorte" que outros já feitos neste blogue: estamos de férias, ou em crise, ou bem instalados na vida, nada de muitas ondas. Não somos todos Fetais, nem Seramena,(nem mesmo Sapataria, parece).

    José Auzendo

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  7. Através da pesquisa que efectuei para escrever o texto, fiz a mesma pergunta. Onde se encontrava o espólio da Banda? Os instrumentos que se encontravam em condições de ser utilizados, que não eram muitos, foram oferecidos à Escola de Música da Sapataria, Num incêndio que deflagrou na arrecadação do cinema, desapareceu todo o arquivo da Banda e também se estragaram alguns instrumentos.Porém, tive conhecimento de que um músico da nossa terra adquiriu há pouco tempo uns instrumentos, amolgados e bastante estragados, para recuperação.Quanto às fardas, não sei nada.

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  8. Parece que o "mistério" dos instrumentos já está mais esclarecido, se calhar já nem é mistério: foi útil este esclarecimento da D. Alexandrina. E se alguns instrumentos foram oferecidos a uma Escola de Música, melhor fim não poderiam ter tido. Na Sapataria..., claro. As fardas talvez bastasse ter-se guardado duas ou três como testemunho, talvez não fosse viável, nem útil, guardar tantas dezenas de peças de roupa, agora já "fora de moda", se se pensasse em reactivar uma nova Banda.

    Resta, creio, e também já me tinha empenhado em saber disso, o espólio fotográfico e documental: o documento já citado do "Encontro de Bandas" é pertença da D. Alexandrina, e foi encontrado por acaso no sótão, segundo me disse. Mas devia haver outra documentação, pelo menos nos Bombeiros...E se calhar há! Por exemplo, quantos elementos foram ao longo dos anos compondo a Banda, suas idades, maestros...

    E resta a "miragem" de uma nova Banda...Talvez na Sapataria!...

    José Auzendo

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  9. Obrigada D. Alexandrina pelo esforço que tem feito em mostrar-nos a história do Sobral. Mas vou ficando cada vez mais “intrigada”, sem saber por onde anda o orgulho dos Sobralenses – tirando o que aqui se escreve, graças à carolice de “sempre os mesmos”, aqui nada se passa, nada interessa, nada se sabe…Parece que já tiveram “tudo”, mas não conseguem reerguer nada. No mínimo, estranho! Por esse país fora assistimos ao ressurgimento de Bandas, grupos de teatro, recolhas de usos e costumes antigos… em grande parte por jovens, devidamente enquadrados, a quem os mais velhos passam o seu saber e de que todos se orgulham. Ou seja, há vida colectiva, em comunidade, dinâmica social. Sente-se isso por cá, fora das mesas dos cafés? Não vejo e tenho pena.
    Inês

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  10. Não conheço a Senhora e tenho pena mais uma vez lhe dou razão. Cá ninguém se preocupa com a comunidade, à muita solidão nestas terras só aqui leio coisas interessantes sobre esta terra e continuo a aprender e até me fazem companhia pois não frequento os cafés. acho que se podia fazer mais mas é muito egoísmo e quem está bem não se lembra de quem precisa. Desculpe e obrigado.
    Adelaide

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    1. D.Adelaide, fiquei muito sensibilizada com o seu comentário, também eu teria muito prazer em conhecê-la. Um dia … quem sabe?
      Não sou natural do Sobral, vivo cá – não propriamente na vila, gosto de viver cá e por cá vou tentando ter alguma participação na comunidade. Este blogue tem, de facto, dado a conhecer interessantes histórias de vida e histórias da terra que pareciam estar arredadas da lembrança dos Sobralenses.
      Fico contente por sabê-la leitora atenta, suas palavras serão certamente um bálsamo para as pessoas que mantêm o blogue activo. Eu também sou leitora atenta e gosto de comentar o que leio e gostava que a D. Adelaide o fizesse mais vezes.
      Inês

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  11. Parabéns à autora do artigo e ao trabalho de investigação feito pela equipa, que muito enriquece todos aqueles que se interessam pela história desta vila. As Bandas filarmónicas sempre foram, e ainda são, uma referência nacional a nível musical. Muitos dos músicos profissionais do nosso país começaram os seus estudos nas Bandas da sua região. Pena que se tenha uma memória tão curta e que se viva de "modas".
    Há pouco tempo assiti a um ensaio do coro "Gente gira" e fiquei muito impressionada com o trabalho sério e motivante que estão a desenvolver.Porque não abrir uma aula instrumental?
    Marina Henriques

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    1. Pois é, Marina, a memória é curta, passa tudo tão depressa que nos vemos aflitos para acompanhar a “moda”. Banda Filarmónica? Coisa pirosa! Mas de repente lembrei-me que a culpa talvez seja dos instrumentos – não acompanharam o marketing - pouca publicidade, marcas antiquadas, desconhecidas…Um saco!
      Que tal um Piano da Nike, um Acordeão da Adidas, uma Flauta da Prada, um Saxofone da Benetton e por aí afora?… Estas marcas, sim, nós exibimos com muito orgulho, pagas a preço de ouro; estas marcas que dão tanto status e, ainda por cima, não brincam em serviço (publicidade)… Quem sabe a “moda” pega? Olha: o meu piano é… o meu acordeão é… e talvez a “malta” fosse na onda e animasse.
      Ah! A não esquecer também a roupinha.
      Estou a brincar, mas não muito… alguém tem ser optimista!
      Inês

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  12. Começo por dizer à D. Inês e à D. Marina que não me devem agradecer por lhes falar da Banda, porque foi com prazer que o fiz. A minha grande frustração é pensar, que embora fale, nada se resolve A Banda como tudo o que faz ou fez, parte desta Terra, estão no meu coração e sinto uma grande nostalgia, por se estar perdendo tanto da nossa tradição.
    Acabou a banda por falta de dinheiro, mas também compreendo que é muito mais difícil cativar os nossos jovens, eles têm uma vida mais preenchida (com coisas às vezes, muito menos interessantes) mas que os distrai. Saem cedo da vila para ir para os Colégios ou para as Universidades, não estão tão radicados na sua terra, digo... que não se enraízam.
    Se houver alguém disponível,para ensinar, porquê não tentar...
    A todos os que participaram com os seus comentários, eu é que lhes agradeço, por estarem atentos ao que se passa no nosso blogue.
    Um abraço
    Maria Alexandrina

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  13. Vou aqui contar uma história relacionada com a banda e com o meu marido.
    Andava a aprender música assim como o Manecas o António José e o Néu. Tenho uma fotografia que confirma o dito.
    O meu marido não era capaz de andar e tocar ao mesmo tempo. Então o mestre da banda, talvez para o não desmotivar sugeriu que num lº
    de Dezembro ele participasse no desfile. Assim ele lá seguiu na banda mas com o instrumento tapado. Ele contava este episódio com muita graça e os nossos filhos riam muito. Manuela

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  14. Fiz alguma investigação e cheguei à conclusão que a história dos instrumentos da banda é um pouco complicada. Disseram-me que os ditos instrumentos fazem parte do espólio dos Bombeiros Voluntários, o que é bom. Mas são só alguns, porque os outros, tal como: Flautas transversais, clarinetes ...... ficaram em poder dos próprios musicos que os tocavam, o que é mau. Seria interessante fazê-los voltar ao local próprio, ou seja, aos Bombeiros Voluntários, mas como? Não sou eu quem vai levantar essa lebre. Também me disseram que alguns foram emprestados à Freguesia da Sapataria. Para quê?
    Nestas coisas é sempre muito melindroso mexer-se...... Portanto fica aqui o desafio, quem quer achar os instrumentos?
    Não contem comigo, problemas já tenho alguns, não quero mais, obrigada.
    Gostei muito deste trabalho da Maria Alexandrina, tal como gostava muito da Banda do Sobral. Obrigada por me teres feito recordar as manhãs, ainda noite, em que me punha à janela a ver a banda passar.
    Mimi

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