“O
TROJAN”
Na
primeira metade do século XX, viveu e trabalhou em Sobral de Monte
Agraço, uma típica personagem, com a profissão de dentista,
Américo Corona de seu nome, mas que todos conheciam por Américo
Dentista.
Os
automóveis eram a sua grande paixão, razão porque, provavelmente
com algum sacrifício, comprou um dos primeiros automóveis que
circularam pelo Sobral. O
célebre “Trojan”, descapotável, que
em vez de diferencial era ainda accionado por correntes, tipo
corrente de moto, que faziam a ligação entre o motor e as rodas
traseiras.
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Trojan 200 (foto autoviva.sapo.pt) |
Bastante
lento, como facilmente se pode imaginar, a sua velocidade estava
naturalmente muito longe da velocidade que atingem os automóveis
modernos.
Conhecido
à distância pelo seu trabalhar e pela sua rouca buzina, fazia
correr, com grande excitação para a berma da estrada, toda a
miudagem de então, para ver passar o automóvel do Américo
Dentista. Eram poucos os automóveis que circulavam pelas nossas
estradas e aquele causava um fascínio muito especial.
Contava-se,
que vindo certo dia o Américo Dentista no seu automóvel, a caminho
do Sobral, caminhava a pé no mesmo sentido o António da Ponte,
personagem de uma outra das nossas crónicas, O Anarquista, quando
num gesto simpático, atitude que lhe não era muito frequente,
encostou à berma da estrada e solícito, afirmou:
-
Então, Sr. António venha daí, que lhe dou uma boleia até ao
Sobral.
O
outro, sem qualquer hesitação, respondeu de pronto:
-
Muito obrigado Sr. Américo, mas eu vou com pressa.
Ironia
do destino, cerca de cem metros adiante, passada a primeira curva da
estrada, o “Trojan” recusava-se a andar.
O
António da Ponte, num estilo que lhe era muito próprio, acelerando
o passo, olhando o Américo Dentista e o seu “Trojan”
imobilizados, com um sorriso disfarçado, exclamou:
-
Não lhe disse Sr. Américo, que tenho muita pressa de chegar ao
Sobral.
Eduardo João
Eduardo João
Caro Sr. Eduardo
ResponderEliminarMais uma das histórias pitorescas que abundam nesta vila, e que a pouco e pouco vão sendo desvendadas.
Não fosse a boa vontade e espírito de partilha de alguns que as viveram, e as gerações actuais nada poderiam contar do passado aos vindouros.
Bem haja pela sua participação.
Tenho a dizer-lhe que achei muita graça a esta. Ainda gostava de ver um carro desses nos dias actuais, no meio da confusão!
Com os meus cumprimentos
Lourdes Henriques.
parabéns Eduardo
ResponderEliminarGosto muiyo das tuas histórias
vem vindo ao noss Bloge Senior
beijinho, Ana
Nos dias de hoje, semelhante, só os "papa reformas".
ResponderEliminarNaqueles tempos, ter um carro era "estatuto", mesmo que um "estranho" como este.
Boa história!
José Albuquerque
Como me lembro do "Trojan" azul... todo cheio de cromados, sempre a luzir, porque o Sr. Américo tinha um orgulho enorme no seu automóvel, o que nem sempre era compreendido pelos vizinhos, que troçavam daquele exagero. Ele dedicava os tempos livres a acarinhar o seu carro, talvez a ocupar o tempo que disporia a brincar com um filho, que nunca teve...
ResponderEliminarMaria Alexandrina