Nesta fase da minha vida, já me começa a condoer reavivar algum passado, pelo que visitar os locais da minha origem, onde tive uma excelente infância e boa adolescência me carregam agora, de um sentimento triste e de saudade.
O que outrora fazia com facilidade e sem saudosismo (ir e regressar), hoje é com um certo peso emocional que o faço, quiçá, pela disponibilidade que possuo não tendo já de pensar em programar e executar tarefas, que teria de reiniciar, após o regresso de férias. O tempo urgia rápido e não havia espaço para saudosismos.
Agora é tudo mais calmo e, com certeza, tenho oportunidade de relembrar e saborear de forma diferente.
Regressei da tal origem onde passei a Páscoa, dentro dos rituais próprios do Norte do país, com a sua gastronomia e convívio com os amigos, os quais muito estimo.
Vivo há 35 anos em Sobral de Monte Agraço, local para onde vim leccionar com 23 anos de idade, deixando para trás Moimenta da Beira (meu concelho), Lamego, Sernancelhe, Vila Nova de Paiva, Tabuaço…, etc., locais esses onde vivia com estreita convivência e sintonia no meu dia a dia, quer com as suas gentes, quer com a própria natureza, com a qual nunca consegui dissociar-me.
Sobral, passou então e continua a ser a minha segunda terra, por adopção profissional. Aqui, constituí a minha família e até consegui enraizar e ter comigo os meus pais durante vinte anos, familiarizando-me, igualmente, com os naturais da região, tendo muitos amigos, os quais mantenho desde a minha chegada.
Sinto-me acarinhada como na minha própria terra, pelo que para mim seria já muito difícil ausentar-me radicalmente daqui.
Estou já aposentada (sorte não ter sido apanhada pela nova lei), tendo desenvolvido toda a minha actividade profissional neste concelho. Alguns anos a leccionar e os últimos a coordenar o Ensino de Adultos. Penso ter desenvolvido o meu trabalho com humildade e com a noção de que com os anos se vai adquirindo perfeição, fi-lo sem pretensiosismo, com respeito pelas tarefas que tinha que desenvolver. Criei e dei amor aos meus alunos, para além dos conhecimentos que sempre foi minha preocupação transmitir-lhes.
Tenho consciência que o momento actual é difícil para alunos, professores e pais, encontrando-se todos eles num profundo pesadelo. Vale pena determo-nos, nesta não detecção.
Toda a criança nasce sem regras, como é óbvio e natural, os adultos é que têm de ter a tarefa e obrigação de lhas saber introduzir. A palavra não (hoje inexistente), vai ter de voltar ao vocabulário do quotidiano.
Margarida (Sobral - Biblioteca)