Ao
tentar encontrar algo sobre o qual pudesse escrever, a dada altura
lembrei-me desta para mim interessante e até comovente história, há
muito guardada na minha memória. O Sr. Afonso era um homem de
grandes qualidades a quem eu tive o grande privilégio de durante
muitos anos poder chamar “Sogro”. Desde muito novo o Sr. Afonso
começou a sentir o gosto pela caça, para isso contava com a
colaboração dos seus cães. Mais tarde surgiu também para o efeito
uma cadelinha muito especial, talvez por ser muito dócil e esperta,
depressa cativou a amizade dos seus donos, e à qual foi dado o nome
de “violeta”, sendo ela a grande protagonista desta história.
Mais à frente se saberá porquê! O Sr. Afonso contava também com
um grupo de amigos caçadores quase todos da Perna de Pau de onde era
natural.
Certo
dia, e como havia no grupo quem tivesse transporte adequado para o
efeito, decidiram fazer uma caçada lá para os lados de Castelo
Branco, mais concretamente Vila Velha de Ródão. Tal era o vício,
imaginem! Isto nos primeiros anos da década de 60. Para tal, e com
antecedência prepararam os farnéis e tudo o necessário para a
longa viagem. Na madrugada do dia seguinte, lá partiram para o
destino atrás referido. Chegados ao local, e logo que possível
deram início à caçada. No dia seguinte e pelo cair da tarde,
depois de tudo preparado iniciaram a viagem de regresso a casa. Ao
passar por Castelo Branco decidiram parar para petiscar e molhar as
gargantas já que a viagem ia ser longa. Foi aí que o Sr. Afonso deu
pela falta da sua estimada “violeta”, a preocupação era
evidente, e toca de procurar por todos os lados, ainda voltaram para
trás mas em vão, porque da “violeta” nem sinal. Inconformados
com a perda, mesmo assim retomaram a viagem de regresso a casa que
decorreu num clima de tristeza. Os dias, os meses foram passando, e
segundo me foi contado pelos meus sogros todos os dias se falava na
“violeta” e nas saudades que dela sentiam.
Um
belo dia, e sem que nada fizesse prever, por volta da hora de jantar
ouviu-se com insistência e junto de casa, um cão a latir. Nessa
altura, a minha sogra disse para os restantes membros da família,
parece mesmo a nossa “violeta”. Para eles era impossível dada a
distância entre casa e o local onde ficara perdida. No dia seguinte,
e logo pela manhã junto do portão de casa ouviu-se de novo o mesmo
latir, era a maneira possível de ela se fazer anunciar... nessa
altura a minha sogra pensou: tenho que ir ver o que se passa. Ao ver
o animal tão sedento de carinho, não queria acreditar no que os
seus olhos estavam a ver, mas se as dúvidas surgiram, logo foram
dissipadas perante as manifestações de alegria da “violeta” ao
regressar a casa e ver de novo os seus donos após oito meses, é
verdade! Oito longos meses afastada, perdida no para ela, longínquo
distrito de Castelo Branco.
A
notícia depressa se espalhou pela vizinhança, e alguém que nunca
se soube ao certo quem, ao tomar conhecimento de tal facto, mandou
publicar a notícia num jornal da época. Mais tarde o recorte do
artigo foi oferecido ao Sr. Afonso, e ainda hoje se encontra em nosso
poder. A partir daí, várias propostas foram feitas para a aquisição
da “violeta” ou “esperta” como lhe chamaram mas, às quais os
seus dedicados donos sempre responderam! Vender a “violeta”
nunca! Por dinheiro nenhum!
E
assim ali ficou junto dos seus donos até final dos seus dias. Muitas
foram as vezes que ouvi o meu Sogro contar esta história verídica,
e sempre que o fazia não conseguia esconder a emoção.
Grandes
lições de vida os animais nos transmitem.
Rosa Santos