No tempo em que eu fui criança, a educação era muito diferente de hoje. Mais ríspida, embora talvez mais responsável. Ensinaram-me a repartir o comer e os brinquedos, mas nunca se empregava o termo PARTILHAR. Partilhas, apenas conheci o termo quando empregado em heranças. E sempre me disseram que não devíamos comentar com os outros o que se passa connosco, nem no seio familiar nem pessoalmente. Quando comecei a entender a vida e a pensar por mim própria, achei que nem sempre se deveria ter esse procedimento. Expansiva como sempre fui, muitas vezes comentava situações da minha vida pessoal, raramente da vida familiar, com amigas. Isso custou-me alguns dissabores e críticas pela vida fora. E a minha mãe sempre me ia dizendo: a nossa vida nunca se comenta com ninguém.
Hoje, aposentada e avó, aprendi algo que na realidade vai ao encontro da minha maneira de ser. Acho que não há mal algum em comentar (PARTILHAR) com os outros factos ou passagens da nossa vida que nos deram momentos de felicidade, eventualmente também alguns de tristeza. Só que actualmente, alguém me ensinou que a isso se chama PARTILHAR. Partilham-se experiências de vida, conhecimentos, sentimentos. Afinal partilhar não se aplica apenas em coisas materiais. Os sentimentos e momentos felizes ou tristes da nossa vida também podem ser partilhados. E é mesmo por isso que estou aqui a escrever, para partilhar um dia feliz da minha vida.
Após ter adquirido conhecimentos de informática que me abriram as portas para o mundo através da Internet, fui convidada pelo administrador de um site da poesia para participar no mesmo. A princípio fiquei um tanto ou quanto receosa, mas lá me convenci, pois vim a descobrir que o senhor é marido de uma amiga minha de infância, e em boa hora o fiz. O grupo é seleccionado e muito interessante, e eu gosto de participar. Entretanto, foi lançada no dia 27 deste mês a 3ª. Antologia do site, da qual eu faço parte com dois poemas de minha autoria.
Em adolescente cheguei a ter a mania de ser escritora, mas esse sonho não passou de isso mesmo, tal como muitos outros da juventude. E hoje, com 66 anos, apesar de não ser escritora nem ter essa presunção, fiz finalmente parte de um livro, ainda que participando apenas em duas páginas. Afinal, estamos sempre a tempo de realizar os nossos sonhos e eu vi agora, mesmo que tardiamente, realizada uma pequenina parte desse meu sonho. E por isso quero Partilhar convosco esses momentos felizes da minha vida.
Foi uma tarde inesquecível em que conheci dezenas de pessoas que até àquele momento não passavam de conhecimentos virtuais. Declamaram-se poesias. Houve também quem cantasse o fado e como não podia deixar de ser, lá participei também na cantoria.
Por vezes tenho a sensação que estou a regredir e a entrar num ciclo da minha vida que me permite voltar ao passado e fazer realmente aquilo que gosto: escrever e cantar.
Lourdes Henriques - Clube Sénior