Para
falar do Concelho de Sobral de Monte Agraço, da sua origem e das
suas vicissitudes, vou repetir factos de que já falei nas diversas
histórias da vila que escrevi, mas outros novos vão sobressair, que
permitirão conhecer melhor o nosso concelho. Falei da Vila, hoje vou
falar do Concelho.
O
Concelho de Sobral de Monte Agraço pertence ao Distrito de Lisboa,
distando cerca 40 Km da Capital. É limitado pelos concelhos de
Arruda dos Vinhos, Alenquer, Torres Vedras e de Mafra. É um concelho
pequeno, com 51,96 Km2 e uma população de cerca de 10 mil
habitantes, ligada ao sector primário. É agora constituído por
três freguesias, Sobral de Monte Agraço, S. Quintino e Sapataria,
mas nem sempre foi esta a sua constituição.
O
primeiro documento conhecido data de 1186, no qual D. Sancho doa ao
Bispo de Évora, D. Paio, o Reguengo de Soveral, como reconhecimento
de serviços prestados ao Rei e para incentivar o povoamento. Como se
sabe, D. Sancho l foi o Rei cognominado “O Povoador”, que tentou
povoar as terras que o seu pai, D. Afonso Henriques, tinha
conquistado aos mouros. Era a época da reconquista cristã.
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Capela de S. Salvador |
No
reinado de D. José l e com a expulsão dos Jesuítas e respectiva
confiscação dos bens, o Senhorio de Monte Agraço reverteu para a
Coroa por decreto do Rei de 1759. Em 1770, Joaquim Inácio da Cruz
arrematou em haste pública os bens e direitos do Reguengo. Em 1771,
D. José faz mercê a Joaquim Inácio da Cruz de senhorio honorífico
do Sobral.
Em
1821, a sede de concelho de Sobral de Monte Agraço situa-se em S.
Salvador, sua única freguesia. Em 1836 concelho de Sobral passa a
incluir as freguesias de Arranhó e S. Quintino, provenientes do
Termo de Lisboa. A 24 de Outubro de 1855, as freguesias de S.
Salvador, Arranhó e Santo Quintino são anexadas ao concelho de
Arruda dos Vinhos.As
alterações da sede de concelho nem sempre
foram pacíficas. As gentes de Sobral de Monte Agraço e freguesias
adjacentes revoltavam-se, e homens e mulheres dirigiram-se à Câmara
de Arruda dos Vinhos a exigirem a passagem da sede do concelho
novamente para o Sobral.
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Igreja de Santo Quintino |
Enquanto
isso, uma representação de Sobral dirigiu-se a Lisboa, o que levou
o Rei a promulgar o Decreto de 10 de Fevereiro de 1887, data em que a
sede do concelho de Arruda dos Vinhos é transferida para a vila de
Sobral de Monte Agraço. A toponímia da vila refere-se a essa data,
com a Rua 10 de Fevereiro, junto ao município. Em Março de 1890, o
concelho de Sobral de Monte Agraço é separado de Arruda dos Vinhos,
ficando composto pelas freguesias de Santo Quintino e Sobral de Monte
Agraço.
Todas
estas alterações administrativas deram origem a uma rivalidade
entre o Sobral e Arruda, que ainda se fazia sentir nas pessoas mais
idosas, no tempo em que eu era criança. Foi conturbado este século
XIX para o nosso concelho, e em 1895 uma nova reforma
administrativa
extingue o concelho de Sobral de Monte Agraço e incorpora-o no de
Torres Vedras. Finalmente, em 15 de Janeiro de 1898, o concelho de
Sobral de Monte Agraço é restaurado, incorporando uma nova
freguesia - a Freguesia de Sapataria - que pertencera a Arruda dos
Vinhos até 26 de Setembro de l895. Assim ficou formado o concelho,
tal como é hoje.
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Brasão |
Maria
Alexandrina
Obrigado pela pesquisa e pela partilha da informação.
ResponderEliminarBoa tarde Dona Maria Alexandrina!
ResponderEliminarPorque razão haveria de dececioná-la?
Encontrei, por mero acaso este blog.
Já li alguns artigos seus e, confesso que gostei bastante. Escreve bem. Parece-me ser uma pessoa bastante interessada e que transmite coragem e otimismo que tanta falta nos faz e a prova disso mesmo é este texto que hj li e que nos traz história/cultura. Gostei imenso! Obrigada! O bem bem-haja e continuação dessa força que me pareceu ter. Prometo que aos poucos e, consoante as minhas disponibilidades, vou ler tudo o que já escreveu até aqui! Força e continue...continue sempre!
M.Joaquina Elias
Amiga Alexandrina
ResponderEliminarDou-lhe os meus parabéns pela sua persistência, capacidade e interesse em pesquisar e transmitir-nos todos estes factos que fazem parte de um passado histórico bastante confuso.
Pessoalmente, nunca gostei da disciplina de História, mas reconheço o interesse e mérito que tem na nossa cultura geral.
Agradeço-lhe mais uma vez tudo o que nos vai revelando sobre esta terra.
Beijinhos da
Lourdes Henriques.
A leitura deste texto, aliada à leitura recente do livro A Esmeraldo do Rei, de Paulo Pimentel, levou-me a um raciocínio curioso. Para o expor, é preciso ter presente que o povoamento do Reguengo de Soveral, citado pela Alexandrina, tal como de outras terras, era fundamental para evitar que os Mouros reocupassem terras já conquistadas e que era importante manter livres, ou pelo menos que o ataque não ocorresse de surpresa, como em muitos locais acontecia. No caso do Sobral (e de Arruda dos Vinhos) era terra fundamental para travar os Mouros se estes tentassem (e tentaram) atacar Santarém e Coimbra, onde estava sediada, repartida, a Corte! Lisboa ainda não era a Capital do Reino e ainda não era terra completamente segura!
ResponderEliminarE o raciocínio, então, é este: no século XII, Sobral ajudou a impedir a invasão, pelos Mouros, de sul para norte, de Santarém e Coimbra. No século XIX foi exactamente o inverso: agora foram os franceses que, vindos de Coimbra e Santarém … foram impedidos no Sobral de chegar a Lisboa, assim terminando as célebres Invasões Francesas … nas não menos célebres Linhas de Torres, que tiveram no Sobral um dos seus expoentes máximos.
Auzendo
Este texto e toda a história do nosso Sobral e Sobralenses só vem realçar a garra e persistência das nossas gentes na luta pelo que é nosso! Só a coragem dos nossos antepassados permitiu que não fossêmos hoje arrudenses ou torreenses, sem qualquer problemas com os nossos vizinhos, mas somos sobralenses, temos a nossa identidade e soubémos bem defender o nosso espaço! Maravilha!
ResponderEliminarObrigada D. Alexandrina, gostei muito do seu texto. Já conhecia as peripécias, se bem que já me faltavam aí pormenores. Assim já posso contar à minha sobrinha como foi, bem direitinho!
Cumprimentos
Hortense Bogalho
Obrigado pela pesquisa e pela partilha. Só falta a data de fundação.
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