Às vezes há coincidências que nos deixam a pensar … Sei que se trata de animais, mas para mim, são seres que nos foram oferecidos pela natureza, ou por Deus para quem crê. Pode parecer pieguice, mas eu interpreto como sensibilidade. Salvo o devido respeito e diferenças, cada um de sua maneira, tanto amo as pessoas como os animais. Claro que cada qual nos seus devidos lugares. Mas amo-os a todos.
Quando há dez anos perdi a minha cadelinha de estimação, uma caniche dourada, a Tootsie, minha fiel amiga e grande companheira, jurei a mim mesma que não queria mais animais além da gata Natacha que nessa época tinha quatro anos e que coabitou com a cadela durante dois anos. Por portas e travessas, o destino colocou no meu caminho outra caniche, a Xanai, que tinha apenas dois meses e meio e que neste momento já tem dez anos. Jamais esquecerei a Tootsie, mas esta ajudou-me muito a ultrapassar o vazio deixado pela outra.
Durante estes dez anos conviveu amigavelmente (às vezes nem tanto) com a gata Natacha. Agora chegou a vez de a gata nos deixar, pois já tinha catorze anos e meio e estava muito doente. Durante meses tive um grande trabalho e despesa com ela, pois todos os dias tinha que fazer tratamento no veterinário. Tudo fiz para a salvar, mas nada se pode fazer contra a natureza. E uma vez mais jurei a mim própria, e desta vez com absoluta convicção, que não voltaria a ter mais animais, pois com a idade que tenho não sei se ainda conseguiria criar um animal até ao fim dos seus dias. Dedico-me demasiadamente a eles, e tenho plena consciência que sofrem com a minha ausência. E isso, eu não quero.
Mas uma vez mais o destino é que manda … ou será que são coincidências?
Na véspera de mandar efectuar a eutanásia à minha gata, sem que eu me apercebesse, aproximou-se de mim uma gatinha pequena, siamesa, olhos azuis, a miar e pedir colo como se me conhecesse de longa data. A gatinha que eu sempre quisera ter mas que nunca tinha acontecido, e que eu nesta altura da minha vida, jamais pensaria em criar. O seu olhar parecia trazer uma qualquer mensagem que eu não sei qual é, mas tenho a certeza que não foi por acaso que ela surgiu. O meu marido que também já não queria mais animais, apaixonou-se por ela e quis ficar com ela. Para mim isto foi uma novidade, pois ele nunca costuma meter-se nestas decisões. Diz que eu é que sei, mas desta vez deu a sua opinião convicta.
Será que há mesmo coincidências ou é o destino a pôr à prova a nossa capacidade de amar o próximo? Ainda que seja um animal? Ou será “algo superior a nós” a compensar-me pelo desgosto que tive?
Sei que este animal veio amenizar um pouco a falta da minha querida Natacha. Não substitui, mas ajuda a ultrapassar. E assim, tenho uma nova missão além das que ainda me restam: criar a minha nova gatinha a quem pus o nome de ROM ROM, por estar sempre a ronronar e a pedir colo. Se o destino me atribuiu mais esta missão, é porque acha que eu tenho capacidade para tal, e eu aceito-a como uma bênção.
Lourdes Henriques (Sobral - Biblioteca)