VISITANTES

sexta-feira, 29 de março de 2013

Contados e recontados


Hoje fiz uma visita ao meu sótão, onde guardo as recordações, lembranças de histórias do passado, e o que vi fez-me retroceder no tempo e lembrar-me de quando os nossos jantares eram demorados…Sentada à mesa, eu ia ouvindo contar histórias de parentes e amigos, que fizeram história na vila. Nunca as ouvi como um insulto, mas pela graça como foram ditas. Não havia televisão e eu, encantada e extasiada, ia absorvendo cada palavra e cada gesto, como se estivesse a ver um filme… e talvez por isso nunca as esqueci. São pequenos contos que a pouco e pouco, conforme me for recordando, vos irei transmitindo. Tendo em conta o espaço e o tempo em que eu os escutava, não terão agora o mesmo impacto que tiveram em mim…mas vou arriscar.

Vivia na década de trinta, no lugar do Pedralvo, da freguesia de Santo Quintino, um senhor de nome Joaquim, que era parente do meu padrinho e era aquilo a que na altura se chamava “um fussanga”: trabalhava nas suas terras desde o romper do dia até à noite, todos os dias da semana, de sábado a sábado. Nessa época o ponto de encontro para um jogo de bisca ou para dois dedos de conversa era a taberna, mas o bom do Joaquim nunca era visto por lá. Só havia um ritual que o fazia deixar de lado o trabalho: era o funeral de um vizinho ou de um amigo, aí sim ele nunca faltava.

Um dia logo cedo um vizinho viu-o todo arranjadinho, admirou-se e resolveu perguntar-lhe o que tinha acontecido. E ele com ar admirado pela pergunta, respondeu prontamente:
-Eu que aqui vou, alguém morreu!

Assim viveu um homem, cuja vida foi só de trabalho e cuja única distração era ir a um funeral…Parece que para ele o convívio com os amigos não era importante, o importante era acompanhá-los à sua última morada.

No Sobral, na época de 50, poucas pessoas tinham automóvel e as pessoas mais sedentas de conhecimentos inscreviam-se em excursões organizadas e iam pagando durante uns meses, em suaves prestações semanais, para que quando chegasse o dia da partida o bilhete estivesse pago. Os autocarros eram pouco confortáveis e as estradas cheias de buracos. Quando fazíamos uma excursão de três dias, chegávamos a casa com os músculos todos doridos.

Na véspera da partida guisavam-se os coelhos, coravam-se as galinhas, fritavam-se uns pastéis, coziam-se uns ovos e fazia-se um bolo, que eram saboreados pelo caminho e à sombra de algumas árvores. As refeições eram partilhadas… éramos todos vizinhos e amigos.

terça-feira, 26 de março de 2013

RECORDAÇÕES DE INFÂNCIA (Crónicas)


O CICLISTA

Nasceu de uma extensa família, de origem bastante humilde, sendo o mais novo de muitos irmãos, onde predominavam as raparigas, algumas com filhos quase da sua idade.
Ficou órfão de pai muito novo, mas por ser o mais novo dos irmãos, foi sempre bastante protegido, designadamente pelas irmãs, que cedo rumaram a Lisboa para trabalhar, onde apesar de pobres, dispunham de outros meios. A ajuda das irmãs possibilitavam-lhe uma vida um pouco mais desafogada, designadamente enquanto viveu com sua mãe, melhor do que a proporcionada pelos magros proventos obtidos na sua condição de trabalhador rural “jornaleiro”.
Homem bem-humorado, tinha sempre uma piada na ponta da língua, apesar das muitas dificuldades de uma vida de trabalhador assalariado. Casou já na casa dos 30 anos, criou seis filhos, numa época de muitas carências. A sua ocupação profissional foi diversificada, pois para além de trabalhador rural, trabalhou nas “obras”, foi também pastor e “tosquiador de ovelhas”, ocupações que nunca lhe trouxeram qualquer abundância material. O grande afecto pela sua companheira de sempre era comentado como exemplo na aldeia, nunca se notou na vida do casal quaisquer desentendimentos, quando as dificuldades materiais eram muitas e quando sobrava para as mulheres a parte mais amarga da vida familiar de então.
Privou de muito perto com o autor destas linhas, era seu tio por afinidade e havia entre ambos uma grande empatia.
Era um apaixonado pelo ciclismo, modalidade que praticou quando jovem, conheceu muito bem, ao longo dos tempos, os ciclistas de maior renome, tinha os seus ídolos, no tempo em que o ciclismo era praticado por equipas de clube, onde a sua cor clubista exercia uma evidente influência.
Estava sempre disponível para acompanhar as muitas provas que se realizavam na região, onde o ciclismo era a modalidade rainha e de onde eram originários muitos praticantes, entre os quais alguns dos melhores atletas, que ao longo dos anos despertaram para esta prática desportiva.
Discutia e comentava o comportamento de cada ciclista, conhecia as tácticas aplicadas e aproveitava para repetir as suas muitas histórias de quando praticante, que apesar de repetidas, eram sempre ouvidas com muito agrado, tal o entusiasmo e o humor com que as contava.
Recordava com pormenor e entusiasmo a sua participação na 3ª Volta a Portugal em Bicicleta, no longínquo ano de 1932, quando pequeno grupo de ciclistas do concelho de Sobral de Monte Agraço se juntou, com o apoio alguns dos seus conterrâneos, designadamente do médico da terra e lá partiram à aventura. No caso do nosso ciclista o apoio de alguns familiares, em particular dos seus sobrinhos que viviam em Lisboa, foi determinante.

sábado, 23 de março de 2013

Destaque 13

Estamos a publicar neste espaço pequenos resumos biográficos de pessoas de qualquer idade que, nascidas ou residentes no Sobral, conseguiram que os seus nomes “saíssem” do Concelho, por algum feito realizado no domínio das letras, das artes, da ciência, do desporto. Se não fosse excesso de pretensiosismo, diria que estamos a cantar “aqueles que por obras valerosas se vão da lei da morte libertando”, citando Camões. Mas é isso que desejamos que venha a acontecer… Colabore connosco, escrevendo para sobral.senior@gmail.com indicando-nos o nome e contacto de alguém que julgue merecer integrar esta galeria ou, se for o caso e preferir, enviando-nos a própria biografia.

E o destaque de hoje vai para … 

 Maria do Rosário Baião - Pintora em seda


Maria do Rosário Martins João Simões Baião nasceu em 1958 no Lobito, Angola, onde viveu até aos 17 anos, vindo então para Portugal. Depois de viver 25 anos em Oeiras, mora agora em Sobral de Monte Agraço, no Outeiro, desde o ano de 2009. É aqui que tem o atelier, onde, sempre que pode, cria e pinta as suas sedas, tanto para expor em galerias, como para usar como acessórios de moda.
Escolheu o nome artístico e assina ZAZY, baseado numa palavra africana. Herdou o dom da pintura da Mãe, já falecida. Não tem formação académica na área da pintura, é uma autodidata, embora tivesse frequentado alguns ateliers e tivesse tido aulas particulares (poucas) com uma amiga, uma pintora polaca residente no nosso país. Começou a pintar em 1995, a óleo. Pintou muitos quadros, mas nunca os comercializou: oferecia a amigos, e alguns ficaram como recordação.
Mais tarde, com o filho criado, começou a sentir um vazio, e decidiu voltar à pintura, mas desta vez além de pintar quis também vender o que fazia. Embora pense que o dinheiro não é tudo na vida, precisava dele para pintar, e iniciou-se na pintura em tecido. O começo foi muito interessante: viu na TV duas senhoras que se juntaram e criaram uma linha de pintura para t-shirts que estava a ter um grande sucesso e decidiu fazer o mesmo. Comprava as t-shirts nas lojas dos chineses, pintava-as e vendia-as. Ao fim de algum tempo, as solicitações eram tantas que teve de arranjar um fornecedor para poder pintar e comercializar as t-shirts a um preço apelativo. Mostrou os seus trabalhos no programa da RTP Praça da Alegria, ganhou um prémio da revista “Bricolage” e esteve em várias feiras da especialidade: Natalis, Marinha Grande, S. Pedro de Moel, Bucelas, etc.
Até que, por mero acaso da vida, encontrou em Portugal uma antiga colega de escola, angolana, que não via há 30 anos, ligada lá ao artesanato. Perguntou-lhe se ela não estaria interessada em vender em Angola as suas t-shirts. A resposta deixou-a estupefacta: pinta-me motivos africanos em seda. Mal sabia o que isso era, mas lá começou e foi um sucesso: tinha começado, para Maria do Rosário, o seu verdadeiro caminho.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Dia Mundial da Poesia



A 21 de Março de todos os anos é celebrado, ao redor de toda a Terra, o Dia Mundial da Poesia. Foi criado no âmbito da XXX Conferência Geral da Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura) em 16 de Novembro de 1999. Este Departamento está sediado em Paris.
O seu maior propósito é promover a leitura, escrita, publicação e ensino da poesia em todo o mundo, como forma de estímulo, conservação e preservação da identidade e especificidades dos vários povos, estimulando a riqueza que essas diferenças, quando utilizadas de forma inclusiva e sem preconceitos, podem ajudar a manter a paz e a colaboração entre todos os Povos.
Feito este pequeno resumo sobre as razões institucionais deste Dia Mundial, afinal mais um entre vários outros que se vão sucedendo ao longo do ano, gostaríamos de vos transmitir as razões mais intimistas porque decidiu o Núcleo de Iniciação às Artes Cénicas celebrar este dia.
Sendo um grupo de pessoas que sentem encontrar prazer no visionamento, leitura e ensaio de histórias, poemas e pequenos quadros teatrais, bem como ter estas actividades em grupo, podendo assim partilhar conjuntamente esse espaço semanal de amizade e convívio, pensou que poderia ser interessante aproveitar esse dia para dar a conhecer a possibilidade real de outros interessados se juntarem a nós.
A poesia é uma forma literária que, por excelência, transmite o sentimentalismo intrínseco de todo o ser humano, e que por isso mesmo é uma forma de inter-relação que tem representação em todas as classes sociais. Esta forma escrita tem sido ao longo de séculos um verdadeiro testemunho da identidade dos povos e suas gentes. Cada povo tem os seus poetas, sejam populares ou eruditos, mas todos eles nos deixam ensinamentos e conhecimentos que tornam mais compreensível a génese e o sentimento de cada País.
Pela nossa parte, orgulhosamente ricos em autores, bastará lembrar António Aleixo, Fernando Pessoa, Camões, Natália Correia ou Sofia de Mello Breyner, entre vários outros: com eles traçaremos um verdadeiro perfil da Gente Lusa.

Núcleo de Iniciação às Artes Cénicas
do Clube Sénior do Sobral

segunda-feira, 18 de março de 2013

DIA DO PAI


Comemora-se amanhã, 19 de Março, o dia de S. José, dia que foi escolhido para se celebrar o DIA DO PAI.
A comemoração deste dia dedicado “AO PAI” data de 1910, nos Estados Unidos da América, embora conste que foi primeiramente evocada na Babilónia, há 4000 anos.
Por comparação ao dia da Mãe, o dia do Pai foi instituído para homenagear aquele que nos deu a Vida. Se a Mãe merece ser homenageada, o Pai não o merece menos.
É tradição neste dia, os filhos oferecerem uma lembrança ao pai.
Os mais pequeninos, que andam na escola ou em colégios, são ensinados, na maioria dos casos, a decorar um pequeno cartão feito de cartolina, dando asas às suas imaginações de crianças. E muitos apenas com uns simples lápis de cor, traçam uns riscos e arabescos que para eles representam o amor que têm pelo Pai ou pela família. E é com muito carinho que os Pais recebem e guardam, normalmente, essas pequenas e ingénuas relíquias dos seus pequeninos, que um dia mais tarde se deliciarão a ver as suas primeiras ofertas para o Pai, feitas pelas suas próprias mãozinhas de crianças.
E a tradição vai-me propagando de geração para geração.
É na verdade uma celebração muito justa e bonita. Quem dera que todos os filhos que ainda têm a felicidade de o ter vivo, se lembrem todos os dias que têm Pai… e não apenas no DIA DO PAI!...
Para os que como eu, já o perderam - (e já lá vão 41 anos) - elevem o seu pensamento numa saudosa recordação, lembrando o Carinho e Amor daquele que nos deu a Vida …

Lourdes Henriques.

sexta-feira, 15 de março de 2013

A Praça Pombalina



Por tantos dias felizes aqui passados…
Hoje regressei à Praça Dr. Eugénio Dias e olho em redor e contemplo toda a Praça, o edifício da Câmara, a Igreja, o Chafariz…Distinta mas fazendo parte integrante da Praça Pombalina, a Casa Sobral. Sempre ouvi dizer que ali era a Casa dos Condes, mas nunca tive curiosidade de saber pormenores da sua história. Nas aulas de História do Clube Sénior, tomei conhecimento mais aprofundado da história da Família Sobral e é com enorme prazer que, resumidamente, a trago até vós porque ela é também a história da nossa vila.
Sebastião José de Carvalho e Melo estudou direito em Coimbra, e foi embaixador em Viena de Áustria. Lá casou com uma austríaca, a Condessa Leonor Daun. D. João V, na altura Rei de Portugal, era casado com uma senhora também austríaca e, através das esposas, deu-se uma aproximação entre Sebastião José e o Rei. A D. João V sucede seu filho, D. José I, que nomeia Sebastião José, Ministro dos Negócios Estrangeiros e confere-lhe o título de Conde de Oeiras e, mais tarde, o de Marquês de Pombal.
Joaquim Ignácio da Cruz, que era fidalgo da Casa Real e Tesoureiro do Erário Régio, e seu irmão, Anselmo José da Cruz, pessoas influentes, grandes comerciantes, influenciam o Rei para que Sebastião José seja nomeado Primeiro-Ministro. Devido a este empenho, os irmãos ficaram sempre nas boas graças do Marquês de Pombal.
O Marquês de Pombal criou diversas Companhias Mercantis: a do Grão Pará e Maranhão em 1755, Pernambuco e Paraíba em 1759, (que exportavam produtos do Brasil para a Europa, tais como algodão e arroz), e a Companhia de Vinhos do Alto Douro, que exportava para toda a Europa o vinho do Porto. Os irmãos Cruz eram sócios dessas Companhias; possuíam, também, fábricas de algodão em Sobral e Portalegre, de papel selado em Alenquer e de chapéus finos no Rato. Financiavam projectos do Marquês de Pombal.

terça-feira, 12 de março de 2013

As bolachas da Maria Alzira


Com este título, trazia o jornal Público de Domingo, dia 3.3, uma longa reportagem nascida da “crise” e das consequências desta na vida das famílias. Todos os dias, um pouco por todo o lado, no Sobral também, famílias ficam desesperadas porque um dos membros do casal fica no desemprego, quando não os dois…Em várias fases, foi o que aconteceu a Maria Alzira, agora com 56 anos e ao marido, de 53, dois filhos a estudar.
A história desta família “começa” em Cascais, passa pelo Cadaval e “termina” em Torres Vedras. Trago-a até cá, num resumo muito sucinto, não só por ser uma história vivida aqui ao lado, mas especialmente porque o exemplo relatado pode ser útil a alguém: quando tudo parecia perdido, depois de muitos contratempos, as coisas recompõem-se. Por comodidade, vou transcrever frases da jornalista Ana Rute Sousa: não se justificam artifícios para usar só frases minhas, até porque não seria possível inventar outras palavras para descrever o que se passa.
Maria Alzira sempre gostou de alimentar os outros, mesmo quando trabalhava numa empresa de informática. Desempregada ao fim de onze anos a trabalhar por conta de outrem, começa a vender rendas para roupa interior feminina, mas os produtos chineses aparecem em força e depressa arruínam o negócio. Passou a dedicar-se à cozinha, fazendo bolos que vendia nas pastelarias de S. João do Estoril: tortas de laranja, bolos de bolacha…
Entretanto, o marido também ficou desempregado, e passou a viver de um ou outro trabalho precário. Decidem então mudar-se para o Cadaval, onde arrendam uma casa. Maria faz refeições para estrangeiros que frequentam uma escola de línguas. Começa a aproveitar as peras, as maçãs e os figos da própria casa para fazer doces caseiros. Indo atrás dos gostos dos estrangeiros, começa a fazer bolachas de aveia integral com açúcar e canela. São as que hoje mais vende. Mas tem outras, muitas mais variedades: bolachas de laranja com sementes de sésamo, bolachas de alfarroba e amêndoa, umas com ovos outras sem ovos, bolachas de gengibre, de alfarroba e figos, de sêmola de trigo e pinhões e outros doces de maçã bravo de Esmolfe, de pera rocha, de pêssego da Cova da Beira…

sábado, 9 de março de 2013

Visita ao Sobral – 5ª Parte


Pus-me um dia a percorrer as ruas do Sobral
Para vos dar a conhecer seu encanto sem igual



Mais um dia e alguma disponibilidade para lhes descrever as ruas que faltam citar da nossa Vila. Saio do meu bairro e, à esquerda, encontro a Rua Maria Lamas, escritora, sufragista e defensora dos direitos da Mulher. Descendo a Avenida Marquês de Pombal, deparo-me com a Rua Belo Marques, maestro, um poeta, e sobretudo um músico, que viveu alguns anos no Sobral e acabou cá os seus dias: os seus restos mortais estão depositados no cemitério de Santo Quintino.
Atravesso a Rua Belo Marques e entro na Praceta Dr. António Luís Borges, um médico que adoptou o Sobral, e vem-me à memória o tanto que devo a este Senhor: ele atendia gratuitamente os necessitados e ainda lhes dava os medicamentos. E não era figura de ficção … era real.
Desço a Av. Marquês de Pombal e viro à direita para a Rua Correia Guedes. Este é o nome de um amigo do Sobral que, embora não tivesse vivido cá, tinha uma quinta na Feliteira. Foi Presidente da Companhia das Lezírias, sendo pessoa muito influente na época, aí na década de sessenta. À direita fica a Rua das Poças, assim chamada por ser o local onde as mulheres iam lavar a roupa, antes de haver água canalizada no Sobral: ainda lá existem os tanques. Esta rua é cortada pela Urbanização da Encosta do Sol, na qual há a Rua da Encosta do Sol e a Rua Manuel da Costa. Este senhor foi o primeiro Presidente da Câmara do Sobral após a implantação da Republica e foi dono da Farmácia Costa.
Regresso à Rua Correia Guedes, desço um pouco mais e à esquerda deparo-me com a grande Avenida das Linhas de Torres. Aqui é obrigatório parar para lembrar grandes feitos históricos. Durante a Guerra Peninsular, Sobral de Monte Agraço estava integrado nas Linhas de Torres. Massena constatou que estas linhas não podiam ser tomadas de assalto e, depois de alguns confrontos na vila, nos dias 11 a 13 de Outubro de 1810, e observando as fortificações em redor de Lisboa, decidiu recuar o exército. Em 11 de Fevereiro de 1811, retirou as tropas de Portugal, e começou aqui a queda da era napoleónica. O nosso Forte do Alqueidão muito contribuiu para esse facto.
Subo toda a Avenida e fico em frente à Urbanização do Casal Miranda: o seu nome deve-se ao dono dos terrenos onde está construída. Aí encontro as Ruas do Casal Miranda e a Rua de S. Quintino, um mártir do século III d.C., e que deu nome à Igreja e à povoação de Santo Quintino. Retrocedo e entro na Rua da Vitória, (Rua do Matadouro) que nos lembra a vitória nas Invasões Francesas (Guerra Peninsular). Chego, assim, à parte mais a Oeste da vila.

quarta-feira, 6 de março de 2013

RECORDAÇÕES DE INFÂNCIA (CRÓNICAS)


MESTRE JOÃO MORAIS

João Morais, também conhecido por “João Albardeiro”, foi na primeira metade do Século XX, artífice famoso, pela qualidade do trabalho que desenvolvia na sua oficina em Sobral de Monte Agraço.
Albarda ( Coudelaria Nacional Alter do Chão)
Mestre na execução de toda a variedade de arreios para solípedes, desde o mais belo selim decorado com botões e fivelas douradas, com que os proprietários abastados selavam os seus elegantes ginetes, até à mais modesta albarda, indispensável para equipar os sóbrios jumentos, tão úteis às famílias rurais de então.
Homem de profundas convicções republicanas, relativamente culto, atendendo à sua origem e à época em que viveu, deixou vários filhos que se distinguiram como Sobralenses respeitados, alguns ligados às artes, designadamente ao teatro.
Não tem, actualmente, no Sobral, pelo menos que tenhamos conhecimento, qualquer descendente.
Das muitas histórias que se contavam ter tido por protagonista Mestre Morais, esta, passada no início do século XX, referia o seguinte:
Certo dia, em domingo de mercado, o mercado mensal de Sobral realizava-se então ao domingo, apareceu na loja/oficina de Mestre Morais, um cliente que pelo traje indiciava ser bastante abastado, vindo de longe, recomendado pela fama de artista que gozava o nosso Mestre, para lhe encomendar um arreio especial para a sua nova montada, um puro sangue de “Raça Lusitana”, como dizia.
Sem olhar ao custo do arreio, pretendia uma peça feita à medida, decorada com diversos atavios, talvez com duvidoso gosto de novo riquismo, onde não faltavam muitas fivelas douradas e correias entrançadas.
Mestre Morais ouviu atentamente, em qualquer circunstancia o seu brio profissional estava sempre presente, e se o cliente se prestava a pagar devidamente o trabalho, não havia razão para que não fossem atendidas todas as suas exigências.
Acautelados os pormenores, ajustaram o preço, certamente elevado, e combinaram que o trabalho estaria pronto um mês depois, isto é, no dia do próximo mercado mensal.

sábado, 2 de março de 2013

Visita ao Sobral - 4ª Parte


Em frente à Igreja Matriz do Sobral, Igreja de Nossa Senhora da Vida, o nome da padroeira da vila, situa-se a Praça da República, a recordar-nos a implantação da República. Esta Praça foi durante muitos anos conhecida pela Praça do peixe, por ter sido ali que, aos domingos, se fazia esse comércio.
Mesmo ao lado fica a Rua França Borges, recordando um sobralense ilustre, um grande lutador pela causa republicana, fundador do jornal “O Mundo”, a quem fiz referência neste blogue em 1 de Outubro de 2012. Sigo e, uns metros à esquerda, fica a Rua 5 de Outubro, a recordar o dia da implantação da República. Nesta rua há um edifício que julgo ser o mais antigo da vila, e que durante muitos anos foi a Pensão da Estrudinhas, como era conhecida. Aí se hospedavam os funcionários públicos que não tinham cá casa, e os turistas que por aqui passavam. No fim dessa rua nasce a Rua de Santo António, conhecido por Santo António de Lisboa; e à esquerda temos um pequeno beco, o Beco do Locatel, nome cuja origem desconheço, embora tenha pesquisado.
Agora, ou volto para trás ou entro na Rua Heróis da Bélgica … Resolvo retroceder e estou novamente no Largo do Cinema e, do meu lado esquerdo, fica a Rua Teatro Eduardo Costa por ter sido aí que existiu o primeiro teatro da vila: o nome é do seu pioneiro. Não a percorro toda, vou até à Rua Joaquim Hilário da Silva Cruz, um grande empresário e que foi primeiro Vice-Presidente e depois Presidente da Câmara do Sobral após a implantação da República. Daqui observo a urbanização mais recente do Sobral, a Urbanização da Encosta da Cerca que tem uma rua com o nome de Rua da Cerca. O nome deve vir do facto de assim se chamar a zona onde foi construída.
Recuo e entro na Rua Joaquim Inácio da Cruz, que foi o 1º. Morgado do Sobral, a quem D. José I fez mercê do Senhorio Honorífico de Sobral de Monte Agraço, em 1771. O Morgadio era composto pela Câmara, a Cadeia, O Chafariz, O Solar e toda a praça pombalina. À direita desta rua temos a Rua Mártires de Timor, que fica mesmo por detrás do Cine-Teatro. Segundo dados não oficiais, a Rua foi assim denominada para homenagear os que morreram no massacre da população de Timor, durante a invasão da Ilha pelos japoneses, por ocasião da II Grande Guerra Mundial, no ano de 1942. Esta ocupação durou três anos, e espalhou o terror entre a população.