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quarta-feira, 20 de junho de 2012

Um Sobralense


No dia 17 de Novembro, completaram-se 40 anos da morte de Matias Luís Ferreira, mais conhecido por Matias Flor, homem íntegro, de um querer e com muita vontade de mudar o Mundo. Uma grave e fulminante doença arrancou-o do convívio da sua família e dos seus amigos, que ficaram mais pobres e bem mais tristes. Estou habilitada para afirmar que era um bom homem, amigo do seu amigo, respeitador e respeitado, e sobretudo solidário. Estimava e defendia da melhor forma todas as colectividades da vila. Foi bombeiro voluntário da Associação dos Bombeiros Voluntários do Sobral durante vinte e seis anos; contudo, a sua grande paixão desde sempre foram as Festas e Feira de Verão do Sobral.
No jornal do Sobral “Sizandro”, de Dezembro de 1971, em primeira página, pode ler-se - ” Um bom Sobralense que desaparece: Morreu Matias Luís Ferreira (Flor) ”, tendo em destaque uma sua fotografia. Todo o artigo, assinado por J. Campino, se reveste de uma verdade e uma descrição pormenorizada da vida deste grande homem. Não sei se alguma vez agradeci ao João toda a amizade que dedicava ao meu padrinho, faço-o agora, muito obrigada João Campino.
Começou cedo ao lado do pai e do tio a trabalhar devotadamente para as Festas, e a elas se manteve fiel até ser arrebatado pela morte. Trabalhava incansavelmente, numa entrega total, na Comissão. Sacrifícios atrás de sacrifícios eram o seu apanágio todos os anos, para que quando chegasse o dia das Festas tudo estivesse em ordem, esquecendo-se muitas vezes da sua vida pessoal. Teve sempre muito respeito pelas diversas Comissões que por ele passaram, não impondo a sua vontade como mais velho, e por isso era estimado por todos. Como os jovens o respeitavam!..Volto a citar o Sizandro:Apesar de não ser jovem na idade, era-o nas acções. Daí entender e ser entendido pela camada jovem que trabalhava nas Festas. Dava gosto vê-lo entre a juventude e colhendo opiniões. Todos sem excepção gostavam do Sr. Matias”.
Mensário Regionalista do Concelho do Sobral de Monte Agraço
Homem de uma força interior enorme, tentou resistir à doença que o atacou mas, mesmo perto do fim, não esqueceu as suas Festas e, numa subscrição, ainda conseguiu duas dezenas de contos, o que para a época era muito importante. As Festas tinham que sobreviver por si só, na época não havia nenhuns apoios externos. Exigia-se muito da Comissão, que lutava por um saldo positivo todos os anos. O seu grande gosto, e onde eu o via parar, era quando chegava a 2ª.Feira das festas, na Praça Dr. Eugénio Dias repleta de forasteiros, a escutar o concerto, em que duas bandas se desafiavam, cada uma no seu coreto, uma do Norte e outra do Sul do País. Extasiado, ali esquecia todos os trabalhos e canseiras que as Festas lhe tinham dado, deliciando-se com a afinação e os sons das marchas, que cada banda tão refinadamente exibia.
Este homem que nunca foi pai, foi uns anos atrás obsequiado, no dia do Pai, por um poeta popular da nossa terra, o Rodrigo da Silva, o Pataco, que enviou para a Rádio Oásis uns versos para serem lidos. Escrevia o poeta:” …este Senhor foi um pai adoptivo, mas um pai a cem por centoEra um activista/Era um homem muito sério/ Não era para dar nas vistas/ Era o seu critério.Era o seu critério diz o poeta: esta era a sua forma de estar na vida, digo eu.
Posso falar deste Senhor com toda a legitimidade: era meu tio por afinidade, padrinho pelo registo e pai extremoso pelo coração. Este homem era povo, cidadão anónimo sem direito a nome de rua, mas no meu coração tem sempre erguida uma estátua e, enquanto eu puder e onde puder, o seu nome será perpetuado. Matias Flor, umaflorque eu tento regar todos os dias no jardim das minhas memórias, e por isso também aqui o homenageio.

Maria Alexandrina

12 comentários:

  1. Muito Lindo Mãe, até estou arrepiada. Iris

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    1. Pois adorei, Pois continu a regar essa Flor
      muito ,lindoun abraço Anna

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  2. Amiga Alexandrina
    Mais um dos seus preciosos testemunhos que vem enriquecer não só o nosso blogue, como também dar a conhecer histórias do passado desta terra.
    Bem-haja pela sua participação, pois é uma bela homenagem a quem, pela sua humildade e dedicação, deveria nunca ter sido esquecido. Mas infelizmente, salvo raras excepções, quando se é "do povo" ou "apartidário", cai-se no rol do esquecimento!
    Continuo à espera de mais "histórias" que deve ter aí guardadas no "seu computador cerebral!
    Beijinhos da
    Lourdes.

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  3. Também eu não posso deixar de me associar a todos os que são presenteados com as suas prosas. desde a primeira hora que me tornei fâ da sua extraordinária capacidade de através da escrita nos fazer visualizar várias sensações. se na anterior nos tinha pintado um quadro de Van Gogh, ao passar a escrito tudo que a sua capacidade de observação e narração observou e partilhou, numa passeata feita nos nossos belos campos ( a propósito peço-lhe que continue a passear porque só lhe faz bem como nos permite esperar por mais "quadros"), como desta vez nos transporta para o conheci-mento de um Homem que pelo seu altruísmo e dedicação fez muito bem em recordar. Não o conheci, como é natural, mas a sua capaci-dade de para além de textos suaves me transmitir a sensação de sentimento, que é fundamental à vida em que eu acredito, foi o suficiente para ficar para sempre na minha memória. Quanto às homenagens oficiais com estátuas , ruas e outras coisas do género acho que, infelizmente, passaram a ser actos com pouco significa-do pois se tornaram banalidades de "contabilidade" duvidosa e pouco credível. Seu padrinho,será bem melhor recordado por todos os como a Maria alexandrina,o Pataco e todo o povo, que graças a ele, pode festejar a sua terra lhe dedicarão numa placa bem mais importante , no coração. Com muita amizade fico apenas aguardando nova oportunidade de voltar a ter no nosso Blogue. Bem haja

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  4. Maria Alexandrina tudo o que escrevas sobre o teu padrinho é sempre pouco para descrever o que ele era como pessoa e como Sobralense

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  5. Nem todos os que vão à missa são santos e nem tudo que brilha, é ouro!!!

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    1. é com muita tristesa que me deparo num blogue com as características do NOSSO com comentários de "anóni-mo",o que não acontece pela primeira vez. Acho mesmo que é triste e nada admíssivel que tal aconteça e sugi-ro mesmo que os responsáveis devem tomar uma atitude drástica e cortar a palavra a quem não tem a frontalidade de dar a cara. Eu sei que Portugal, este meu nobre e querido país, está cada vez mais vulnerá- vel e a assimilar uma falsa visão de "liberdade de opinião", mas toda a LIBERDADE pressupôe nobre-sa,responsabilidade e frontalidade, ,e a falta destes atributos coloca a questão em outro patamar, a LIBERTI-NAGEM, que bem pelo contrário é uma atitude despresível,iníqua e sedm nobresa.
      Se esta opinião fere alguèm que me desculpe, pois sou dos que aceitam que não tenho opiniões universais e inquestionáveis, mas sou também dos que aceitam e me tento comportar seguindo valores que esses sim, me ensinaram são universais.
      Dito isto, sinto-mo no direito de perguntar-lhe frontalmente o que a sua frase quer dizer, pois dita assim fica a dúvida se é uma afirmação sarcástica ou de concordância, e já agora permita-me que lhe diga que se escrevemos português, com acordo ortográfico ou sem acordo, a sua frase tem um lapso, a vírgula está fora do local apropriado. Cordiais saudações.

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    2. Senhor Manuel Augusto, continuo anónimo, embora esteja de acordo com o senhor que é triste ter de continuar anónimo, mas entendo que é perfeitamente admissível escrever anónimo...Não sei quem são "os reponsáveis" mas bem hajam por continuarem a permitir os anónimos. Não é sempre por falta de frontalidade que se é anónimo.

      E como fala em escrever português e critica a minha vírgula, lembro-lhe que o seu texto tem pelo menos oito erros de português... E as suas frases deixam muito a desejar, mas não sei o suficiente para dizer melhor. O senhor vê melhor um sisquinho no olho do vizinho do que um...tronco à sua frente.

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  6. Penso que é salutar trazer para a nossa presença a memória, e prestar homenagem, àqueles que, cada qual pela sua razão, se destacaram pela entrega à vida da comunidade onde viviam. E isto é especialmente válido agora, quando, como se diz num texto anterior deste Blogue, as pessoas se afastam cada vez mais da vida comunitária, correndo-se o risco de, às tantas, olharmos à nossa volta e só “encontrarmos o deserto” – cito de memória.

    Ora o Sr. Flor, que não conheci - em 1971 casava-me eu no Porto e nem imaginava a existência desta terrinha – foi seguramente uma pessoa ímpar no seu tempo: respigo, não o que o texto diz, mas o que consegue ler-se da reprodução do jornal: “grande amigo de todas as colectividades locais, bombeiro voluntário durante 28 anos, o maior animador das Festas e Feira de Verão, apreciado pelos jovens de que gostava de se rodear…” E porteiro do cinema, sabemo-lo de outro texto da afilhada. E diz-nos o poeta citado no texto, “não era homem para dar nas vistas”… Que mais se pode querer para que sejam mais que justas todas as homenagens que se possam fazer-lhe? De quantas pessoas vivas do Sobral podemos dizer o mesmo hoje?

    Nem tudo o que reluz é ouro? Claro que não: o topázio, o quartzo, a mica brilham também se lhes der o sol…Onde está a novidade? Nem todos os que vão à missa são santos? Claro que não, se não havia mais santos do que no céu caberiam…E mesmo os santos…quantos não pecaram? E não será verdade que quem mais se confessa (na Igreja) é porque mais peca?

    Não parece, de facto, relevante nem inteligente dizer isto de quem quer que seja e, menos inteligente ainda se, para dizer isto, precisamos do anonimato.

    José Auzendo

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  7. Pois é!
    Uns não "devem" ser anonimato.
    E porque é que os seguidores podem não ter "rosto"?
    Parece contradição!
    Daniel Silva

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  8. Porque é que o Sobral é uma terrinha?
    Realmente o Porto é uma cidade.
    Então porquê viver nesta terrinha?
    Sobral é uma "terrinha" que acolhe bem demais quem cá chega. Gosto da minha "terrinha",mas não gostei de ver escrito.
    Maria Clara de Sousa

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  9. Sim tia amiga, fizestes vir-me as lágrimas aos olhos, por tudo o que escreves-tes sobre o padrinho que realmente era um grande homem e um grande amigo de todos. Que Deus o tenha em paz.
    Ana Maria Além

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